O dourado esquife da miséria
Os ecônomos infiéis estão aprisionados no cárcere que
para si mesmo talharam
"Não ajunteis tesouros na Terra..." -
Jesus. (Mt., 6:19)
Pululam os escândalos argentários em nossa sociedade
movida ao cruel talante da plutocracia, enquanto a
corrupção grassa infrene em quase todas as áreas da
atividade humana, onde os recursos que deveriam ser
canalizados para a saúde, para a educação, para a
habitação e áreas de assistência social são açambarcados
pela insaciável sanha das desmedidas ambições de uns
poucos ecônomos infiéis. Todos os dias a mídia revela
esses tristes episódios...
O féretro da miséria desfila incessante, e os "mortos
na carne e espírito" jazem em seus esquifes dourados
de indigência moral.
Em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V,
item 24, Delfina de Girardin alinha uma série de
situações, aparentemente felizes que, na verdade, não o
são, dizendo que "(...) a infelicidade é a alegria, é
o prazer, é o tumulto, é a vã agitação, é a satisfação
louca da vaidade, que fazem calar a consciência, que
comprimem a ação do pensamento, que atordoam o homem com
relação ao seu futuro".
Qual será o futuro dos atuais fraudadores? Como será que
despertarão (se é que despertarão) no Mundo Espiritual?
Em que condições ressurgirão das cinzas tumulares?
Para essas criaturas dementadas, diz Emmanuel: "(...)
a existência reduz-se ao culto do azinhavre e do mofo,
acreditando-se indenes à passagem do tempo que lhes
senhoreia os dias e lhes corroem os tesouros.
Enquanto os ricos de simplicidade e de amor se entregam
à refeição feliz que o suor do dever retamente cumprido
converte em saboroso repasto, aqueles infelizes
sentam-se quase sempre sozinhos, à mesa da penúria que
arrastam, roendo o pão endurecido que reservaram à
própria fome, a fim de não serem desfalcados os vinténs
envenenados que ajuntaram.
Espiam-nos malfeitores impiedosos que lhes aguçam a
bolsa oculta, tentando furtar-lhes a vida, e seguem-nos
os milhafres do fisco, neles antevendo a presa fácil,
enquanto a inveja e o despeito lhes contemplam,
embevecidos, a lamentável loucura, estudando as
possibilidades de pilhagem.
São mendigos que se escondem na furna da aflição e do
desencanto, usurários soterrados na própria miséria;
autoflageladores da própria alma que gemem sob a treva
de que se nutrem, dementados e infelizes...
(...) Ressurgirão, por fim, da morte, possuídos pela
estreiteza dos planos inferiores da existência que
levaram e jamais possuirão, além-túmulo, a alegria
triunfante da vida vitoriosa",
enviscados que estão, em ambos os planos da vida, na
própria desdita, levando ao ombro o esquife dourado da
miséria, ilhados nas sombras em que se lhes circunscreve
o entendimento, cristalizados na solidão e aprisionados
no cárcere que para si mesmo talharam.