O
caminho da iluminação
Iluminar-se é ter confiança em si mesmo: é viver sem
ressentimentos!
“Brilhe a vossa luz.”
Jesus. (Mt., 5:16.)
“Eu sou a Luz do mundo; quem me segue não andará em
trevas, mas terá a luz da vida”,
afirmou[1]
Jesus.
Todos os Espíritos fomos criados simples e ignorantes[2],
mas, sem embargo, somos lucigênitos, pois, ao criar-nos,
Deus implantou a Luz Divina na intimidade de cada um de
nós. A busca dessa dimensão divina é o fanal de nossa
existência e, sendo Jesus a Luz do Mundo, só tendo-O
como Modelo e Guia é que lograremos localizar o Reino
dos Céus dentro de nós...
Uma lâmpada elétrica não ilumina apenas o interior do
bulbo que a contém, mas espraia-se à sua volta. Da mesma
forma, a Luz Divina, ínsita em todos nós deverá
irradiar-se à nossa volta, vez que ninguém acende uma
candeia e a coloca debaixo da cama e sim no velador.
(Mt., 5:15.)
Tal como na lâmpada elétrica, cuja luz interior
espraia-se para o exterior, o processo de iluminação do
Espírito, embora sendo interno, desdobra-se em
consequências externas, pois interage no campo social em
que vivemos.
Como encontrar e trilhar o caminho da iluminação?
Com a resposta, o confrade psicólogo Adenáuer Novaes[3]:
“(...) o caminho da iluminação, meta inalcançável numa
única existência, não implica tornar-se perfeito, mas
descobrir e realizar a personalidade integral, oculta no
estreito conhecimento de si mesmo. Pressupõe atravessar
obstáculos, enxergar os próprios limites, agindo na vida
para transformar-se a cada momento. Nesse contexto, os
problemas não são atestados de fracassos, mas
oportunidades preciosas de iluminação.
Iluminar-se é tornar-se dotado de luz, que brilha em si
mesmo e em sua volta, isto é, que não está escondida, e
que, portanto, extrapola os limites da consciência
pessoal. O brilho próprio, inerente a todos,
naturalmente atrai a quantos se aproximem. O brilho
pessoal, sem que se deseje aparecer, atinge a quem
interage com seu portador.
O processo de iluminação requer consciência de
transformação, de desenvolvimento da personalidade na
direção das qualidades superiores do espírito. É um
processo interno com consequências externas.
O caminho na direção da iluminação se assemelha à
jornada de um herói que anseia encontrar seu tesouro
oculto em algum lugar de si mesmo. Contará com auxílios
diversos, inclusive espiritual, porém terá que retornar
sozinho a fim de instalar, paradoxalmente, o reino
interior no mundo externo. Todos temos uma jornada em
busca de si mesmo, em realizar sua própria vida, na
procura de sua singularidade. Ao cabo da jornada
retornamos a um novo início e, como numa espiral,
encetamos novo destino, ao encontro, desta feita, com
Deus.
Para iniciar essa grande viagem interior é preciso
primeiramente nos desfazermos da ilusão de nossa própria
inferioridade, pois somos filhos de Deus, e como tais,
fadados à felicidade plena. Isto quer dizer que não
devemos permitir a ideia de que somos insignificantes
perante a vida.
A caminhada do espírito na busca de si mesmo requer
otimismo e confiança no sucesso, bem como ausência de
receio de estar só, pois o processo sempre se dará com
auxílios diversos que, muito embora presentes, nunca
tomarão o lugar do indivíduo. Nessa caminhada é preciso
ter coragem, disciplina e a certeza de que o processo é
pessoal e intransferível. Ninguém crescerá por ninguém.
Outros, durante o processo de ascensão, se apresentarão
nas mesmas circunstâncias e deverão merecer nossa ajuda.
Devemos ter compaixão e generosidade para com os outros.
Deve o espírito não esquecer que o conformismo, a
inércia e a acomodação surgirão na caminhada, induzindo
o desejo de conclusão imediata sem se chegar ao termo do
processo. Muitos param no meio sem forças e motivação
para irem adiante. É preciso ter determinação. O
compromisso com os objetivos que se pretende atingir é
fundamental. É desejável a humildade para não se
considerar vitorioso antes do tempo. A felicidade de se
perceber caminhando e aprendendo com a vida nos permite
sentir amor e paixão pelo que fazemos. É desejável se
sentir apaixonado pela vida, pelas pessoas e por si
mesmo...
A criatividade é outra marca durante a caminhada.
Deve-se dar livre curso à inspiração como instrumento de
descoberta das saídas dos conflitos inerentes ao
processo.
Mesmo considerando que todo controle pode prejudicar a
visão da totalidade, é desejável que não se perca a
organização e a ordem durante o processo de caminhada.
A consciência não deve estar fora da jornada da alma na
direção da iluminação. Deve-se crer num certo poder
pessoal para transformar as coisas, pois somos frutos do
desejo de Deus, portanto capazes de operar milagres
na vida. Essa certeza de identidade com o Criador
nos confere a sabedoria para discernir entre o que nos
convém ou não no processo. (Paulo. I Cor., 6:12.)
Na dimensão criativa incluímos nossa capacidade de
estabelecer uma identidade pessoal naquilo que fazemos.
Criar, no nível humano, significa imprimir sua forma
singular de fazer e sentir as coisas da vida. Todos
podemos encontrar formas pessoais de fazer as coisas sem
exagerar pelo desejo exclusivo de ser apenas diferente
dos outros. Criar algo significa buscar o melhor que
possa ser feito. É também saber encontrar as saídas para
os complexos problemas da vida de uma maneira própria; é
usar a criatividade em todas as situações da vida.
Dentro da dimensão criativa deve-se buscar desenvolver a
intuição como ferramenta poderosa, não só na solução de
conflitos como também no próprio crescimento espiritual.
Estar resolvido nessa dimensão é buscar cada vez mais
estabelecer conexão profunda com sua essência divina
interna, que, em nome de Deus, promove o encanto da
vida.
O desapego é exercício essencial na jornada de
iluminação. À medida que contatamos com nossa própria
criatividade e autonomia, precisamos nos desligar das
exigências para com as pessoas e as situações da vida.
Os sentimentos de posse decorrentes do medo de sermos
abandonados por aqueles aos quais entregamos a
responsabilidade de nos fazer felizes deturpam a
natureza das relações afetivas e geram padrões
escravizantes. Ao desenvolvermos o desapego, amando com
liberdade, poderemos cultivar a alegria de viver em
paz...
Somos todos caminhantes ao nos colocarmos em busca da
realização interior, motivados pelo desejo de encontrar
o significado da própria existência. Nessa estrada,
inexorável e invariavelmente, nos depararemos com
sombras ameaçadoras, representantes de nosso passado
(desta e de outras encarnações), das quais não devemos
fugir ou nos proteger, evitando-as. Elas são
sinalizadoras de que é chegada a hora de questionar os
valores sobre os quais alicerçamos a nossa vida até o
momento. A crise é o início da jornada, e deveremos
estar dispostos a sacrificar certas características
pessoais, pois daí virá a reformulação dos aspectos da
personalidade que perpetuam as repetições do passado.
O caminho da iluminação é árduo e difícil para quem
estabelece como paradigma de vida a matéria e tudo que
lhe diga respeito. A percepção da vida espiritual e suas
consequências possibilita tornar a jornada menos penosa
e sacrificial. Iluminação no caminho é consciência de
eternidade e de presença divina consigo.
A jornada longa não é uma via crucis, nem
tampouco um mar de rosas; é o caminho traçado por cada
um, que lhe dará forma própria, de acordo com seus
méritos e seu passado. (Mateus, 16:27.)
Iluminar-se é ter confiança em si mesmo, é viver sem
ressentimentos, sem vínculos desnecessários, sem
exigências às pessoas. É trilhar nos próprios passos a
estrada que a vida oferece, procurando enxergar os
outros como companheiros de viagem. É compartilhar
a própria vida, colocando-a a serviço de Deus junto
à humanidade, em favor de si e do próximo. A vida é um
dom de Deus que merece ser dividido com as pessoas à
nossa volta. O viver egoísta, isolado em si mesmo, não
possibilita a iluminação.
O caminho da iluminação pessoal leva-nos a compreender
as verdades possíveis, a falar pelo coração, a entender
poeticamente a vida e a agir com amorosidade. É a paz
que tanto almejamos e que ainda não percebemos, que se
situa tão perto de nós.
A fé não deve levar-nos a pensar que já ultrapassamos as
várias fases da vida. Algumas etapas têm que ser vividas
a fim de alcançarmos certos valores necessários ao
espírito feliz. Para entrar no caminho da iluminação não
basta a fé, é preciso o contato com a nossa natureza
material, bem como viver os processos inerentes a ela.
Iluminar-se é estar resolvido nas várias dimensões da
vida. É aprender a lidar com o que efetivamente não se
tem, isto é, com a ausência de tudo, mesmo se tendo
alguma coisa, pois nada pertence ao ser humano que não
esteja nele mesmo, que não seja ele mesmo.
É preciso ter objetivos na vida além do desejo de
solucionar os problemas comuns. Não se determinar para
uma única tarefa na vida, mas para a própria vida como
um todo. Buscar finalidades e objetivos para a vida
além de resolver conflitos, por mais graves que sejam,
isso é dar um passo a mais para se viver bem e feliz.
Iniciar um processo de autoiluminação é espiritualizar o
próprio olhar sobre o mundo, colocando o amor na
consciência, inundando a razão do sentimento de
amorosidade. Nossas ideias e raciocínios passam a ser
dinamizados pelos sentimentos superiores oriundos do
espírito, dotado de amor e sabedoria. Nesse momento
alcançaremos a prosperidade e tranquilidade na vida. Ser
próspero é estar resolvido nas várias dimensões, e isto
ocorre quando atuamos no mundo com amor e sabedoria”.
[1]
- Jesus. Jo., 8:12.
[2]
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88. ed.
Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, questões 115 e 121.
[3]
- NOVAES, Adenáuer Marcos Ferraz. Psicologia do
Evangelho. Salvador: FLH, 1999.