Internacional
por Ênio Medeiros

Ano 11 - N° 525 - 16 de Julho de 2017

 

 

Divaldo: “O Espiritismo é o Consolador, não o Solucionador”


 

Na sua mais recente passagem pela Europa, Divaldo Franco falou também nas cidades italianas de Milão e Roma, cidade em que se situa o Vaticano, sede da Igreja Católica, cujo território se localiza em um enclave murado dentro da capital de Itália. Nas linhas abaixo, nosso colaborador Ênio Medeiros conta-nos como foi o trabalho ali realizado.

Vindo da Alemanha, Divaldo chegou a Roma na tarde de 29 de maio, onde foi recebido pelos amigos espíritas do GRAK -Gruppo Di Roma Allan Kardec, que o aguardavam no aeroporto. No dia imediato, 30 de maio, terça-feira, Divaldo Franco realizou uma conferência na pequena sede do GRAK, onde se reuniram os participantes dos grupos locais, falando aos corações amigos da seara espírita.

Em sua fala, Divaldo, referindo-se a Roma e à Via Ápia antiga, uma das principais estradas da antiga Roma, narrou comovente história envolvendo as personagens Lavínia e Hester, esta última vitimada pela paralisia infantil. O pai levou-a ao encontro com Jesus, que não a curou, como o mundo espera, ou seja, fazendo-a andar. Porém, mais tarde, após a morte de seu pai, ela iria perceber que, apesar de paralítica, sentia-se feliz, levando em consideração que, através de Jesus, passou a compreender o sentido da palavra amor. Compreendeu que muitos dos que foram curados por Ele novamente adoeceram gravemente. Hester, no entanto, despertou para a vida, pôde auxiliar os que sofrem, graças à fortuna deixada pelo seu pai, agradecendo a Jesus ter-lhe curado a alma e não o corpo.

Por que será, indagou o ilustre orador, que para amar a Jesus são necessárias algumas provações? Todos temos, afinal, um caminho a percorrer, trazemos as realizações do passado, muitas delas infelizes, que aguardam a devida reparação. Pela reencarnação, cada qual é situado no local apropriado e com as condições a que fez jus. 

Na sequência, Divaldo discorreu sobre as quatro estradas psicológicas que levam a criatura humana ao reino de Deus. A da conversão é a trajetória do apóstolo dos gentios, Paulo de Tarso, convertido em Damasco. O converso não se deixa abalar. Outro caminho leva na direção da solidariedade, onde o exemplo fidedigno é encontrado na parábola do Bom Samaritano. Magistral, como sempre, Divaldo emoldurou as passagens e paisagens de uma forma tão viva, tão real, que dava a impressão a todos de estarem diante da cena.

A próxima estrada que deve ser percorrida é a do sacrifício. Aludindo ao tema, Divaldo asseverou que mesmo nos dias atuais o cristão que não se sacrifica é como flor sem perfume; embora possuindo aparência, é somente um adorno.

E por fim, a do acompanhamento, que figurativamente Divaldo comparou a um doente em recuperação, que não pode ficar só. Assim, estabeleceu um paralelo com aqueles que buscam a Doutrina Espírita nas sociedades espíritas. Eles necessitam de acompanhamento, de explicações, de paciência.

Destacando a figura do inolvidável Mestre Jesus, Divaldo asseverou que a cruz é como um punhal cravado na terra, e a morte na cruz, de braços abertos, é para afagar as nossas aflições, é a nossa ponte entre a terra e Deus. As quatro estradas do Evangelho devem ser percorridas pelos cristãos. Em qual estrada, afinal, nós estamos? Qual delas já percorremos?

Ao finalizar a palestra, ele recomendou que cada qual de nós deve manter-se confiante, sem temor, pois o Espiritismo é Jesus de volta. Voltemo-nos para esse doce amigo e nunca estaremos sós. Traçando uma rota segura, Divaldo incentivou a marchar sem temor, amando e tornando aquela sala em que se encontravam em um templo de amor. “O Espiritismo é o Consolador, não o Solucionador. Cada um, por sua vez, deve realizar as ações libertadoras, com a certeza da imortalidade redentora”, afirmou o orador. “Somos amados, busquemos os benfeitores, sem temores e com confiança diante dos sofrimentos e dos desafios.”

A segunda conferência em Roma – Na noite seguinte, 31 de maio, nas instalações do hotel Domus Nova Bethlem, no centro de Roma,  sob os auspícios do grupo GRAK - Gruppo Di Roma Allan Kardec, Divaldo Franco proferiu uma conferência para uma plateia de 200 pessoas, com o tema "La Transformazione dell' Essere Umano Attraverso l'Autoconoscenza" (A Transformação do ser humano através do autoconhecimento). Para tanto, contou com a tradução para o idioma italiano de Orietta Borgia.

Divaldo Franco, iniciando a abordagem, destacou que o ser humano experimenta grandes desafios externos, dando-lhes toda a atenção, esquecendo-se de que o fundamental é o movimento em direção à intimidade, autoconhecendo-se. Muitos não se permitem fruir a felicidade, e negam-na. São queixosos, negativos, desejam que se compadeçam deles.

Esse padrão negativo pode ser superado por meio da mudança mental, substituindo-se os pensamentos pessimistas pelos otimistas, de ocorrências favoráveis à vida, positivos.

Em seguida, Divaldo apresentou os conceitos de felicidade e a necessidade de a vida ter um sentido, emoldurando-os com os pensamentos de Carl Gustav Jung (1875-1961), o pai da psicologia analítica; de Rollo May (1909-1994), psicólogo americano, com os três fatores que inquietam a criatura humana: o Individualismo, o Sexismo e o Consumismo; e de Viktor Frankl (1905-1997), médico psiquiatra austríaco.

Compreendendo que o sentido da vida é amar, os indivíduos, porque já se autodescobriram, agem de forma simples, convivendo pacificamente com os que lhes são diferentes. O homem moderno vive em uma espécie de isolamento, provocado pela comunicação virtual. Isso está diminuindo sua faculdade de conversar, de conviver, privando-o do calor humano.

O grande objetivo da vida é a imortalidade. Vive-se em um mundo relativo. Tudo está em permanente mudança. O Espiritismo apregoa essa certeza, tal qual a noite que sempre cede lugar ao sol da manhã. Autoiluminar-se é um dever intransferível, é a missão de cada indivíduo, pacificando-se, promovendo a paz. Para tal, é necessário que se ame, amando nosso semelhante. “Ame os que estão no lar, ame os amigos, acenda uma luz na escuridão das almas infelizes”, propôs o orador.

Revestido de caráter terapêutico, o encontro permitiu perceber que, para as almas feridas, o bálsamo é o Evangelho, que tem o condão der diminuir a ardência provocada pelas decepções.

Aplaudido de pé, Divaldo ainda atendeu os amigos que o buscavam para um diálogo, respondendo as questões formuladas e deixando a expectativa do retorno para o futuro. Afinal, o semeador saiu para semear...

A conferência em Milão – No dia 1º de junho, quinta-feira, nem bem o astro-rei se apresentara e já Divaldo Franco e seus amigos estavam presentes na estação central de Roma, embarcando em um trem para Milão, onde foram recebidos pelos confrades do grupo espírita Sentieri dello Spirito. De imediato a comitiva alojou-se no hotel, pois era urgente o refazimento, afinal poucas horas os separavam do início da conferência, cujo tema foi L'Arte di Amare.

O evento foi realizado nas instalações do belíssimo Museu de Arte Moderna Triennale di Milano, contando com um público que ultrapassou 300 pessoas.

Estavam presentes o Cônsul-Geral do Brasil para o Norte da Itália, embaixador Dr. Paulo Cordeiro de Andrade Pinto, e sua esposa. A brilhante apresentação do tenor Maécio, natural de Recife, PE, surpreendeu pela sua voz especial e por cantar com a alma.

Em breves palavras, o Cônsul-Geral, Dr. Cordeiro, declarou ter a honra de receber um grande brasileiro, um baiano, cidadão de Feira de Santana, BA, que veio trazer a sabedoria, o farol baiano, para todos aqueles que procuram o caminho do bem.

Destacando o surgimento das emoções, Divaldo iniciou sua fala dizendo que no início a criatura humana possuía três instintos básicos, exercidos por bilhões de anos: comer, procriar e dormir. Em um dado momento, de repente, o ser humano passou a ter Medo, o medo da caverna, da morte. Assim, o medo foi a primeira emoção desenvolvida. Após alguns milhões de anos surgiu a Ira, uma emoção psicológica que produz uma reação fisiológica: foi a segunda emoção. E, há menos de um milhão de anos, surgiu o Amor, a mais recente emoção da criatura humana. 

O amor é a mais elevada qualidade evolutiva do ser humano. Afirmava Aristóteles: quando duas pessoas se amam são dois corpos em uma só alma. Einstein, através de cartas que escreveu à filha, e que vieram a público recentemente, afirmou que o Amor é a maior de todas as forças do Universo.

Referindo-se ao equívoco, muito comum entre as pessoas, de tomarem o sexo como sinônimo de amor, questionou Divaldo: - Será que o amor é esta parte do nosso organismo? Isto é instinto, esclareceu. O amor deve expressar-se antes. Pode ser através de um sorriso, de um olhar, da cumplicidade e, depois, com a gratidão. O amor é algo transcendente, que preenche o ser, de cunho cristão, casto, porque não tem uma concepção de vileza, de baixeza moral.

Sobre o amor materno, ele questionou: - Qual a mãe que pode seguir feliz e em paz quando um filho seu padece sofrimentos e dores?  O verdadeiro amor nunca desiste, ele insiste. 

Apresentando experiências próprias, em que a mediunidade evidencia a interferência dos Espíritos na vida dos indivíduos, destacou, de maneira lúcida, clara, a permanência dos laços de amor após a morte do corpo. Com sensibilidade, Divaldo tocou na intimidade dos presentes, afinal estavam diante de alguém que convive diuturnamente com o mundo dos Espíritos e que, por isso, se expressa com autoridade. Seus relatos encontram base na longa existência dedicada ao trabalho no bem e no amor incondicional. Sua vida de amor inspira os indivíduos a buscarem o bem, o amor.

 

Ao finalizar, o estimado orador asseverou que nestes dias de crises, de aparente morte do amor, será necessário possuir a coragem para dizer que ama, tendo a certeza que é filho muito amado do Criador, desenvolvendo o sentimento de gratidão aos momentos de bênçãos do amor.

Muito aplaudido no final, Divaldo ainda atendeu um grande número de pessoas que dele se acercaram em busca de um abraço, uma palavra amiga. Sem mais, buscou o descanso, pois que nas primeiras horas do dia seguinte, Zurique, na Suíça, o aguardava. 


Nota

As fotos desta reportagem são também de Ênio Medeiros, de Santa Cruz do Sul (RS). 


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita