O Espiritismo responde

por Astolfo O. de Oliveira Filho

Em mensagem publicada na seção de Cartas desta mesma edição, a leitora Jani Paulicz, de Apucarana (PR), formula várias questões acerca do tema possessão e do seu mecanismo.

Quem estuda o Espiritismo sabe que Allan Kardec mudou de ideia com relação ao fenômeno da possessão, que ele rejeitara até O Livro dos Médiuns e depois admitiu claramente, primeiro em um artigo publicado na Revista Espírita e depois em A Gênese.

A mudança de pensamento do Codificador deu-se por força dos fatos. É que demorou algum tempo para que ele se inteirasse do fenômeno da incorporação, hoje tão conhecido dos que trabalham na área da mediunidade. Na Revista Espírita de 1863 ele aludiu ao episódio, que muito o impressionou na ocasião. Escreveu então o Codificador: “Temos dito que não havia possessos, no sentido vulgar do vocábulo, mas subjugados. Voltamos a esta asserção absoluta, porque agora nos é demonstrado que pode haver verdadeira possessão, isto é, substituição, posto que parcial, de um Espírito errante a um encarnado.” (Revista Espírita de 1863, Edicel, pág. 373.)

Segundo Kardec, quando produzida por um mau Espírito a possessão tem todos os característicos da subjugação, mas, diferentemente da subjugação, a possessão pode ser produzida por um bom Espírito e, neste caso, pode aplicar-se ao fenômeno o nome de incorporação mencionado por Léon Denis e, décadas mais tarde, por André Luiz, Divaldo Franco e diversos outros autores.

A seguir, procurando sanar as dúvidas da leitora, apresentamos alguns trechos de autores diversos que trataram objetivamente do tema:

1 - Quando se dá o fenômeno da possessão?

É ao paroxismo da subjugação que se chama vulgarmente de possessão. Neste caso, frequentemente, o indivíduo tem consciência de que o que faz é ridículo, mas é constrangido a fazê-lo, como se um homem mais vigoroso do que ele fizesse mover, contra a sua vontade, seus braços, suas pernas e sua língua. (Allan Kardec em Obras Póstumas, Obsessão e possessão.)

2 – Como o Espírito atua na possessão?

Na obsessão, o Espírito atua exteriormente, com a ajuda do seu perispírito, que ele identifica com o do encarnado, ficando este afinal enlaçado por uma espécie de teia e constrangido a proceder contra a sua vontade. Na possessão, em vez de agir exteriormente, o Espírito atuante se substitui, por assim dizer, ao Espírito encarnado; toma-lhe o corpo para domicílio, sem que este, no entanto, seja abandonado pelo seu dono, pois que isso só se pode dar pela morte. De posse momentânea do corpo do encarnado, o Espírito se serve dele como se seu próprio fora: fala pela sua boca, vê pelos seus olhos, opera com seus braços, conforme o faria se estivesse vivo. (Allan Kardec em A Gênese, cap. XIV, item 47.)

3 – Há diferença entre obsessão e possessão?

Sim. Na obsessão há sempre um Espírito malfeitor. Na possessão pode tratar-se de um Espírito bom que queira falar e que, para causar maior impressão nos ouvintes, toma do corpo de um encarnado, que voluntariamente lho empresta, como emprestaria suas vestes a outro encarnado. Isso se verifica sem qualquer perturbação ou incômodo, durante o tempo em que o Espírito encarnado se acha em liberdade, como no estado de emancipação, conservando-se este último ao lado do seu substituto para ouvi-lo. Quando é mau o Espírito possessor, as coisas se passam de outro modo. Ele não toma moderadamente o corpo do encarnado e o arrebata, se este não possui bastante força moral para lhe resistir. Fá-lo por maldade para com este, a quem tortura e martiriza de todas as formas, indo ao extremo de tentar exterminá-lo, já por estrangulação, já atirando-o ao fogo ou a outros lugares perigosos. Servindo-se dos órgãos e dos membros do infeliz paciente, blasfema, injuria e maltrata os que o cercam; entrega-se a excentricidades e a atos que apresentam todos os caracteres da loucura furiosa. (Allan Kardec em A Gênese, cap. XIV, item 48.)

4 - Que fenômeno se observa na possessão? 

Na possessão a personalidade do autômato desaparece completamente por algum tempo, durante o qual se produz uma substituição, mais ou menos completa, da personalidade. A palavra e a escrita são, então, manifestações de um Espírito alheio ao organismo do qual se apossou. (Fredrich Myers em A Personalidade Humana, cap. IX.)

5 – O indivíduo possuído, o chamado autômato, abandona o corpo durante a possessão? 

As provas parecem indicar que ele cai inicialmente no estado de êxtase, durante o qual “seu espírito abandona o corpo”, ao menos em parte. Ele entra, então, num estado no qual o mundo espiritual se abre, mais ou menos, à sua percepção e, ao abandonar o organismo físico, favorece a invasão deste por outro Espírito que dele se serve, mais ou menos da mesma forma que o próprio Espírito do sujeito. (Fredrich Myers em A Personalidade Humana, cap. IX.)

6 - No fenômeno da possessão, o que se observa no paciente?

Primeiro, ele fica incapaz de qualquer domínio sobre si mesmo. No caso de Pedro (o obsidiado), citado no livro Nos Domínios da Mediunidade, de André Luiz, o instrutor Aulus informou: "Todas as células do córtex sofrem o bombardeio de emissões magnéticas de natureza tóxica. Os centros motores estão desorganizados. Todo o cerebelo está empastado de fluidos deletérios. As vias do equilíbrio aparecem completamente perturbadas". (Nos Domínios da Mediunidade, cap. 9, págs. 79 a 81.)

7 - A oração pode ajudar de algum modo em casos assim?

Sim. E foi isso que a médium Celina, percebendo a dificuldade para atingir o obsessor com a palavra falada, buscou, com o auxílio de Aulus. Formulou, então, vibrante prece, implorando a Compaixão Divina para os infortunados companheiros que ali se digladiavam inutilmente. As palavras da médium libertaram jactos de força luminescente a lhe saltarem das mãos e a envolverem em sensações de alívio os participantes do conflito. O perseguidor, qual se houvesse aspirado alguma substância anestesiante, se desprendeu automaticamente da vítima, que repousou, enfim, num sono profundo e reparador. O obsessor foi, então, conduzido, semiadormecido, a um local de emergência e Dona Celina ofereceu um pouco d'água fluidificada à chorosa e assustadiça genitora do enfermo. (Nos Domínios da Mediunidade, cap. 9, págs. 81 e 82.)
 


 
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