Entre os Dois
Mundos
(Parte 13)
Continuamos nesta edição o estudo metódico e sequencial do
livro Entre os Dois Mundos, obra de autoria de
Manoel Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo P.
Franco no ano de 2004.
Questões preliminares
A. Quem é Laércio, cujo fracasso moral é focalizado num
dos capítulos desta obra?
Laércio Urbano de Souza,
eis o seu nome. Conforme palavras do Dr. Arquimedes, ele
se encontrava em lamentável estado de desequilíbrio
espiritual, decorrente de sucessivas situações
perturbadoras. O mentor resumiu assim o seu caso:
“Laércio é o exemplo típico do fracasso que decorre da
invigilância. Portador de títulos de respeitabilidade,
encontra-se dominado por pertinaz obsessão que o consome
a largos passos”. Segundo o mentor espiritual,
remanesciam em Laércio as complexas perturbações dos
longínquos dias do período de Catarina de Médicis, na
França, particularmente antes, durante e depois da
terrível noite que passou à história como a Noite de São
Bartolomeu.
(Entre os dois mundos. Capítulo 11: O fracasso de
Laércio.)
B. Que participação teve Laércio naqueles episódios de
tão triste lembrança?
Vinculado pessoalmente a
Carlos IX, um dos três últimos reis Valois da França,
filho de Catarina, François-Piérre – esse era o seu nome
– desempenhou papel relevante na grande matança.
Envolveu-se então em lutas acerbas e vergonhosas,
fingindo defender a fé religiosa e a flor-de-lis,
símbolo da monarquia francesa. Dissoluto e venal,
aproveitou-se da loucura coletiva que invadiu o Palácio
das Tulherias, em Paris, a fim de beneficiar-se,
adquirindo prestígio e poder, ao lado dos aturdidos
governantes.
(Entre os dois mundos. Capítulo 11: O fracasso de
Laércio.)
C. Que fatos levaram, na atual existência, ao seu
fracasso?
Com a ajuda de um médium
respeitável, de quem se tornou próximo, Laércio foi
informado pelos benfeitores sobre as graves tarefas que
deveria desenvolver na Terra e os perigos ingentes que o
cercavam e à família, em razão dos acontecimentos
anteriores, que lhe foram relatados com riqueza de
detalhes. Ele não poderia nem deveria falhar, consciente
que estava da oportunidade incomum da reencarnação, em
cujas malhas conseguiria a reabilitação. Aceito o
convite do Além, Laércio pôs-se na lide com toda a força
da vontade rígida, mas essa mesma vontade, quase férrea,
seria um dos empecilhos à sua vitória, porque o fazia
intransigente, intolerante em relação às faltas alheias
e severo em demasia no lar e com os amigos, tornando-se,
não poucas vezes, uma presença desagradável, quando não
temida. Seu futuro, entretanto, desenhava-se rico de
bênçãos, caso vencesse as tentações sexuais e a ânsia do
poder, remanescentes das experiências caprichosas do
passado. Contudo, de invigilância em invigilância,
acabou tombando em vergonhosa cilada preparada por seus
inimigos, o que o afastou até mesmo da oração e da ajuda
espiritual, que ele recusava.
(Entre os dois mundos.
Capítulo 11: O fracasso de Laércio.)
Texto para leitura
125. O fracasso de Laércio –
Às
primeiras horas da noite, o Dr. Arquimedes comunicou a
todos que teriam nova atividade a atender, dentro da
programação estabelecida. Tratava-se de uma visita a ser
feita ao irmão Laércio Urbano de Souza, que se
encontrava em lamentável estado de desequilíbrio
espiritual, decorrente de sucessivas situações
perturbadoras. O mentor explicou: “Laércio é o exemplo
típico do fracasso que decorre da invigilância.
Portador de títulos de respeitabilidade, encontra-se
dominado por pertinaz obsessão que o consome a largos
passos. Logo depois que a mensagem do Consolador
encontrou ressonância no mundo, inúmeros espíritos que
haviam delinquido, no passado, nas fileiras do
Cristianismo, ora arrependidos e encorajados pelas
possibilidades de serviço iluminativo, solicitaram a
reencarnação com o objetivo de reparar os graves
delitos, trabalhando em prol da construção da nova
sociedade. Entre eles, na segunda década do século XX,
destaca-se o nosso irmão Laércio. Advertido quanto aos
perigos do empreendimento que desejava desenvolver,
especialmente na divulgação do Espiritismo, mediante
cujo desempenho se libertaria dos clamorosos erros,
retornou ao proscênio terrestre com valiosos recursos de
inteligência e de discernimento, bem como acolitado por
outros espíritos que se lhe vinculavam, de modo que,
juntos, pudessem liberar-se das terríveis flagelações
que impuseram a não pequeno número de vidas. Eram-lhes
exigidas muita renúncia e humildade, de modo que
enfrentassem os adversários de ambos os planos, físico e
espiritual, com bondade e misericórdia, acima de tudo
superando as tendências maléficas ainda vigentes nas
heranças emocionais”.
(Entre os dois mundos.
Capítulo 11: O fracasso de Laércio.)
126. Dr. Arquimedes
prosseguiu: “Remanesciam suas complexas perturbações dos
já longínquos dias do período de Catarina de Médicis,
na França, particularmente antes, durante e depois da
terrível noite de 23 para 24 de agosto de 1572,
denominada como de São Bartolomeu. Vinculado
pessoalmente a Carlos IX, um dos três últimos reis
Valois da França, filho de Catarina, desempenhou papel
relevante na grande matança. Carlos IX era portador de
caráter débil e atormentado. Embora católico, era muito
influenciado pelo Almirante Gaspar de Coligny, um dos
nobres líderes protestantes huguenotes. Sua mãe,
descendente dos Médicis, de Florença, era ambiciosa e
temerária, e durante as lutas religiosas tergiversou
entre a conciliação e a ação, desencadeando as
sucessivas ondas de assassinatos, nos conflitos
religiosos que arrebataram mais de 50 mil vidas no
território francês. Apesar de justificar os massacres
que provocara, como em defesa da fé religiosa, os mesmos
não se fundamentavam exatamente na necessidade de
preservar a religião professada, que se encontrava algo
abalada no país, ante o avanço do pensamento calvinista
ou huguenote. A terrível matança resultou de um golpe
muito bem urdido, de um lado inspirado pela duquesa de
Nemours e seu filho Francisco de Lorena, duque de Guise,
por outro, como desforço pelo destaque de seu genro
Henrique de Navarra, casado com sua filha Margarida,
aproveitando a presença dos protestantes em Paris para
a cerimônia matrimonial. Igualmente era uma forma de
livrar-se do célebre almirante que reconhecidamente
exercia grande influência pessoal sobre o seu
atormentado filho Carlos IX”.
(Entre os dois mundos.
Capítulo 11: O fracasso de Laércio.)
127. A palavra do amigo
tornara-se comedida e calma, denunciando a inominável
tragédia, de cujos danosos efeitos milhares de espíritos
envolvidos ainda sofrem as consequências desastrosas.
Mantendo a todos presos nas informações, ele prosseguiu:
“O nosso atual Laércio esteve envolvido com o crime
generalizado, naqueles dias, na condição de amigo
destacado, repetimos, do aturdido Carlos IX.
Envolveu-se em lutas acerbas e vergonhosas, fingindo
defender a fé religiosa e a flor-de-lis, símbolo da
monarquia francesa. Dissoluto e venal, aproveitou-se da
loucura coletiva que invadiu o Palácio das Tulherias, em
Paris, a fim de beneficiar-se, adquirindo prestígio e
poder, ao lado dos aturdidos governantes. A morte,
porém, que a todos convoca à horizontalidade do corpo
no solo das necrópoles, arrebatou-os, um a um, enquanto
os lamentos e gritos das vítimas, por muitos anos,
apavoraram os habitantes do palácio que ficara macabro,
aguardando os seus algozes além das fronteiras de cinza
do corpo físico. Quando François-Piérre desencarnou,
pois esse era o seu nome, foi recebido num horrendo
espetáculo de vingança, organizado pelos seus inimigos
igualmente impiedosos, que lhe dilaceraram todas as
esperanças e alegrias, por longo período, até que a
oração sincera e a intercessão de benfeitores
misericordiosos arrancaram-no dos lôbregos abismos nos
quais se encontrava, trazendo-o à reencarnação
expurgadora, que se repetiria nos três séculos
seguintes. Recuperando parte dos gravames, começou o
processo de conscientização de si mesmo, resolvendo-se
por socorrer aqueles que antes o martirizaram, suas
vítimas pretéritas, na condição de médico generoso e
devotado. Por fim, candidatou-se ao retorno, nesta hora
de verdadeiro renascimento do Evangelho, ao lado de
outros abnegados amigos que pretendiam reabilitar,
mediante os próprios exemplos, a palavra de Jesus, por
diversos séculos deturpada e vilipendiada”.
(Entre os dois mundos.
Capítulo 11: O fracasso de Laércio.)
128. A narrativa
prosseguiu: “Vinculado à esposa daqueles dias de
loucura, a companheira seguiu-o empós, a fim de
partilhar das lutas que seriam travadas, bem como dois
filhos aos quais deveria erguer com sacrifícios e
abnegação. Em face da palavra brilhante e do raciocínio
lúcido de que era portador, dedicar-se-ia à exposição da
Doutrina Espírita no seu tríplice aspecto, enfatizando
mais a parte moral-religiosa, erguendo-se e alçando
aqueles que se encontravam no vale das aflições por sua
responsabilidade ou não, aos páramos do amor e da
renovação interior. Renasceu com excelentes
possibilidades de êxito, aquinhoado com um corpo
saudável e simpática aparência, havendo-se revelado um
pensador exímio, que se dedicou ao magistério superior.
Educando as novas gerações estaria contribuindo em favor
de uma sociedade melhor e mais justa. Tocado pelos
fenômenos mediúnicos de que era instrumento a esposa,
logo após o matrimônio passou a estudar a Codificação
Espírita, sentindo-se arrebatado pela justeza de
conteúdos científicos, filosóficos, morais e
religiosos, tornando-se muito lúcido expositor das suas
lições. De voz agradável e raciocínio brilhante, as suas
concorridas palestras e oportunos discursos
sensibilizavam os ouvintes, que se sentiam comprometidos
com a transformação moral de que tinham imperiosa
necessidade. Nesse ínterim, aproximou-se de nobre
medianeiro das verdades espirituais, que contribuía com
elevada conduta e informações relevantes em favor do
desdobramento e atualização da Doutrina Espírita,
mergulhando a mente e o sentimento nas páginas luminosas
de que aquele era intermediário. Os laços afetivos
tornaram-se muito vigorosos entre ambos, num restaurar
da amizade que se iniciara no período Médicis, quando o
mesmo igualmente estivera junto à corte, sem
envolvimento, porém, na tragédia ignominiosa”.
(Entre os dois mundos.
Capítulo 11: O fracasso de Laércio.)
129. Segundo o relato do
Dr. Arquimedes, numa reunião de esclarecimento
mediúnico, Laércio foi informado a respeito das graves
tarefas que deveria desenvolver na Terra e dos perigos
ingentes que o cercavam e à família, em razão dos
acontecimentos anteriores, que lhe foram relatados com
riqueza de detalhes. Ele não poderia nem deveria falhar,
consciente que estava da oportunidade incomum da
reencarnação, em cujas malhas conseguiria a
reabilitação, com testemunhos, sem dúvida, e com muitos
necessários sacrifícios. Laércio aceitou o convite do
Além e pôs-se na lide com toda a força da vontade
rígida. Concluindo seu relato, o mentor informou: “Essa
mesma vontade, quase férrea, seria um dos empecilhos à
sua vitória, porque o fazia intransigente, intolerante
em relação às faltas alheias, severo em demasia no lar e
com os amigos, tornando-se, não poucas vezes, uma
presença desagradável, quando não temida... O seu
futuro, entretanto, desenhava-se rico de bênçãos, caso
vencesse as tentações sexuais, a ânsia de poder,
remanescentes das experiências caprichosas do ontem
recuado. O Evangelho deveria ser-lhe o estímulo para
prosseguir, mas também a cartilha disciplinadora dos
impulsos doentios que o fragilizavam... Neste momento,
porém, encontra-se exausto e revoltado, o trabalhador
que abandonou a charrua no campo, retirou-se do combate
e experimenta incomum sofrimento. A oração perdeu o
brilho nos lábios e na emoção, recusando-se a fazê-la e
a receber a conveniente ajuda espiritual. Isto porque
tombou em vergonhosa cilada preparada pelos inimigos,
não se perdoando a falência...”.
(Entre os dois mundos.
Capítulo 11: O fracasso de Laércio.)
130. Concluída a
narrativa, o grupo partiu em visita ao amigo e irmão
sucumbido. Enquanto todos se deslocavam no rumo da
residência de Laércio, Manoel Philomeno conjecturava que
muitos companheiros de luta anelam por conhecer o
passado espiritual, os erros praticados e os meios de
reabilitação. Não obstante, embora cientificados e
transcorridos os momentos do entusiasmo da revelação,
voltam à mesma condição de conflitos e de temores, de
fragilidade e indiferença ante os deveres graves,
permitindo-se a instalação de transtornos psicológicos e
obsessivos lamentáveis. Aquele espírito, que possuía os
melhores recursos para o triunfo, encontrava-se agora em
triste situação, como decorrência da fraqueza moral ante
os desafios que não soube ou não quis enfrentar.
Automaticamente, Philomeno se reviu no trajeto corporal
anterior e comoveu-se, considerando como é fácil cair,
comprometer-se, e quanto áspero é o processo de
ascensão. Envolveu, então, o enfermo espiritual em
vibrações de paz, sem se atrever a qualquer tipo de
consideração que lhe diminuísse o valor moral
conquistado a duras penas.
(Entre os dois mundos.
Capítulo 11: O fracasso de Laércio.)
131. Quando a equipe socorrista chegou à casa de
Laércio, foi surpreendida pela presença de inúmeras
entidades
ociosas que ali se
acoitavam, de ferrenhos inimigos pessoais do paciente e
da psicosfera carregada de fluidos deletérios e de
vibriões mentais que empestavam o ar. Sucumbido, em uma
cadeira do papai, envelhecido e recurvado, o candidato à
restauração do bem se apresentava quase vencido. O
Mentor solicitou aos companheiros que trabalhassem na
mudança psíquica do ambiente, retirando os espíritos
exploradores e perniciosos que ali se agasalhavam,
removendo as pesadas cargas de energia envenenada, que
foram acumuladas nos últimos anos pelas mentes vadias em
sintonia com o residente, a fim de tornar mais
respirável o clima doméstico. Quase que imantado ao
corpo de Laércio, dois espíritos, vulgar um e cruel
outro, exploravam-lhe as débeis energias. Eles, tanto
quanto o paciente, não perceberam a presença da equipe
socorrista, que deu início à limpeza ambiental,
combatendo as densas camadas fluídicas com energias
especiais, conseguindo que alguns dos vagabundos
espirituais debandassem em algazarra, logo que
perceberam a ação dos benfeitores. Apenas permaneceram
na casa alguns espíritos ociosos, habitués do
domicílio e aqueles que ali se encontravam hospedados
mentalmente pelo irmão Laércio.
(Entre os dois mundos.
Capítulo 11: O fracasso de Laércio.)
(Continua no próximo número.)