A empatia pode ser ensinada?
Como a flor anuncia o fruto, assim a infância do homem é
a promessa da sua vida futura.
(Rudolf Steiner)
Desde o nascimento, conseguimos notar comportamentos que
seriam uma espécie de precursores da empatia,
como o choro reativo de um bebê ao ouvir outra criança
chorando. Mas é a partir do primeiro e segundo ano de
vida que os fatores ambientais – como o convívio com os
pais – começam a preponderar no desenvolvimento da
empatia.
A empatia pode ser ensinada?
Uma das funções mais importantes da inteligência, a
empatia pode e deve ser ensinada à criança. E esse
aprendizado será mais eficaz se começar já na primeira
infância.
Na vida normal, em uma briga com um irmão, por exemplo,
o pai, a mãe ou o cuidador não deve apenas corrigir a
criança, mas procurar explicar a ela as consequências
que o ato praticado teve no outro, elucidando os motivos
por que o ato agressivo não deve ser repetido. Isso irá
estruturando pouco a pouco na criança a importância de
se colocar no lugar do outro e estar disponível para
cooperar.
Há uns dez dias, na escola da minha filha, durante o
intervalo, uma criança de seis anos jogou água em um
coleguinha, molhando a sua camiseta. Ambas foram parar
na sala da coordenadora. De um modo firme, gentil e
respeitoso, a criança que molhou a outra foi convidada a
realizar a seguinte atitude: enxugar a camiseta da
criança com papel-toalha até que fosse alcançado um
estado mais seco e confortável, porque, além do
incômodo, o colega poderia resfriar-se por estar usando
uma roupa úmida àquela hora do dia. No decorrer do
“enxuga-enxuga”, já envergonhada, a criança pediu
desculpas ao colega, reconhecendo por si mesma que seu
ato tinha sido danoso porque nele causou “frio e
tristeza”…
Quando uma criança cresce estimulada a se colocar no
lugar do outro, respeitando os próprios sentimentos e os
sentimentos alheios, tem mais chance de se tornar um
adulto solidário e resiliente, mais disponível para
enriquecer-se em compreensão e amor...
Um velho tio, viúvo e marcado pela vida áspera, um dia
me disse: “se a gente pudesse escolher a infância que
teria vivido, com que alegria eu não recordaria aquele
pai empático e gentil, que nunca existiu, que me
levava para pescar no riozinho à beira da estrada
poeirenta, obrigando-me à noite, ao lado dele, a limpar,
cortar e grelhar os peixes para minha mãe, pois o dia
dela havia sido monótono e enfadonho, enquanto nós dois
tínhamos passado bonitos instantes de entretenimento e
sesta naquela morna tarde de verão...”
A família pode sim ensinar a criança a cultivar carinho
e compaixão. E não se trata apenas de fazer o exercício
mental de se colocar no lugar do outro. Aprender a ser
empático essencialmente diz respeito a de fato estar
pronto para servir e ajudar...
Bom domingo, feliz semana!
Notinha
Empatia, em termos simples, é a capacidade de
perceber o que as outras pessoas sentem sem que elas o
digam (Daniel Goleman). As pesquisas neurológicas
recentes mostram que desde que nascemos, nós, os seres
humanos, já somos interligados pela empatia. Contudo, a
empatia precisa ser desenvolvida, principalmente no
período entre 0 e 6 anos – pois é na primeira infância
que o nosso cérebro passa pelo maior número de conexões
neuronais (sinapses), criando uma janela de
oportunidade para o aprendizado.