“(...) Não te incomodes, meu caro amigo, com os “boatos
da confusão”.
(...) Em Belo Horizonte, amigos nossos em doutrina
proclamaram de público que o “Chico Xavier não passa de
uma propriedade da Federação”, outros me escrevem me
perguntando “qual foi o preço pelo qual me vendi a ela”.
Confrades da própria Bahia costumam escrever-me,
começando assim: “Prezado amigo Chico Xavier, você que
se enriqueceu com a literatura mediúnica, envie-nos
tanto para auxiliar-nos nisto ou naquilo”. Muitos me
indagam sobre os “preços de meu contrato mediúnico com a
Federação” e alguns irmãos aí do Rio, quase que
semanalmente, me escrevem em termos ásperos, acusando-me
de estar vendido à Casa de Ismael. A princípio,
incomodava-me, hoje, porém, deixo que digam o que
quiserem. E isto ainda me serve de confortadora
advertência, porque se muitos dos nossos companheiros de
crença não podem compreender a amizade de um médium a
uma instituição venerável como a Federação, que esperar
dos nossos inimigos gratuitos? Temos de ouvir-lhes as
leviandades, receber-lhes os golpes e seguir para a
frente. Grato pelas notícias do caso H. C. Esperemos por
Jesus e pelas decisões do Supremo Tribunal com o Dr.
Timponi à frente. Do que surgir, espero o obséquio de
tuas notícias, sim?
Em anexo, te envio no original um trabalho que recebi
ontem de André Luiz. Estou certo de que, com a ajuda de
Deus, receberemos, em breve, novo livro dele. Estou a
seguir para Guaxupé e Ouro Fino, logo que chegar a
determinação telegráfica. É a luta das exposições
pecuárias que recomeçam no novo período anual. (...)”
Seguia o ano de 1945. Diante de tantos boatos e
confusões, Chico Xavier escreve aconselhando Wantuil de
Freitas a não se incomodar com os “boatos da confusão”.
E relaciona algumas das leviandades e agressões com as
quais está sendo “presenteado” pelos confrades. São tão
absurdas que, realmente, não há nada a ser comentado
sobre o teor dessas acusações. A nossa sensibilidade
repugnam tais acusações. O nosso bom senso rejeita-as,
imediatamente. Mas disso ressuma preciosa lição. Não
apenas para os médiuns, mas para quantos trabalham na
seara do Bem.
Paulo de Tarso deixou-nos um alerta: “Em tudo somos
atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não
desanimados.” (II Coríntios, 4:8.)
Em toda parte e em todos os tempos observamos que os
obreiros do Senhor conhecem de perto as tribulações e
perplexidades sob as mais variadas formas, por
permanecerem fiéis. Mas, por isto mesmo, isto é, porque
dão o testemunho de fidelidade a Jesus, não se deixarão
dominar pela angústia ou se abater pelo desânimo.
Esta a lição que Chico Xavier nos transmite: Que não nos
deixemos abater pelas tribulações e pelas surpresas
dolorosas. Importa é perseverar no Bem, prosseguir no
trabalho e manter-se vigilante. Lembremo-nos de que o
trabalho edificante é a nossa melhor defesa. Nele
adquirimos resistência para vencer as tribulações.
Muitos companheiros se deixam ficar no meio do caminho
porque sofreram decepções, calúnias e ingratidões.
Prostrados e abatidos, interrompem a marcha evolutiva, o
que redundará em graves prejuízos para si mesmos.
Sigamos o exemplo que Paulo viveu no passado. Imitemos o
exemplo que Chico Xavier!
Prosseguir sempre, com ânimo firme, perseverando no Bem,
atribulados e perplexos, mas não abatidos e angustiados.
Afinal, se Chico Xavier tivesse desistido ante os
embates, ante todas essas perseguições e calúnias,
diante de todos os sofrimentos que a esta altura do ano
de 1945 já eram em profusão em sua vida, nós não
teríamos toda essa maravilhosa literatura mediúnica que
ultrapassa, em 1985, a casa dos 250 títulos.
Se Chico Xavier se deixasse abater, e parasse,
angustiado e prostrado, desiludido e vencido, não teria
cumprido o seu apostolado e nem seria o missionário que
identificamos nele, atualmente. Se Chico Xavier tivesse
interrompido a sua caminhada, a pretexto de lágrimas e
dores, injustiças e incompreensões, estaria dando campo
às trevas e semeando novos e amargos dissabores em sua
existência.
Com que rara felicidade ele deve hoje abençoar todos
esses aguilhões que o impeliram a lutar e a vencer a si
mesmo e que tornaram mais valiosa a sua vitória!
Do livro Testemunhos de Chico Xavier, de Suely
Caldas Schubert.