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Divaldo: “O Espiritismo é
o Consolador, não o Solucionador” |
Na sua mais recente passagem pela Europa, Divaldo Franco
falou também nas cidades italianas de Milão e Roma,
cidade em que se situa o Vaticano, sede da Igreja
Católica, cujo território se localiza em um enclave
murado dentro da capital de Itália. Nas linhas abaixo,
nosso colaborador Ênio Medeiros conta-nos como foi o
trabalho ali realizado.
Vindo da Alemanha, Divaldo chegou a Roma na tarde de 29
de maio, onde foi recebido pelos amigos espíritas do
GRAK -Gruppo Di Roma Allan Kardec, que o
aguardavam no aeroporto. No dia imediato, 30 de maio,
terça-feira, Divaldo Franco realizou uma conferência na
pequena sede do GRAK, onde se reuniram os participantes
dos grupos locais, falando aos corações amigos da seara
espírita.
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Em sua fala, Divaldo, referindo-se a Roma e à Via Ápia
antiga, uma das principais estradas da antiga Roma,
narrou comovente história envolvendo as personagens
Lavínia e Hester, esta última vitimada pela paralisia
infantil. O pai levou-a ao encontro com Jesus, que não a
curou, como o mundo espera, ou seja, fazendo-a andar.
Porém, mais tarde, após a morte de seu pai, ela iria
perceber que, apesar de paralítica, sentia-se feliz,
levando em consideração que, através de Jesus, passou a
compreender o sentido da palavra amor. Compreendeu que
muitos dos que foram curados por Ele novamente adoeceram
gravemente. Hester, no entanto, despertou para a vida,
pôde auxiliar os que sofrem, graças à fortuna deixada
pelo seu pai, agradecendo a Jesus ter-lhe curado a alma
e não o corpo.
Por que será, indagou o ilustre orador, que para amar a
Jesus são necessárias algumas provações? Todos temos,
afinal, um caminho a percorrer, trazemos as realizações
do passado, muitas delas infelizes, que aguardam a
devida reparação. Pela reencarnação, cada qual é situado
no local apropriado e com as condições a que fez jus.
Na sequência, Divaldo discorreu sobre as quatro estradas
psicológicas que levam a criatura humana ao reino de
Deus. A da conversão é a trajetória do apóstolo
dos gentios, Paulo de Tarso, convertido em Damasco. O
converso não se deixa abalar. Outro caminho leva na
direção da solidariedade, onde o exemplo
fidedigno é encontrado na parábola do Bom Samaritano.
Magistral, como sempre, Divaldo emoldurou as passagens e
paisagens de uma forma tão viva, tão real, que dava a
impressão a todos de estarem diante da cena.
A próxima estrada que deve ser percorrida é a do sacrifício.
Aludindo ao tema, Divaldo asseverou que
mesmo nos dias atuais o cristão que não se sacrifica é
como flor sem perfume; embora possuindo aparência, é
somente um adorno.
E por fim, a do acompanhamento, que
figurativamente Divaldo comparou a um doente em
recuperação, que não pode ficar só. Assim, estabeleceu
um paralelo com aqueles que buscam a Doutrina Espírita
nas sociedades espíritas. Eles necessitam de
acompanhamento, de explicações, de paciência.
Destacando a figura do inolvidável Mestre Jesus, Divaldo
asseverou que a cruz é como um punhal cravado na terra,
e a morte na cruz, de braços abertos, é para afagar as
nossas aflições, é a nossa ponte entre a terra e Deus.
As quatro estradas do Evangelho devem ser percorridas
pelos cristãos. Em qual estrada, afinal, nós estamos?
Qual delas já percorremos?
Ao finalizar a palestra, ele recomendou que cada qual de
nós deve manter-se confiante, sem temor, pois o
Espiritismo é Jesus de volta. Voltemo-nos para esse doce
amigo e nunca estaremos sós. Traçando uma rota segura,
Divaldo incentivou a marchar sem temor, amando e
tornando aquela sala em que se encontravam em um templo
de amor. “O Espiritismo é o Consolador, não o Solucionador.
Cada um, por sua vez, deve realizar as ações
libertadoras, com a certeza da imortalidade redentora”,
afirmou o orador. “Somos amados, busquemos os
benfeitores, sem temores e com confiança diante dos
sofrimentos e dos desafios.”
A segunda conferência em Roma
– Na noite seguinte, 31 de maio, nas instalações do
hotel Domus Nova Bethlem, no centro de Roma, sob
os auspícios do grupo GRAK - Gruppo Di Roma Allan
Kardec, Divaldo Franco proferiu uma conferência para
uma plateia de 200 pessoas, com o tema "La
Transformazione dell' Essere Umano Attraverso l'Autoconoscenza"
(A Transformação do ser humano através do
autoconhecimento). Para tanto, contou com a tradução
para o idioma italiano de Orietta Borgia.
Divaldo Franco, iniciando a abordagem, destacou que o
ser humano experimenta grandes desafios externos,
dando-lhes toda a atenção, esquecendo-se de que o
fundamental é o movimento em direção à intimidade,
autoconhecendo-se. Muitos não se permitem fruir a
felicidade, e negam-na. São queixosos, negativos,
desejam que se compadeçam deles.
Esse padrão negativo pode ser superado por meio da
mudança mental, substituindo-se os pensamentos
pessimistas pelos otimistas, de ocorrências favoráveis à
vida, positivos.
Em seguida, Divaldo apresentou os conceitos de
felicidade e a necessidade de a vida ter um sentido,
emoldurando-os com os pensamentos de Carl Gustav
Jung (1875-1961), o pai da psicologia analítica; de Rollo
May (1909-1994), psicólogo americano, com os três
fatores que inquietam a criatura humana: o
Individualismo, o Sexismo e o Consumismo; e de Viktor
Frankl (1905-1997), médico psiquiatra austríaco.
Compreendendo que o sentido da vida é amar, os
indivíduos, porque já se autodescobriram, agem de forma
simples, convivendo pacificamente com os que lhes são
diferentes. O homem moderno vive em uma espécie de
isolamento, provocado pela comunicação virtual. Isso
está diminuindo sua faculdade de conversar, de conviver,
privando-o do calor humano.
O grande objetivo da vida é a imortalidade. Vive-se em
um mundo relativo. Tudo está em permanente mudança. O
Espiritismo apregoa essa certeza, tal qual a noite que
sempre cede lugar ao sol da manhã. Autoiluminar-se é um
dever intransferível, é a missão de cada indivíduo,
pacificando-se, promovendo a paz. Para tal, é necessário
que se ame, amando nosso semelhante. “Ame os que estão
no lar, ame os amigos, acenda uma luz na escuridão das
almas infelizes”, propôs o orador.
Revestido de caráter terapêutico, o encontro permitiu
perceber que, para as almas feridas, o bálsamo é o
Evangelho, que tem o condão der diminuir a ardência
provocada pelas decepções.
Aplaudido de pé, Divaldo ainda atendeu os amigos que o
buscavam para um diálogo, respondendo as questões
formuladas e deixando a expectativa do retorno para o
futuro. Afinal, o semeador saiu para semear...
A conferência em Milão
– No dia 1º de junho, quinta-feira, nem bem o astro-rei
se apresentara e já Divaldo Franco e seus amigos estavam
presentes na estação central de Roma, embarcando em um
trem para Milão, onde foram recebidos pelos confrades do
grupo espírita Sentieri dello Spirito. De
imediato a comitiva alojou-se no hotel, pois era urgente
o refazimento, afinal poucas horas os separavam do
início da conferência, cujo tema foi L'Arte di Amare.
O evento foi realizado nas instalações do belíssimo
Museu de Arte Moderna Triennale di Milano,
contando com um público que ultrapassou 300 pessoas.
Estavam presentes o Cônsul-Geral do Brasil para o Norte
da Itália, embaixador Dr. Paulo Cordeiro de Andrade
Pinto, e sua esposa. A brilhante apresentação do tenor Maécio, natural de Recife, PE, surpreendeu pela sua voz
especial e por cantar com a alma.
Em breves palavras, o Cônsul-Geral, Dr. Cordeiro,
declarou ter a honra de receber um grande brasileiro, um
baiano, cidadão de Feira de Santana, BA, que veio trazer
a sabedoria, o farol baiano, para todos aqueles que
procuram o caminho do bem.
Destacando o surgimento das emoções, Divaldo iniciou sua
fala dizendo que no início a criatura humana possuía
três instintos básicos, exercidos por bilhões de anos:
comer, procriar e dormir. Em um dado momento, de
repente, o ser humano passou a ter Medo, o medo
da caverna, da morte. Assim, o medo foi a primeira
emoção desenvolvida. Após alguns milhões de anos surgiu
a Ira, uma emoção psicológica que produz uma
reação fisiológica: foi a segunda emoção. E, há menos de
um milhão de anos, surgiu o Amor, a mais recente
emoção da criatura humana.
O amor é a mais elevada qualidade evolutiva do ser
humano. Afirmava Aristóteles: quando duas pessoas se
amam são dois corpos em uma só alma. Einstein, através
de cartas que escreveu à filha, e que vieram a público
recentemente, afirmou que o Amor é a maior de todas as
forças do Universo.
Referindo-se ao equívoco, muito comum entre as pessoas,
de tomarem o sexo como sinônimo de amor, questionou
Divaldo: - Será que o amor é esta parte do nosso
organismo? Isto é instinto, esclareceu. O amor deve
expressar-se antes. Pode ser através de um sorriso, de
um olhar, da cumplicidade e, depois, com a gratidão. O
amor é algo transcendente, que preenche o ser, de cunho
cristão, casto, porque não tem uma concepção de vileza,
de baixeza moral.
Sobre o amor materno, ele questionou: - Qual a mãe que
pode seguir feliz e em paz quando um filho seu padece
sofrimentos e dores? O verdadeiro amor nunca desiste,
ele insiste.
Apresentando experiências próprias, em que a mediunidade
evidencia a interferência dos Espíritos na vida dos
indivíduos, destacou, de maneira lúcida, clara, a
permanência dos laços de amor após a morte do corpo. Com
sensibilidade, Divaldo tocou na intimidade dos
presentes, afinal estavam diante de alguém que convive
diuturnamente com o mundo dos Espíritos e que, por isso,
se expressa com autoridade. Seus relatos encontram base
na longa existência dedicada ao trabalho no bem e no
amor incondicional. Sua vida de amor inspira os
indivíduos a buscarem o bem, o amor.
Ao finalizar, o estimado orador asseverou que nestes
dias de crises, de aparente morte do amor, será
necessário possuir a coragem para dizer que ama, tendo a
certeza que é filho muito amado do Criador,
desenvolvendo o sentimento de gratidão aos momentos de
bênçãos do amor.
Muito aplaudido no final, Divaldo ainda atendeu um
grande número de pessoas que dele se acercaram em busca
de um abraço, uma palavra amiga. Sem mais, buscou o
descanso, pois que nas primeiras horas do dia seguinte,
Zurique, na Suíça, o aguardava.
Nota:
As fotos desta reportagem são também de Ênio Medeiros, de Santa Cruz do
Sul (RS).