A solidão do
“crucifica-o!
“O governador tornou a perguntar: ‘Mas que mal fez ele?’
E gritavam ainda mais forte: ‘Seja crucificado!’”
(Mateus, 27:23).
Quando Ele multiplicou os pães, saciamo-nos, pois
estávamos lá! Aumentou e distribuiu os peixes,
beneficiamo-nos: estávamos lá! Às escuras, optamos mais
tarde por Barrabás: ora, estávamos lá! “Crucifica-o,
crucifica-o!”, rogamos, pois sempre estivemos por lá!...
Cinco mil, com fome, estivemos lá. Cinco mil, por
vergonha e com infâmia, os mesmos infelizes e
libertinos, sempre, sempre, estivemos por lá!...
* * *
Não somos muitos os que nos dispomos a subir a montanha
dos sacrifícios. O Mestre o fez! Fora seus algozes,
obrigados a conduzi-Lo ao patíbulo, os outros dois
sentenciados, os príncipes dos sacerdotes, escribas e
anciãos zombeteiros e um grupo de curiosos, sabe-se que
apenas Maria, sua Mãe, Maria de Magdala, Maria mãe de
Tiago e José, e João Evangelista o acompanharam ao topo
para o holocausto. Não estamos, desta forma,
menosprezando os demais apóstolos e discípulos que
permaneceram na base da encosta de sangue; estamos
apenas aventurando-nos a uma distinção lógica entre os
que subiram ao monte e os que permanecemos ainda na base
da evolução...
Dá-nos a entender Emmanuel que os que se dispõem a subir
a montanha das virtudes, fatalmente e pouco a pouco se
distanciarão dos não virtuosos: e estes muitos campeamos
neste ainda pobre Planeta de provas expiações.
A partir do ‘crucifica-o!’, quando sentenciamos os
virtuosos ou lavamos as mãos perante suas coragens,
distanciamo-nos do Gólgota purificador. Enquanto os
virtuosos experimentarão a solidão de seus avanços,
experimentaremos a solidão do distanciamento das
alturas. Eles, na solidão de caminhos estreitos e
íngremes da subida, e nós nos vales, voejando
em círculos inebriantes tais quais borboletas
douradas.
Perguntamos: quem da ‘Jerusalém de baixo’ escutou as
últimas palavras de ensino, de perdão e de estímulo do
Mestre crucificado? Somente os da ‘Jerusalém do Gólgota’
as puderam ouvir! Alguns as aproveitaram, como Seus
próximos e o próprio centurião de Roma que viria a
exclamar em arrependimento oportuno: ‘Verdadeiramente,
este homem era Filho de Deus!’ (Mateus, 27:54).
Os cimos não são muito frequentados; os fortes na
virtude o fazem! E quando nos dispusermos a cursá-los, –
mais dia, menos dias, todos o faremos! – também
experimentaremos a solidão do ‘crucifica-o!’ A mesma
solidão que experimentaram Jesus, Verônica, Simão de
Cirene, João, as Marias, Dimas – o ‘bom’ ladrão – e o
comandante Romano convencido e arrependido.
Não é fácil destituir-nos da almofada dourada da
acomodação de nosso orgulho para nos dispormos à
escalada: Emmanuel, em analogia fantástica irá nos
afirmar que “a ave, para libertar-se, destrói
o berço da casca em que se formou, e a semente, para
produzir, sofre a dilaceração da cova desconhecida”.
Continuará o Orientador com suas analogias,
informando-nos que a rocha que sustenta as
várzeas deverá suportar a solidão e que o sol
majestoso, que nos aquece, alimenta e ilumina, sempre
brilhará sozinho...
* * *
Os cimos nos esperam; são inevitáveis! Alguns os
alcançarão primeiro, pois assim entendemos, pois que
somos de evoluções diferenciadas. Até que o Planeta se
equilibre dentro da revelação que uma Regeneração
reclama, os que atingirem os cimos primeiro, sem
dúvidas, experimentarão a solidão das incompreensões,
pois o Mestre e os que o acompanharam de boa vontade
percorreram e ditaram tal roteiro. Nada de anormal nos
desígnios do Criador, neste Planeta gerenciados
fielmente por um Governador que desejou encarnar entre
nós e experimentar, inclusive, a solidão do
“crucifica-o!”
Bibliografia:
Sintonia: Xavier, Francisco Cândido em Fonte viva,
Cap. 70, Solidão, ditado por Emmanuel, 1ª edição
da FEB.