Internacional
por Manuel Cemyd

Ano 11 - N° 529 - 13 de Agosto de 2017

 


Divaldo: “Nossas joias deveriam ser a amizade, a caridade, a fraternidade...”


Concluindo sua recente passagem por Portugal, Divaldo Franco esteve na cidade de Faro, onde falou nos dias 28 e 29 de julho para um público ávido do conhecimento espírita.

O seminário, por ele ministrado no dia 29, iniciou-se com seu agradecimento a Caminus Duo – Joana Vieira & Mikhail Shumov – pela magistral interpretação de várias peças musicais que sensibilizaram o público. “A música é a língua com a qual Deus se comunica conosco.”
Iniciando sua fala, referiu-se a um autor de sucesso e conhecido piloto, um depressivo crônico, que realizou o primeiro voo França-Dakar para levar correspondência e também iniciou os voos entre Buenos Aires e Ushuaia, a cidade mais meridional de Argentina, com uma vida cheia de aventuras e cuja maior obra – O Pequeno Príncipe – alcançou um grande êxito. Referimo-nos a Antoine de Saint-Exupéry.

O Pequeno Príncipe é uma obra que comove os corações de crianças e adultos.
Infelizmente, Antoine não acreditava em Deus até que um fato ocorrido na sua vida mudar esse pensamento para sempre. Seu avião foi derrubado e, diante da preocupação daquele momento, se perguntava: - Haverá um Deus? Seria tudo uma fantasia religiosa? Observando como se alimentavam uns ratos do deserto, chegou à conclusão de que vale a pena lutar por viver.

Ele e seu mecânico, que com ele viajava, conseguiram reparar o avião e chegar a Paris. Ao regressar, Antoine tornou-se idealista e, por isso, quando na Espanha eclodiu a guerra civil, ele se apresentou como voluntário, assim como muitos outros, para combater.
Durante os combates seu avião foi derrubado e ele capturado. Considerado inimigo de guerra, Antoine foi condenado à morte e encerrado em uma hedionda fortaleza próxima à fronteira francesa, à espera da execução.

Durante sua estadia na prisão compreendeu o sentido da vida, seu significado e como é fácil perdê-la. Recém-casado e pai de uma criança, começou também a questionar sua existência neste planeta.
Fumador compulsivo, ele se encontrava em uma cela sem nada que o relaxasse. 
O traje de presidiário que lhe deram ainda estava com os buracos de bala do seu anterior dono. Buscando nos bolsos, Antoine encontra uma guimba e a leva à boca. Por um segundo mata sua ansiedade, porém um cigarro apagado não é suficiente. Através de sinais tenta que o guarda lhe dê fogo, mas este, desconfiado, não lhe presta atenção.

O guarda, ao final, sentindo pena, aproxima-se cuidadosamente e lhe acende o cigarro. O prisioneiro, emocionado pelo gesto e como que em agradecimento, olha  seu guardião e sorri longamente e o soldado lhe devolve o sorriso. Ele continua fumando e sorrindo até terminar a última tragada e com um gesto agradece ao guarda.
O soldado espanhol, comovido ante os gestos de Antoine, lhe abre a porta e lhe pede que se vá. Antoine crê que o guarda tentará matá-lo quando se virar de costas e decide sair encarando o seu libertador, até que, a uma distância prudencial, começa a correr em direção à França, aonde chega ao amanhecer do dia seguinte.

No seu relato, recorda o monólogo que fez quando sorriu ao soldado, onde lhe falava de sua morte, de sua família, de tudo que para ele era importante e ia perder. Parece que as palavras, que eram proferidas no seu idioma natal, o francês, conseguiram abrandar o coração do soldado, que não falava seu idioma, mas, com certeza, a emoção lhe tocou o coração.
Uma semana depois, em Paris, com seu filho e sua esposa, narra a história do sorriso e diz: - Se a humanidade sorrisse um pouco mais seria melhor. Se mudássemos nossos gestos de desagrado por sorrisos, haveria felicidade no mundo.
Ao analisar a história de Antoine Saint-Exupéry, Divaldo recorda uma citação de Aristóteles: “Quando duas pessoas se amam, são uma só alma em dois corpos” – metaforicamente falando.

A Humanidade se divide em extrovertidos e introvertidos. Os indivíduos introvertidos chegam à fase adulta sem liberar-se das amarguras infantis; são crianças feridas.
O conhecimento espírita é o veículo mais nobre para a extroversão, porque o conhecimento de Jesus e de seus ensinamentos nos libera das amarguras e nos fala de esperança, porque, como os imortais nos dizem, a vida continua.
Divaldo narrou depois a história do colar de diamantes, segundo a qual uma dama rica o emprestou a uma amiga para um baile de gala e esta o perdeu. Ao perceber que não podia devolvê-lo, encomendou um igual, de acordo com suas lembranças do colar, o que faz com que ela se endividasse. No final devolveu-o, porém a dívida é demasiado importante e leva ambos, ela e seu marido, à falência, até o ponto em que ele, agoniado, falece e ela se vê obrigada a viver do que encontra na rua.

Um dia, quando revirava o lixo, seus olhos avistaram uma dama que descia por uma escada. A dama era aquela sua amiga e levava o colar. A mulher o olha fixamente e a dama reconhece sua amiga, aproxima-se e lhe pergunta pela sua atual situação. - O que ocorreu? Ela, apontando para o colar, lhe explica sua desgraça. A amiga a fita e lhe diz: - Por que você não me contou. Eu disse que lhe emprestava porque tinha muitas joias, que não se preocupasse. O colar que lhe emprestei só custava 50 francos: era uma imitação, minha querida amiga.
Aplicando o caso à nossa vida, isso quer dizer que nos endividamos por colares falsos. Confundimos a felicidade com TER. Nossas joias deveriam ser a amizade, a caridade, a fraternidade etc.

Recordou Divaldo, na sequência, como em uma ocasião Gandhi ria em frente de uma joalheria e, quando lhe indagaram o motivo da sua alegria, respondeu: - Estou feliz de ver tantas cosas de que não necessito.
O orador narrou depois um interessante episódio de sua vida quando, em determinada ocasião, estando inconsciente, devido a uns problemas cardíacos, visualizou a figura de Jesus e o mar da Galileia. Recordando a felicidade desse momento, disse que, sim, podemos ser felizes, ainda que seja por um só instante.
Na segunda parte do seminário Divaldo começou contando uma história comovedora – a história do Dr. Tadeo Merlin, que, sendo um defensor da eutanásia, deixou viver um menino aleijado que anos mais tarde iria salvar a vida da sua neta. O doutor Tadeo Merlin no final da história dizia a si mesmo quão cego estava e compreendia que é melhor ser aleijado que ser cego como ele o fora.

Finalizando sua explanação, Divaldo relatou um fato ocorrido poucos dias atrás, quando em uma palestra fez alusão a Chico Xavier, falando de sua bondade e comparando-o com a figura de Francisco de Assis. No dia seguinte a mídia publicava: “Divaldo Franco diz que Chico Xavier foi Francisco de Assis”.
Ao passar os dias e não dizendo nada sobre a notícia, alguns amigos lhe comentaram a necessidade de desmentir a história, ao que Divaldo contestou:
 

- Não posso desmentir algo que eu não disse.
Com um grande sorriso e sem demonstrar no semblante o transcurso de mais de três
horas de seminário, Divaldo despediu-se declamando o poema da gratidão, de Amélia Rodrigues, enchendo uma vez mais os corações dos que ali estavam, que certamente diziam de si para consigo: Hoje fomos felizes.


Nota da Redação:


Texto e fotos: Manuel Cemyd.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita