Um minuto
com Chico Xavier

por Regina Stella Spagnuolo

 
No início de 1972, os líderes da Igreja Católica decidiram reagir contra a estrela dos Pinga-Fogo. Chico Xavier estava passando dos limites. Já tinha virado verbete até mesmo da enciclopédia Delta Larousse. Ali, ele era apresentado como "vulto do espiritismo brasileiro" e sua obra de assistência social era definida como "significativa", em texto de 22 linhas publicado acima de uma caricatura dele feita por Alvarus em1952.

A ideia da reencarnação começava a ganhar adeptos demais. Com sua voz mansa, suas palavras sob medida, Chico Xavier usava as palavras do próprio Jesus Cristo: "Necessário vos é nascer de novo" - para vender seu peixe. Com frases bíblicas à mão, ele apregoava:

- Sim, nascer de novo todos os dias, todas as semanas, de ano para ano, de etapa para etapa, mas também, de vida em vida, de berço em berço.

O discurso começava a ganhar uma força perigosa.

No dia 26 de janeiro, os dirigentes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) reuniram-se para discutir a ameaça Chico Xavier. Em entrevista coletiva, dom Aloísio Lorscheider, dom Ivo Lorscheiter e dom Avelar Villela Brandão divulgaram seu veredito:

- É excessiva e maciça a publicidade em torno das atividades mediúnicas, especialmente do fenômeno Chico Xavier. Admitimos o direito de consciência religiosa, que consideramos sagrado. No entanto, o que observamos não é rigorosamente o uso de um direito. Por trás desses programas de divulgação, há perigos evidentes para a formação religiosa do povo brasileiro.

Nenhum dos líderes católicos acusou o espírita de má-fé. Chico, segundo eles, atribuía seus textos aos "espíritos" por ignorar a própria capacidade de colocar no papel informações registradas em seu subconsciente.

A revista Mensageiro de Santa Rita publicou uma crítica ao Pinga-Fogo intitulada "Deseducação em massa do povo brasileiro". Um dos trechos era um pedido velado de censura oficial: "Deseducação incompreensivelmente permitida pelas autoridades responsáveis".

O arcebispo do Rio de Janeiro, dom Eugênio Sales, avaliou o fenômeno em A Voz do Pastor. Após atestar o fascínio do brasileiro pelo extraordinário e pelo suposto sobrenatural, ele garantiu:

- Com habilidade e inteligência podem-se arrastar multidões. O gesto do mágico, o encanto pelo desconhecido, sempre atraíram, através da história, grandes massas humanas em fugazes tentativas religiosas. Foge-se do verdadeiro e o lugar é ocupado imediatamente pelo falso.

O cardeal-arcebispo de Porto Alegre, dom Vicente Scherer, também usou A Voz do Pastor para dar seu recado. Chico, segundo ele, escrevia livros na falsa e ilusória convicção de estar sob a influência de "agentes invisíveis”. (Prossegue na próxima edição.)


Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita