Deus na Natureza
Camille
Flammarion
(Parte 10)
Continuamos o
estudo metódico
e sequencial do
livro Deus na
Natureza,
de autoria de Camille
Flammarion,
escrito na
segunda metade
do século 19, no
ano de
1867.
Questões preliminares
A. É a mesma a força que rege os movimentos atômicos e
as órbitas imensas das esferas siderais?
Sim. Os mesmos argumentos que tiramos do panorama do
universo sideral e da inteligência da mecânica celeste,
por demonstrar o ascendente da força sobre a matéria,
podem-se colher no exame dos corpos terrestres. Lá, era
o hino do infinitamente grande; aqui, a minudência do
infinitamente pequeno. A força rege identicamente os
movimentos atômicos e as órbitas imensas das esferas
siderais. Ela muda de objeto, muda de nome na
classificação dos homens, mas não deixa de ser sempre a
mesma força, isto é: a atração universal. Chamam-lhe
coesão, quando grupa os átomos que constituem as
moléculas, e gravitação, quando impulsa os astros em
torno do centro comum de sua gravidade. O nome humano
não altera, porém, o fato físico.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
B. Pode-se afirmar que existe uma precisão matemática na
formação das moléculas e dos corpos?
Claro. As moléculas, de constituição substancial, são
formadas por uma reunião geométrica de átomos tomados
entre os corpos em Química chamados simples. Cada
molécula é um modelo de simetria e representa um tipo
geométrico. Os corpos simples, para formar os compostos,
não se podem combinar senão em números proporcionais,
determinados e invariáveis.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
C. É realmente verdade a máxima de que na Natureza nada
se cria e nada se perde?
Evidentemente. As leis da Natureza regem o movimento dos
átomos nos seres vivos, como nos inorgânicos: a mesma
molécula passa sucessivamente do mineral ao vegetal e ao
animal, neles incorporando-se segundo as leis que
organizam todas as coisas.
A molécula de ácido carbônico, a exalar-se do peito
opresso do moribundo em seu leito de dor, vai
incorporar-se à flor do jardim, à relva do prado, ao
tronco da floresta. A molécula de oxigênio que se
desprende dos últimos ramos do anoso carvalho vai
incorporar-se ao cabelinho louro do recém-nascido, no
seu berço de sonhos. Nada podemos mudar na composição
dos corpos. Nada nasce, nada morre. Só a forma é
perecível, mas a substância é imortal. Constituímo-nos
da poeira dos antepassados, os mesmíssimos átomos e
moléculas. Nada se cria, nada se perde.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
Texto para leitura
206. A Terra – Os mesmos argumentos que tiramos
do panorama do universo sideral e da inteligência da
mecânica celeste, por demonstrar o ascendente da força
sobre a matéria, podem-se colher no exame dos corpos
terrestres. Lá, era o hino do infinitamente grande;
aqui, a minudência do infinitamente pequeno. A força
rege identicamente os movimentos atômicos e as órbitas
imensas das esferas siderais.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
207. Muda de objeto, muda de nome na classificação dos
homens, mas não deixa de ser sempre a mesma força, isto
é: a atração universal. Chamam-lhe coesão, quando grupa
os átomos que constituem as moléculas, e gravitação,
quando impulsa os astros em torno do centro comum de sua
gravidade. O nome humano não altera, porém, o fato
físico.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
208. As moléculas, de constituição substancial, são
formadas por uma reunião geométrica de átomos tomados
entre os corpos em Química chamados simples. Cada
molécula é um modelo de simetria e representa um tipo
geométrico. Assim, por exemplo, a molécula de ácido
sulfúrico mono-hidratado é um sólido geométrico,
regular, um heptaedro de base quadrada.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
209. Os corpos simples, para formar os compostos, não se
podem combinar senão em números proporcionais,
determinados e invariáveis. Sabemos que se designam sob
o nome de equivalentes os números que exprimem
quantidades ponderáveis dos diversos corpos suscetíveis
de entrarem, elas ou seus múltiplos, nas combinações
químicas e aí se substituírem mutuamente, para formar
compostos quimicamente análogos.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
210. Em uma proporção definida, o oxigênio combina-se
com o hidrogênio, para formar a água. Esta será sempre
composta na mesma proporção e ninguém poderá,
absolutamente, juntar à combinação da molécula de água
uma partícula a mais de qualquer dos componentes, porque
aí então não teremos mais a água, que é, identicamente,
a mesma das fontes e dos rios.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
211. A tais regras a matéria é forçada a obedecer,
porque a Natureza tem horror ao acaso, tanto quanto ao
vácuo, como se dizia outrora. Ademais, todas essas
combinações obedecem a regras geométricas e a
cristalização dos corpos pode sempre ser levada a um dos
seis tipos fundamentais: – o cubo, os dois prismas
retos, o romboide e os dois prismas oblíquos.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
212. Para explicar não apenas as combinações, mas também
todos os movimentos múltiplos que se operam nas
transformações incessantes da matéria, nos fenômenos de
contração e dilatação, na manifestação das diversas
propriedades dos corpos, admite-se que os átomos não se
tocam, ainda nos corpos mais densos e mais sólidos, que
estão isolados entre si e que, em razão de sua pequenez,
os intervalos que os permeiam guardam a relatividade,
proporcionalmente exata, com os dos corpos celestes.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
213. Finalmente, assim como os corpos celestes se movem
em torno uns dos outros, sem por isso deixarem de estar
unidos num elo solidário, assim também os átomos oscilam
em torno de sua respectiva posição, sem se afastarem dos
limites regulados pela coesão ou pela afinidade
molecular.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
214. Entre o mundo das estrelas e dos átomos não há,
pois, diferença essencial. Além disso, as medidas
expressivas do infinitamente grande, ou pequeno, estão
em nós e não na Natureza, de vez que tudo referimos a
nós, como a um ponto de comparação. As noções de
grandeza são puramente relativas.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
215. A Natureza não tem essas maneiras de ver. Os
fenômenos do calor, da luz, do som, do magnetismo,
explicam-se por esta concepção dos movimentos atômicos.
Sob a influência dessas forças exteriores, as moléculas
se retraem ou se dilatam e modificam seus movimentos,
tal com fazem os mundos, precipitando o curso no
perifélio e retardando-o nas longínquas regiões do
afélio.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
216. Quando, por um choque, produzimos vibrações num
corpo sonoro, suas moléculas agitam-se em cadência,
seguindo o ritmo de sua harmonia. Ora, esses átomos são
de uma pequenez inexprimível. Calculou-se que o número
de átomos encerrados num minúsculo cubo de matéria
orgânica do tamanho de uma cabeça de alfinete, deveria
atingir a cifra inconcebível de oito sextilhões, isto é,
8 seguido de 21 zeros. Suposto quiséssemos proceder à
contagem, na proporção de 1.000 por segundo, haveríamos
de viver duzentos e cinquenta mil anos para completá-la!
Não o vingaríamos, portanto.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
217. Mas, seja como for, a substância dos corpos é um
pequeno mundo, um mundo analítico, no seio do qual o
infinitamente pequeno é regulado por leis tão rigorosas
quanto as do infinitamente grande, o sideral.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
218. Quando sabemos que uma polegada cúbica de trípole
contém quarenta mil milhões de gálios fósseis; quando
imaginamos que na classe dos infusórios o microscópio
nos faculta distinguir vibriões cujo diâmetro não excede
um milésimo de milímetro e que esses minúsculos seres se
movem na água, ágeis, providos de aparelhos de
locomoção, de músculos e de nervos; que se alimentam e
possuem vasos de nutrição; que procuram, perseguem,
combatem a presa nos abismos da gota d'água, com
velocidade e força comparáveis à de um cavalo a galope;
quando consideramos, enfim, que esses pequeninos seres
são providos de órgãos sensitivos, já nos não custa crer
que as moléculas de gelatina e albumina, que os
constituem, são de uma tenuidade inimaginável e que os
átomos componentes se integram sem metáfora em nossa
ideia do infinitamente pequeno.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
219. Ora, esses átomos não se alteram, são invariáveis e
imutáveis; as moléculas dos corpos compostos em
formação, das quais se encontram eles geometricamente
associados, não mudam mais, ainda que passando de um ser
para outro. Pela troca perpétua, operante em todos os
seres da Natureza e que a todos os encadeia sob o
império de uma comunhão substancial, pela comunicação
permanente das coisas entre si, da atmosfera com as
plantas e todos os seres que respiram, das plantas com
os animais, da água com todas as substâncias
organizadas, pela nutrição e assimilação que perpetuam a
cadeia das existências, as moléculas entram nos corpos e
deles saem, mudam de proprietário a cada instante, mas
conservam essencialmente a sua natureza intrínseca.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
220. Reconhecemos, com os nossos adversários, que a
molécula de ferro não varia, quer quando, incorporada ao
meteorito, percorre o Universo, quer quando retine no
trilho ou na roda do vagão, ou ainda quando, em glóbulo
sanguíneo, reponta à fronte do poeta. Qualquer que seja,
pois, o habitáculo transitório das moléculas, elas
conservam a sua natureza e propriedades essenciais.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
221. Os átomos são os infinitamente pequenos, sempre
separados entre si e, todavia, encadeados por essa mesma
força invisível que retém as esferas nas suas órbitas.
Toda matéria, orgânica ou inorgânica (visto ser
idêntica) obedece primacialmente a essa força. Suas
mínimas partículas são como astros no espaço, atraem-se
e repelem-se por seus respectivos movimentos.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
222. Sob o véu dessa matéria, que se nos figura pesada e
densa, devemos, portanto, lobrigar a “força”, que a
avassala e rege o mineral, pesa os elementos, ordena as
combinações, traça regras absolutas e, governando
discricionariamente, faz dela uma escrava imbele,
maleável e submissa às leis primígenas que consagram a
estabilidade do mundo.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
223. É indubitável, pois, que os estados da matéria são
regulados por leis. Já admirastes, alguma vez, os
processos característicos da cristalização? Nunca
examinastes ao microscópio a formação das estrelas de
neve e das moléculas cristalinas de gelo?
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
224. Nesse mundo invisível, como no universo visível,
cada movimento, cada associação se efetua sob a direção
de uma lei. É sempre o mesmo ângulo, as mesmas linhas e
sucessões. Jamais as leis humanas lograram obediência
tão absolutamente passiva. Nunca geômetra algum
construiu figura tão perfeita qual a que naturalmente
reveste a mais insignificante molécula.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
225. As leis da Natureza regem o movimento dos átomos
nos seres vivos, como nos inorgânicos: a mesma molécula
passa sucessivamente do mineral ao vegetal e ao animal,
neles incorporando-se segundo as leis que organizam
todas as coisas.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
226. A molécula de ácido carbônico, a exalar-se do peito
opresso do moribundo em seu leito de dor, vai
incorporar-se à flor do jardim, à relva do prado, ao
tronco da floresta. A molécula de oxigênio que se
desprende dos últimos ramos do anoso carvalho vai
incorporar-se ao cabelinho louro do recém-nascido, no
seu berço de sonhos.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
227. Nada podemos mudar na composição dos corpos. Nada
nasce, nada morre. Só a forma é perecível. Só a
substância é imortal. Constituímo-nos da poeira dos
antepassados, os mesmíssimos átomos e moléculas. Nada se
cria, nada se perde.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
228. Uma vela que ardeu completamente deixa de existir
para os olhos vulgares e nem por isso deixará de existir
integralmente. Se lhe recolhêssemos as substâncias
consumidas, reconstituí-la-íamos com o seu peso
anterior. Os átomos viajam de um a outro ser, guiados
pelas forças naturais. O acaso não colhe nessas
combinações e casamentos.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
229. E se nessa permuta perpétua dos elementos
constitutivos de todos os corpos a Natura, bela e
radiante, subsiste em sua grandeza, esta potência
peculiar à Terra é unicamente devida à previdência e
rigor das leis que organizam essas transmigrações e
etapas atômicas, de guarnição em guarnição.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
230. Se a organização militar da França se atribui a um
concelho inteligente, parece-nos que a organização
química dos seres, aliás muito superior àquela, atesta
um plano inteligente e um pensamento diretor.
(Deus na Natureza – Primeira Parte. A Terra.)
(Continua