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por Rogério Coelho

O caminho da iluminação


Iluminar-se é ter confiança em si mesmo: é viver sem ressentimentos!

 “Brilhe a vossa luz.” Jesus. (Mt., 5:16.)

“Eu sou a Luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida”, afirmou[1] Jesus.

Todos os Espíritos fomos criados simples e ignorantes[2], mas, sem embargo, somos lucigênitos, pois, ao criar-nos, Deus implantou a Luz Divina na intimidade de cada um de nós.  A busca dessa dimensão divina é o fanal de nossa existência e, sendo Jesus a Luz do Mundo, só tendo-O como Modelo e Guia é que lograremos localizar o Reino dos Céus dentro de nós...

Uma lâmpada elétrica não ilumina apenas o interior do bulbo que a contém, mas espraia-se à sua volta. Da mesma forma, a Luz Divina, ínsita em todos nós deverá irradiar-se à nossa volta, vez que ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo da cama e sim no velador. (Mt., 5:15.)

Tal como na lâmpada elétrica, cuja luz interior espraia-se para o exterior, o processo de iluminação do Espírito, embora sendo interno, desdobra-se em consequências externas, pois interage no campo social em que vivemos.

Como encontrar e trilhar o caminho da iluminação?

Com a resposta, o confrade psicólogo Adenáuer Novaes[3]: “(...) o caminho da iluminação, meta inalcançável numa única existência, não implica tornar-se perfeito, mas descobrir e realizar a personalidade integral, oculta no estreito conhecimento de si mesmo. Pressupõe atravessar obstáculos, enxergar os próprios limites, agindo na vida para transformar-se a cada momento. Nesse contexto, os problemas não são atestados de fracassos, mas oportunidades preciosas de iluminação.

Iluminar-se é tornar-se dotado de luz, que brilha em si mesmo e em sua volta, isto é, que não está escondida, e que, portanto, extrapola os limites da consciência pessoal. O brilho próprio, inerente a todos, naturalmente atrai a quantos se aproximem. O brilho pessoal, sem que se deseje aparecer, atinge a quem interage com seu portador.

O processo de iluminação requer consciência de transformação, de desenvolvimento da personalidade na direção das qualidades superiores do espírito. É um processo interno com consequências externas.

O caminho na direção da iluminação se assemelha à jornada de um herói que anseia encontrar seu tesouro oculto em algum lugar de si mesmo. Contará com auxílios diversos, inclusive espiritual, porém terá que retornar sozinho a fim de instalar, paradoxalmente, o reino interior no mundo externo. Todos temos uma jornada em busca de si mesmo, em realizar sua própria vida, na procura de sua singularidade. Ao cabo da jornada retornamos a um novo início e, como numa espiral, encetamos novo destino, ao encontro, desta feita, com Deus.

Para iniciar essa grande viagem interior é preciso primeiramente nos desfazermos da ilusão de nossa própria inferioridade, pois somos filhos de Deus, e como tais, fadados à felicidade plena. Isto quer dizer que não devemos permitir a ideia de que somos insignificantes perante a vida.

A caminhada do espírito na busca de si mesmo requer otimismo e confiança no sucesso, bem como ausência de receio de estar só, pois o processo sempre se dará com auxílios diversos que, muito embora presentes, nunca tomarão o lugar do indivíduo. Nessa caminhada é preciso ter coragem, disciplina e a certeza de que o processo é pessoal e intransferível. Ninguém crescerá por ninguém. Outros, durante o processo de ascensão, se apresentarão nas mesmas circunstâncias e deverão merecer nossa ajuda. Devemos ter compaixão e generosidade para com os outros.

Deve o espírito não esquecer que o conformismo, a inércia e a acomodação surgirão na caminhada, induzindo o desejo de conclusão imediata sem se chegar ao termo do processo. Muitos param no meio sem forças e motivação para irem adiante. É preciso ter determinação. O compromisso com os objetivos que se pretende atingir é fundamental. É desejável a humildade para não se considerar vitorioso antes do tempo. A felicidade de se perceber caminhando e aprendendo com a vida nos permite sentir amor e paixão pelo que fazemos. É desejável se sentir apaixonado pela vida, pelas pessoas e por si mesmo...

A criatividade é outra marca durante a caminhada. Deve-se dar livre curso à inspiração como instrumento de descoberta das saídas dos conflitos inerentes ao processo.          

Mesmo considerando que todo controle pode prejudicar a visão da totalidade, é desejável que não se perca a organização e a ordem durante o processo de caminhada. 

 A consciência não deve estar fora da jornada da alma na direção da iluminação. Deve-se crer num certo poder pessoal para transformar as coisas, pois somos frutos do desejo de Deus, portanto capazes de operar milagres na vida. Essa certeza de identidade com o Criador nos confere a sabedoria para discernir entre o que nos convém ou não no processo.  (Paulo. I Cor., 6:12.)

Na dimensão criativa incluímos nossa capacidade de estabelecer uma identidade pessoal naquilo que fazemos. Criar, no nível humano, significa imprimir sua forma singular de fazer e sentir as coisas da vida. Todos podemos encontrar formas pessoais de fazer as coisas sem exagerar pelo desejo exclusivo de ser apenas diferente dos outros.  Criar algo significa buscar o melhor que possa ser feito. É também saber encontrar as saídas para os complexos problemas da vida de uma maneira própria; é usar a criatividade em todas as situações da vida. Dentro da dimensão criativa deve-se buscar desenvolver a intuição como ferramenta poderosa, não só na solução de conflitos como também no próprio crescimento espiritual. Estar resolvido nessa dimensão é buscar cada vez mais estabelecer conexão profunda com sua essência divina interna, que, em nome de Deus, promove o encanto da vida.

O desapego é exercício essencial na jornada de iluminação. À medida que contatamos com nossa própria criatividade e autonomia, precisamos nos desligar das exigências para com as pessoas e as situações da vida. Os sentimentos de posse decorrentes do medo de sermos abandonados por aqueles aos quais entregamos a responsabilidade de nos fazer felizes deturpam a natureza das relações afetivas e geram padrões escravizantes. Ao desenvolvermos o desapego, amando com liberdade, poderemos cultivar a alegria de viver em paz...

Somos todos caminhantes ao nos colocarmos em busca da realização interior, motivados pelo desejo de encontrar o significado da própria existência. Nessa estrada, inexorável e invariavelmente, nos depararemos com sombras ameaçadoras, representantes de nosso passado (desta e de outras encarnações), das quais não devemos fugir ou nos proteger, evitando-as. Elas são sinalizadoras de que é chegada a hora de questionar os valores sobre os quais alicerçamos a nossa vida até o momento. A crise é o início da jornada, e deveremos estar dispostos a sacrificar certas características pessoais, pois daí virá a reformulação dos aspectos da personalidade que perpetuam as repetições do passado.

O caminho da iluminação é árduo e difícil para quem estabelece como paradigma de vida a matéria e tudo que lhe diga respeito. A percepção da vida espiritual e suas consequências possibilita tornar a jornada menos penosa e sacrificial. Iluminação no caminho é consciência de eternidade e de presença divina consigo.

A jornada longa não é uma via crucis, nem tampouco um mar de rosas; é o caminho traçado por cada um, que lhe dará forma própria, de acordo com seus méritos e seu passado.  (Mateus, 16:27.)

Iluminar-se é ter confiança em si mesmo, é viver sem ressentimentos, sem vínculos desnecessários, sem exigências às pessoas. É trilhar nos próprios passos a estrada que a vida oferece, procurando enxergar os outros como companheiros de viagem. É compartilhar a própria vida, colocando-a a serviço de Deus junto à humanidade, em favor de si e do próximo. A vida é um dom de Deus que merece ser dividido com as pessoas à nossa volta. O viver egoísta, isolado em si mesmo, não possibilita a iluminação.

O caminho da iluminação pessoal leva-nos a compreender as verdades possíveis, a falar pelo coração, a entender poeticamente a vida e a agir com amorosidade. É a paz que tanto almejamos e que ainda não percebemos, que se situa tão perto de nós.

A fé não deve levar-nos a pensar que já ultrapassamos as várias fases da vida. Algumas etapas têm que ser vividas a fim de alcançarmos certos valores necessários ao espírito feliz. Para entrar no caminho da iluminação não basta a fé, é preciso o contato com a nossa natureza material, bem como viver os processos inerentes a ela. Iluminar-se é estar resolvido nas várias dimensões da vida. É aprender a lidar com o que efetivamente não se tem, isto é, com a ausência de tudo, mesmo se tendo alguma coisa, pois nada pertence ao ser humano que não esteja nele mesmo, que não seja ele mesmo.

É preciso ter objetivos na vida além do desejo de solucionar os problemas comuns. Não se determinar para uma única tarefa na vida, mas para a própria vida como um todo.  Buscar finalidades e objetivos para a vida além de resolver conflitos, por mais graves que sejam, isso é dar um passo a mais para se viver bem e feliz.

Iniciar um processo de autoiluminação é espiritualizar o próprio olhar sobre o mundo, colocando o amor na consciência, inundando a razão do sentimento de amorosidade. Nossas ideias e raciocínios passam a ser dinamizados pelos sentimentos superiores oriundos do espírito, dotado de amor e sabedoria. Nesse momento alcançaremos a prosperidade e tranquilidade na vida. Ser próspero é estar resolvido nas várias dimensões, e isto ocorre quando atuamos no mundo com amor e sabedoria”.                                
 


[1] - Jesus. Jo., 8:12.

[2] - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, questões 115 e 121.

[3] - NOVAES, Adenáuer Marcos Ferraz. Psicologia do Evangelho. Salvador: FLH, 1999.
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita