Sexo e Obsessão
Manoel Philomeno
de Miranda
(Parte 22)
Damos sequência
ao estudo metódico
e sequencial do
livro Sexo e Obsessão,
obra de
autoria de
Manoel Philomeno
de Miranda,
psicografada por
Divaldo P.
Franco
e publicada originalmente em 2002.
Questões
preliminares
A. Que trajes a
equipe
socorrista
utilizou para
entrar na cidade
pervertida?
O objetivo era
não despertar a
atenção dos
vigilantes. Por
isso, os
integrantes da
equipe
espiritual
usaram mantos
pesados que lhes
caíam da cabeça
cobrindo-os
quase
literalmente.
Philomeno
observou, porém,
que à medida que
ele e seus
colegas
permaneciam no
recinto mefítico
da estranha
cidade a
indumentária que
usavam
desgastava-se e
os mantos
rompiam-se numa
apresentação
grosseira de
trajes usados
por beduínos
após incessantes
travessias do
deserto. Por que
isso ocorria? O
Mentor explicou
então que os
trajes foram
trabalhados para
aquele ambiente,
a fim de
assimilar as
características
locais, de forma
que não
despertassem a
curiosidade dos
que residiam na
localidade.
(Sexo e
Obsessão,
capítulo 12:
Estranho
encontro.)
B. A exaustão
decorrente dos
excessos da
sensualidade
depravada pode
levar uma pessoa
ao tédio?
Sim. Foi isso
que Manoel
Philomeno de
Miranda observou
em pleno recinto
onde o marquês
de Sade, sentado
em um trono
ridículo,
dialogou com o
Guia da equipe
socorrista.
Philomeno
percebeu ali
expressões de
exaustão em
muitos rostos,
enquanto não
poucos
apresentavam
sinais
inconfundíveis
de tédio, que os
induzia a mais
excruciantes
comportamentos
aterradores.
(Sexo e
Obsessão,
capítulo 12:
Estranho
encontro.)
C. Qual era o
recado que a
equipe
socorrista levou
ao marquês de
Sade?
O recado partira
de Rosa Keller,
que o marquês
conhecera muito
bem em sua
última
existência na
Terra. Conforme
o Mentor lhe
disse, Rosa, que
se encontrava
sob a proteção
de determinada
Instituição
espiritual,
demonstrou
interesse em
manter um
encontro com o
marquês, pois
que tanto ela
quanto ele
tinham
necessidade de
um diálogo
esclarecedor.
Esse era o
recado e, como
vemos, o
objetivo inicial
da tarefa
socorrista.
(Sexo e
Obsessão,
capítulo 12:
Estranho
encontro.)
Texto para
leitura
108. Os
trajes da equipe
socorrista
– Na cidade
pervertida, à
medida que se
sucedia o
desfile dos
carros
alegóricos e os
grupos que os
secundavam foram
diminuindo,
lentamente a
região foi
tomada pelo
tumulto dos
indivíduos
entregues à
lascívia em
pequenos
círculos afins,
formando pares
ou esquisitas
parcerias
múltiplas. Nesse
momento,
atendendo a um
apelo mental do
Instrutor, o
grupo
incorporou-se à
multidão,
rumando para
extravagante
edifício em que
se transformara
uma gruta
sombria com
movimentação
agitada e
confusa. À
entrada
postavam-se dois
hediondos
serviçais
trajados de
maneira inusual,
como se
desejando
reviver o
passado da
aristocracia
francesa
pré-napoleônica,
quais lacaios
maltrapilhos e
imundos, que
seguravam cães
de aparência
feroz, e que,
melhormente
observados, eram
seres humanos
que haviam
sofrido a
zoantropia
hipnótica. De
aspectos
ferozes,
avançavam sob os
acicates dos
seus condutores
contra todos
aqueles que se
adentravam ou
saíam, o que não
ocorreu com o
grupo socorrista,
quando se
depararam com os
dois mastins que
eram levados
adiante do grupo
pelos jovens
silenciosos e
circunspectos.
Embora diferisse
dos transeuntes
grotescos e de
carantonha
asselvajada, os
integrantes da
equipe
espiritual não
chamavam muito a
atenção face aos
mantos pesados
que lhes caíam
da cabeça
cobrindo-os
quase
literalmente.
Philomeno
observou que, à
medida que ele e
seus colegas
permaneciam no
recinto mefítico
da estranha
cidade, a
indumentária que
usavam
desgastava-se e
os mantos
rompiam-se numa
apresentação
grosseira de
trajes usados
por beduínos
após incessantes
travessias do
deserto... O
Mentor explicou
que os trajes
foram
trabalhados para
aquele ambiente,
a fim de
assimilar as
características
locais, de forma
que não
despertassem a
curiosidade dos
que residiam na
localidade.
(Sexo e
Obsessão,
capítulo 12:
Estranho
encontro.)
109.
