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por Anselmo F. Vasconcelos

 
O drama do parricídio


Uma informação preocupante foi revelada recentemente pelo site da BBC Brasil a respeito do parricídio, isto é, modalidade de crime em que um filho deliberadamente tira a vida dos seus pais. Segundo pesquisa da professora Kathleen Heide, da Universidade do Sul da Flórida, só nos Estados Unidos, em média, cinco pais a cada semana são assassinados pelos seus filhos. É verdade que a violência tem alcançado patamares inimagináveis no mundo inteiro, mas também nessa esfera chega a causar enorme perplexidade.

A mesma reportagem abordou a história do adolescente, Nathon Brooks, que, em 2013, com apenas 14 anos, sem qualquer explicação plausível, atirou contra os pais quando eles estavam dormindo. Ambos sobreviveram milagrosamente e o jovem criminoso admitiu que, sem saber por que, havia entrado no quarto deles levando uma arma. Ele revelou que teve - momentos antes da tentativa de assassinato - alguns flashes alertando-o para não fazer aquilo...

No entanto, nas suas próprias palavras, “Mas eram muito rápidos e logo desapareceram, então, não tive a oportunidade de pensar nisso. E antes que percebesse o que tinha feito, eu puxei o gatilho e a arma disparou. Eu atirei de novo, e de novo”. Na opinião de algumas pessoas com as quais Nathon convivia, o episódio foi considerado surpreendente, já que ele tinha um comportamento calmo, era aparentemente feliz e tirava boas notas na escola.

Ao buscar desvendar o que o levou a praticar ato tão extremo, a polícia descobriu que, no dia do incidente, os pais de Nathon o haviam colocado de castigo por ter recebido uma detenção na escola. Assim sendo, poucas horas antes de Nathon desferir o terrível ataque contra os seus progenitores, o seu pai teria a ele recomendado: "Vá dormir. Você terá muito trabalho a fazer (tarefas domésticas) e não poderá jogar (um torneio de basquete que se aproximava)". Nathon reconheceu que essa frase do pai "foi o clique”. Ou seja, depreende-se que uma pequena contrariedade gerou a ação absolutamente insana e quase mortal do garoto.

Condenado pela justiça, Nathon já passou por várias avaliações psiquiátricas e o seu calvário na cadeia deverá durar até 2028 quando ele já terá alcançado 29 anos. A partir daí Nathon tentará reconstruir a sua vida ao lado dos seus pais, se possível for.

Mas o que pode levar jovens bem-nascidos e desfrutando de condições altamente propícias a agir de maneira tão brutal? Em O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec explica que “[...] Deus permite que nas famílias ocorram essas encarnações de Espíritos antipáticos ou estranhos, com o duplo objetivo de servir de prova para uns e, para outros, de meio de progresso. Assim, os maus se melhoram pouco a pouco, ao contato dos bons e por efeito dos cuidados que se lhes dispensam. O caráter deles se abranda, seus costumes se apuram, as antipatias se esvaem. É desse modo que se opera a fusão das diferentes categorias de Espíritos, como se dá na Terra com as raças e os povos”.

De maneira similar, na obra Coragem, o Espírito André Luiz (psicografia de Francisco Cândido Xavier) esclarece que “Achamo-nos com os melhores familiares e com os melhores companheiros que a lei do merecimento nos atribui”. Continuando com os esclarecimentos, André Luiz argumenta que “À vista disso, permaneçamos convencidos de que a base de nossa tranquilidade reside na integridade da consciência; compreendamos que todas as afeições-problemas em nossa trilha de agora constituem débitos de existências passadas, que nos compete ressarcir, e que todas as facilidades que já nos enriquecem a estrada são instrumentos que o Senhor nos empresta, a fim de utilizarmos a vontade própria, na construção de mais ampla felicidade porvindoura e entendamos que a vida nos devolve aquilo que lhe damos”.

No entanto, a infeliz via do parricídio arrasa dramaticamente com tais possibilidades de reconstrução de entendimento entre almas antagonistas. Desse modo, é preciso muita atenção com aqueles que recebemos na condição de filhos. Talvez esteja aí um Espírito com o qual temos pesados débitos a reparar. Assim sendo, sondar-lhes constantemente a personalidade, tendências, reações e atitudes, dentro e fora de casa, parecem constituir medidas preventivas indispensáveis.

Na posição de pais não podemos responder por todos os desajustes comportamentais dos filhos, mas podemos ajudá-los para que atinjam o equilíbrio interior perante as leis de Deus. Portanto, uma família focada no seu desenvolvimento espiritual certamente diminuirá a possibilidade de protagonizar tragédias desse jaez. Concluindo com as sensatas observações do citado mentor, “Você e nós estejamos convencidos, diante da Providência Divina, que possuímos infinitas possibilidades de reajuste, aprimoramento, ação ou ascensão e que depende, tão somente de nós, melhorar ou agravar, iluminar ou obscurecer as nossas situações e caminhos”. 
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita