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por Rogério Coelho

 

O grande enigma do ser e do destino


Só a reencarnação pode dizer ao homem donde ele vem e para onde ele vai

 
“(...) Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa fé.”
Paulo (I Cor., 15:14.)


Os judeus herdaram o conhecimento da reencarnação da antiga civilização egípcia, mas deram-lhe o nome de ressurreição; por isso Paulo empregou esse termo em suas cartas.

Para quem tem “olhos de ver”, tanto no Antigo como no Novo Testamento, fica muito claro observar que os judeus entendiam por ressurreição o que os espíritas entendem como reencarnação; daí afirmar o ínclito Mestre Lionês[1]: “não falece dúvida de que, sob o nome de ressurreição, o princípio da reencarnação era ponto de uma das crenças fundamentais dos judeus, ponto que Jesus e os profetas confirmaram de modo formal; donde se segue que negar a reencarnação é negar as palavras do Cristo. Um dia, porém, quando Suas palavras forem meditadas sem ideias preconcebidas, reconhecer-se-ão autorizadas quanto a esse ponto, bem como em relação a muitos outros...

A essa autoridade, do ponto de vista religioso, se adita, a do ponto de vista filosófico e a das provas que resultam da observação dos fatos. Quando se trata de remontar dos efeitos às causas, a reencarnação surge como de necessidade absoluta, como condição inerente à humanidade; numa palavra: como Lei da Natureza.

Pelos seus resultados, ela se evidencia, de modo, por assim dizer, material, da mesma forma que o motor oculto se revela pelo movimento.

 Só a reencarnação pode dizer ao homem donde ele vem, para onde vai, por que está na Terra, e justificar todas as anomalias e todas as aparentes injustiças que a vida apresenta.

O Apóstolo dos Gentios tão bem compreendeu essa questão, que certa vez escreveu em uma de suas cartas[2]: “se esperarmos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens”.

Nesse passo, eis um dos oportunos ensinamentos de Léon Denis[3]: “(...) o homem é para si mesmo um mistério vivo.

 De seu ser não conhece nem utiliza senão a superfície. Em sua personalidade há profundezas ignoradas em que dormitam forças, conhecimentos, recordações acumuladas no curso das anteriores existências, um mundo completo de ideias, de faculdades, de energias, que o envoltório carnal oculta e apaga, mas que despertam e entram em ação no sono normal e no sono magnético. Esse é o mistério da “Psyché”, isto é, da Alma encerrada com seus tesouros na crisálida de carne, e que dela se evade em certas horas, se liberta das leis físicas, das condições de tempo e de espaço, e se afirma em seu poder espiritual.

Do mesmo modo que o dia sucede à noite e o verão ao inverno, a vida livre da Alma sucede à estância na prisão corpórea. Mas a Alma se desprende também durante o sono; reintegra-se em sua consciência amplificada, nessa consciência por ela edificada lentamente através da sucessão dos tempos; entra na posse de si mesma, examina-a, torna-se objeto de admiração para ela própria. Seu olhar mergulha nos recessos obscuros de seu passado, e aí vai surpreender todas as aquisições mentais, todas as riquezas acumuladas no curso de sua evolução, e que a reencarnação havia amortalhado. E o que o cérebro concreto era impotente para exprimir, seu cérebro fluídico o patenteia, o irradia com tanto mais intensidade quanto mais completo é o desprendimento. O sono é, em verdade, a evasão da Alma da prisão do corpo”.

Afinal, por que estamos na Terra e qual será o nosso futuro?

A resposta começa a ser dinamizada pelo próprio presente, e Gabriel Delanne nos esclarece[4]: “(...) o sentimento que nos impele a essa pesquisa acerca de nosso futuro é determinado pela razão que deseja – imperiosamente – conhecer o porquê e o como dos acontecimentos que se realizam em torno de nós. É ela que nos põe no coração o desejo de aprofundar o mistério de nossa existência. Se em meio ao ruído das cidades essa necessidade se impõe algumas vezes ao nosso Espírito, com muito maior força, ainda, ela se apossa de nós, quando, ao deixar os centros populosos, nos encontramos face a face com a natureza eterna, imutável...

   Ao contemplar os vastos horizontes de imensa paisagem, o Céu profundo, semeado de estrelas, verificamos a nossa pequenez no conjunto da Criação; e ao lembrar que os mesmos lugares em que agora nos encontramos foram pisados por inumeráveis legiões de homens, que não deixaram outros traços além do pó de seus ossos, perguntamos com certa angústia: por que esses homens viveram, amaram e sofreram?!

Quaisquer que sejam as nossas ocupações, quaisquer que possam ser os nossos estudos, somos – invariavelmente – levados a ocupar-nos de nosso destino; sentimos a necessidade de conhecer-nos e de saber em virtude de que leis nós existimos”.

Não haveria esperança e tampouco progresso se a reencarnação não existisse e, consequentemente, a vida careceria de significado.

Aprendemos com Kardec[5]: “(...) Com a reencarnação e o progresso a que dá lugar, todos os que se amaram tornam a encontrar-se na Terra e no Espaço, e juntos gravitam para Deus. Se alguns fraquejam no caminho, esses retardam o seu adiantamento e a sua felicidade, mas não há para eles perda de toda esperança: ajudados, encorajados e amparados pelos que os amam, um dia sairão do lodaçal em que se enterraram. Com a reencarnação, finalmente, há perene solidariedade entre os encarnados e os desencarnados, solidariedade essa que concreta e eterniza os verdadeiros e imperecíveis laços de afeição”.


 

[1] - KARDEC, Allan. O Evangelho seg. o Espiritismo.125. ed. Rio: FEB, 2006, cap. IV, itens 16 e 17.

[2] - I cor., 15:19.

[3] - SYLVIO Brito Soares. Páginas de Léon Denis. Rio [de Janeiro]: FEB.

[4] - DELANNE, Gabriel. O Espiritismo perante a ciência. Rio [de Janeiro]: FEB.

[5] - KARDEC, Allan. O Evangelho seg. o Espiritismo.125. ed. Rio: FEB, 2006, cap. IV, item 22, § 2º.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita