E você, já se despediu de seus amores e amigos hoje?
Era o ano de 1999, mês de julho, uma quarta-feira. Eu
saí de casa por volta das 14h30 para buscar minha filha
que brincava na casa de mamãe. Cheguei lá 40 minutos
depois, cumprimentei minha mãe beijando-lhe na testa,
peguei minha filha no colo e fui embora, sem trocar
muitas palavras.
Quando entrei no ônibus que me levaria de regresso ao
lar, lembrei que não havia quase conversado com minha
mãe e, pior, a despedida fora muito pálida, não teve um
abraço apertado, tampouco palavras de afeto.
Um pensamento passou pela minha mente:
E se ela morrer?
Sim, porque se ela morrer entre hoje e amanhã eu não me
despedi adequadamente.
No mesmo momento, pensei novamente:
Morrer?
Não, de forma alguma, ela está bem de saúde.
Afastei o mau pensamento com a promessa íntima de que na
quinta-feira voltaria à casa de mamãe. Acontece que, por
razões que não me recordo, na quinta-feira não retornei
à sua casa.
Resolvi deixar a visita para o final de semana; no final
de semana nos veremos e bateremos aquele bom papo,
imaginei...
Mas...
Não deu tempo, como se fizesse questão de carimbar o meu
pensamento, mamãe partiu na sexta-feira, ou melhor,
sexta-feira, dia 30 de julho de 1999, foi o dia em que
teve o AVC; ela partiu mesmo no sábado, dia 31 de julho,
e foi sepultada no dia 1º. de agosto, aniversário de
Bauru.
Eu fiquei por muitos anos com a lembrança dos
pensamentos que me dominaram no ônibus sobre pensar em
sua morte e não me despedir de forma mais calorosa.
Por que eu não voltei?
Por que eu não me despedi dela adequadamente?
Se a morte é uma certeza, por qual razão saímos de perto
de nossos amores sem nos despedirmos com o devido
cuidado?
Sim, porque pode ser a última vez, o último abraço, o
último beijo, a última palavra...
Se eu soubesse que aquele seria o último dia de mamãe
por essas bandas, tudo teria sido diferente.
Teria lhe aplicado um grande abraço, olhado em seus
olhos e dito:
- Ah, mamãe, muito obrigado!!!
Despedidas, desde então, tomaram para mim um caráter
especial. Seja para me afastar por meses ou por um dia
de trabalho, costumo endereçar aos que amo um olhar de
ternura, boas vibrações e ter a certeza de que, se algo
acontecer no caminho, a separação temporária foi
acompanhada de um último olhar de amor...
Temos o hábito de considerar que a morte não nos
abocanhará. Ledo engano. Ela pode vir a qualquer
momento, como veio com mamãe e tantas outras pessoas.
É preciso estar preparado para a morte.
É fundamental despedir-se adequadamente...
E você, já se despediu de seus afetos hoje?
Então..., o que está esperando?