Quando foi fundado o Instituto Bairral?
A fundação oficial do Hospital data de 31 de dezembro de
1937, quando foi aprovado o primeiro estatuto. Mas tudo
indica que já funcionava antes disso, talvez
informalmente. Consta que Dona Gracinda chegou a receber
pacientes em sua própria residência. São considerados
fundadores o senhor Onofre Batista e sua esposa, dona
Gracinda Batista, tendo sido eles os doadores do imóvel
que possibilitou a criação do hospital como uma
Fundação. Depois contaram com a colaboração de seu
genro, César Bianchi, que abandonou sua oficina de
marcenaria para dedicar-se de corpo e alma à nova
instituição. Além disso, teve participação marcante a
senhora Dalila Batista Bianchi, filha de Onofre e
Gracinda e esposa de Cesar Bianchi. É de se destacar que
nenhum deles tinha formação acadêmica, pois Onofre era
pedreiro e dona Gracinda, do lar. Dalila fez um curso de
enfermagem em São Paulo, dedicando-se, a partir daí, não
só a tratar dos pacientes, mas também formar novos
atendentes de enfermagem, razão pela qual foi escolhida
como patronesse da enfermagem do Bairral.
Como surgiu a ideia de sua fundação?
Surgiu da necessidade de acolher os doentes mentais que
até então eram simplesmente jogados nas cadeias públicas
ou confinados em porões das Santas Casas. Movidos pelo
sentimento de caridade preconizado pela Doutrina
Espírita, Américo Bairral e seus companheiros tiveram a
ideia de fundar um hospital para tratar dessas pessoas.
Quem foi Américo Bairral?
Américo Bairral era funcionário público lotado na
Coletoria Federal de Itapira e um destacado líder
espírita. Fundou o Centro Espírita Luiz Gonzaga e uma
instituição que hoje é a Casa de Repouso Allan Kardec,
destinada ao acolhimento de idosos. Contudo, desencarnou
antes de conseguir realizar seu sonho de fundar o
hospital, ou o Sanatório, como eram então chamados os
hospitais psiquiátricos. Seu companheiros é que levaram
adiante a ideia e aí está o Bairral hoje, um grande e
respeitado hospital.
Quantos metros quadrados de área e quantos funcionários?
O atendimento inclui o SUS, além das internações
particulares?
Na área urbana, temos mais de quatrocentos mil metros
quadrados de terrenos, por onde se espalham as diversas
unidades do hospital, desde o Prédio Central, onde são
acolhidos os pacientes encaminhados pelo SUS, até as
chamadas “alas externas”, destinadas a pacientes
particulares e de convênios. No total são 824 leitos,
sendo 511 oferecidos ao SUS; os demais 313 a
particulares e convênios.
Nos 80 anos de existência da instituição, o que pode ser
destacado?
O grande progresso alcançado nesse tempo. Partindo das
duas pequenas casas do início, chegou a esse complexo
hospitalar sem igual no país e, provavelmente, em toda a
América Latina. Além do seu crescimento, digamos,
físico, com instalações dignas de hotéis de boa
qualidade, é de se destacar a sua evolução técnica nos
últimos anos, com investimento pesado no aperfeiçoamento
do nosso corpo de profissionais, lembrando que temos
cerca de cento e cinquenta funcionários, de diversas
áreas, com formação universitária. Todo esse esforço
culminou com a implantação do programa de Residência
Médica, para formação de médicos psiquiatras, hoje
reconhecida como uma das melhores do país. Outro ponto a
destacar é a recente implantação do atendimento em
Psiquiatria Infantil, com um projeto de diagnóstico e
terapia inovadores e, provavelmente, único no Brasil.
Quais os maiores desafios?
Continuar o atendimento aos pacientes SUS, o que tem
exigido de nós ingentes sacrifícios, por tratar-se de
atividade extremamente deficitária, em função da
remuneração, que eu poderia chamar de ridícula,
proporcionada pelo Ministério da Saúde aos hospitais
psiquiátricos. Nós do Bairral ainda temos uma ala de
pacientes “não SUS” que nos possibilita recursos para
fazer face aos prejuízos trazidos pelo atendimento ao
SUS. Vamo-nos empenhar, como fizemos até aqui,
para manter esse atendimento, mas cada vez mais
preocupados, pois a nossa capacidade de suportar os
prejuízos encontra-se próximo do limite.
Das conquistas em andamento, qual sobressai neste
momento?
Creio que é a Psiquiatria Infantil. Trata-se de uma
iniciativa pioneira, pelo menos nos níveis de qualidade
que estamos implantando, e muito importante, pois é
patente que muitos transtornos mentais futuros poderão
ser evitados se houver uma intervenção adequada nas
primeiras manifestações dos sintomas.
De suas lembranças com a instituição, qual a mais
marcante?
Do ponto de vista pessoal, creio não haver dúvidas de
que foi a minha eleição para a presidência do Conselho
Diretor em 1998, pela enorme responsabilidade que estava
assumindo, eu que naquela época tinha apenas três anos
de participação no Conselho como segundo-secretário,
diante de diversos companheiros com décadas de dedicação
à instituição. Mas, contando com a ajuda e a compreensão
de todos, me permito acreditar ter dado conta do recado,
pois tenho sido reeleito desde então.
Algo que gostaria de destacar em especial?
Gostaria de destacar que é extremamente gratificante
para todos nós diretores a oportunidade de serviço que
nos tem sido oferecida, permitindo-nos fazer parte da
história dessa instituição modelar que é o Instituto
Bairral de Psiquiatria, fato que representa motivo de um
certo “orgulho” e, ao mesmo tempo, o desafio de legar
aos nossos sucessores um hospital tão bom ou melhor do
que o que recebemos dos nossos antecessores.
Suas palavras finais.
Ao comemorarmos os 80 anos de fundação do Instituto, só
nos resta pedir o auxílio da espiritualidade amiga para
que possamos tomar sempre as decisões mais corretas,
para que a nossa instituição possa cumprir os seus
objetivos de se constituir em posto de socorro para os
nossos irmãos submetidos a essa dura prova que é a
doença mental.