Em mensagem publicada na seção de Cartas desta edição, o
leitor Luiz Paulo Lopes Pinto, de São José dos Campos
(SP), escreveu:
Se entendi direito, não há animais no plano espiritual.
(L.M., cap. XXV, item 283, pergunta, 36ª.) Como explicar
os animais descritos em vários livros da obra de André
Luiz? (Vide, por exemplo, o capítulo 5 do livro Ação e
Reação)
A questão proposta, que já foi examinada oportunamente
em diversas edições nesta revista, parte do princípio de
que a revelação espírita se resume tão somente ao que
Allan Kardec consignou em suas obras. Tudo o que nos
veio por meio de outros Espíritos e outros médiuns, ou
mesmo como resultado das pesquisas psíquicas, não pode
ser incorporado ao conjunto dos ensinos espíritas.
Ora, não é essa a proposta que o próprio Codificador
consignou em sua última obra. Vejamos:
Um último caráter da revelação espírita, a ressaltar das
condições mesmas em que ela se produz, é que,
apoiando-se em fatos, tem que ser, e não pode deixar de
ser, essencialmente progressiva, como todas as ciências
de observação. Pela sua substância, alia-se à Ciência
que, sendo a exposição das leis da Natureza, com relação
a certa ordem de fatos, não pode ser contrária às leis
de Deus, autor daquelas leis. As descobertas que a
Ciência realiza, longe de o rebaixarem, glorificam a
Deus; unicamente destroem o que os homens edificaram
sobre as falsas ideias que formaram de Deus.
O Espiritismo, pois, não estabelece como princípio
absoluto senão o que se acha evidentemente demonstrado,
ou o que ressalta logicamente da observação. Entendendo
com todos os ramos da economia social, aos quais dá o
apoio das suas próprias descobertas, assimilará sempre
todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que
sejam, desde que hajam assumido o estado de verdades
práticas e abandonado o domínio da utopia, sem o que ele
se suicidaria. Deixando de ser o que é, mentiria à sua
origem e ao seu fim providencial. Caminhando de par com
o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado,
porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em
erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria
nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a
aceitará. (A Gênese, cap. I, item 55.)
Allan Kardec não somente propôs como cumpriu, no curso
de suas próprias pesquisas, o procedimento sugerido,
quando reexaminou, primeiro na Revista Espírita, depois
na obra A Gênese, o tema “possessão”, fenômeno
por ele rejeitado sumariamente em duas obras: O Livro
dos Espíritos, questão 474, e O Livro dos Médiuns,
cap. XXIII, n. 241.
Fruto de novas observações que fez a respeito das
manifestações espíritas, o Codificador, retificando o
equívoco cometido, escreveu então:
47. Na obsessão, o Espírito atua exteriormente, com a
ajuda do seu perispírito, que ele identifica com o do
encarnado, ficando este afinal enlaçado por uma como
teia e constrangido a proceder contra a sua vontade. Na
possessão, em vez de agir exteriormente, o Espírito
atuante se substitui, por assim dizer, ao Espírito
encarnado; toma-lhe o corpo para domicílio, sem que
este, no entanto, seja abandonado pelo seu dono, pois
que isso só se pode dar pela morte. A possessão,
conseguintemente, é sempre temporária e intermitente,
porque um Espírito desencarnado não pode tomar
definitivamente o lugar de um encarnado, pela razão de
que a união molecular do perispírito e do corpo só se
pode operar no momento da concepção. (Cap. XI, nº 18.)
De posse momentânea do corpo do encarnado, o Espírito se
serve dele como se seu próprio fora: fala pela sua boca,
vê pelos seus olhos, opera com seus braços, conforme o
faria se estivesse vivo. Não é como na mediunidade
falante, em que o Espírito encarnado fala transmitindo o
pensamento de um desencarnado; no caso da possessão é
mesmo o último que fala e obra; quem o haja conhecido em
vida, reconhece-lhe a linguagem, a voz, os gestos e até
a expressão da fisionomia.
48. Na obsessão há sempre um Espírito malfeitor. Na
possessão pode tratar-se de um Espírito bom que queira
falar e que, para causar maior impressão nos ouvintes,
toma do corpo de um encarnado, que voluntariamente lho
empresta, como emprestaria seu fato a outro encarnado.
Isso se verifica sem qualquer perturbação ou incômodo,
durante o tempo em que o Espírito encarnado se acha em
liberdade, como no estado de emancipação, conservando-se
este último ao lado do seu substituto para ouvi-lo.
Quando é mau o Espírito possessor, as coisas se passam
de outro modo. Ele não toma moderadamente o corpo do
encarnado, arrebata-o, se este não possui bastante força
moral para lhe resistir. Fá-lo por maldade para com
este, a quem tortura e martiriza de todas as formas,
indo ao extremo de tentar exterminá-lo, já por
estrangulação, já atirando-o ao fogo ou a outros lugares
perigosos. Servindo-se dos órgãos e dos membros do
infeliz paciente, blasfema, injuria e maltrata os que o
cercam; entrega-se a excentricidades e a atos que
apresentam todos os caracteres da loucura furiosa. (A
Gênese, cap. XIV, itens 47 e 48.)
No tocante ao ponto fundamental da mensagem enviada pelo
leitor, afirmamos que há, sim, algumas espécies animais
no plano espiritual. Embora a quase totalidade deles
reencarne quase de imediato, alguns permanecem – com seu
corpo espiritual – no plano extrafísico, onde
desenvolvem tarefas adequadas à experiência que
adquiriram.
Nesse sentido, os relatos são muitos e feitos por
pessoas idôneas e capacitadas.
A professora Irvênia Prada tratou do assunto no artigo
“Os animais têm alma e são também seres em evolução”,
publicado na edição n. 9 de nossa revista. Para acessar
o artigo,
clique aqui
O artigo citado fundamenta-se em fatos. Um deles foi
extraído do livro "Testemunhos de Chico Xavier", de
Suely Caldas Schubert, em que se lê o seguinte
depoimento de Chico: "Em 1939, o meu irmão José
deixou-me um desses amigos fiéis (um cão). Chamava-se
Lorde e fez-se meu companheiro... Em 1945, depois de
longa enfermidade, veio a falecer. Mas, no último
instante, vi o Espírito de meu irmão aproximar-se e
arrebatá-lo ao corpo inerte e, durante alguns meses,
quando o José, em Espírito, vinha ter comigo, era sempre
acompanhado por ele... A vida é uma luz que se alarga
para todos..."
Na Revista Espírita de maio de 1865, o próprio
Codificador publicou uma carta de um correspondente
radicado em Dieppe, o qual alude à manifestação da
cadelinha Mika, então desencarnada, fato esse que foi
percebido pelo autor do relato, por sua mulher e por uma
filha que dormia no quarto ao lado. Aludindo ao assunto
em uma comunicação mediúnica dada na noite de 21 de
abril de 1865, por intermédio do médium Sr. E. Vézy,
publicada no mesmo número da Revista Espírita, um
Espírito disse textualmente que a manifestação relatada
podia, sim, ocorrer, embora fosse passageira.
O pesquisador espírita Ernesto Bozzano, autor do livro
Animali e manifestazioni metapsichici, de 1923,
muitos anos antes do surgimento das obras de André Luiz,
relata vários casos de almas de animais que foram vistas
ou ouvidas por uma ou mais pessoas, valendo ressaltar
que o Padre Germano, personagem principal do clássico
Memórias do Padre Germano, sempre se apresentou,
tanto para Chico Xavier quanto para Divaldo Franco,
acompanhado de seu fiel amigo Sultão.
Divaldo Franco em uma entrevista publicada na edição 51
desta revista, declarou: “Pessoalmente, já tive diversas
experiências com animais, especialmente cães
desencarnados, que permanecem na erraticidade desde há
algum tempo”. Para acessar a entrevista,
clique neste link
Em 1918, no cap. 6 do seu livro Espiritismo para
crianças, Cairbar Schutel escreveu: “Então existem
lá casas, árvores, flores, parques, animais? E por que
não? Depois que lá chegarmos veremos tudo isso, e, na
proporção do nosso adiantamento, encontraremos, além
dessas esferas, outros mundos ainda mais aperfeiçoados e
rarefeitos”.
Verifica-se, por todo o exposto, que as informações
contidas nas obras de André Luiz não são descrições
delirantes, pois descrevem tão somente o que em várias
partes do mundo pôde ser observado, ou seja, que
existem, sim, animais desencarnados no plano espiritual,
embora sua reencarnação “quase imediata” constitua a
regra na quase totalidade dos casos.