Diante do trono
do marquês
– A furna era
iluminada por
archotes
fumegantes
presos às
paredes, que
ardiam com uma
coloração
amarelo-avermelhada,
de certo modo
apavorante pela
tonalidade
agressiva, e o
odor pútrido,
misturado ao
fumo e a outras
emanações, era
quase
insuportável.
Após avançar
pelo que seria
um corredor
estreito e
escorregadiço, a
equipe chegou a
uma ampla sala
onde um Espírito
de aspecto
diabólico,
sentado em um
arremedo de
trono esdrúxulo,
banqueteava-se
com Entidades
lascivas e
debochadas em
intérminas
gargalhadas,
enquanto gritos
selvagens
cortavam o ar,
misturando-se a
sons estranhos e
grotescos que
constituíam o
espetáculo
agradável ao
infeliz
governante
daquela área. O
Mentor e os
demais
detiveram-se a
regular
distância, a fim
de observar os
acontecimentos e
poder conhecer
de perto o
célebre criador
de aberrações,
já anteriormente
praticadas pelo
ser humano,
porém por ele
ampliadas até ao
absurdo durante
os seus
tormentosos e
perversos dias
de sua última
existência
terrena. Faunos
e representações
do deus Pan
misturavam-se
aos membros da
estranha corte,
ao tempo em que
mulheres,
imitando vestais
e sacerdotisas,
monstruosas umas
e em atitudes
torpes outras,
entregavam-se a
inimagináveis
movimentos de
lascívia
grotesca como se
o único objetivo
existencial
fosse o
infindável
intercurso da
sensualidade
depravada. Vez
que outra,
gemidos e
exclamações
lancinantes
explodiam no
recinto,
provocando
gargalhadas e
sustos no grupo
estranho, que
não cessava de
retorcer-se ao
som
desconcertante
de guitarras e
tambores
eletrizantes.
Philomeno
percebeu
expressões de
exaustão em
muitos rostos,
enquanto não
poucos
apresentavam
sinais
inconfundíveis
de tédio, que os
induzia a mais
excruciantes
comportamentos
aterradores.
(Sexo e
Obsessão,
capítulo 12:
Estranho
encontro.)
110. O
diálogo com o
marquês
– A um sinal,
quase
imperceptível do
Mentor, a equipe
socorrista
acercou-se do
trono ridículo,
e num vaivém do
grupo grotesco
em sua volta,
que permitiu
maior
proximidade com
o Chefe, o
Mentor
dirigiu-se
diretamente ao
suserano,
informando:
“Tenho, para o
senhor marquês,
uma solicitação
firmada por
certa personagem
de nome Rosa
Keller, sua
conhecida...” Ao
escutar o nome,
que lhe ressoou
na câmara
acústica da
alma, o
indigitado, como
se fulminado por
um raio,
levantou-se, e
gritou
histérico: “Quem
é você e que vem
fazer aqui?” Ato
contínuo,
blasfemando,
chamou os
guardas, aos
quais deu ordens
expressas: “Como
entraram aqui
esses estranhos?
Prendam-nos”.
Sem demonstrar
qualquer receio,
o irmão Anacleto
prosseguiu:
“Desde que não
lhe interessa o
requerimento de
que somos
portadores, pode
tomar a atitude
que lhe convier,
e ficará na
ignorância do
seu conteúdo”.
“Arrancarei as
informações
através de
torturas
violentas”,
vociferou. “Se é
assim que pensa,
o prejuízo será
apenas seu”,
ripostou, sereno
e seguro o
Mentor. “A
verdade é que
Rosa Keller foi
encontrada e é
portadora de
acusações muito
graves, que
pretende
encaminhar ao
Soberano das
Trevas”. Novas
ordens
desconexas foram
dadas, enquanto
dizia: “Ouçamos,
então, o que os
atrevidos têm a
dizer”. O
ambiente
modificou-se de
maneira
imediata. Os
ruídos cessaram
e a movimentação
confusa parou
ante a
determinação do
mandatário. O
venerando Guia,
com voz pausada
e muito sereno,
esclareceu:
“Rosa Keller
esteve por muito
tempo
prisioneira no
castelo de Y,
após a morte, de
onde foi
retirada pela
misericórdia de
Deus, não há
muito. Desde
aqueles dias
algo distantes,
quando foi
execrada, que se
entregou a
aberrações que
culminaram
enlouquecendo-a.
Abençoada pela
desencarnação,
foi recolhida
por execrandos
comparsas que a
aprisionaram,
desvitalizando-a
através de
vampirização
contínua e de
escabrosidades
inimagináveis...”
O marquês pôs-se
a gritar entre
blasfêmias e
vitupérios:
“Perco meu tempo
com essa
lengalenga.
Trata-se de
religiosos
melífluos, que
se adentraram
nos meus
domínios sem o
meu
consentimento.
Isso não ficará
assim.
