Divaldo Franco: “Perdoar não significa estar de acordo
com o erro”
A Associação de Desenvolvimento Espiritual Reencontro
realizou no dia 8 de outubro a 3ª edição do Movimento
Você e a Paz em São Paulo. O evento teve lugar no
Auditório Ibirapuera - Oscar Niemeyer (plateia externa),
no Parque Ibirapuera.
A atriz, modelo e locutora Jacqueline Dalabona – sob a
direção do ator, autor e diretor de teatro Odilon Wagner
– foi a encarregada das apresentações do evento, que
contou com a presença de representantes de diversas
religiões, além de autoridades e personalidades de
vários segmentos, como o prefeito da capital de São
Paulo, João Doria Júnior.
O artista Nando do Cordel – autor da música composta
especialmente para o Movimento Você e a Paz – entreteve
com suas canções o público que se aglomerava na
expectativa do início do evento.
A abertura do encontro foi oficialmente feita por Jonas
Pinheiros, presidente da ADE Reencontro, nomeando a
todos os presentes como embaixadores da Paz.
A parte artística do evento foi abrilhantada pela
Bachiana Filarmônica SESI de SP, sob a regência dos
maestros Roberto Minczuk e João Carlos Martins. Na
sequência foi efetuada a entrega do Troféu Você e a Paz
às pessoas, entidades e iniciativas que têm promovido a
paz, nas seguintes categorias:
Personalidade que se Doa:
• João Doria Júnior (foto), prefeito de São Paulo;
• Padre Rosalvino, pela obra social Dom Bosco de amparo
às crianças e adolescentes de Itaquera, bairro de São
Paulo.
Instituição que Realiza:
• Plataforma Sinergia (reaproveitamento de alimentos);
• Fraternidade Sem Fronteiras (amparo e solidariedade às
comunidades pobres de países da África);
• Instituto Passe de Mágica (foco no esporte educacional
em comunidades de alta vulnerabilidade social);
• Hospital Santa Marcelina (dedicado ao amparo
hospitalar aos desvalidos da periferia de São Paulo);
• Heróis do Bem (Voluntários que visitam hospitais,
orfanatos levando alegria e esperança).
Empresa que Viabiliza:
• Química Amparo (Fabricante dos produtos de limpeza YPÊ
pelos empreendimentos e obras assistenciais);
• Escola Santa Marina da Vila Carrão na periferia de SP.
A fala dos oradores convidados - As manifestações
dos pensamentos dos religiosos, presentes ao evento,
sobre a paz, tiveram início com as palavras do Mestre
Espiritual Sri Prem Baba, da ancestral linhagem Sachcha,
que observou termos tudo para nos unirmos, pois
respiramos o mesmo ar, caminhamos sobre os mesmos
caminhos sobre a superfície da Terra e bebemos da mesma
água. Apesar disso, vamos buscar detalhes para fomentar
e alimentar a desunião, o sectarismo e a discórdia. A
paz passa pela união enquanto que a intolerância nos
impede a união. Devemos aprender a construir a harmonia,
erradicando a violência e a agressividade. Para tanto
basta despertar o Amor, que, para ser despertado, requer
uma atitude simples. Mesmo diante da turbulência global,
devemos cultivar a paz no microcosmo da Constelação
Familiar que nos cerca (pai, mãe, irmãos, avós, tios,
primos) agradecendo-lhes por “absolutamente tudo”.
O Cônego Jose Bizon, do Cabido Metropolitano da
Arquidiocese de SP, diretor da Casa da Reconciliação,
ponto de referência para o Ecumenismo e o Diálogo
Inter-Religioso em SP, deu início à sua prédica citando
Jesus – “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles
serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9) – para
afirmar em seguida que é possível a união e a vivência
pacífica entre as diversas formas do pensamento
religioso e das atividades humanas, bastando observar a
diversidade da formação do povo brasileiro. A
intolerância não é choque de opinião, mas sim um choque
de ignorância. Depois, sensibilizando a todos, repetiu a
prece de São Francisco terminando com o pensamento de
Nelson Mandela, Prêmio Nobel da Paz de 1993: “Ninguém
nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua
origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas
precisam aprender, e, se podem aprender a odiar, elas
podem ser ensinadas a amar”.
O Sheikh Jihad Hassan Hammadeh, presidente do Conselho
de Ética da União Nacional das Entidades Islâmicas e
vice-presidente da União Nacional das Entidades
Islâmicas (UNI), iniciou sua apresentação com a saudação
Salaam Aleikum – Que a Paz esteja sobre vós –, expressão
de cumprimento entre os Muçulmanos.
O Sheikh Hammadeh afirmou, na sequência, que todos
querem a paz, para logo em seguida formular uma questão
retórica: — Então por que não temos paz? Qual o caminho
da paz? Os maus têm um produto ruim (a maldade) enquanto
a maioria de nós tem um bom produto (o bem). Então por
que o mal prevalece?
Apesar de o produto ser bom (o bem), a propaganda que
fazemos é sofrível. Nós não praticamos a paz, optando
pela vivência individualista. O mundo de paz que todos
anelamos exige que não mais sejamos seguidores, mas sim
lideres na propagação da paz, mediante a vivência e o
comportamento pessoal, afastando-nos dos conflitos da
beligerância, da injustiça e da intolerância.
O profeta Mohammed (Maomé), questionado sobre como
encontrar a paz, ensinava: — Quem amanhecer seguro no
seu lar, tendo saúde no corpo e com o pão de cada dia, é
como se tivesse conquistado o mundo todo. Ele é a pessoa
mais rica da face da Terra. E o profeta segue ensinando
que o melhor do Islã – a religião da paz – é dar de
comer aos famintos e falar de paz para as pessoas. Duas
regras simples que todos – independente do credo
religioso – podemos praticar, fazendo este compromisso
com Deus: Alimentar os necessitados e ensinar o caminho
da paz.
O pastor Davi Seiberth Arantes, da Igreja Metodista
Wesleyana, iniciou sua abordagem perguntando: — O que é
a paz? A paz é muito mais do que um conceito filosófico.
É necessário mudar profundamente o comportamento
individual de que a paz é atribuição dos poderosos,
tornando-nos impotentes para alterar a situação de
conflito que permeia toda a sociedade. Por certo não
podemos resolver o problema global, mas temos o dever de
mudar nossos comportamentos, pois a qualidade da
sociedade é o resultado direto da soma das qualidades
individuais dos cidadãos que a compõem. Para encerrar
sua participação o pastor Arantes reflexionou em torno
das palavras do Apóstolo Paulo na epístola aos Romanos:
“Não sede conformados com este mundo, mas sede
transformados pela renovação do vosso entendimento, para
que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita
vontade de Deus”. (Romanos 12:2)
O juiz de Direito, autor e divulgador espírita, José
Carlos De Lucca, iniciou sua exposição observando que há
muito mais semelhanças do que diferenças entre as
diversas denominações religiosas. E há, sobretudo, uma
semelhança fundamental e primordial: - Todos nós,
independente do rótulo religioso, somos Filhos de Deus e
essa condição deve ser o caminho a nos conduzir a uma
vivência mais harmônica e pacífica, respeitando as
diversidades e acabando com a intolerância e o ódio
sectário.
De Lucca narrou, em seguida, o diálogo entre Leonardo
Boff e o Dalai Lama, ocorrido durante o intervalo de um
encontro mundial sobre religião e a paz entre os povos:
— Santidade – perguntou o teólogo, escritor e professor
universitário brasileiro – qual é a melhor religião?
– A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus, do
Infinito. É aquela que te faz melhor – respondeu o líder
religioso budista.
– O que me faz melhor? – continuou o teólogo brasileiro.
— Aquilo que te faz mais compassivo, aquilo que te faz
mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais
humanitário, mais responsável e mais ético. A religião
que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião –
completou o Dalai Lama.
Equivocadamente, muitos consideram que para ser bom
basta não praticar o mal, quando na realidade é preciso
fazer o bem, no limite das próprias forças, pois cada um
responderá por todo o mal que tiver tido como origem o
bem que se tenha deixado de fazer.
Encerrando o evento, o médium e orador espírita Divaldo
Franco, idealizador e criador do Movimento Você e a Paz,
abordou a importância da cultura de paz e dos
sentimentos, atitudes e valores em prol de um mundo mais
justo e consequentemente pacífico.
Para emoldurar o tema, Divaldo se utilizou da narrativa
de uma jovem armênia, cuja história foi retratada no
livro Perdão Radical, de autoria de Brian Zahnd.
Entre os anos de 1915 a 1917 ocorreu a guerra entre
turcos e armênios. Como em toda a guerra, a crueldade
era ali soberana. A Armênia invadida pelos turcos viu
seu povo ser dizimado em um genocídio. Não foi diferente
para aquela família modesta. Os soldados turcos
invadiram a casa e de, imediato, mataram os pais de duas
jovens. A mais moça, quase uma criança, foi estuprada
até a morte, e a outra, um pouco mais velha, foi
transformada em escrava sexual do comandante daquela
tropa.
Após fugir dessa situação a jovem refugiou-se em outro
país e estudou até se formar enfermeira. Muitos anos se
passaram até que deu entrada no Hospital onde ela
trabalhava o antigo comandante das tropas que havia
destroçado suas esperanças. Cristã, aplicou-se a cuidar
do quase moribundo até a sua recuperação total.
Desejando agradecer à jovem que tanto se havia dedicado
a lhe devolver a saúde, descobriu toda a verdade.
Envergonhado de suas ações pretéritas, ousou perguntar à
jovem qual a razão de tê-lo perdoado, quando o normal
teria sido um comportamento oposto. A jovem olhou
profundamente nos olhos do algoz de sua felicidade e lhe
respondeu: — Teus crimes contra mim, minha família e meu
povo foi por sermos cristãos. Perdoo-te porque Jesus nos
ensinou: “Aquele que crê em mim faz também as obras que
faço”.
Divaldo passou, então, a elaborar os comentários de
cunho moral em torno da narrativa que a todos emocionou.
Perdoar não é esquecer, pois o esquecimento depende da
memória física. Perdoar no conceito amplo ensinado por
Jesus é não devolver o mal recebido e nem mesmo desejar
a infelicidade daqueles que nos prejudicam e
infelicitam. Perdoar não significa estar de acordo com o
erro. Todo crime merece repúdio. O criminoso, porém,
merece compaixão. O perdão, antes teológico, adquiriu a
condição de terapia, por nos devolver a harmonia
pacificando nossos corações e sentimentos. A crise que
se abate toda a Humanidade é, na realidade, uma crise
individual que se propaga envolvendo toda a sociedade,
que centraliza seus objetivos existenciais no
individualismo, no consumismo e na busca do prazer, por
confundi-lo com a felicidade.
A sociedade carece de objetivos existenciais profundos e
transcendentais, mas prefere permanecer na superfície
das ilusões que passam e se esgotam em si mesmas,
levando o ser à perda do objetivo existencial,
resultando com isso no inconformismo, na depressão, na
revolta e, por conseguinte, produzindo a violência.
Encerrando seus comentários, Divaldo lembrou-nos as
palavras de Jesus: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos
dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o
vosso coração, nem se atemorize”. (João 14:27)
O evento foi encerrado com uma apresentação da música
Paz pela Paz, de Nando do Cordel, composta
especialmente para o movimento Você e a Paz.