O leitor Lucio de Sousa
Puchetti, em mensagem
publicada na seção de Cartas
desta mesma edição,
pergunta-nos:
Qual o conceito de mônada,
princípio espiritual e
princípio inteligente na
Doutrina Espírita? São
termos que utilizamos para
designar a mesma coisa?
O significado do termo
mônada, segundo os léxicos
mais conhecidos, varia
conforme o ramo do
conhecimento em que é ele
utilizado. Na Biologia,
significa organismo simples
ou muito pequeno. Na
Zoologia, gênero de
infusórios microscópicos. Em
Filosofia, designa a união
perfeita do espírito e da
matéria, conforme teoria que
remonta a Pitágoras, ou, de
acordo com as ideias de
Leibnitz, a substância
simples, criada desde o
princípio, inacessível a
quanto existe e
incorruptível, mas sujeita a
evoluções e desenvolvimento
até alcançar o intelectual.
O termo mônada não aparece
nas obras da codificação da
doutrina espírita. Mas é
utilizado por André Luiz em
sua obra intitulada Evolução
em Dois Mundos,
psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e Francisco
Cândido Xavier.
Eis, extraídos da obra
citada, alguns trechos em
que a palavra é mencionada:
Sob a orientação das
Inteligências Superiores,
congregam-se os átomos em
colmeias imensas e, sob a
pressão, espiritualmente
dirigida, de ondas
eletromagnéticas, são controladamente reduzidas as
áreas espaciais
intra-atômicas, sem perda de
movimento, para que se
transformem na massa nuclear
adensada, de que se esculpem
os planetas, em cujo seio as mônadas celestes
encontrarão adequado
berço ao desenvolvimento. (Evolução
em Dois Mundos -
Primeira Parte: cap. 1 –
Fluido Cósmico.)
A matéria elementar, de que
o elétron é um dos
corpúsculos-base, na faixa
de experiência evolutiva sob
nossa análise, acumulada
sobre si mesma, ao sopro
criador da Eterna
Inteligência, dera
nascimento à província
terrestre, no Estado Solar a
que pertencemos, cujos
fenômenos de formação
original não conseguimos por
agora abordar em sua mais
íntima estrutura. A imensa
fornalha atômica estava
habilitada a receber as
sementes da vida e, sob o
impulso dos Gênios
Construtores, que operavam
no orbe nascituro, vemos o
seio da Terra recoberto de
mares mornos, invadido por
gigantesca massa viscosa a
espraiar-se no colo da
paisagem primitiva. Dessa
geleia cósmica verte o
princípio inteligente, em
suas primeiras
manifestações...
Trabalhadas, no transcurso
de milênios, pelos operários
espirituais que lhes
magnetizam os valores,
permutando-os entre si, sob
a ação do calor interno e do
frio exterior, as mônadas celestes
exprimem-se no mundo através
da rede filamentosa do
protoplasma de que se lhes
derivaria a existência
organizada no Globo
constituído. (Obra citada -
Primeira Parte: cap. 3 -
Evolução e corpo
espiritual.)
Nascimento do reino vegetal
- Aparecem os vírus e, com
eles, surge o campo
primacial da existência,
formado por nucleoproteínas
e globulinas, oferecendo
clima adequado aos princípios
inteligentes ou mônadas
fundamentais, que se
destacam da substância viva,
por centros microscópicos de
força positiva, estimulando
a divisão cariocinética.
Evidenciam-se, desde então,
as bactérias rudimentares,
cujas espécies se perderam
nos alicerces profundos da
evolução, lavrando os
minerais na construção do
solo, dividindo-se por raças
e grupos numerosos,
plasmando, pela reprodução
assexuada, as células
primevas, que se
responsabilizariam pelas
eclosões do reino vegetal em
seu início. (Obra citada -
Primeira Parte: cap. 3 -
Evolução e corpo
espiritual.)
Formação das algas -
Sustentado pelos recursos da
vida que na bactéria e na
célula se constituem do
líquido protoplásmico, o
princípio inteligente
nutre-se agora na clorofila,
que revela um átomo de
magnésio em cada molécula,
precedendo a constituição do
sangue de que se alimentará
no reino animal. O tempo age
sem pressa, em vagarosa
movimentação no berço da
Humanidade, e aparecem as
algas nadadoras, quase
invisíveis, com as suas
caudas flexuosas, circulando
no corpo das águas, vestidas
em membranas celulósicas, e
mantendo-se à custa de
resíduos minerais, dotadas
de extrema motilidade e
sensibilidade, como formas
monocelulares em que a mônada já
evoluída se ergue a estágio
superior. (Obra citada -
Primeira Parte: cap. 3 -
Evolução e corpo
espiritual.)
