Vários leitores desta revista já levantaram em mensagens
a nós dirigidas a questão da comunicação que se faz
entre os Espíritos situados no plano espiritual. Eles
conversam entre si? Que idioma utilizam? Havendo ali
indivíduos procedentes de diferentes nações, como se dá
entre eles a conversação?
A dúvida apresentada é procedente, visto que para muitos
Espíritos recentemente desencarnados a barreira da
linguagem existe e é real.
O assunto é tratado em algumas obras, sem, todavia, o
aprofundamento que seria necessário.
Se fôssemos basear-nos exclusivamente em O Livro dos
Médiuns, de Allan Kardec, diríamos que tal problema
não existe.
Com efeito, escreveu Allan Kardec:
“O Espírito que se quer comunicar compreende, sem
dúvida, todas as línguas, pois que as línguas são a
expressão do pensamento e é pelo pensamento que o
Espírito tem a compreensão de tudo; mas, para exprimir
esse pensamento, torna-se-lhe necessário um instrumento
e este é o médium.” (Obra citada, cap. XIX, item 224.)
[Negritamos]
No mesmo livro e no mesmo capítulo, lemos:
15ª Os Espíritos só têm a linguagem do pensamento;
não dispõem da linguagem articulada, pelo que só há para
eles uma língua. Assim sendo, poderia um Espírito
exprimir-se, por via mediúnica, numa língua que Jamais
falou quando vivo? E, nesse caso, de onde tira as
palavras de que se serve?
"Acabaste tu mesmo de responder à pergunta que
formulaste, dizendo que os Espíritos só têm uma língua,
que é a do pensamento. Essa língua todos a compreendem,
tanto os homens como os Espíritos. O Espírito errante,
quando se dirige ao Espírito encarnado do médium, não
lhe fala francês, nem inglês, porém, a língua universal
que é a do pensamento. Para exprimir suas ideias
numa língua articulada, transmissível, toma as palavras
ao vocabulário do médium." (Obra citada, cap. XIX, item
223.)
[Negritamos]
Parece-nos que o Codificador do Espiritismo refere-se,
na obra citada, ao que ocorre corriqueiramente com os
Espíritos que se encontram em situação de equilíbrio e
normalidade, como nos é informado por André Luiz em seu
livro Evolução em Dois Mundos, 2ª Parte, cap. II,
pp. 171 e 172, no qual ele diz que a linguagem dos
Espíritos é, acima de tudo, a imagem que exteriorizam de
si mesmos.
Segundo André, círculos espirituais existem, em planos
de grande sublimação, nos quais os desencarnados,
sustentando consigo mais elevados recursos de riqueza
interior, pela cultura e pela grandeza moral, conseguem
plasmar com as próprias ideias quadros vivos que lhes
confirmem a mensagem ou o ensinamento, seja em silêncio,
seja com a despesa mínima de suprimento verbal, em
livres circuitos mentais de arte e beleza, tanto quanto
muitas Inteligências infelizes, treinadas na ciência da
reflexão, conseguem formar telas aflitivas em circuitos
mentais fechados e obsessivos, sobre as mentes que
magneticamente jugulam.
De acordo com o mesmo princípio, Espíritos
desencarnados, em muitos casos, quando controlam as
personalidades mediúnicas que lhes oferecem sintonia,
operam sobre elas à base das imagens positivas com que
as envolvem no transe, compelindo-as a lhes expedir os
conceitos. Nessas circunstâncias, a mensagem expressa-se
pelo sistema de reflexão, em que o médium, embora
guardando o córtex encefálico anestesiado por ação
magnética do comunicante, lhe recebe os ideogramas e os
transmite com as palavras que lhe são próprias.
Na mesma obra, André Luiz afirma, porém, que, conquanto
reconheçamos que a imagem está na base de todo
intercâmbio entre as criaturas encarnadas ou não, é
forçoso observar que a linguagem articulada, no chamado
espaço das nações, ainda possui fundamental importância
nas regiões a que o homem comum é transferido
imediatamente após desligar-se do corpo físico.
Exemplo disso encontramos no livro Os Mensageiros,
de André Luiz, cap. 18, pp. 97 a 100, em que Alfredo
explicou qual foi a solução encontrada para o
atendimento dado às vítimas da 2ª Guerra Mundial que,
oriundas do continente europeu, haviam sido acolhidas no
Campo da Paz. Conforme é dito no livro, encontravam-se
ali, naquela oportunidade, mais de 400 Espíritos.
Aniceto perguntou-lhe acerca das dificuldades de
linguagem e Alfredo disse que, para cada grupo de
cinquenta infelizes, as colônias do Velho Mundo
forneciam um enfermeiro-instrutor, com quem eles se
entendiam de modo direto. O enfermeiro servia, portanto,
de intérprete.
O tema é, como se vê, bastante complexo e demanda outros
estudos para que todas as nossas dúvidas, a esse
respeito, possam ser efetivamente dirimidas.