Dinheiro é
preciso, mas não
é tudo
Se existiu alguém que nasceu sem dinheiro e morreu sem
dinheiro, esse foi o jovem de Nazaré. O berço, uma
manjedoura; o túmulo, um lugar emprestado por José de
Arimateia. Para pagar um pedágio (sim, existia naquela
época pagamento de imposto), teve que pescar um peixe e
da sua boca retirar uma moeda de quatro dracmas (Mateus
17:27).
Dizem que o
dinheiro não é tudo e, muitas vezes, não é nem mesmo
suficiente: “Se o dinheiro fala, o meu sempre diz
adeus”, diz um velho ditado.
Fui administrador num banco e vi que administrar
dinheiro é fácil. Difícil é administrar a falta dele.
Por outro lado, na prática do bem, o dinheiro é como o
adubo: só serve quando espalhado.
O filósofo grego Sócrates tinha grande estima pelos
jovens e pelos amigos e dizia: “O amigo deve ser
como o dinheiro, cujo valor já conhecemos antes de
termos necessidade dele”.
É conhecida a página (sem identificação de autor) que
compara o dinheiro com o que se pode comprar; vejamos:
“Com dinheiro pode-se comprar uma casa, mas não um lar.
Com dinheiro pode-se comprar uma cama, mas não o sono.
Com dinheiro pode-se comprar um relógio, mas não o
tempo.
Com dinheiro pode-se comprar um livro, mas não o
conhecimento.
Com dinheiro pode-se comprar comida, mas não o apetite.
Com dinheiro pode-se comprar posição, mas não respeito.
Com dinheiro pode-se comprar sangue, mas não a vida.
Com dinheiro pode-se comprar remédios, mas não a saúde.
Com dinheiro pode-se comprar sexo, mas não o amor.
Com dinheiro pode-se comprar pessoas, mas não amigos”.
Portanto... dinheiro não é tudo.
E mesmo sem ser tudo, muita gente sofre por causa do
dinheiro. Buda faz bela comparação da vida, do tempo e
do dinheiro quando diz:
“Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro e depois
perdem o dinheiro para recuperar a saúde. Por pensarem
ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal
forma que acabam por nem viver no presente nem no
futuro. Vivem como se nunca fossem morrer, e morrem como
se nunca tivessem vivido”. (As
raízes do budismo se encontram no pensamento religioso
da Índia antiga, na segunda metade do primeiro milênio
antes de Cristo.)
Uma questão recorrente no mundo moderno é o
funcionamento do capitalismo, em que os que emprestam só
o fazem em vista do ganho que terão com isso. Vejamos o
que disse Jesus: “E
que mérito terão, se emprestarem a pessoas de quem
esperam devolução? Até os pecadores emprestam a
pecadores, esperando receber devolução integral” (Lucas
6:34).
Vincent Van Gogh, que retornou jovem para a vida
espiritual (faleceu aos 47 anos), um pintor
pós-impressionista holandês, parecia não se perturbar
pela questão do dinheiro. Ele escreveu:
“Se você perdeu dinheiro, perdeu pouco. Se perdeu a
honra, perdeu muito. Se perdeu a coragem, perdeu tudo”.
O poeta português Fernando Pessoa, que ficou órfão de
pai aos cinco anos, e desencarnou muito cedo, também aos
47 anos de idade, sabiamente fala da necessidade de não
ter necessidade de dinheiro e de ser fraterno na vida:
“Digo-vos: praticai o bem. Por quê? O que ganhais com
isso? Nada, não ganhais nada. Nem dinheiro, nem amor,
nem respeito, nem talvez paz de espírito. Talvez não
ganheis nada disso. Então, por que vos digo: Praticai o
bem? Porque não ganhais nada com isso. Vale a pena
praticá-lo por isto mesmo”.
Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é editor da Editora
EME e especialista em dependência química pela
USP-SP-GREA.