CRISTIAN MACEDO
cristianmacedo@potencial.net
Porto Alegre,
Rio Grande do
Sul (Brasil)
A Branca de Neve
e as aflições
A Rainha Má
queria ser a
mais bela. No
entanto, existia
a Branca de
Neve, muito mais
bonita...
Decidiu matá-la.
Todos já sabem.
Branca de Neve a
estava
afligindo. A
presença dela no
mundo e sua
beleza faziam da
vida da Rainha
um verdadeiro
inferno. Afinal,
para ser feliz
somente ela
deveria ser
bela. A mais
bela. A culpa de
Branca de Neve:
ser linda e, por
isso, gerar o
inferno no
coração da
Rainha. O
veredicto: a
morte.
O número de
“rainhas más”
que encontramos
diariamente é
assustador.
E se paramos
para analisar
profundamente,
todos temos uma
rainha má dentro
de nós. Em
diversas
gradações. Claro
que quem estiver
lendo isso
pensará: “a
minha é bem
pequenininha”.
Mas tudo bem, já
vale.
A Rainha Má
colocou a culpa
na Branca de
Neve. A culpa de
jogá-la para o
segundo lugar e
deixá-la em
primeiro como
gostaria.
Aliás, nem
primeiro ela
queria. Na
realidade ela
desejava ser a
única. Tolice
maior do que
desejar ser a
primeira.
Os primeiros
sempre deixam de
ser. O mais
jovem perde o
posto, assim
como o mais
velho, a melhor
dançarina, o
melhor atleta, a
empresa mais
rica, o
empregado mais
competente, o
piloto pole
position.
Todos perdem
seus primeiros
lugares, pois a
vida é
impermanência.
Quem quer ser o
mais belo tem
problemas
sérios. É como o
marido traído
que mata o
amante. Quantos
amantes ele terá
que matar?
Quantas moças
lindas a rainha
precisaria
mandar o caçador
assassinar? Isso
lhe daria paz?
Quem estava com
o problema? A
Branca de Neve
ou a Rainha?
A menina linda
não é o
problema. O
problema é de
quem inveja sua
beleza, pois a
ela se compara.
Desejaria ser
tanto ou mais
bonita. Mas isso
não tem sentido.
A comparação é
algo sem
sentido. Somos
diferentes.
Belos. Únicos.
Assim como o
ciumento, o
rancoroso, o
odiento, o
perverso. A
culpa não está
no outro. Cada
um deve ter a
responsabilidade
de lidar com
seus “demônios”
internos para
não fazer da
vida um inferno.
Se alguém tem um
carro mais
bonito que o
meu, não devo
odiá-lo, ou
culpá-lo pela
minha
infelicidade. O
problema é meu;
e o dono do
carro nada tem
com a minha
loucura. Ele
vive, enquanto
eu me mato aos
poucos, pois ao
invés de
trabalhar para
comprar um carro
tão bonito
quanto, fico
torcendo que
alguém arranhe o
dele. Em vez de
refletir e
aprender que não
é de um carro
mais bonito que
preciso para ser
feliz, perco um
tempo danado que
poderia ser
empregado em
algo
verdadeiramente
útil para a
minha vida.
No cotidiano,
quando nossa
Rainha Má
interna surgir,
devemos recordar
que a culpa não
é da Branca de
Neve.
“Para aquele que
a inveja e o
ciúme atacam,
não há calma,
nem repouso
possíveis. À sua
frente, como
fantasmas que
lhe não dão
tréguas e o
perseguem até
durante o sono,
se levantam os
objetos de sua
cobiça, do seu
ódio, do seu
despeito. O
invejoso e o
ciumento vivem
ardendo em
contínua febre.
Será essa uma
situação
desejável e não
compreendeis
que, com as suas
paixões, o homem
cria para si
mesmo suplícios
voluntários,
tornando-se-lhe
a Terra
verdadeiro
inferno?” (O
Livro dos
Espíritos,
questão 933.)