Estudando as obras
de Manoel Philomeno
de Miranda

por Thiago Bernardes

 

Entre os Dois Mundos

(Parte 8)


Continuamos nesta edição o estudo metódico e sequencial do livro Entre os Dois Mundos, obra de autoria de  Manoel Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo P. Franco no ano de 2004.


Questões preliminares


A. Os foliões de hoje serão os tristes desencarnados de amanhã?

Sim. É exatamente assim que José Petitinga, comentando os desvarios cometidos pelos homens da atualidade, se refere ao assunto. Segundo ele, somente a educação, em outras bases, quando a Ética e a Moral renascerem no organismo social, irá demonstrar que, para ser feliz e para recrear-se, não se torna imperioso o vilipêndio do ser, nem a sua desintegração num dia, esquecen­do-se da sua eternidade. (Entre os dois mundos. Capítulo 6: O acampamento espiritual.)

B. Qual o primeiro alvo do socorro prestado pela equipe de benfeitores espirituais de que Manoel Philomeno de Miranda fazia parte?

O primeiro caso narrado nesta obra refere-se ao Dr. Marco Aurélio, uma autoridade importante na cidade e político há­bil de larga história, embora os breves 48 anos de existência física. Sob forte influência obsessiva, ele decidira, naquele mesmo dia em que o grupo socorrista o visitou, envenenar a própria esposa. Eis o pensamento que os benfeitores leram em sua mente: “Agora, ou nunca. Esta é a noite ideal para libertar-me do fardo infeliz. Um pouco de arsênico e tudo estará resolvido. Com a onda festiva, não há tempo para análises cuidadosas da causa mortis da enferma, já desgastada pelos sucessivos derrames cerebrais de que tem sido vítima”. Esses pensamentos eram, porém, orientados por um cruel e indigitado inimigo que se lhe acoplara de tal forma, perispírito a perispírito. (Entre os dois mundos. Capítulo 7: A falência do Dr. Marco Aurélio.)

C. O Dr. Marco Aurélio reencarnara com alguma missão ou tarefa especial?

Sim. Depois de muitos tropeços e fracassos, ele se dispôs a contribuir em favor dos Novos Tempos, restaurando a palavra de Jesus entre as criaturas, como estão fazendo outros missionários do amor e da luz. Foi treinado em cursos de divulgação do Evangelho e do Espiritismo, advertido, porém, quanto aos riscos que correria, em razão da imaturidade emocional nele ainda predominante. Nada obstante, optou pelo trabalho perigoso, na ânsia de recuperar-se e cooperar com os nobres apóstolos do bem. Não foram poupados esforços em favor do seu recomeço, sendo-lhe apresentado um programa adrede ela­borado, para auxiliá-lo nas tarefas que deveria desempenhar. Sua mãe de outros tempos conseguiu a cooperação de uma amiga espiritual, que renasceu com a tarefa de ser-lhe mãe biológica, disposta a infundir-lhe lições de nobreza e de ele­vação moral, orientação religiosa pelo Espiritismo, para que ele pudesse, nas fileiras do Consolador, reparar o pas­sado delituoso e encontrar novo rumo que o tornaria feliz. (Entre os dois mundos. Capítulo 7: A falência do Dr. Marco Aurélio.)


Texto para leitura


81. Segundo José Petitinga, mais re­centemente haviam sido encontradas outras explicações para a le­galização das bacanais públicas, sob os holofotes poderosos da Mídia, como sejam as do turismo, que deixa lucros nas cidades pervertidas e cansadas de luxúria. É certo que atra­em os turistas, alguns para observar os estranhos comporta­mentos das massas, que têm em conta de subdesenvolvidas, de atrasadas, de primitivas, permanecendo em camarotes de luxo, como os antigos romanos contemplando as arenas fes­tivas, nas quais os assassinatos legais misturavam-se às dan­ças, às lutas de gladiadores e ao teatro fescenino. Outros, para atenderem aos próprios tormentos, malcontidos, que podem ser liberados com total permissão durante os feste­jos incomuns. E outros mais, porque necessitam de carnes novas para o comércio sexual, especialmente se está recheado de crianças vendidas por exploradores hábeis e pais infelizes. Por outro lado, os veículos de informação de massa exaltam o corpo, fomentam as paixões sensoriais, induzin­do as novas gerações e os adultos frustrados ao deboche, ao fetiche das sensações, transformando a sociedade em um grande lupanar. (Entre os dois mundos. Capítulo 6: O acampamento espiritual.)

82. Complementando suas explicações, Petitinga observou que não podemos dei­xar de considerar que os enganados foliões de hoje serão os desencarnados tristes de amanhã, queiramos ou não, sendo de lamentar a situação na qual despertarão após a perda do veículo orgânico. E concluiu: “Só a educação, em outras bases, quando a Ética e a Moral renascerem no organismo social, irá demonstrar que, para ser feliz e para recrear-se, não se torna imperioso o vilipêndio do ser, nem a sua desintegração num dia, esquecen­do-se da sua eternidade”. Dito isso, o condutor do grupo se aproximou e convidou Philomeno e seus companheiros para a primeira tarefa, que se iniciaria naquela cidade mesmo, embora o som terrível e flagelador da música agressiva e da algazarra dos seus aficionados. Disse-lhes ele: “Sigamos à residência de um dos nossos amigos que trouxe a tarefa de restaurar o pensa­mento de Jesus na atualidade, e, no entanto, encontra-se experimentando grave e perigoso transe mental”. (Entre os dois mundos. Capítulo 6: O acampamento espiritual.)

83. A falência do Dr. Marco Aurélio A menos de quinhentos metros de distância da aveni­da festiva, distendia-se elegante bairro residencial de classe média alta, no qual também existiam man­sões de alto luxo. O grupo acercou-se de uma delas, cercada por bem cuidado jardim de rosas e outras plantas, com destaque, ao fundo, para árvores frondosas que explodiam em júbilo através das frutas tropicais de que estavam carregadas. Discretamente iluminada no exterior, parecia amor­talhada em grande silêncio. Um que outro grupo de foliões passava pela rua em relativa tranquilidade. Philomeno notou a presença ali de inú­meros espíritos ociosos situados em discussões frívolas e agressões verbais. Ao atravessarem a ampla entrada, depararam com uma sala ricamente ornada, em penumbra, na qual a movimentação de espíritos de baixo teor vibratório fazia­-se grande. Em algazarra e hilariantes, assumindo pos­turas ridículas e fazendo gestos servis, foram tomados de surpresa quando perceberam o grupo socorrista. Um deles, com fácies terrível, gritou então: “Que vêm fazer aqui os sequazes da mentira e da ilusão, em nome do Crucificado? Não esqueçam que Marco Aurélio é nosso. Entregou-se-nos de livre e espontânea von­tade. Vocês não conseguirão nada com ele. É tarde demais”. Sem conceder-lhe a importância que se atribuía, o Mentor prosseguiu na direção do piso superior, pelo acesso da escada de mármore que descia graciosamente do alto à sala de entrada. (Entre os dois mundos. Capítulo 7: A falência do Dr. Marco Aurélio.)

84. A movimentação dos visitantes infelizes era ex­pressiva. Nem todos  percebiam a equipe de Philomeno, mas alguns dispararam em correria inesperada, tomados de surpresa, ao notar os socorristas, como se os receassem. Outros prosseguiam com suas preocupações, imersos nos pensamentos inditosos em que se enjaulavam. A equipe chegou ao andar superior e dirigiu-se a uma sala onde se ouvia uma canção vulgar, saindo do aparelho de som, com letra de duplo sentido, servindo de estímulo a uma grotesca dança de entidades lascivas. Na ampla janela que dava para o quintal, encontrava-se um cavalheiro recurvado sobre o peitoril, com um copo de uísque na mão direita, enquanto fumava um charuto de alto preço, agitado mentalmente e com tiques nervosos contínuos. Vestia um robe de chambre sobre o pijama e podia­-se perceber-lhe o desequilíbrio, embora estivesse de costas para o grupo. “Trata-se do nosso irmão, Dr. Marco Aurélio” – escla­receu o dirigente do nosso grupo. “É uma autoridade importante na cidade, político há­bil de larga história, embora os breves 48 anos de existência física. Tentemos ouvir-lhe os pensamentos atormentadores.” Desligando-se das demais ocorrências que sucediam na sala, Philomeno e seus companheiros puderam ouvir-lhe inquietantes reflexões: “Agora, ou nunca. Esta é a noite ideal para libertar-me do fardo infeliz. Um pouco de arsênico e tudo estará resolvido. Com a onda festiva, não há tempo para análises cuidadosas da causa mortis da enferma, já desgastada pelos sucessivos derrames cerebrais de que tem sido vítima”. Tais pensamentos eram orientados por um cruel e indigitado inimigo que se lhe acoplara de tal forma, perispírito a perispírito, que passara despercebido de início aos integrantes da equipe. (Entre os dois mundos. Capítulo 7: A falência do Dr. Marco Aurélio.)

85. A emissão de sua onda mental fixava-se no centro do raciocínio do encarnado, distendendo-se numa rede viscosa pelo cérebro, de forma que lhe obnubilava o raciocínio lúci­do. Teleguiado pela vontade dominadora, pensava em uma atitude reflexiva procedente do algoz, que lhe comandava o sistema nervoso central, produzindo-lhe os tiques de que se fazia instrumento. Logo que se referiu mentalmente à enferma, o Men­tor convidou seus companheiros a adentrar um dos quartos próximos onde, prostrada, sob assistência especializada, encontrava-se uma mulher de aproximadamente 40 anos, muito desfeita, com visíveis sinais de paralisia dos membros inferiores, dos braços e torções deformantes da face. Com tubo de oxigê­nio e recebendo soro, demonstrava um grande sofrimento que não podia traduzir. De quando em quando, abria os olhos cinzentos e respirava com dificuldade, asfixiada pela opressão de que se sentia vítima. Lágrimas contínuas escor­riam-lhe pela face, expressando que o raciocínio estava livre da jaula cerebral, exteriorizando-se na manifestação de an­gústia e de desconforto íntimo. “Trata-se de nossa irmã Lucinda” – elucidou men­talmente o Dr. Arquimedes. “Ela acompanhou o nosso Dr. Marco Aurélio, com a tarefa de ser-lhe esposa devotada, auxiliando-o no serviço especial que ele deveria desempe­nhar. Em verdade, foi-lhe companheira abnegada, desta­cando-se pela ternura com que sempre o envolveu e pela maneira superior com que desempenhou os papéis que lhe foram atribuídos no lar. Deu-lhe um casal de filhos, que hoje estão, com 20 anos o rapaz e a moça com 18 primaveras. Cuidou de edu­cá-los com devotamento, não tendo recebido o correspon­dente apoio do marido, no que resultou em desequilíbrio do moço, que se tornou usuário de drogas químicas e da moça invigilante, que já enveredou pelo crime do aborto, liberando-se de um filho não desejado.” (Entre os dois mundos. Capítulo 7: A falência do Dr. Marco Aurélio.)

86. Embora a filha houvesse tomado a decisão a sós, a mãe percebeu-lhe a tragédia íntima e tentou ajudá-la, não ha­vendo, porém, conseguido o intento de evitar o abortamento, nem confortar a filha rebelde. Foi nessa ocasião, 8 meses atrás, apro­ximadamente, que teve o primeiro derrame cerebral. Mais tarde, em razão de uma crise do filho, intoxicado por alta dose de substância alucinante, que a agrediu fisicamente, padeceu uma parada cardíaca, sendo ressuscitada, mas foi acometida de novo problema cerebral. As relações com o marido já se vinham deteriorando há mais de um decênio, em razão do comportamento levia­no e desastroso dele. De nada valeram os seus apelos assinalados pelo amor não correspondido e pelo devotamento à sua vida. Propositalmente foi relegada a plano secundário no lar, e agora, quando se encontrava relativamente próxima da desencarnação, o esposo, inspirado pelo comparsa invisível que o odeia, planejava envenená-la com arsênico, certo de que o crime passaria despercebido. Fazendo uma pausa muito oportuna, o Mentor concluiu: “Ele encontra-se preparado para executar o delito he­diondo esta noite. Por esta razão aqui estamos, iniciando o nosso ministério”. Em face do silêncio natural, enquanto a equipe contemplava o quadro comovedor, Ângelo interro­gou o Orientador: “O nosso irmão Dr. Marco Aurélio não recebeu ajuda antes deste momento, chegando a esta situação re­prochável?” O Mentor respondeu: “Sem dúvida! Marco Aurélio vem de nossa esfera com tarefa bem definida para ser executada na Terra. Renasceu sob a custódia de abnegada benfeitora espi­ritual, que lhe fora mãe cuidadosa, mais de uma vez, e que o retirara do abismo em ocasião própria, quando ali se ar­rojara por imprudência e perversidade. Fracassado, nas lides cristãs, quando envergara roupagens clericais da Igreja Ro­mana, utilizou-se do Cristo para espoliar pessoas incautas, dissimular conduta vergonhosa, submeter viúvas inexpe­rientes aos seus caprichos e perversões, brandindo o Evan­gelho no púlpito como arma para atemorizar as vítimas e os naturais adversários. (Entre os dois mundos. Capítulo 7: A falência do Dr. Marco Aurélio.)

87. Marco Aurélio desencarnou e reencarnou, mais de uma vez, comprometido com o clero venal, atirando-se pela própria incúria nas regiões infelizes da erraticidade inferior. A genitora abnegada empenhou os seus melhores títu­los de enobrecimento para arrancá-lo do domínio das trevas e o conseguiu. Ele passou alguns decênios em tratamento cuidadoso na esfera espiritual, no departamento de recupera­ção e reeducação. Quando se recompôs um pouco, voltou ao proscênio terrestre, em expiação pungente, de modo a liberar-se de maior carga de intoxicações destrutivas que acumulara e para fugir à sanha dos adversários que gran­jeara... Voltando ao Grande Lar, dispôs-se a contribuir em favor dos Novos Tempos, restaurando a palavra de Jesus entre as criaturas, como estão fazendo outros missionários do amor e da luz. Foi treinado em cursos de divulgação do Evangelho e do Espiritismo, que vem iluminando o mundo, advertido quanto aos riscos que correria, em razão da imaturidade emocional nele ainda predominante. Nada obstante, optou pelo trabalho perigoso, na ânsia de recuperar-se e cooperar com os nobres apóstolos do bem. Não foram poupados esforços em favor do seu recomeço, sendo-lhe apresentado um programa adrede ela­borado, para auxiliá-lo nas tarefas que deveria desempenhar. A genitora conseguiu a cooperação de uma grande amiga espiritual, que renasceu com a tarefa de ser-lhe mãe biológica, disposta a infundir-lhe lições de nobreza e de ele­vação moral, orientação religiosa pelo Espiritismo, a fim de que ele pudesse, nas fileiras do Consolador, reparar o pas­sado delituoso e encontrar novo rumo que o tornaria feliz. (Entre os dois mundos. Capítulo 7: A falência do Dr. Marco Aurélio.) (Continua no próximo número.)


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita