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Clássicos do Espiritismo
Ano 10 - N° 494 - 4 de Dezembro de 2016
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

 

Comunicações mediúnicas entre vivos

 Ernesto Bozzano

 (Parte 4) 

Continuamos o estudo do livro Comunicações mediúnicas entre vivos, de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J. Herculano Pires. 

Questões preliminares  

A. Podemos dizer que Animismo e Espiritismo são aspectos complementares do mesmo fenômeno?

Sim. Essa é, por sinal, a conclusão a que chegou Ernesto Bozzano. Segundo ele, o primeiro de tais aspectos é a melhor confirmação do segundo ou, em outros termos, que o Espiritismo não teria base sem o Animismo. (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento.)

B. Que é que Bozzano considera fenômenos telepáticos propriamente ditos?

Ele assim considera os fenômenos de telepatia em que o agente transmite ao percipiente o seu próprio pensamento sob formas sensoriais diversas, distinguindo-os dos fenômenos telepáticos em que o sensitivo, em virtude de uma faculdade psicodinâmica subconsciente, entra diretamente em comunicação com a subconsciência de pessoas afastadas, de modo a tornar-se agente e percipiente ao mesmo tempo. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.) 

C. Em que periódico foi publicado o caso relatado pelo Sr. Kirchdorf Kruitja Gorki, exemplificativo de mensagem transmitida ao médium por pessoa imersa no sono?

Esse caso, o primeiro dessa natureza relatado nesta obra, Bozzano o extraiu da Rivista di Studi Psichici (1898, pág. 14), mas ele havia sido inicialmente publicado pela revista psíquica russa Rebus e plenamente documentado e confirmado. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)

Texto para leitura 

47. Conforme a resposta dada pelo guia espiritual “Imperator”, a ilusão dos clarividentes adviria deste fato: eles conversam telepaticamente com a personalidade integral da pessoa visualizada, e a sua condição de “espírito encarnado” faz com que caiam na ilusão de conversar humanamente, isto é, de viva voz. (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento.) 

48. É de notar que a vidente em questão, além de ver à distância as pessoas com as quais estava vinculada por relações afetivas, e perceber o pensamento de tais pessoas e lhes transmitir seus próprios pensamentos e a sua vontade, distinguia também os seus fantasmas “desdobrados”. Por outro lado, percebia os fantasmas dos mortos, separando uns dos outros pela densidade diversa dos seus “corpos etéreos”. (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento.) 

49. Tal visualização simultânea de espíritos de vivos e de mortos demonstra ainda uma vez que Animismo e Espiritismo não são mais que dois aspectos complementares do mesmo fenômeno, graças aos quais se contempla o espírito humano nas suas duas fases, de encarnação e desencarnação. E, portanto, fica mais que claro que o primeiro de tais aspectos é a melhor confirmação do segundo ou, em outros termos, que o Espiritismo não teria base sem o Animismo. (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento.) 

50. O caso em apreço demonstra também que as faculdades supranormais, graças às quais os sensitivos percebem à distância, distinguem e conversam com entidades espirituais de vivos e de mortos, são as mesmas faculdades espirituais que os mesmos sensitivos exercerão normalmente depois de passarem pela crise da morte: faculdades existentes e pré-formadas, em estado latente, nos recessos da consciência, à espera de emergirem e se exercitarem num ambiente espiritual, assim como as faculdades de sentido terreno existem pré-formadas, em estado latente, no embrião humano, à espera de emergirem e se exercitarem no ambiente terreno. (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento.) 

51. O paralelismo é perfeito. E como a Natureza procede, em cada caso, de modo idêntico, isto é, pré-formando em cada ser e preservando, em estado latente, as faculdades e sentidos a serem exercitados em uma futura fase da existência (como, por exemplo, a transformação da lagarta em borboleta), daí resulta a confirmação da interpretação exposta, que é baseada nos processos científicos da análise comparada. (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento.) 

52. Jamais me cansarei de repetir tão claras e incontestáveis verdades, na esperança de que a sua frequente repetição sirva para fazê-la triunfar mais rapidamente do misoneísmo humano, tornando-se assimiláveis a algumas mentalidades eminentes que se tornam inacessíveis por preconceitos de escola.[i] (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento.)  

53. Em linhas gerais, também nesta segunda categoria pode-se afirmar que os vários casos que a compõem, no fundo, não representam mais do que uma parte das modalidades com que os fenômenos telepáticos se produzem ou pelo menos assim se deveria afirmar conforme o significado atribuído aos fenômenos telepáticos pelos primeiros colecionadores dos próprios fenômenos. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.)
 

54. De um certo ponto de vista, tais conclusões podem ser aceitas também em nossos dias, embora se deva reconhecer que uma fenomenologia telepática, com fronteiras tão extensas, não pode deixar de mostrar-se demasiadamente genérica e demasiadamente ampla para que não gere perplexidades e confusões em quem empreenda a análise comparada dos fenômenos em questão. Isso porque nela se contêm numerosas variedades de manifestações notavelmente diversas e algumas vezes opostas entre si. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.) 

55. Existe, por exemplo, uma diferença radical de manifestação entre os fenômenos telepáticos propriamente ditos, em que o agente transmite ao percipiente o seu próprio pensamento sob formas sensoriais diversas, e os fenômenos telepáticos em que o sensitivo, em virtude de uma faculdade psicodinâmica subconsciente, entra diretamente em comunicação com a subconsciência de pessoas afastadas, de modo a tornar-se agente e percipiente ao mesmo tempo. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.) 

56. Em atenção à clareza, se não se quiser excluir tais episódios da categoria dos fenômenos telepáticos, dever-se-á pelo menos considerá-los à parte e, conforme a modalidade em que se manifestam, denominá-los “casos de clarividência telepática”. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.) 

57. O Prof. Hyslop havia proposto uma diferenciação neste último grupo, segundo a qual a “clarividência telepática”, ao invés de referir-se ao conhecimento do pensamento atual do paciente distante, referia-se a casos de pesadelos, como se fosse dado ao clarividente penetrar nos recessos da memória alheia e selecionar as informações desejadas no acervo infinito de recordações latentes. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.) 

58. Em tal caso, o Prof. Hyslop propunha que se designassem os fatos com o nome de “casos de telemnesia” (leitura a distância, na memória latente de terceiros), termo bem apropriado mas que não teve sorte e mereceria, ao contrário, ser acolhido e conservado pela utilidade inegável que apresenta na análise comparada dos fatos. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.) 

59. A propósito dos episódios designados com tal nome, o Prof. Hyslop pergunta se, em contingências semelhantes, se trata efetivamente de um fenômeno de leitura selecionada nas subconsciências alheias ou se, pelo contrário, se trata de um diálogo entre duas personalidades integrais subconscientes. E ele responde, observando que a solução mais lógica seria escolher esta última verdade, muito menos inverossímil do que a outra (Journal of the American S. P. R., 1907, pág. 522). (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.) 

60. Em face disso, e antecipando as conclusões finais, observaremos que, se tudo concorre para demonstrar que a hipótese da “clarividência telepática” tem fundamento (embora os fenômenos de tal natureza se realizem mais raramente do que se pressupõe), não se pode afirmar o mesmo da hipótese da “telemnesia”, que serve para designar unicamente uma classe de fenômenos considerados prováveis por poucos pesquisadores, mas que na realidade não existem.[ii] (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.) 

61. Com este preâmbulo, passo à exposição dos casos, observando que a presente categoria é constituída de manifestações que se diferenciam notavelmente entre si, de modo que parece indispensável dividi-las nos seguintes subgrupos

Subgrupo A – Mensagens inconscientes transmitidas ao médium por pessoas imersas no sono.

Subgrupo B – Mensagens inconscientemente transmitidas ao médium por pessoas em estado de vigília.

Subgrupo C – Mensagens obtidas por expressa vontade do médium, às quais são aplicáveis as hipóteses da “clarividência telepática” e de “telemnesia”.

Subgrupo D – Mensagens transmitidas ao médium pela vontade expressa do agente.

Subgrupo E – Casos de transição em que o vivo que se comunica mediunicamente é um moribundo.

Subgrupo F – Mensagens mediúnicas entre vivos, transmitidas com o auxílio de uma entidade espiritual. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.)


62.
Caso 4 - Eis o primeiro caso de mensagens inconscientemente transmitidas ao médium por pessoas imersas no sono, que Bozzano extraiu da Rivista di Studi Psichici (1898, pág. 14). O caso foi primeiramente publicado na autorizada revista psíquica russa Rebus, estando plenamente documentado e confirmado. O Sr. K. Gorki escreveu nos seguintes termos ao diretor da citada revista:

 

“Distinto Senhor:

Interessando-me vivamente pelos fenômenos mediúnicos, eu nutria, há muitos anos, o íntimo desejo de poder realizar experiências práticas a respeito deles... Depois de algumas tentativas inúteis, consegui afinal alcançar o meu objetivo, formando um “grupo” com conhecidos meus. Não obtivemos manifestações físicas mas, em compensação, desenvolveu-se entre nós um excelente médium psicógrafo, com o qual conseguimos manifestações interessantíssimas. E eis que, depois de um mês de experiências, deu-se um caso muito semelhante ao narrado em seu opúsculo: manifestou-se o espírito de um irmão ausente.

Nossa família compõe-se de minha mãe, do abaixo-assinado, de minha irmã e de um irmão mais velho, o qual, por força de seu emprego, achava-se em viagem numa das mais remotas cidades da Sibéria. Como tínhamos necessidade da certidão de batismo de minha irmã, a qual não fora localizada entre os papéis de família, dirigimos uma carta ao nosso irmão, perguntando-lhe se, por acaso, a teria posto em algum lugar, mas passaram-se dias sem chegar qualquer resposta. Telegrafamos-lhe então, e o nosso telegrama ficou sem resposta. Entretanto, aproximava-se o dia em que era de absoluta necessidade apresentar às autoridades competentes o documento ansiosamente desejado.

À noite fizemos a sessão de costume, mas preocupados e aflitos pela falta de notícias de nosso irmão. O lápis do médium corria celeremente sobre o papel, e recebemos comunicações interessantes. De repente, o lápis interrompeu bruscamente a escrita no meio de uma palavra e, depois de um minuto mais ou menos, recomeçou a escrever, mas com letras quase ilegíveis e de modo incerto. Não conseguimos decifrar as últimas frases, mas quando se perguntou quem era o espírito comunicante, o médium escreveu claramente o nome de nosso irmão. Um espanto indizível nos invadiu a todos, pensando nós que ele tivesse morrido e que era por essa razão que não respondera nem à carta, nem ao telegrama. Interrompemos a sessão, mudos e angustiados. Passado certo tempo e recuperando-nos do susto, o médium pegou novamente no lápis e logo começou a escrever com a rapidez de costume, traçando algumas linhas nas quais só pudemos ler claramente a frase: A certidão está guardada em um escaninho interno, secreto, do meu cofre. Nenhum de nós pensara em procurá-la naquele lugar; entretanto, logo que o abrimos, encontramos o documento desejado no local indicado na mensagem.

Mais do que nunca amargurados e abatidos, pois achávamos que a comunicação viera mesmo de nosso irmão e que este não se achava mais entre os vivos, interrompemos a sessão e nos dirigimos para o nosso quarto, tristíssimos, com os soluços na garganta. No dia seguinte, porém, o telégrafo nos trouxe uma notícia muito alegre, era o nosso irmão que nos telegrafava o seguinte: A certidão está guardada em um escaninho interno, secreto, do meu cofre.

Alguns dias após recebemos uma carta que nos esclarecia tudo. Tendo ele voltado para casa certa noite (justamente na noite da famosa sessão), fatigado e aflito por não nos ter podido escrever, chamou um criado, mandou-o passar o telegrama mencionado e depois, vencido pela fadiga, deitou-se e caiu em profundo sono. As preocupações da vigília o acompanharam no sono e ele sonhou que viera pessoalmente nos dar a desejada resposta, o que serviu para acalmá-lo. Tal sonho lhe ficara tão fortemente impresso na memória, que no dia seguinte tinha quase firme a convicção de que havíamos obtido, naquela mesma noite, a preciosa notícia.

Ao ter a honra de levar ao seu conhecimento o presente caso, certamente notável, de comunicação mediúnica da parte de um vivo, faço-me fiador da veracidade do que exponho e o ratifico com a minha assinatura, à qual junto as assinaturas de outros que a testemunharam.” (Ass. Kirchdorf Kruitja Gorki – Governo de Saratov – M. Jaroslawzeff, Sra. E. Jaroslawzeff, N. Jaroslawzeff, K. Martinoff, S. Polatiloff). (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)

 

63. Para explicação do caso exposto, a única hipótese que se poderia contrapor a que seja considerado um genuíno caso de comunicação mediúnica entre vivos seria pressupor que as faculdades supranormais do médium tivessem descoberto, pela clarividência direta (telemnesia), o documento escondido no escaninho secreto, porém tal hipótese fica excluída pela circunstância de ser a frase, pela qual foi mediunicamente indicado o lugar em que se achava o documento, idêntica à outra frase telegrafada pelo irmão, o que demonstra que o autor do telegrama foi também o agente no caso telepático-mediúnico, conclusão resolutiva que fica ulteriormente demonstrada pela circunstância de ter-se o irmão deitado apreensivo por não ter podido escrever para casa, estado de alma que indubitavelmente serviu para determinar o fenômeno de transmissão telepático-mediúnica durante o sono, o que também ficou provado pela outra circunstância de ter o dito irmão sonhado que fora em pessoa dar a informação tão ansiosamente esperada. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A) (Continua no próximo número.) 


 

[i]     Bozzano oferece aqui a solução da controvérsia parapsicológica entre a Escola de Rhine (Estados Unidos) de um lado, e a de Robert Amadou, católico (França) e J. Vassiliev, materialista (Rússia), sobre a natureza das funções psi ou paranormais. Para Rhine, trata-se de funções em desenvolvimento, e para Amadou e Vassiliev de funções arcaicas, em fase de extinção. Faltou a ambos os lados a explicação espírita.

[ii]    Hipótese formulada arbitrariamente, como tantas ainda hoje propostas na Parapsicologia, para negar a existência do espírito e de sua intervenção nos fenômenos paranormais.



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita