Entrevista

por Giovana Campos

A ecologia e a  espiritualidade devem andar lado a lado

Em palestra magna sobre mundo sustentável – o cuidado integral para um planeta em crise, o jornalista André Trigueiro (foto), pós-graduado em gestão ambiental, discorreu sobre as belezas e angústias de nosso mundo atual em face dos novos desafios enfrentados pela ecologia. Apresentou de forma didática como a nossa saúde, nesta ou em próximas encarnações, pode ser afetada caso uma atitude mais eficaz por parte de todos não seja colocada em prática. Defendeu a evolução ética em prol do coletivo, mantendo a ecologia e a espiritualidade como ferramentas que devem andar lado a lado em busca da manutenção da vida e da biodiversidade. O jornalista também aproveitou a ocasião para autografar os livros Cidades e Soluções e Viver é a Melhor Opção, tema de sua palestra de encerramento do Mednesp 2017.

André Trigueiro concedeu-nos a entrevista seguinte:

É possível delinearmos uma ponte entre a saúde, espiritualidade e meio ambiente?

Essa ponte sempre existiu e nós, talvez no apogeu da metodologia científica esquartejando o saber e o conhecimento, deixamos de fazer as conexões.  É possível saúde física, mental e espiritual nos termos em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde, sem o ambiente igualmente saudável e resiliente? Precisamos de água pura para beber, ar descontaminado de poluentes e toxinas, terra fértil. A gente precisa de comida boa que não seja impregnada de veneno, isso para ficarmos no território do básico. Na minha apresentação, mostrei estudos da OMS que apontam a intercorrência de índices cada vez mais preocupantes de mortalidade agravados por níveis igualmente preocupantes de intervenção nefasta e hostil nossa no meio ambiente.  Pelo menos cem doenças catalogadas passaram a ter importância estatística a partir de um meio ambiente destroçado. Então, temos um link, uma relação muito clara entre saúde e meio ambiente. Espiritualidade: a gente precisa pensar! Na condição de encarnados neste planeta e falamos no espiritismo, de reforma íntima, caridade, evolução moral e ética, isso não pode estar desprovido de cuidado com a casa comum. O mundo de regeneração não pode ser um mundo evoluído moral e eticamente e destroçado ambientalmente.  A gente precisa prestar atenção no que está acontecendo em volta. Pela primeira vez na história da Igreja um papa resolve fazer uma encíclica abordando explicitamente a relação que existe entre paz e meio ambiente. Kardec no século 19 consagra um capítulo inteiro das Leis Morais que é a Lei de Conservação, em que fala sobre o necessário e o supérfluo, da importância do consumo consciente, como um alerta, uma advertência em relação a uma postura que é incompatível com ética, com evolução moral... Precisamos estar antenado porque saúde, espiritualidade e ambiente são elos de uma mesma cadeia e se não está bom pra todo mundo, não está bom para ninguém.

As pessoas estão mais conscientes da necessidade de se cuidar integralmente destes três aspectos?

Não há dúvida disso, mas falta atitude. Ser politicamente correto não significa que você constrói uma convicção no exercício da Cidadania, de que você está agindo politicamente de forma adequada.  Você vai à pesquisa de opinião ou em público falar da importância da reciclagem, do cuidado com as águas, da necessidade do consumo consciente... Evoluímos nesse sentido, mas a retórica não muda o mundo. Não basta termos uma postura ecofriendly, precisamos ser ativos e, neste sentido, o passo é mais lento.

Há uma forma de motivar a todos a uma postura mais pró-ativa para salvaguardar a natureza e por consequência nosso bem-estar espiritual?

Sim. Denunciando os riscos de colapso. São Paulo é uma cidade que entre 2013 e 2014 experimentou a mais draconiana e severa estiagem. O sistema Cantareira apontou uma seca tal, que o paulistano começou a beber e tomar banho com água de volume morto.  Estamos durante o primeiro racionamento de água da história de Brasília. Hoje alguns especialistas denunciam a maior estiagem na história do Nordeste, seguramente a pior em 100 anos. Há quem diga que a pior da história. E estou falando de estiagem seca no país campeão mundial de água doce! Sabendo usar, não vai faltar. Precisamos descobrir o papel da informação no jornalismo, do educador na escola e na universidade e o papel das tradições de espíritas, que precisam abrir espaço nas palestras públicas para denunciar o risco do colapso. Nós podemos deixar como herança, legado para gerações futuras ou para nós mesmos em encarnação futura, se tivermos o mérito de encarnar em um mundo mais evoluído moral e eticamente que é o mundo de regeneração.  A pedagogia da dor infelizmente é a mais eficiente. Se não for pelo amor, que é o que temos de fazer, vai ser pela dor. De uma forma ou de outra, este aprendizado precisa ter lugar.

 

Nota da autora:
 
As palestras proferidas pelo jornalista André Trigueiro estão disponíveis no website www.mednesp2017.org.br


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita