Examine estas frases:
- Já lhe contei o caso.
Já contei-lhe o caso.
- Já o avistei ontem. Já
avistei-o ontem.
Há nelas duas propostas
de redação: com próclise
no primeiro caso; com
ênclise no segundo. Qual
a correta?
Antes de mais nada, é
importante lembrar que
nos baseamos aqui nas
regras relativas à norma
culta, em que imperam os
princípios da gramática
tradicional ou
normativa, fixas e pouco
permissivas.
Em Portugal, se não
houver algo que atraia o
pronome pessoal átono, a
ênclise é a posição
padrão, ou seja, o
pronome é colocado
depois do verbo.
Exemplo: João ofereceu-me uma
bebida.
Existindo na frase uma
partícula atrativa, a
próclise se impõe.
Exemplo: João não me ofereceu
uma bebida.
As conjunções
subordinativas
inserem-se na lista das
partículas que
determinam a próclise.
Certos advérbios e
determinadas locuções
adverbiais também
integram a lista de
partículas atrativas, a
exemplo de: ainda, já,
oxalá, sempre, só,
talvez, também.
Eis alguns exemplos:
- Ainda ontem o vi no
mercado.
- Já o conhecia há muito
tempo.
- Oxalá se mantenha
sóbrio.
- Sempre o considerei um
indivíduo tristonho.
- Só lhe enviei o
comunicado hoje à noite.
- Talvez se lembre do
que lhe disse no ano
passado.
- Também lhe quero bem.
É importante frisar que
essa listagem não é
exaustiva e não abarca
todos os advérbios e
locuções adverbiais;
pelo menos esse é o
entendimento de muitos
gramáticos,
contrariamente ao que
propõe o gramático
brasileiro Evanildo
Bechara, que escreveu em
sua Moderna
Gramática Portuguesa:
«Não se pospõe pronome
átono a verbo modificado
diretamente por advérbio
(isto é, sem pausa entre
os dois, indicada ou não
por vírgula) ou
precedido de palavra de
sentido negativo».
Concluindo, as frases
corretamente redigidas
são estas:
- Já lhe contei o caso.
- Já o avistei ontem. |