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por Hugo Alvarenga Novaes

 

Fé cega e fé raciocinada

 
Mt 8:5-10 - E, entrando Jesus em Cafarnaum, chegou junto dele um centurião, rogando-lhe e dizendo: - Senhor, o meu criado jaz em casa, paralítico, e violentamente atormentado. E Jesus lhe disse: - Eu irei, e lhe darei saúde. E o centurião, respondendo, disse: - Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado, mas dize somente uma palavra, e o meu criado há de sarar. Pois também eu sou homem sob autoridade, e tenho soldados às minhas ordens; e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu criado: Faze isto, e ele o faz. E maravilhou-se Jesus, ouvindo isto, e disse aos que o seguiam: - Em verdade vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tanta fé.

Vemos nesta passagem bíblica o Cristo admirado com a fé manifestada pelo centurião de Cafarnaum, o qual demonstrou que “não precisava ver para crer”. Tendo este raciocinado logicamente a respeito da situação e também daquilo que lhe acontecia, sabedor que era do imenso poder de que O Mestre era possuidor, pediu ao Divino Nazareno que curasse o seu criado que se encontrava distante daquele lugar.

Esse centurião mostrou-nos que não tinha uma “fé cega”, e sim uma “fé raciocinada”.

Este tipo de “fé” nós devemos sempre esforçar por tê-la, por estar calcada na razão e na verdade suprema.

A “fé raciocinada” impele o homem a examinar mais aquilo o que lhe é dito. Enquanto a “fé cega” o leva a não examinar os fatos que lhe são mostrados, acreditando inteiramente naquilo que lhe é falado, sem que seja feito nenhum exame prévio desta fala.

Grandes vultos da história da humanidade disseram coisas inverídicas.

Citaremos Lutero como exemplo. Certa vez, este fez a seguinte asserção: “a fé só por si justifica”. Esta afirmativa é frontalmente contrária à Bíblia.

Tiago mostra-nos, no Livro Sagrado, alguns trechos em que as “obras praticadas pelos homens” são mais importantes que a “fé” que estes possuem.

Vejamos alguns versículos sobre este assunto em questão:

Tg 2:14 - “Que proveito há, meus irmãos, se alguém disser que tem fé e não tiver obras? Porventura essa fé pode salvá-lo?”

Tg 2:17 - “Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma.” 

Tg 2:18 - “Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.”

Tg 2:20 - “Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta?”

Tg 2:22 - “Bem vês que a fé cooperou com as tuas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada.”

Tg 2:24 - “Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé.”

Tg 2:26 - “Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.”

Como vimos, a fé está relacionada diretamente às nossas obras. Desta forma, uns possuem mais fé, e outros menos. Isto é variável de pessoa para pessoa.

Na alegação luterana acima, constatamos claramente um exemplo de “fé cega”, onde a “fé raciocinada” é abandonada. Podemos concluir com certeza que a afirmação do iniciador da reforma protestante está completamente equivocada.

Vejamos o que Kardec nos fala logo abaixo a este respeito, na terceira obra da Codificação Espírita:

“Do ponto de vista religioso, a fé consiste na crença em dogmas especiais, que constituem as diferentes religiões. Todas elas têm seus artigos de fé. Sob esse aspecto, pode a fé ser raciocinada ou cega. Nada examinando, a fé cega aceita, sem verificação, assim o verdadeiro como o falso, e a cada passo se choca com a evidência e a razão. Levada ao excesso, produz o fanatismo. Em assentando no erro, cedo ou tarde desmorona; somente a fé que se baseia na verdade garante o futuro, porque nada tem a temer do progresso das luzes, dado que o que é verdadeiro na obscuridade, também o é à luz meridiana. Cada religião pretende ter a posse exclusiva da verdade; preconizar alguém a fé cega sobre um ponto de crença é confessar-se impotente para demonstrar que está com a razão”. – (O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 19, item 6.)

Comumente, vemos adultos como se fossem crianças dizendo que serão “salvos” somente porque creem em Jesus. Se isto realmente acontecesse, “satanás estaria salvo”, pois ele acredita em Cristo.

Observemos a seguir, o que a Bíblia diz sobre isto:

Tg 2:19 - “Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o creem e estremecem.”

Para termos a certeza de que aquilo que acreditamos corresponde à verdade, precisamos ter um raciocínio lógico e compreensível. Do contrário, o que nós externarmos não passará de uma crença cega, uma crendice ou mesmo uma superstição. Antes de acreditar em uma “verdade”, devemos passá-la pelo crivo da razão. Se esta passar por este teste, poderá ser considerada como “confiável”. Não devemos aceitar um determinado fato somente porque este foi dito por uma certa pessoa. É necessário que o examinemos rigorosamente para constatar a sua veracidade, antes de crer nele. 

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita