Especial |
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por Jorge Leite de Oliveira |
A arte espírita não somente emociona, consola e
esclarece sobre a realidade da vida futura, após
a desencarnação do ser humano. Ela também serve
como autoajuda e proporciona aos temas
literários sua confirmação do sagrado como parte
essencial da nossa interexistência em dois
planos de uma mesma vida: o físico e o
espiritual. Por outro lado, a arte espírita, com
seu grande destaque na literatura, mas não
somente nela, contrapõe ao Materialismo a teoria
do Espiritualismo confirmada pela Doutrina
Espírita, baseada no método científico da
observação e da experimentação, como anunciou
Allan Kardec. Desse modo, essa arte torna-se
cada vez mais apreciada no Brasil e no exterior.
Já tivemos a oportunidade de escrever sobre a
arte espírita, cujo artigo foi publicado em
Reformador de agosto de 2016. Naquele texto,
enfatizamos a posição de Allan Kardec sobre essa
arte, ressaltando suas palavras, publicadas em
Obras póstumas (2009, p. 211), quando diz
que esse era, ainda, “campo inteiramente novo,
imenso e ainda inexplorado”. Por meio das artes,
os Espíritos interagem conosco, de modo direto
ou indireto, uma vez que sabemos, por seu
intermédio mesmo, que sua influência “em nossos
pensamentos e em nossos atos” é muito mais vasta
do que se imagina (questão 459 d’O Livro dos
Espíritos).
De meados do Séc. XIX até os nossos dias, a
influência dos Espíritos nas artes, em vários
países, mas principalmente no Brasil, tornou-se
maciça e muito rica, confirmando, cada vez mais,
as palavras do Codificador do Espiritismo. Como
vimos, no artigo citado, a literatura, o teatro,
a música e a pintura vêm sendo utilizados, ao
longo dos séculos, acrescidos, modernamente, da
sétima arte, o cinema, como manifestações
criativas do espírito nos dois planos
existenciais: físico e metafísico.
Além das obras literárias psicografadas e outras
artes, como o cinema, o teatro e a música, temos
na pintura diversos médiuns que produzem quadros
com as mãos e até com os pés, sob a influência
de pintores célebres, como Picasso, Monet,
Renoir, Van Gogh e muitos outros. Tais
sensitivos são denominados médiuns de
psicopictografia. Um desses médiuns é Lívio
Barbosa que, segundo Romero (2016), no dia 19 de
junho de 2015, pintou, ao vivo, com as mãos, um
quadro de Oscar-Claude Monet, “o mais consagrado
pintor impressionista do mundo” na TV Cidade
Verde, do Piauí, causando grande espanto e
emoção nas pessoas presentes e telespectadores.
De acordo com Romero (2016), durante o evento
citado acima, Lívio Barbosa esclareceu que não é
fácil a pintura mediúnica, uma vez que há
necessidade de os Espíritos artistas
transmitirem um pouco de sua técnica e gênio a
alguém que nada ou quase nada sabe sobre essa
arte, como é o caso dos médiuns psicopictógrafos.
Pode estar aí a razão pela qual alguns dos
entendidos nessa arte descreem da autenticidade
da autoria do Espírito, ainda que sejam incomuns
a velocidade e os processos utilizados na
produção dos quadros pintados. É também uma
característica desses trabalhos a sua elaboração
com os dedos das mãos e dos pés, em substituição
aos pincéis, quando produzidos mediunicamente.
Além disso, observa-se, muitas vezes, que o
médium nem ao menos olha para a tela ou
mantém-se de olhos fechados, enquanto pinta. As
tintas coloridas são misturadas no recipiente
apropriado, mas quando essa massa policrômica é
levada ao quadro, pelos dedos das mãos ou dos
pés do médium, ela reassume o seu colorido
específico, de acordo com o desejo do Espírito
manifestante.
Outra médium psicopictógrafa é a senhora
Valdelice Salum, de 78 anos, (5/11/1938),
semianalfabeta, originária de família rural
baiana. Essa médium pinta com as mãos e com os
pés, há mais de trinta anos, telas atribuídas
aos Espíritos Aleijadinho, Anita Malfatti,
Monet, Picasso, Portinari, Renoir, Vincent etc.
A renda obtida com a venda dos quadros é doada
às instituições de caridade. E Valdelice é
reconhecida por sua obra voltada para a
assistência aos necessitados.
Desde jovem, Valdelice Salum via quadros “caindo
sobre sua cabeça” e não entendia o que se
passava. Somente após estar casada, animou-se a
procurar Chico Xavier, pois era católica
fervorosa. O médium mineiro incentivou-a a
frequentar uma instituição espírita e estudar O
Evangelho segundo o Espiritismo, após lhe
dizer que havia muitos Espíritos pintores ao seu
redor, aguardando sua disposição de divulgar a
vida espiritual pela pintura mediúnica.
Segundo Zanella (2016), a pintura de Valdelice,
em 2008, quando se apresentou ao vivo, em TV
italiana, foi um sucesso nacional naquele país.
Constata-se, atualmente, que o Espiritismo ocupa
espaço cada vez mais proeminente, tanto na área
científica, quanto nos mais diversificados
gêneros artísticos, além da literatura.
Cogitar sobre a imortalidade e sobre a
possibilidade de os Espíritos desencarnados
intervirem no nosso mundo, de modo tão palpável,
era como quebrar barreiras de conceitos e
preconceitos, de incertezas e de ceticismo. O
próprio apresentador disse de público que seria
muito difícil esquecer o ar de tranquilidade e
serenidade que se respirou durante a gravação do
programa e admitiu que ele nunca havia imaginado
ver algo similar acontecer diante dos seus
próprios olhos (ZANELLA, 2016).
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Pintura
mediúnica
de
Valdelice
Salum,
disponibilizada
por sua
filha
Suely
Salum em
12 de
set.
2016,
assinada
por
Monet
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Pintura
mediúnica
de
Valdelice
Salum,
disponibilizada
por sua
filha
Suely
Salum em
12 de
set.
2016,
assinada
por
Vincent
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Estas duas imagens nos foram disponibilizadas
para publicação pela filha da médium, Suely Salum, que gentilmente nos cedeu o direito de
publicar as obras de sua mãe. Lembramos que as
pinturas de Valdelice são feitas tanto com os
dedos das mãos como também com os pés, embora
ela não possua qualquer limitação física que
pudesse impedi-la de usar os pincéis
normalmente. O objetivo primacial é provar-nos a
sobrevivência desses grandes pintores e,
consequentemente, nossa própria imortalidade.
Outras entidades espirituais que atuam
mediunicamente por essa médium psicopictógrafa
assinam seus quadros, que já contam por centenas
de obras, com os nomes de P. Cezanne, H.
Matisse, Renoir, Salvador Dali, Toulouse Lautrec
etc.
Atualmente, há diversos médiuns da arte
pictográfica no Brasil. Cito apenas esses dois e
destaco a mediunidade de Valdelice, sem
desmerecer o trabalho recebido dos Espíritos por
outros médiuns, tendo em vista a simplicidade de
Salum que, sendo representada por sua filha, em
virtude de sua condição de pouco letrada, há
décadas vem sendo instrumento humilde e fiel da
Espiritualidade Superior. Essa e outros médiuns
são canais utilizados pelos artistas
desencarnados para confirmarem as palavras do
profeta Joel, citadas por Pedro:
E nos últimos dias acontecerá, diz o Senhor, que
do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; e
os vossos filhos e as vossas filhas
profetizarão, os vossos jovens terão visões, e
os vossos velhos sonharão; e também do meu
Espírito derramarei sobre os meus servos e
minhas servas, naqueles dias, e profetizarão;
farei aparecer prodígios em cima no céu e sinais
em baixo na terra: sangue, fogo e vapor de
fumaça (Atos, 2:17 a 19).
Certa vez, Jesus foi procurado por alguns
fariseus que lhe pediram um sinal, para que
cressem nele. O Mestre Divino respondeu-lhes que
nenhum sinal lhes seria dado a não ser o de
Jonas. Como sabemos, esse profeta teria sido
supostamente engolido por uma baleia e teria
ficado três dias em seu ventre, após o que fora
expelido com vida. O primeiro grande sinal que
Jesus nos deu está aí representado,
simbolicamente, pois ele fora crucificado e
sepultado numa gruta, mas três dias após isso,
manifestou-se primeiro a Madalena, depois a seus
discípulos. Outro sinal, também, o Cristo nos
deu e continua dando, pelo dom da mediunidade,
moderno nome que atribuímos às profecias. Os
dons são diversos, mas a finalidade precípua é
provar a imortalidade da alma por meio das
manifestações mediúnicas dos mais variados
tipos: psicografia, psicofonia, vidência,
materialização, audição e psicopictografia,
entre outros tipos de mediunidade.
Comprovada a nossa imortalidade, cabe-nos,
principalmente, o dever de retribuir todas essas
bênçãos, pelo estudo, pela observação, pela
reflexão e, fazendo uso do bom senso, repelir,
ainda que sejam dez verdades, antes que aceitar
uma só teoria falsa, como nos alerta o Espírito
Erasto, n’O Livro dos Médiuns (In:
KARDEC, 2013b, cap. XX), mas observar a máxima
de Jesus: “pelos frutos reconhecereis a boa
árvore” (Lucas, 6:44).
Pelo que se pode observar, os trabalhos
psicopictográficos dos médiuns abnegados, em
prol da comprovação da imortalidade do Espírito,
e a atuação beneficente dessas pessoas
credenciam-nas como exemplos de servidores leais
de Jesus, pelo bem que sua obra produz à
Humanidade. O bom médium está sempre buscando
aprender para melhor servir, atento à
recomendação do Cristo: “Dai de graça o que de
graça recebestes” (Mateus, 10:8).
Ele não se envaidece de sua mediunidade, porque
sabe que esse é um dom que, assim como lhe foi
dado por Deus, também lhe pode ser retirado. Não
faz disso um meio de enriquecimento material
próprio, pois não ignora que, desse modo, estará
se afastando da influência dos bons Espíritos e
atraindo a companhia das entidades ignorantes.
Aprende sempre, pois sabe que, quanto maior for
o seu conhecimento, melhor é a sua sintonia com
os Espíritos elevados, desejosos de nos
transmitir, por seu intermédio, as mensagens de
suas artes sublimes.
Médiuns como Valdelice Salum, mesmo não tendo
tido oportunidade de se alfabetizar
regularmente, tornam-se dóceis às influências
dos Espíritos, em virtude de seus conhecimentos
adquiridos em outras existências. Seu dom
agiganta-se na prática da oração, da vigilância
e do serviço desinteressado ao próximo,
consoante recomendação de Jesus. Desse modo, ao
se desprender do corpo físico pelo sono, à
noite, o bom médium adentra as elevadas regiões
espirituais, onde assiste sublimes aulas de
iluminação de sua alma e ouve recomendações para
que exercite a humildade, o perdão e o amor ao
próximo, ao qual deverá servir
incondicionalmente e esclarecer, por meio de sua
obra mediúnica e exemplificação diuturna no bem.
Sua dedicação incansável ao próximo e sua boa
vontade em aprender as técnicas da pintura
mediúnica com esses artistas do Além permitem a
médiuns como Valdelice Salum reproduzir, com a
máxima fidelidade possível, as telas
provenientes dos laboratórios do mundo
espiritual, cujo objetivo é, principalmente,
demonstrar-nos nossa imortalidade. Desse modo,
passamos a refletir na importância de sermos
protagonistas de cada etapa de nossa vida eterna
e nos conscientizamos de que nos cabe trabalhar,
aprender e servir em toda parte, a fim de
alcançarmos a felicidade dos justos.
As artes são instrumentos de Deus que nos
proporcionam a verdade, a beleza e a alegria de
viver. Por isso, os bons Espíritos sempre as
utilizam para o nosso deleite e aprendizado. Uma
delas é a psicopictografia. [1]
Referências:
KARDEC, Allan. Obras póstumas. Tradução
de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro:
Federação Espírita Brasileira, 2009.
______. O Livro dos Espíritos. Tradução
de Guillon Ribeiro. 93. ed. Brasília: FEB, 2013.
Edição histórica.
______. O Evangelho segundo o Espiritismo.
Tradução de Guillon Ribeiro. 131. ed. Brasília:
FEB, 2013a. Edição histórica.
______. O Livro dos Médiuns. Tradução de
Guillon Ribeiro. 81. ed. Brasília: FEB, 2013b.
Edição histórica.
ROMERO, Maria. Artista faz pintura mediúnica de
Monet ao vivo na TV Cidade Verde. Para acessar,
clique aqui
ZANELLA, Regina. Pintura mediúnica é destaque na
mídia italiana. Para ler a reportagem,
eis o link
Texto adaptado de capítulo da tese de
doutorado do autor, intitulada
Chamados de Assis: espaços fantásticos do rio
mutante na obra machadiana, aprovada na
Universidade de Brasília em 12 set. 2016.
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