Não se
turbe o vosso coração
Com suavidade e disciplina, Jesus falou semeando
esperança e advertências. Trouxe fundamentos morais e
filosóficos do que seria, mais tarde, o Cristianismo.
Seu principal objetivo era despertar nas pessoas o
essencial, a vida do Espírito.
Para isso utilizou-se de várias formas de expressões,
enaltecendo a aquisição de virtudes ou alertando sobre
as consequências de não se desfazerem de vícios. Também
chamou a atenção sobre as más interpretações que dariam
aos Seus ensinamentos, bem como da pouca fé dos Seus
seguidores. Por fim, preparou os discípulos com
recomendações, promessas e advertências dos próximos
acontecimentos após sua partida.
Reunindo os discípulos para a comemoração das festas da
Páscoa, em recinto fechado, que mais tarde ficaria
conhecida como a última ceia, o Mestre focou na Sua
palavra enquanto ensinamento, pois esta deveria ficar
consolidada. Relembrou de forma enfática a necessidade
de os homens se amarem uns aos outros, terminando por
afirmar que ninguém tem mais amor do que aquele que dá a
própria vida ao próximo, deixando assim lições de amor e
humildade.
Cabe aqui comentarmos a seguinte passagem: Quando subiu
ao Horto de Getsêmani que culminaria com sua prisão e
morte, Jesus escolheu três discípulos: Pedro, João e
Tiago, para acompanhá-lo, pedindo que permanecessem
orando e vigiando, enquanto se afastava para sua
meditação e prece. Quando retornou, encontrou-os
dormindo. “Despertai!”- disse ele. “Acaso não
vos recomendei que vigiásseis?”. Na necessidade de
alguém para acompanhá-lo no supremo testemunho, o Mestre
não convocou seguidores comuns e novatos, mas discípulos
conscientes das próprias obrigações, entretanto esses
mesmos dormiram.
É indispensável percebermos que Jesus continua em
esforço incessante, convocando cooperadores à
colaboração necessária. Evidentemente Ele não confia
tarefas de importância fundamental a Espíritos
inexperientes ou ignorantes; mas é necessário reconhecer
o reduzido número daqueles que não adormecem no mundo,
enquanto Jesus aguarda resultados da incumbência que
lhes foi dada. As mais terríveis tentações decorrem do
fundo de nossa individualidade. Renascemos na Terra com
as forças desequilibradas do nosso passado para as
tarefas de reajustes. Nas raízes das nossas tendências
encontramos as mais vivas sugestões de inferioridade e,
por isso, nas íntimas relações com nossos parentes,
somos surpreendidos pelos fortes sentimentos de
discórdia.
É preciso estar acordado para exercitar o bom ânimo e a
paciência, a fé e a humildade. Fixar nesta existência os
valores da vontade real e do perdão, da fraternidade e
do trabalho incessante no bem, vigiando e orando
constantemente. A mudança para novos valores nobres
ainda é muito recente e pequena em nós; então, muito
cuidado!
No evangelho de João, capítulo 14, versículo 1, Jesus
adverte que virão tempos difíceis: “Não se turbe o
vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim”.
Diz isso porque sabe que um coração puro é garantia de
consciência reta e limpa e que isso gera luz para o
caminho. Deixar o coração ficar turvo é permitir que ele
se inquiete de tal forma que as imperfeições, ainda tão
enraizadas em nós, venham à tona. Jesus trabalhava a
limpeza dos corações dos discípulos para que não se
agitassem e não tivessem medo diante das situações que
viriam.
Assim somos nós. Angústias, medos, preocupações fazem
com que valores antigos ressurjam. Jesus recomendou que
não nos inquietássemos e não nos afligíssemos diante das
dificuldades, porque todos os que habitam o planeta
Terra não estão isentos de problemas nem de sofrimentos.
Ninguém passará sem as provas difíceis ou mesmo sem as
tentações.
O Mestre nunca prometeu a Seus discípulos que estariam
livres de dificuldades; ao contrário, frequentemente
chamava-os para a necessidade da confiança. “A
cobrança é grande, mas eu também preparei vocês para
isso”, dizia. Procurava animar, estimular e
encorajar os companheiros dizendo que não se
atemorizassem, que deveriam crer em Deus e Nele também,
porque não os abandonaria.
As palavras de Jesus aos discípulos naquela ocasião são
para nós também, porque precisamos fortalecer-nos na fé
em Deus. Da mesma forma que os discípulos, não estaremos
livres das provas e expiações porque são elas que aferem
o valor de cada um. Os Espíritos amigos amparam,
estimulam, mas não fazem aquilo que compete a cada um de
nós. Não assumem e nem nos livram das responsabilidades
que são nossas. Alcançar tranquilidade para o processo
de aprendizagem perante tantos obstáculos vai depender
do entendimento da advertência asseverada.
Crer em Deus não é acreditar num Deus que existe lá
fora. É crer num Deus que existe dentro de cada um, que
carrega em si a centelha de ser divino porque Seus
filhos. É acreditar na capacidade que se tem de fazer a
escolha certa entre o bem e o mal. “Acreditai em Deus
e em mim”, afirma Jesus, porque Ele acredita em nós.
Teremos dias difíceis? Certamente! Mas o Mestre disse
que conseguiríamos superá-los e é por isso que
precisamos acreditar nesse Deus em nós. Acreditar não
porque Ele é maior, mas, sim, porque está em tudo.
Bibliografia:
XAVIER, F. C. – Boa Nova – ditado pelo Espírito
Humberto de Campos- 37ª edição, FEB, Brasília/DF, cap.
25- 2013.
GODOY, Paulo Alves – Os Quatro Sermões de Jesus –
1ª edição, FEESP, São Paulo/SP,O Sermão do Cenáculo –
1984.
ROHDEN – Huberto – Sabedoria das parábolas –
Editora Martin Claret, São Paulo/SP, Segunda Parte –
Mística das Beatitudes.
SCHUTEL, Cairbar – Parábolas e Ensinos de Jesus –
26ª edição, Casa Editora O Clarim, Matão/SP, A Ceia
Pascal – pág. 311 –2012.