Continuamos nesta edição o estudo metódico e sequencial do
livro Entre os Dois Mundos, obra de autoria de
Manoel Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo P.
Franco no ano de 2004.
Questões preliminares
A. Como é dito nesta obra, a desencarnação de D. Lucinda
foi antecipada por decisão dos benfeitores espirituais.
Esse fato ocorre com frequência?
Com frequência, não, mas o caso não constituía uma
exceção, conforme José Petitinga esclareceu, diante da
estranheza com relação ao assunto demonstrada por Manoel
Philomeno. Eis o que Petitinga lhe disse: “É natural que
produza estranheza, quando se acompanha um processo
desencarnatório promovido pelos espíritos-guias. Isso,
porém, não constitui exceção. Há maior número de
processos libertadores provocados pelos anjos da guarda
do que se tem notícia na Terra. O amor não conive com o
erro. Diante de determinadas situações graves,
quando podem esfacelar-se labores cuidadosamente
trabalhados ou periclitam decisões importantes, como
resultado das torpezas humanas, a interferência dos
programadores da reencarnação, interrompendo-a, torna-se
necessária, a fim de serem recambiados ao
lar
aqueles que antes foram conduzidos ao processo
experimental”. Em seguida,
Petitinga concluiu:
“Conheço inúmeros casos de trabalhadores da seara
espírita que, por mérito uns e por necessidade, outros,
de não mais se complicarem, foram retirados do casulo
carnal, a fim de prosseguirem mais tarde, quando as
circunstâncias assim o permitissem. Não estando
predeterminada com fixidez a data da desencarnação,
podem os técnicos espirituais postergar-lhe ou
antecipar-lhe a ocorrência, depois de minuciosa análise
dos fatores que sejam levados em conta para a operação.
Recordemo-nos de que a ordem de libertação de nossa irmã
Lucinda veio de mais alto, por meio da veneranda sogra,
encarregada de conduzi-la ao novo pouso. Assim como as
providências para a viagem ao orbe terrestre obedecem a
uma programação correspondente, o retorno igualmente
atende a interesses relevantes”.
(Entre os dois mundos.
Capítulo 10: Discussões oportunas sobre a
desencarnação.)
B. Que efeito sobre D. Lucinda teve a medida tomada
pelos benfeitores espirituais?
Germano, o colaborador espiritual que cooperara na
condução de dona Lucinda ao acampamento, informou ter
observado
que, durante a remoção de
D. Lucinda para o pavilhão em que se encontrava, ela
apresentava sereno o antes angustiado semblante. A
respiração fazia-se-lhe ritmada e exteriorizava
significativa expressão de harmonia, bem diferente do
estado em que a equipe espiritual a encontrara por
ocasião dos tristes episódios que precederam sua
desencarnação. (Entre
os dois mundos. Capítulo 10: Discussões oportunas sobre
a desencarnação.)
C. O corpo material é qual um anestésico poderoso para
as lembranças espirituais?
Sim. É exatamente assim
que José Petitinga se referiu para demonstrar o efeito
que o estado de encarnação exerce sobre o espírito.
“Mesmo que o espírito consiga manter-se em constante
contato com a retaguarda de onde procede, o mergulho na
matéria apaga parte ou a totalidade das recordações,
quando não as confunde completamente”, esclareceu
Petitinga. “Mesmo quando portador de alto gabarito
evolutivo, não transita pelo mundo sem experimentar-lhe
as injunções penosas. Não é raro notar-se, em
verdadeiros apóstolos do amor e da caridade, reações
humanas desconcertantes, quais o ciúme, a mágoa, quando
não acolhidos ou desafiados por outrem, que não
concorda com as suas ideias, ou ressentem-se com outros
que lhes parecem competidores.”
(Entre os dois mundos.
Capítulo 10: Discussões oportunas sobre a
desencarnação.)
Texto para leitura
118. Discussões oportunas sobre a desencarnação –
No
acampamento em que Manoel Philomeno se encontrava, a
movimentação era expressiva. Alguns grupos retornavam
das atividades realizadas, como sucedera com o grupo de
Philomeno. Comentários jubilosos podiam ser ouvidos em
toda parte. Petitinga, Philomeno e os demais amigos
demoravam-se em conversações edificantes, repassando os
acontecimentos recentes, quando o autor desta obra
comentou: “É a primeira vez que participo de uma
desencarnação promovida pelos espíritos nobres.
Pareceu-me surpreendente, abrindo-me campo a muitas
interrogações...” . O amigo Petitinga, percebendo-lhe o
constrangimento em propor questões específicas,
elucidou: “É natural que produza estranheza, quando se
acompanha um processo desencarnatório promovido pelos
espíritos-guias. Isso, porém, não constitui exceção. Há
maior número de processos libertadores provocados pelos
anjos da guarda do que se tem notícia na Terra. O amor
não conive com o erro. Diante de determinadas situações
graves, quando podem esfacelar-se labores cuidadosamente
trabalhados ou periclitam decisões importantes, como
resultado das torpezas humanas, a interferência dos
programadores da reencarnação, interrompendo-a, torna-se
necessária, a fim de serem recambiados ao
lar
aqueles que antes foram conduzidos ao processo
experimental. Da mesma forma que ocorre com espíritos
vacilantes ou seriamente comprometidos poderem desistir
do renascimento no corpo já em formação, quando temem o
fracasso que pode dar-se, sob a assistência dos seus
mentores provocam o aborto espontâneo, a desencarnação
então tem vigência mediante recursos equivalentes, o que
é normal. Considerando-se o tempo que restava à nossa
beneficiada, que não lhe traria maior soma de
proveitos, podendo, pelo contrário, transformar-se em
razão de desequilíbrio, como consequência dos
impedimentos corporais para a comunicação, para o
reconforto moral, aprisionada como estava em um cárcere
de células, sem campo para crescimento espiritual
relevante, a providência constitui um ato de
misericórdia para com ela. O seu mérito, diante das
vicissitudes e provações, facultou-lhe o retorno em
paz, sucedido de breve recuperação, prosseguindo a
aprendizagem evolutiva em liberdade”.
(Entre os dois mundos. Capítulo 10: Discussões oportunas
sobre a desencarnação.)
119. Germano, o colaborador discreto que cooperara na
condução de dona Lucinda ao acampamento, obtemperou:
“Realmente, providência de tal monta constitui
misericórdia de Deus em nome do amor que não cessa. Na
situação de encarceramento que a paciente vivia e em
contínua tensão extenuante, ao acompanhar os dislates
familiares, sem nada poder fazer, podia entrar em crise
emocional,
desarticulando o complexo
trabalho de iluminação já realizado. Observei que,
durante a sua remoção para o pavilhão em que se
encontra, apresentava sereno o antes angustiado
semblante. A respiração fazia-se-lhe ritmada e
exteriorizava significativa expressão de harmonia.
Recordo-me de que, oportunamente, ouvi referências de
diligente técnico espiritual em desencarnação,
explicando a maneira como colaborou na libertação de um
missionário do amor e do conhecimento, antecipando-lhe o
retorno à espiritualidade. Ele houvera reencarnado com
tarefas adrede estabelecidas, que iriam mudar, conforme
vem ocorrendo, o comportamento de grande parte da
sociedade humana. Desincumbia-se muito bem do
compromisso, arrostando todas as consequências da sua
decisão de ser fiel ao dever assumido. O orgulho não o
perturbara, nem as calúnias o desanimaram. O veneno do
ódio não encontrou campo para instalar-se-lhe na mente
nem no sentimento nobre. As perseguições tornaram-se-lhe
estímulo para o prosseguimento. No entanto, quando
percebeu a proximidade da morte, pôs-se a elaborar
projetos e diretrizes que, não obstante fossem muito
importantes, poderiam desvirtuar o conjunto do trabalho,
que sempre acompanha a marcha do progresso, não devendo
ficar atado a programas estatutários rígidos. Em cada
época o processo da evolução faculta as atribuições
compatíveis para o desenvolvimento dos ideais, que devem
permanecer abertos às naturais contribuições da cultura
e da experiência. Porque o risco de mudança de diretriz
viesse ocorrer, abrindo espaço para novas surtidas na
Obra que não era dele, para o seu e o bem do trabalho,
foram tomadas providências em altas esferas, a fim de
que retornasse antes do tempo, sem qualquer prejuízo
para o ministério concluído com grande êxito”.
