A dimensão da corrupção
A nação tenta assimilar, ainda estupefata, a dimensão da
corrupção que veio à tona com as delações da Operação
Lava Jato. Como se viu, personagens de alta expressão do
meio empresarial desvendaram por meio de delações os
meandros do poder no Brasil. As pessoas um pouco mais,
digamos, rodadas, sempre desconfiaram que os interesses
da classe política brasileira não estavam exatamente
alinhados – e eu estou aqui sendo generoso – com os do
país. Decisões à socapa, encontros ocultos em locais
obscuros e personagens sombrios sempre moldaram a
atividade política dessa nação. Portanto, era muito
difícil não imaginar – por mais boa vontade que tenhamos
– que algo profundamente nauseabundo não venha daí.
O estilo de vida meio nababesco de muitas excelências do
mundo político não condiz com os ganhos legitimamente
auferidos, chamando a atenção para algo no mínimo
perturbador. Mas o que se viu nas últimas décadas em
termos de conduta nessa área foi horripilante. Um grande
historiador brasileiro contemporâneo costuma afirmar que
não houve nada parecido na história da humanidade. Seja
como for, é algo para se lamentar profundamente.
Afinal de contas, o que emerge das revelações é um mar
de lama que envolve muitos parlamentares, que, aliás,
receberam o apoio da população para representá-las
adequadamente. As delações dos empresários e executivos
são devastadoras para as biografias de ex-presidentes da
república, senadores, deputados e servidores públicos,
que, agora, vão ter de enfrentar o seu calvário
redentor.
É extremamente triste imaginar que pessoas eleitas para
cuidar e servir à nação tenham tido uma conduta tão
escabrosa e lesiva. No entanto, essa é a realidade com a
qual nós brasileiros temos agora de conviver. Em razão
disso, lembrei-me do início dessa nação e dos degredados
que para aqui vieram. Se começamos com o pé esquerdo, há
tempo para consertarmos os erros. Graças a Deus também
há aqui pessoas de bem e que, por força dos
acontecimentos, terão oportunidade de ajudar na
reconstrução moral das nossas instituições.
Enquanto os delinquentes caem irremediavelmente em razão
dos seus crimes hediondos, outras pessoas
bem-intencionadas e sequiosas por cooperar com o país
encontram agora terreno mais fértil para se manifestar.
O que é mais auspicioso é a constatação de que não há
mal que persista indefinidamente. Chega um momento em
que as forças do bem e do amor dão um basta aos
desmandos e torpezas. É verdade que vamos ter de
conviver também com essa triste lembrança ligada à
história do Brasil. Esse fato é irremediável. No
entanto, não somos a única nação do planeta a ter de
enfrentar os males da corrupção. Outras democracias
consolidadas também já passaram por algo semelhante em
algum momento do passado.
O que nos torna uma nação singular é a constatação de
que afastamos presidentes ineptos e moralmente
comprometidos, sem sangue e perda de vidas. Ou seja,
temos a prova cabal de que Jesus e a espiritualidade
zelam por nós. É verdade que teremos um longo caminho à
frente para higienizar as nossas instituições e colocar
o país no caminho do desenvolvimento ético-moral
novamente. O choque que ora sentimos faz parte desse
processo e também para nos lembrar, uma vez mais, a
recomendação de Jesus: “Vigiai
e orai, para que não entreis em tentação”. As
facilidades do mundo são muito perigosas e contra elas
temos de nos precatar. Aos que aspiram a posições de
comando e influência, todo cuidado é necessário para que
os deslizes sejam evitados.