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por Marcus Vinicius de Azevedo Braga

 
O homem do pontinho preto


Oswaldo era um pessimista inveterado. Os amigos diziam que ele sempre via o pontinho preto na tela toda branca. Mas ele não se via assim, se via como um realista, precavido quanto aos dissabores do amanhã, alerta para as ameaças que poderiam surgir ali na esquina.

Entre reclamações e críticas, Oswaldo sempre olhava o copo meio vazio, o pior ângulo, e em tudo esperava sempre o pior, em uma total ausência de fé e de esperança. Desconfiava de tudo e de todos, e não se abria, temeroso do que poderiam fazer aqueles que se dispusessem a ser seus amigos.

Quando pediam a sua opinião, lá vinha ele com alarmismos, julgando a todos mal e vendo sempre a má-fé e a esperteza de cada um... Um verdadeiro agourento, diziam alguns, tornava-se uma pessoa isolada pela comunidade, por esse seu jeito negativo, o que reforçava a sua visão pessimista do ser humano.

Um dia, no seu leito de desencarne, confessou a um dos poucos amigos que assim agia pois havia sofrido muitas solapadas da vida, o que lhe fez ficar pessimista, sem esperança, achando que viria sempre o pior. Ao chegar do outro lado, se surpreendeu, por ver que a vida continuava, com suas lutas e desafios.

O otimismo é uma virtude, mas que se enfraquece pelo remorso, pelo sofrimento reiterado, pelas dores que traumatizam o Espírito encarnado. Uma conquista, pois apesar de parecer fácil enxergar a tela branca, o pessimista se fixa ao ponto preto, aprisionado pela dor que viveu.

Assim, exigir o otimismo demanda entender por que certos irmãos se detêm a uma visão negativa da vida, repleta de desconfianças, pensando sempre o pior. Por vezes, aquele irmão não conseguiu se libertar do emaranhado de dores que ele carrega no coração, dessa vida e de outras, e precisa de ajuda.

Isso é muito comum nas reuniões mediúnicas, na qual Espíritos sofredores que perambulam arrastando as suas dores cultivam a descrença em dias melhores, enxergando apenas o pior, esquecidos de que existe uma luz maior a nos guiar, bastando, por vezes, apenas levantar a cabeça.

A dor, qualquer uma, tem efeitos retardados, e isso faz com que o chamado trauma nos impeça de ver o melhor que poderá vir, construído pela nossas mãos. Como confiar, se já fomos feridos? Como pensar no melhor, se já vivenciamos tanto sofrimento?

Esse pontinho preto pode ser infinito e nele ficarmos aprisionados, sem perceber quanta coisa boa existe no mundo, produzido pelas mãos humanas, e quantas pessoas que dão exemplos de superação de seus desafios. Mas, para se desviar desse ponto preto, fixo, precisamos por vezes de ajuda. É preciso insistir nesse ponto...

Diante do amigo pessimista, que sempre espera o pior, que não confia em ninguém, ao invés do isolamento, pense que ele precisa de um abraço, de uma boa conversa, e que ele precisa de pessoas que o ajudem a reencontrar a sua “fé na vida, fé no homem”.

E para isso, não basta mostrar a ele coisas boas, mas convidá-lo a construí-las, com o seu esforço, para que ele veja, de forma desalienada, a força do bem, potência transformadora que realiza o que seria mais próximo de um milagre em nosso planeta.

Assim, os realistas de plantão colecionarão outras realidades que mudarão as suas lentes, não para a ingenuidade que enfraquece, mas para o amor que liberta, vendo em cada um a sua essência divina.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita