Esquecer o mal procurando o bem
Eu, porém, vos digo:
“Amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem
e caluniam” (Mateus, 5:44).
Estamos inseridos nesta esfera física para nos regenerar
e reaprender, retomando os débitos pelas fraquezas e
falhas em existências pregressas. Mesmo assim, ainda não
superamos os entraves da nossa libertação, concedendo
ajustes inadequados através dos nossos desejos e
caprichos imediatistas. Por causa disso, continuamos
acusando, reclamando e nos queixando das dificuldades
necessárias ao nosso aprendizado atual.
Quando Jesus disse “Amai vossos inimigos e orai pelos
que vos perseguem e caluniam”, queria dizer que
precisamos viver de modo que estes adversários se sintam
auxiliados através dos nossos exemplos e atitudes
renovando-se para o bem.
O ofensor chega-nos como um teste para o nosso
aprimoramento moral. Ele difama nosso nome, ameaça-nos,
fere nossos sentimentos, desafia-nos na tolerância,
torturando-nos os pensamentos e, mesmo assim, o Mestre
continua a falar: “Amai os vossos inimigos”.
Podemos estender-lhe a mão socorrendo-o, porque o
adversário de hoje também é digno de auxílio e,
queiramos ou não, são filhos de Deus assim como nós,
para quem o Pai providenciará recursos e caminhos com a
mesma justiça e bondade que tem para com todos.
Em muitos episódios da vida, aqueles que nos prejudicam
e magoam, frequentemente, se encontram irmanados a
tribulações; no fundo sofrem muito mais pelo fato de nos
criarem problemas do que nós mesmos quando nos supomos
vítimas deles.
Quando as relações com nossos amigos adoecerem, será
melhor nos perguntarmos se os estamos perdoando de fato.
Serão apenas palavras ou estamos colocando nossos
verdadeiros sentimentos neste perdão. É justo entender
que também nós cometemos equívocos, que também precisam
ser corrigidos. Que também temos reajustes a serem
acertados, lembrando-nos de todo o bem que essas
criaturas nos fizeram e a quem devemos gratidão.
O amor pelos desafetos não nos tira a paz da
consciência, porque quando Jesus disse: “ide e
reconciliai-vos com vosso adversário”1, Ele também
ensina a obtermos a paz interior, cooperando com eles.
Desta forma, compreendemos que o esquecimento do mal que
nos assedia é defesa de nosso próprio equilíbrio e, nos
dias que a injúria nos bate no rosto, o perdão é uma
bênção para os ofensores, e sempre será o melhor para
nós.
Nenhum de nós experimenta alegria frente às vítimas do
mal. O importante é nos colocarmos no lugar dos nossos
irmãos equivocados e verificar que eles precisam mais de
assistência do que de censura, porquanto todos nós somos
suscetíveis de falhas lamentáveis. Resumindo,
precisamos entender que para sermos desculpados é
necessário desculpar, refletindo para não guardar
ressentimentos, recordando a advertência do nosso Irmão
Maior de orarmos pelos que nos perseguem e
caluniam. Quem perdoa eleva-se e quem se vinga desce os
despenhadeiros da sombra.
Tudo se tornará fácil
quando cultivarmos a verdadeira fraternidade, porque o
amor pensa, fala e age estabelecendo o caminho para a
glória da vida imortal. Portanto, se desejarmos avançar
para a luz, aprendamos a desculpar infinitamente, porque
o céu da liberdade ou o inferno da condenação moram na
intimidade da nossa consciência. Por isso o Mestre Amado
esclarece: “Pai,
perdoa as nossas ofensas, assim como perdoamos aos que
nos têm ofendido”.2
Quando Jesus convida ao perdão, não nos impeliu
exclusivamente ao aprimoramento moral, mas também para a
paz interior, para que possamos trabalhar e servir na
construção da nossa felicidade. O perdão pode ser
comparado à luz que o ofendido acende no caminho do
ofensor e, por isso, perdoar em qualquer situação será
sempre colaborar na vitória do amor em apoio à nossa
própria libertação para a vida imperecível.
O Mestre não nos impele tão somente a beneficiar os que
nos ferem, mas, igualmente, a proteger a sanidade mental
do grupo a que fomos chamados a servir e atuar,
imunizando os colegas do trabalho ao contágio da mágoa,
da queixa, mantendo-nos tranquilos e confiantes tanto no
amparo a eles quanto a nós.
Observemos que o divino Semeador nos aconselhou,
orientando-nos que há o crescimento livre do joio e do
trigo, mas na hora certa e oportuna se fará revelar
amparando-nos e selecionando nossos sentimentos através
de seu justo entendimento. Por isso, a importância da
consciência tranquila frente aos que nos injuriam,
abençoando-os, porque são criaturas necessitadas de
compreensão e auxílio espiritual, tolerância e
devotamento, ternura e trabalho.
A existência na qual atuamos no momento não nos reclama
atitudes sensacionalistas, gestos impraticáveis,
espetáculos de grandeza. Pede apenas que sejamos
melhores para aqueles que cruzem nossos passos,
esquecendo o mal e procurando o bem que nos esclareça e
melhore.
Desta forma, podemos construir no coração uma prece por
todos aqueles que ainda não nos compreendem, iniciando a
obra do nosso aperfeiçoamento para a Vida Imortal.
O caminho que Jesus nos indica é de vitória da luz sobre
as trevas e, por isso mesmo, repleto de obstáculos a
vencer. Senda de espinhos gerando flores, calvário e
cruz levando à renovação.
O meigo Rabi, desde o início do Seu apostolado,
mostrou-nos o roteiro da elevação pelo sacrifício,
servindo sem recompensa, entendendo a todos, socorrendo,
esclarecendo e demonstrando que a caridade se externa no
amor puro.
Quando nos entregarmos
realmente a Deus e a Ele entregar nossos adversários
como irmãos necessitados do Amparo Divino, penetraremos
no verdadeiro entendimento das palavras do Mestre: “Pai,
perdoa as nossas ofensas assim como perdoamos aos que
nos ofenderam”, reconciliando-nos com a vida e com a
nossa alma. Atingindo essa beatitude, saberemos tocar
novamente a face de quem nos ofendeu, e aquele que nos
ofendeu encontrará Deus em nós e nos dirá com alegria do
coração: “Bendito
sejas”.
Bibliografia:
1 - Mateus, 5:25 e 26.
2 - Mateus, 6:12.
RIBEIRO, Cesar Saulo coordenação - O Evangelho por
Emmanuel, comentários ao Evangelho segundo Mateus
– 1ª edição - Brasília/DF – Editora FEB - 2016 – págs.
143, 214, 207, 206, 216, 151, 174, 162.