Justiçarei todos
os responsáveis
pela invasão,
assim como aos
atrevidos que se
me acercam”. O
rosto, com as
marcas da
obscenidade, e o
corpo,
monstruoso e
flácido,
sacudiam as
enxúndias,
quando ele se
agitava,
ameaçador.
(Sexo e
Obsessão,
capítulo 12:
Estranho
encontro.)
111. Rosa
Keller e seu
desejo –
Ante a reação do
marquês, o
Mentor afirmou:
“Religiosos,
sim, o somos,
não melífluos,
porque somos
portadores de
lucidez e
coragem em nome
de Jesus-Cristo,
a quem temos o
prazer de
servir”. Ao ser
pronunciado o
nome do Mestre
galileu, e o
fora
propositalmente,
gargalhadas e
ditos escabrosos
estouraram na
gruta imunda,
enquanto o
marquês,
visivelmente
descontrolado,
ameaçava e
socava o ar. O
diálogo
prosseguiu algo
excitante. O
Mentor voltou à
carga,
esclarecendo:
“Como Rosa, que
se encontra sob
a proteção de
nossa
Instituição
espiritual,
demonstrou
interesse em
manter um novo
encontro com o
senhor marquês,
pois que ambos
têm necessidade
de um diálogo
esclarecedor,
aqui estamos
atendendo-lhe a
vontade”. O
marquês riposto
áspero: “É muita
petulância da
venal e de sua
parte pretender
um encontro
comigo, que
governo grande
área desta
cidade. A troco
de quê, ela e o
senhor pretendem
e esperam
conseguir esse
benefício de
minha parte?
Qual o meu
lucro?
Recordo-me da
infame, que foi
responsável por
minha primeira
prisão,
caluniadora e
louca, que
sempre foi...” O
Mentor
esclareceu: “Não
posso ajuizar,
porquanto sou
apenas o
portador do
requerimento,
cuja resposta
aguardo”. O
marquês
replicou, com
aspecto feroz:
“E onde seria
esse encontro?
Por que não veio
até mim, aos
meus domínios,
conforme vocês o
fizeram?” O
Mentor
esclareceu que
ela não pôde
vir, porque se
encontra em
tratamento de
recuperação
psíquica e
perispiritual:
“Como o senhor
marquês bem o
sabe, a
permanência em
regiões como
esta, por muito
tempo, produz
danos tão
profundos nos
tecidos sutis da
alma, que a
recomposição se
faz dolorosa e
demorada. Como
aqui são
realizadas
operações, que
alteram o
comportamento e
a estrutura
profunda e sutil
do perispírito,
sob o seu
comando, há de
entender que o
caso da nossa
amiga não é
muito diferente,
exigindo
diversos
cuidados, que
não podem ser
negligenciados”.
(Sexo e
Obsessão,
capítulo 12:
Estranho
encontro.)
112. A
reação do
marquês
– Após a
explicação dada
pelo Mentor, o
marquês reagiu:
“E você acredita
que eu a irei
visitar? Qual o
meu interesse em
encontrá-la,
desde que ela é
responsável pelo
primeiro golpe
que o destino
desferiu-me?”
Anacleto
respondeu:
“Confesso
ignorar. A nossa
tarefa aqui está
concluída,
porquanto a
finalidade foi
apresentada,
dependendo do
senhor marquês
qualquer
decisão”.
Erguendo o
corpanzil
bestializado e
atordoante, o
suserano
indagou,
zombeteiro: “E
se eu não os
deixar sair
deste recinto?”
O Mentor
redarguiu:
“Penso que seria
pior para o
governante,
porque
iniciaríamos um
trabalho de
conversão em
massa dos seus
súditos, que se
encontram
saturados de
loucura,
entediados dos
vis
entretenimentos
e sequiosos de
paz, já que
vivem exaustos e
necessitados de
amor e de
renovação.
Ademais, podemos
apelar para a
proteção divina
que nunca nos é
escassa, desde
que aqui estamos
por vontade
própria e não
por afinidade de
propósitos ou de
interesses
morais”. O
marquês não
esperava
resposta tão
lúcida e lógica,
vendo-se
obrigado a
recuar, buscando
parlamentar:
“Como passaram
pelos meus
vigilantes?”
Anacleto
explicou:
“Somente eles
podem
informá-lo.
Atravessamos
todas as
barreiras,
assistindo ao
desfile e, logo
após, viemos à
entrevista não
programada, por
sabermos que a
nímia deferência
do nobre marquês
saberia
distinguir quem
somos em relação
àqueles que
habitam estes
sítios por
espontânea
vontade, não
ignorando que,
nas Leis
Soberanas, não
vigem a
violência nem a
injustiça. Desse
modo, não
titubeamos em
passar pelas
fronteiras do
seu reino e
apresentarmo-nos
à sua
magnanimidade”.
(Sexo e
Obsessão,
capítulo 12:
Estranho
encontro.)
(Continua no
próximo número.)