(Entre os dois mundos.
Capítulo 10: Discussões oportunas sobre a
desencarnação.)
120. Germano reflexionou
em silêncio por um pouco, e aduziu: “A princípio, ante a
minha imaturidade espiritual, fiquei chocado com a
providência. Posteriormente, recordando-me de muitos
fracassos pessoais bem como de outros companheiros, que
não conseguiram superar as más inclinações, entendi que
a ocorrência houvera sido portadora de grande sabedoria
e misericórdia para com o obreiro. Desencarnado,
recompôs-se, compreendeu o sucedido e preparou-se para
novo cometimento, havendo retornado ao palco terrestre
em nova reencarnação, quando pôde dar prosseguimento à
obra missionária, aplicando os recursos vigentes da
Cultura e da Ciência contemporâneas. Não fora aquela
decisão dos seus mentores e poderia ter sucumbido ao
excesso de zelo pela preservação do seu ministério,
esquecido de que Deus vela e a Ele cabem as decisões
para os sucessos futuros. Isso não implica manter-se uma
atitude de imprevidência, transferindo a
responsabilidade para o Senhor, mas serve de
advertência para o excesso de zelo e de preocupação,
quanto ao porvir dos empreendimentos executados”. (Entre
os dois mundos. Capítulo 10: Discussões oportunas sobre
a desencarnação.)
121. José Petitinga, que
até então se mantivera em silêncio, lembrou-lhes que o
corpo é sempre um anestésico poderoso para as lembranças
espirituais. Mesmo que o espírito consiga manter-se em
constante contato com a retaguarda de onde procede, o
mergulho na matéria apaga parte ou a totalidade das
recordações, quando não as confunde completamente. Ao
mesmo tempo, as circunstâncias sociais e as lutas do dia
a dia assinalam-lhe o comportamento com as suas
impressões, desorientando o ser por mais bem
intencionado que seja. Mesmo quando portador de alto
gabarito evolutivo, não transita pelo mundo sem
experimentar-lhe as injunções penosas. Não é raro
notar-se, em verdadeiros apóstolos do amor e da
caridade, reações humanas desconcertantes, quais o
ciúme, a mágoa, quando não acolhidos ou desafiados por
outrem, que não concorda com as suas ideias, ou
ressentem-se com outros que lhes parecem competidores.
Acostumados a ser apoiados, respeitados em consequência
da sua conduta elevada, escorregam na paixão pessoal, às
vezes, tomando atitudes surpreendentes, que se opõem à
sua própria forma de ser. É o denominado lado humano, a
presença dos atavismos não superados, que em nada lhes
diminui a grandeza. Por essa, como por outras razões, o
socorro dos guias desencarnados vigilantes torna-se
essencial para o êxito de qualquer espírito comprometido
com a verdade.
(Entre os dois mundos. Capítulo 10: Discussões oportunas
sobre a desencarnação.)
122. Após ligeira pausa,
Petitinga concluiu: “Conheço inúmeros casos de
trabalhadores da seara espírita que, por mérito uns e
por necessidade, outros, de não mais se complicarem,
foram retirados do casulo carnal, a fim de prosseguirem
mais tarde, quando as circunstâncias assim o
permitissem. Não estando predeterminada com fixidez a
data da desencarnação, podem os técnicos espirituais
postergar-lhe ou antecipar-lhe a ocorrência, depois de
minuciosa análise dos fatores que sejam levados em conta
para a operação. Recordemo-nos que a ordem de libertação
de nossa irmã Lucinda veio de mais alto, por meio da
veneranda sogra, encarregada de conduzi-la ao novo
pouso. Assim como as providências para a viagem ao orbe
terrestre obedecem a uma programação correspondente, o
retorno igualmente atende a interesses relevantes”.
(Entre os dois
mundos. Capítulo 10: Discussões oportunas sobre a
desencarnação.)
123. As conversações
edificantes prosseguiram, entretecendo considerações em
torno de diversos vultos históricos, principalmente
alguns que se tornaram verdugos da sociedade e não
tiveram a existência interrompida, quando então Manoel
Philomeno indagou: “Por que esses sicários da
Humanidade, quando não expulsos do poder pelos
movimentos revolucionários ou pela morte, têm a
existência física prolongada, como tem ocorrido em
ditaduras perversas e governos arbitrários?” Petitinga
sorriu, simpático, e respondeu-lhe: “A Península Ibérica
foi exemplo disso, não há muito, como outros povos
submetidos a injunções políticas iníquas, nas quais a
liberdade teve as suas asas cortadas, impedindo-a de
voar... Essa ocorrência justifica-se e prolonga-se
porque dela se derivam benefícios não identificados de
imediato. Ninguém tem o direito, porém, de tomar nas
mãos a clava da Justiça, de infligir sofrimentos a
outrem, de castigar a sociedade desatenta, porque os
divinos códigos dispõem de recursos próprios para
promover o avanço do ser humano em si mesmo, bem como
do grupo em que se encontra. Todavia, considere-se que
muitos desses desalmados usurpadores do poder, que vêm
repetindo os desmandos através dos tempos, são trazidos
à Terra para terem nova oportunidade de amar e servir,
reabilitando-se dos crimes transatos. Porque não
consigam a transformação e optem pelos escusos caminhos
do crime e da perversidade, tornam-se, sem dar-se
conta, instrumentos da vida, para que o progresso ocorra
pelo sofrimento das massas, que assim resgatam os seus
gravames, enquanto eles mais complicam a própria
situação... O ódio que geram é absorvido e assimilado,
tornando-os piores no comportamento e mais vigorosos
nas atividades insanas. Mas não escapam ao inevitável
retorno”. E aduziu: “Quando a vida for considerada como
a do espírito sem as roupagens físicas, sendo o corpo,
no entanto, valioso instrumento para a conquista de
valores intelecto-morais, as reflexões a seu respeito
serão realizadas de maneira correta, colocando-se o
mundo dos efeitos em plano secundário e cuidando-se das
causas, que devem sempre ser vivenciadas com elevação,
das quais se derivam os resultados que se refletem na
organização física”.
(Entre os dois mundos.
Capítulo 10: Discussões oportunas sobre a
desencarnação.)
124. A edificante
conversação tomou ao grupo um par de horas abençoadas,
ensejando a todos um ótimo material para maturação e
aprendizado. Na sequência, Manoel Philomeno e seus
companheiros decidiram visitar a irmã Lucinda na câmara
de repouso em que se encontrava. Lucinda, assistida por
enfermeiros dedicados do plano espiritual, que a
acompanhavam com carinho filial, atentos a qualquer
ocorrência, encontrava-se em repouso. Ao chegar também
ao recinto, a elevada Benfeitora que a trouxera de volta
à espiritualidade saudou-os, afetuosa, e agradeceu-lhes
a visita. Ato contínuo, convidou-os a uma oração em
favor da recém-desencarnada, a fim de facilitar-lhe a
adaptação, facultando-lhe um suave despertar, que
somente aconteceria alguns dias depois. O grupo
aquiesceu e, em conjunto, todos elevaram os pensamentos
às esferas sublimes, rogando o auxílio dos céus à
viajante vitoriosa após a sua jornada coroada de
bênçãos, decorrentes do sofrimento e da resignação, do
dever retamente cumprido e do perdão. Após a prece, o
grupo ficou mais algum tempo, o suficiente para
expressar o carinho de que todos se sentiam
enriquecidos, retornando em seguida para o setor em que
se centralizavam as atividades.
(Entre os dois mundos. Capítulo 10: Discussões oportunas
sobre a desencarnação.)
(Continua no próximo número.)