Em
mensagem publicada na seção de Cartas desta mesma
edição, o leitor Fernando Tomás Linhares escreveu-nos:
Soube que
Allan Kardec teria feito referências à Maçonaria em uma
de suas obras. Vocês poderiam informar em que livros
posso encontrar algo a esse respeito?
A questão
formulada pelo leitor já foi tratada nesta mesma seção,
na edição 132 desta revista, publicada no dia 8 de
novembro de 2009.
Ao que nos
consta, as referências aos maçons e à Maçonaria aparecem
na obra de Kardec somente na Revista Espírita, na
edição de abril de 1864. Foram três comunicações: a
primeira, firmada pelo Espírito de Guttemberg; a
segunda, por Jacques de Molé; a terceira, por Vaucanson.
Em todas elas é destacada a afini-dade existente entre
os princípios defendidos pela franco-maçonaria e os
ensinamentos espíritas.
Na
primeira, Guttemberg afirma que todo maçom iniciado é
levado a crer na imortalidade da alma e no Divino
Arquiteto e a ser benfeitor, devota-do, sociável, digno
e humilde. Ali se pratica a igualdade na mais larga
escala, havendo, pois, nessas sociedades uma afinidade
evidente com o Espiritismo. Lembrando que muitos maçons
são espíritas e trabalham muito na propaganda desta
crença, Guttemberg previu que no futuro o estudo
espírita entraria como complemento nos estudos abertos
realizados nas lojas maçônicas.
Na segunda
mensagem, Jacques de Molé diz que as instituições
maçô-nicas foram para a sociedade um encaminhamento à
felicidade. Numa época em que toda ideia liberal era
considerada crime, os homens pre-cisavam de uma força
que, submissa às leis, fosse emancipada por suas
crenças, suas instituições e a unidade de seu ensino.
“Nessa época - diz Molé - a religião ainda era, não mãe
consoladora, mas força despótica que, pela voz de seus
ministros, ordenava, feria, fazia tudo curvar-se à sua
vontade; era um assunto de pavor para quem quisesse,
como livre pensador, agir e dar aos homens sofredores
alguma coragem e ao infeliz algum consolo moral.”
Concluindo, Jacques de Molé profetiza: “O Espiritismo
fez pro-gressos, mas, no dia em que tiver dado a mão à
franco-maçonaria, todas as dificuldades estarão
ven-cidas, todo obstáculo retirado, a verdade estará
esclarecida e o maior progresso moral será realizado e
terá transposto os primeiros degraus do trono, onde em
breve deverá reinar”.
Na
terceira mensagem, o Espírito de Vaucanson, que se
designa ainda franco-maçom, observa que Guttemberg foi
contemporâneo do monge que inventou a pólvora – invenção
essa que transformou a velha arte das batalhas –,
enquanto a imprensa trouxe uma nova ala-vanca à
expressão das ideias, emancipando as massas e
permi-tindo o desenvolvimento intelectual dos
indivíduos. A franco-maçonaria, contra a qual tanto
gritaram, contra a qual a Igreja romana não teve
anátemas em quantidade suficiente, e que nem por isso
deixou de sobreviver, abriu de par em par as portas de
seus templos ao culto emancipador da ideia. “Em seu seio
- afirma Vaucanson - todas as questões mais sérias
foram levantadas e, antes que o Espiritismo tivesse
aparecido, os veneráveis e os grão-mestres sabiam e
professavam que a alma é imortal e que os mundos visível
e invisível se intercomunicam.” Segundo Vaucanson, o
Espiritismo encontrará no seio das lojas maçônicas
numerosa falange compacta de crentes, sérios, reso-lutos
e inabaláveis na fé, porque o Espiritismo realiza todas
as aspira-ções generosas e caridosas da franco-maçonaria;
sanciona as crenças que esta professa, dando provas
irrecusáveis da imortalidade da alma; e conduz a
humanidade ao objetivo que se propõe: união, paz,
fraternidade universal, pela fé em Deus e no futuro.
Percebe-se, à vista do conteúdo das mensagens acima, por
que o clima entre o Espiritismo e a franco-maçonaria
sempre foi cordial e – o mais importante – por que
ambos foram, historicamente falando, as vítimas
preferenciais das religiões dominantes, que nunca se
confor-maram com o progresso das ideias, a liberdade de
crença e a emancipação de quem jamais se dobrou à sua
vontade e aos seus dogmas.