Entrevista
por Orson Peter Carrara

Ano 11 - N° 525 - 16 de Julho de 2017

“Momento Espírita”: há 45 anos no ar

José Benevides Cavalcante (foto), nosso entrevistado, é muito conhecido na seara espírita nacional pela qualidade de seus trabalhos doutrinários de divulgação espírita. Espírita desde 1963, nasceu e reside em Garça (SP), onde com valorosa equipe mantém no ar, há 45 anos, um importante programa espírita. Pedagogo, professor na área de ciências e matemática, advogado, diretor de escola, supervisor e delegado de ensino, vincula-se ao Centro Espírita Caminho de Damasco, na cidade onde reside, do qual exerce a função de secretário.

Nesta entrevista ele nos fala sobre sua experiência na divulgação espírita pelo rádio.

Quando e como surgiu o programa radiofônico “Momento Espírita”?

O programa “Momento Espírita” estreou no rádio num domingo, às 11 e meia da manhã, no dia 02/07/1972, há 45 anos, na antiga Rádio Clube de Garça, na época com apenas 15 minutos de duração. Era mais uma ação que o Centro Espírita Caminho de Damasco começava a desenvolver para a divulgação da doutrina. “Momento Espírita” é um dos programas mais antigos de toda a região de Marília e um dos programas espíritas mais antigos do Brasil.

Ele é semanal? qual o tempo de duração?

O programa sempre foi semanal e no mesmo dia e horário. Há 26 anos, porém, ele passou a ser transmitido pela Rádio Universitária AM, 1060 khz, e tem hoje uma duração de cerca de 40 minutos, sendo transmitido também via internet (www.uniradio.com.br), podendo ser sintonizado em qualquer parte do mundo. Já recebemos telefonemas e/ou mensagens de vários pontos do Brasil e até do exterior de ouvintes que estavam acompanhando o programa.

Qual o perfil da programação?

A parte central do programa é de perguntas e respostas dos ouvintes. O ouvinte telefona para Momento Espírita durante sua apresentação (por telefone fixo ou celular) ou, então, passa um e-mail ou uma mensagem por Whatsapp, neste ou em outro momento, e tem o direito de concorrer a um livro espírita que é sorteado ao final de cada edição. As perguntas são respondidas no domingo seguinte, pois as respostas são dadas após pesquisa. Quando há urgência, a resposta é dada por telefone pelo atendente, quase sempre eu próprio, mas o assunto volta a ser tratado na próxima edição. Além desse segmento de perguntas e respostas, há duas crônicas, uma página da Biblioteca Batuíra do C.E. Caminho de Damasco, uma página do Lar Meimei (atendimento a famílias) e uma página do Clube do Livro, apresentados por vários locutores. Ao todo, contando com o técnico de som, a equipe de Momento Espírita é composta de 10 (dez) pessoas.

O espaço é cedido ou pago? Durante todos esses anos nunca houve alguma interrupção?

O programa nunca sofreu interrupção nestes 45 anos de apresentação, apresentando-se mais de 2.200 vezes. Ele é redigido com antecedência e levado aos apresentadores, aproveitando-se o máximo do tempo disponível. Uma das preocupações é manter sua qualidade, através de uma linguagem correta, clara e objetiva, fazendo com que a informação espírita seja um veículo seguro de transmissão dos princípios da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec. O espaço, na verdade, é negociado, mediante troca de serviços, mas a direção da emissora sempre demonstrou um carinho especial pelo programa.

Como é feita a pauta? Qual o principal critério da temática de cada programa?

Como dissemos, o programa é redigido com antecedência e são as perguntas dos ouvintes que direcionam a temática de cada edição. Desse modo, embora predomine um tema em cada apresentação, os assuntos podem ser variados, dependendo das perguntas. Há vinhetas gravadas para a abertura, intervalos entre um segmento e outro e encerramento. Cada edição tem o seguinte perfil: a) abertura com o anúncio dos temas que vão ser tratados; b) crônica sobre um tema atual, ligado à ciência ou filosofia; c) perguntas dos ouvintes (3 ou 4 perguntas); d) crônica sobre um tema doutrinário; e) momento próprio para o Clube do Livro ou Lar Meimei; d) momento para a divulgação da biblioteca espírita; e) notícias dos eventos espíritas, inclusive da USE; f) mensagem com Chico Xavier; g) encerramento.

O programa é ao vivo? E o que mais lhe chamou a atenção nesses anos todos?

O programa é sempre ao vivo. Como são dez na equipe, ele nunca deixa de ir ao ar por falta de apresentadores. Com certeza é o programa de maior número de apresentadores da emissora. Vários já desencarnaram ao longo desses 45 anos. Há vozes masculinas e femininas. O que mais no chama a atenção é o grande alcance do programa, pois, além dos telefonemas (uma média 10 a 12 por domingo), sempre ficamos sabendo da existência de novos ouvintes, deixando claro que a maioria não é espírita ou nunca frequentou um ambiente espírita. No centro e particularmente na biblioteca do centro, somos procurados por pessoas que chegam ao Espiritismo através do programa. Temos uma biblioteca muito bem organizada com um acervo de mais de 6 mil exemplares e isso também ajuda-nos muito na divulgação e no programa, tanto assim que a biblioteca tem um espaço especial em cada edição.

Cite, se puder, pelo menos dois fatos marcantes.

Um fato interessante ocorreu com uma senhora de mais de 70 anos que ligava todo domingo para o programa, dizendo-se muito beneficiada por suas mensagens de esclarecimento e reconforto. No entanto, como pertencia a uma família tradicionalmente católica, ela não podia concordar com a reencarnação; preferia acreditar na ressurreição. Dizíamos que ela não se preocupasse com isso, que continuasse a ouvir o programa e aproveitasse a parte que mais a ajudava. Passados vários anos – não sabemos dizer quantos – um dia, quando chegamos à rádio, essa senhora estava lá nos esperando e nos abraçou a todos comovidamente. Ela vinha dizer que agora tinha se convencido da reencarnação e queria dar essa notícia pessoalmente, aproveitando para nos conhecer. Algum tempo depois essa senhora desencarnou.

Um outro fato deu-se com um ouvinte de Marília, que também sempre ligava para o programa. Um dia, ele fez uma pergunta sobre a possibilidade de um caso de reencarnação na sua família e queria a nossa opinião a respeito. Conversamos alguns minutos e, por fim, lhe perguntamos que centro espírita frequentava naquela cidade; afinal já nos conhecíamos bem por telefone e sentíamos que ele tinha um razoável conhecimento da doutrina. Para nossa surpresa, ele respondeu que era evangélico, mas que acreditava na reencarnação; e, mais ainda, que na sua igreja vários companheiros também acreditavam na reencarnação e alguns ouviam o programa. Diante disso, ficamos pensando na afirmação de Kardec, quando disse que as ideias espíritas se propagariam naturalmente, pois se infiltrariam se forma sutil e silenciosa.

Em suas considerações finais, pedimos que nos diga o que pensa a respeito da divulgação espírita por meio do rádio?

Necessária e sempre oportuna. Quando Cairbar Schutel inaugurou o programa espírita radiofônico, na década de 1930, pela Rádio Cultura de Araraquara, ele estava considerando a necessidade de levarmos o Espiritismo para fora do centro, para alcançar o grosso da população que, por inúmeros motivos, já se coloca longe do ambiente espírita. Por essa razão, precisamos investir na divulgação da doutrina à comunidade, seja pelo rádio, pela televisão, pela internet e pelos eventos que os espíritas devem promover fora do centro para mostrar quanto o Espiritismo tem a contribuir para o bem-estar da sociedade e para o futuro espiritual do homem.
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita