O homem do pontinho preto
Oswaldo era um pessimista inveterado. Os amigos diziam
que ele sempre via o pontinho preto na tela toda branca.
Mas ele não se via assim, se via como um realista,
precavido quanto aos dissabores do amanhã, alerta para
as ameaças que poderiam surgir ali na esquina.
Entre reclamações e críticas, Oswaldo sempre olhava o
copo meio vazio, o pior ângulo, e em tudo esperava
sempre o pior, em uma total ausência de fé e de
esperança. Desconfiava de tudo e de todos, e não se
abria, temeroso do que poderiam fazer aqueles que se
dispusessem a ser seus amigos.
Quando pediam a sua opinião, lá vinha ele com alarmismos,
julgando a todos mal e vendo sempre a má-fé e a
esperteza de cada um... Um verdadeiro agourento, diziam
alguns, tornava-se uma pessoa isolada pela comunidade,
por esse seu jeito negativo, o que reforçava a sua visão
pessimista do ser humano.
Um dia, no seu leito de desencarne, confessou a um dos
poucos amigos que assim agia pois havia sofrido muitas
solapadas da vida, o que lhe fez ficar pessimista, sem
esperança, achando que viria sempre o pior. Ao chegar do
outro lado, se surpreendeu, por ver que a vida
continuava, com suas lutas e desafios.
O otimismo é uma virtude, mas que se enfraquece pelo
remorso, pelo sofrimento reiterado, pelas dores que
traumatizam o Espírito encarnado. Uma conquista, pois
apesar de parecer fácil enxergar a tela branca, o
pessimista se fixa ao ponto preto, aprisionado pela dor
que viveu.
Assim, exigir o otimismo demanda entender por que certos
irmãos se detêm a uma visão negativa da vida, repleta de
desconfianças, pensando sempre o pior. Por vezes, aquele
irmão não conseguiu se libertar do emaranhado de dores
que ele carrega no coração, dessa vida e de outras, e
precisa de ajuda.
Isso é muito comum nas reuniões mediúnicas, na qual
Espíritos sofredores que perambulam arrastando as suas
dores cultivam a descrença em dias melhores, enxergando
apenas o pior, esquecidos de que existe uma luz maior a
nos guiar, bastando, por vezes, apenas levantar a
cabeça.
A dor, qualquer uma, tem efeitos retardados, e isso faz
com que o chamado trauma nos impeça de ver o melhor que
poderá vir, construído pela nossas mãos. Como confiar,
se já fomos feridos? Como pensar no melhor, se já
vivenciamos tanto sofrimento?
Esse pontinho preto pode ser infinito e nele ficarmos
aprisionados, sem perceber quanta coisa boa existe no
mundo, produzido pelas mãos humanas, e quantas pessoas
que dão exemplos de superação de seus desafios. Mas,
para se desviar desse ponto preto, fixo, precisamos por
vezes de ajuda. É preciso insistir nesse ponto...
Diante do amigo pessimista, que sempre espera o pior,
que não confia em ninguém, ao invés do isolamento, pense
que ele precisa de um abraço, de uma boa conversa, e que
ele precisa de pessoas que o ajudem a reencontrar a sua
“fé na vida, fé no homem”.
E para isso, não basta mostrar a ele coisas boas, mas
convidá-lo a construí-las, com o seu esforço, para que
ele veja, de forma desalienada, a força do bem, potência
transformadora que realiza o que seria mais próximo de
um milagre em nosso planeta.
Assim, os realistas de plantão colecionarão outras
realidades que mudarão as suas lentes, não para a
ingenuidade que enfraquece, mas para o amor que liberta,
vendo em cada um a sua essência divina.