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Divaldo: “Nossas
joias deveriam ser a amizade, a caridade, a
fraternidade...” |
Concluindo sua recente passagem por Portugal, Divaldo
Franco esteve na cidade de Faro, onde falou nos dias 28
e 29 de julho para um público ávido do conhecimento
espírita.
O seminário, por ele ministrado no dia 29, iniciou-se
com seu agradecimento a Caminus Duo – Joana Vieira &
Mikhail Shumov – pela magistral interpretação de várias
peças musicais que sensibilizaram o público. “A música é
a língua com a qual Deus se comunica conosco.”
Iniciando sua fala, referiu-se a um autor de sucesso e
conhecido piloto, um depressivo crônico, que realizou o
primeiro voo França-Dakar para levar correspondência e
também iniciou os voos entre Buenos Aires e Ushuaia, a
cidade mais meridional de Argentina, com uma vida cheia
de aventuras e cuja maior obra – O Pequeno Príncipe
– alcançou um grande êxito. Referimo-nos a Antoine de
Saint-Exupéry.
O Pequeno Príncipe é uma obra que comove os
corações de crianças e adultos.
Infelizmente, Antoine não acreditava em Deus até que um
fato ocorrido na sua vida mudar esse pensamento para
sempre. Seu avião foi derrubado e, diante da preocupação
daquele momento, se perguntava: - Haverá um Deus? Seria
tudo uma fantasia religiosa? Observando como se
alimentavam uns ratos do deserto, chegou à conclusão de
que vale a pena lutar por viver.
Ele e seu mecânico, que com ele viajava, conseguiram
reparar o avião e chegar a Paris. Ao regressar, Antoine
tornou-se idealista e, por isso, quando na Espanha
eclodiu a guerra civil, ele se apresentou como
voluntário, assim como muitos outros, para combater.
Durante os combates seu avião foi derrubado e ele
capturado. Considerado inimigo de guerra, Antoine foi
condenado à morte e encerrado em uma hedionda fortaleza
próxima à fronteira francesa, à espera da execução.
Durante sua estadia na prisão compreendeu o sentido da
vida, seu significado e como é fácil perdê-la.
Recém-casado e pai de uma criança, começou também a
questionar sua existência neste planeta.
Fumador compulsivo, ele se encontrava em uma cela sem
nada que o relaxasse.
O traje de presidiário que lhe deram ainda estava com os
buracos de bala do seu anterior dono. Buscando nos
bolsos, Antoine encontra uma guimba e a leva à boca. Por
um segundo mata sua ansiedade, porém um cigarro apagado
não é suficiente. Através de sinais tenta que o guarda
lhe dê fogo, mas este, desconfiado, não lhe presta
atenção.
O guarda, ao final, sentindo pena, aproxima-se
cuidadosamente e lhe acende o cigarro. O prisioneiro,
emocionado pelo gesto e como que em agradecimento, olha
seu guardião e sorri longamente e o soldado lhe devolve
o sorriso. Ele continua fumando e sorrindo até terminar
a última tragada e com um gesto agradece ao guarda.
O soldado espanhol, comovido ante os gestos de Antoine,
lhe abre a porta e lhe pede que se vá. Antoine crê que o
guarda tentará matá-lo quando se virar de costas e
decide sair encarando o seu libertador, até que, a uma
distância prudencial, começa a correr em direção à
França, aonde chega ao amanhecer do dia seguinte.
No seu relato, recorda o monólogo que fez quando sorriu
ao soldado, onde lhe falava de sua morte, de sua
família, de tudo que para ele era importante e ia
perder. Parece que as palavras, que eram proferidas no
seu idioma natal, o francês, conseguiram abrandar o
coração do soldado, que não falava seu idioma, mas, com
certeza, a emoção lhe tocou o coração.
Uma semana depois, em Paris, com seu filho e sua esposa,
narra a história do sorriso e diz: - Se a humanidade
sorrisse um pouco mais seria melhor. Se mudássemos
nossos gestos de desagrado por sorrisos, haveria
felicidade no mundo.
Ao analisar a história de Antoine Saint-Exupéry, Divaldo
recorda uma citação de Aristóteles: “Quando duas pessoas
se amam, são uma só alma em dois corpos” –
metaforicamente falando.
A Humanidade se divide em extrovertidos e introvertidos.
Os indivíduos introvertidos chegam à fase adulta sem
liberar-se das amarguras infantis; são crianças feridas.
O conhecimento espírita é o veículo mais nobre para a
extroversão, porque o conhecimento de Jesus e de seus
ensinamentos nos libera das amarguras e nos fala de
esperança, porque, como os imortais nos dizem, a vida
continua.
Divaldo narrou depois a história do colar de diamantes,
segundo a qual uma dama rica o emprestou a uma amiga
para um baile de gala e esta o perdeu. Ao perceber que
não podia devolvê-lo, encomendou um igual, de acordo com
suas lembranças do colar, o que faz com que ela se
endividasse. No final devolveu-o, porém a dívida é
demasiado importante e leva ambos, ela e seu marido, à
falência, até o ponto em que ele, agoniado, falece e ela
se vê obrigada a viver do que encontra na rua.
Um dia, quando revirava o lixo, seus olhos avistaram uma
dama que descia por uma escada. A dama era aquela sua
amiga e levava o colar. A mulher o olha fixamente e a
dama reconhece sua amiga, aproxima-se e lhe pergunta
pela sua atual situação. - O que ocorreu? Ela, apontando
para o colar, lhe explica sua desgraça. A amiga a fita e
lhe diz: - Por que você não me contou. Eu disse que lhe
emprestava porque tinha muitas joias, que não se
preocupasse. O colar que lhe emprestei só custava 50
francos: era uma imitação, minha querida amiga.
Aplicando o caso à nossa vida, isso quer dizer que nos
endividamos por colares falsos. Confundimos a felicidade
com TER. Nossas joias deveriam ser a amizade, a
caridade, a fraternidade etc.
Recordou Divaldo, na sequência, como em uma ocasião
Gandhi ria em frente de uma joalheria e, quando lhe
indagaram o motivo da sua alegria, respondeu: - Estou
feliz de ver tantas cosas de que não necessito.
O orador narrou depois um interessante episódio de sua
vida quando, em determinada ocasião, estando
inconsciente, devido a uns problemas cardíacos,
visualizou a figura de Jesus e o mar da Galileia.
Recordando a felicidade desse momento, disse que, sim,
podemos ser felizes, ainda que seja por um só instante.
Na segunda parte do seminário Divaldo começou contando
uma história comovedora – a história do Dr. Tadeo
Merlin, que, sendo um defensor da eutanásia, deixou
viver um menino aleijado que anos mais tarde iria salvar
a vida da sua neta. O doutor Tadeo Merlin no final da
história dizia a si mesmo quão cego estava e compreendia
que é melhor ser aleijado que ser cego como ele o fora.
Finalizando sua explanação, Divaldo relatou um fato
ocorrido poucos dias atrás, quando em uma palestra fez
alusão a Chico Xavier, falando de sua bondade e
comparando-o com a figura de Francisco de Assis. No dia
seguinte a mídia publicava: “Divaldo Franco diz que
Chico Xavier foi Francisco de Assis”.
Ao passar os dias e não dizendo nada sobre a notícia,
alguns amigos lhe comentaram a necessidade de desmentir
a história, ao que Divaldo contestou:
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- Não posso desmentir algo que eu não disse.
Com um grande sorriso e sem demonstrar no semblante o
transcurso de mais de três
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horas de seminário, Divaldo
despediu-se declamando o poema da gratidão, de Amélia
Rodrigues, enchendo uma vez mais os corações dos que ali
estavam, que certamente diziam de si para consigo: Hoje
fomos felizes. |
Nota da Redação:
Texto e fotos: Manuel Cemyd.