Dos artrópodos aos
dromatérios e anfitérios -
Mais tarde, assinalamos o
ingresso da mônada,
a que nos referimos, nos
domínios dos artrópodos, de
exosqueleto quitinoso, cujo
sangue diferenciado acusa um
átomo de cobre em sua
estrutura molecular, para,
em seguida, surpreendê-la,
guindada à condição de
crisálida da consciência, no
reino dos animais
superiores, em cujo sangue –
condensação das forças que
alimentam o veículo da
inteligência no império da
alma – detém a hemoglobina
por pigmento básico,
demonstrando o parentesco
inalienável das
individuações do Espírito,
nas mutações da forma que
atende ao progresso
incessante da Criação
Divina. (Obra citada -
Primeira Parte: cap. 3 -
Evolução e corpo
espiritual.)
Faixas inaugurais da razão -
Estagiando nos marsupiais e
cretáceos do eoceno médio,
nos rinocerotídeos,
cervídeos, antilopídeos,
equídeos, canídeos,
proboscídeos e antropoides
inferiores do mioceno e
exteriorizando-se nos
mamíferos mais nobres do
plioceno, incorpora
aquisições de importância
entre os megatérios e
mamutes, precursores da
fauna atual da Terra, e,
alcançando os
pitecantropoides da era
quaternária, que antecederam
as embrionárias civilizações
paleolíticas, a mônada vertida
do Plano Espiritual sobre o
Plano Físico atravessou os
mais rudes crivos da
adaptação e seleção,
assimilando os valores
múltiplos da organização, da
reprodução, da memória, do
instinto, da sensibilidade,
da percepção e da
preservação própria,
penetrando, assim, pelas
vias da inteligência mais
completa e laboriosamente
adquirida, nas faixas
inaugurais da razão. (Obra
citada - Primeira Parte:
cap. 3 - Evolução e corpo
espiritual.)
Na intimidade dos
corpúsculos simples que
evoluiriam para a feição de
máquinas microscópicas,
formadas de protoplasma e
paraplasma, fixam-se,
vagarosamente, sob
influenciação magnética, os
fragmentos de cromatina,
organizando-se os
cromossomos em que seriam
condensadas as fórmulas
vitais da reprodução.
Processos múltiplos de
divisão passam a ser
experimentados. A divisão
direta ou amitose é
largamente usada para, em
seguida, surgir a mitose ou
divisão indireta, em que as
alterações naturais da mônada
celeste se
refletem no núcleo,
prenunciando sempre maiores
transformações. (Obra citada
- Primeira Parte: cap. 7 -
Evolução e hereditariedade.) [Negritamos.]
Pela leitura dos trechos
transcritos, percebe-se que
os termos mônada celeste e
princípio inteligente se
equivalem, segundo a
conceituação adotada por
André Luiz na obra que ele
dedicou ao complexo tema da
evolução.
Acerca dos termos princípio
espiritual e princípio
inteligente já nos
manifestamos na edição 321,
de 21 de julho de 2013,
desta revista, em resposta a
uma questão apresentada pela
leitora Filomena Branco, de
Portugal. Eis o link: http://www.oconsolador.com.br/ano7/321/oespiritismoresponde.html
No aludido texto lembramos
ao leitor que Emmanuel
preferiu, entre os dois
termos, utilizar em sua
obra o termo princípio
espiritual, que não tem,
no entanto, guarida na
principal obra espírita – O
Livro dos Espíritos, de
Allan Kardec –, no qual a
expressão princípio
inteligente é
utilizada com o mesmo
sentido que Emmanuel dá ao
termo princípio espiritual,
como adiante demonstramos:
“Que é o espírito? – O princípio
inteligente do
Universo.” (L.E.,
questão 23.)
“Pois que há dois elementos
gerais no Universo: o
elemento inteligente e o
elemento material,
poder-se-á dizer que os
Espíritos são formados do
elemento inteligente, como
os corpos inertes o são do
elemento material? –
Evidentemente. Os Espíritos
são a individualização do princípio
inteligente, como os
corpos são a
individualização do
princípio material. A época
e o modo por que essa
formação se operou é que são
desconhecidos.” (L.E.,
questão 79.)
“Que definição se pode dar
dos Espíritos? – Pode
dizer-se que os Espíritos
são os seres inteligentes da
criação. Povoam o Universo,
fora do mundo material.” (L.E,
questão 76.)
“A palavra Espírito é
empregada aqui para designar
as individualidades dos
seres extracorpóreos e não
mais o elemento
inteligente do
Universo.” (L.E,
nota aposta à questão 76.)
“Donde tiram os animais o princípio
inteligente que
constitui a alma de natureza
especial de que são dotados?
– Do elemento inteligente
universal.” (L.E.,
questão 606.)
“Então, emanam de um único
princípio a inteligência do
homem e a dos animais? – Sem
dúvida alguma, porém, no
homem, passou por uma
elaboração que a coloca
acima da que existe no
animal.” (L.E.,
questão 606-a.) [Negritamos.]
A mesma ideia apresentada em O
Livro dos Espíritos aparece
em O
Livro dos Médiuns, como
adiante se vê:
“Seja qual for a ideia que
dos Espíritos se faça, a
crença neles necessariamente
se funda na existência de um
princípio inteligente fora
da matéria.” (L.M.,
cap. I, item 1.)
“Numerosas observações e
fatos irrecusáveis, de que
mais tarde falaremos,
levaram à consequência de
que há no homem três
componentes: 1º, a alma, ou
Espírito, princípio
inteligente, onde tem sua
sede o senso moral; 2º, o
corpo, invólucro grosseiro,
material, de que ele se
revestiu temporariamente, em
cumprimento de certos
desígnios providenciais; 3º,
o perispírito, envoltório
fluídico, semimaterial, que
serve de ligação entre a
alma e o corpo.” (L.M.,
cap. I, item 54.)
"Depois da morte do animal,
o princípio inteligente que
nele havia se acha em estado
latente e é logo utilizado,
por certos Espíritos
incumbidos disso, para
animar novos seres, nos
quais continua ele a obra de
sua elaboração." (L.M.,
cap. XXV, item 283, pergunta
36ª.)
Anos mais tarde, porém, no
livro A
Gênese, o
Codificador do Espiritismo
preferiu a expressão princípio
espiritual, como podemos
verificar no cap. IV, item
16, e no cap. XI, itens 1 e
2. Chama-nos a atenção,
nessa obra, o trecho adiante
reproduzido, em que utiliza princípio
espiritual com
o mesmo sentido de princípio
inteligente mencionado
em O
Livro dos Espíritos:
“A existência do princípio
espiritual é um fato que,
por assim dizer, não precisa
de demonstração, do mesmo
modo que o da existência do
princípio material. E, de
certa forma, uma verdade
axiomática. Ele se afirma
pelos seus efeitos, como a
matéria pelos que lhe são
próprios. De acordo com este
princípio: ‘Todo efeito
tendo uma causa, todo efeito
inteligente há de ter uma
causa inteligente’, ninguém
há que não faça distinção
entre o movimento mecânico
de um sino que o vento agite
e o movimento desse mesmo
sino para dar um sinal, um
aviso, atestando, só por
isso, que obedece a um
pensamento, a uma intenção.
Ora, não podendo acudir a
ninguém a ideia de atribuir
pensamento à matéria do
sino, tem-se de concluir que
o move uma inteligência à
qual ele serve de
instrumento para que ela se
manifeste.” (A
Gênese., cap. XI, item 1.)
Já na Revue
Spirite, em inúmeras
passagens, Kardec usa a
expressão princípio
inteligente como
sinônimo de alma, o que é
possível verificar na Revue de
1861, pág. 242; na Revue de
1864, pp. 138 e 139; na Revue de
1865, pág. 95, e na Revue de
1868, págs. 259 e 260,
conferindo à expressão princípio
espiritual a
ideia de elemento
espiritual, em oposição a
elemento material.
Concluímos, então, naquela
oportunidade, conforme tudo
o que ali foi exposto, que
devemos usar a expressão princípio
espiritual como
elemento, em oposição a princípio
material, reservando a
expressão princípio
inteligentepara os casos
em que queremos referir-nos
à parte imaterial
individualizada presente nos
seres vivos que sobrevive ao
fenômeno da morte. No caso
dos animais e dos homens, a
essa parte imaterial
individualizada o
Espiritismo dá o nome de
alma.
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