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por Inês Rivera Sernaglia

 

Não se turbe o vosso coração


Com suavidade e disciplina, Jesus falou semeando esperança e advertências. Trouxe fundamentos morais e filosóficos do que seria, mais tarde, o Cristianismo. Seu principal objetivo era despertar nas pessoas o essencial, a vida do Espírito.

Para isso utilizou-se de várias formas de expressões, enaltecendo a aquisição de virtudes ou alertando sobre as consequências de não se desfazerem de vícios. Também chamou a atenção sobre as más interpretações que dariam aos Seus ensinamentos, bem como da pouca fé dos Seus seguidores. Por fim, preparou os discípulos com recomendações, promessas e advertências dos próximos acontecimentos após sua partida.

Reunindo os discípulos para a comemoração das festas da Páscoa, em recinto fechado, que mais tarde ficaria conhecida como a última ceia, o Mestre focou na Sua palavra enquanto ensinamento, pois esta deveria ficar consolidada. Relembrou de forma enfática a necessidade de os homens se amarem uns aos outros, terminando por afirmar que ninguém tem mais amor do que aquele que dá a própria vida ao próximo, deixando assim lições de amor e humildade.

Cabe aqui comentarmos a seguinte passagem: Quando subiu ao Horto de Getsêmani que culminaria com sua prisão e morte, Jesus escolheu três discípulos: Pedro, João e Tiago, para acompanhá-lo, pedindo que permanecessem orando e vigiando, enquanto se afastava para sua meditação e prece. Quando retornou, encontrou-os dormindo. “Despertai!”- disse ele. “Acaso não vos recomendei que vigiásseis?”. Na necessidade de alguém para acompanhá-lo no supremo testemunho, o Mestre não convocou seguidores comuns e novatos, mas discípulos conscientes das próprias obrigações, entretanto esses mesmos dormiram.

É indispensável percebermos que Jesus continua em esforço incessante, convocando cooperadores à colaboração necessária. Evidentemente Ele não confia tarefas de importância fundamental a Espíritos inexperientes ou ignorantes; mas é necessário reconhecer o reduzido número daqueles que não adormecem no mundo, enquanto Jesus aguarda resultados da incumbência que lhes foi dada. As mais terríveis tentações decorrem do fundo de nossa individualidade. Renascemos na Terra com as forças desequilibradas do nosso passado para as tarefas de reajustes.  Nas raízes das nossas tendências encontramos as mais vivas sugestões de inferioridade e, por isso, nas íntimas relações com nossos parentes, somos surpreendidos pelos fortes sentimentos de discórdia.

É preciso estar acordado para exercitar o bom ânimo e a paciência, a fé e a humildade. Fixar nesta existência os valores da vontade real e do perdão, da fraternidade e do trabalho incessante no bem, vigiando e orando constantemente. A mudança para novos valores nobres ainda é muito recente e pequena em nós; então, muito cuidado!

No evangelho de João, capítulo 14, versículo 1, Jesus adverte que virão tempos difíceis: “Não se turbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim”. Diz isso porque sabe que um coração puro é garantia de consciência reta e limpa e que isso gera luz para o caminho. Deixar o coração ficar turvo é permitir que ele se inquiete de tal forma que as imperfeições, ainda tão enraizadas em nós, venham à tona. Jesus trabalhava a limpeza dos corações dos discípulos para que não se agitassem e não tivessem medo diante das situações que viriam.

Assim somos nós. Angústias, medos, preocupações fazem com que valores antigos ressurjam. Jesus recomendou que não nos inquietássemos e não nos afligíssemos diante das dificuldades, porque todos os que habitam o planeta Terra não estão isentos de problemas nem de sofrimentos. Ninguém passará sem as provas difíceis ou mesmo sem as tentações.

O Mestre nunca prometeu a Seus discípulos que estariam livres de dificuldades; ao contrário, frequentemente chamava-os para a necessidade da confiança. “A cobrança é grande, mas eu também preparei vocês para isso”, dizia. Procurava animar, estimular e encorajar os companheiros dizendo que não se atemorizassem, que deveriam crer em Deus e Nele também, porque não os abandonaria.

As palavras de Jesus aos discípulos naquela ocasião são para nós também, porque precisamos fortalecer-nos na fé em Deus. Da mesma forma que os discípulos, não estaremos livres das provas e expiações porque são elas que aferem o valor de cada um. Os Espíritos amigos amparam, estimulam, mas não fazem aquilo que compete a cada um de nós. Não assumem e nem nos livram das responsabilidades que são nossas. Alcançar tranquilidade para o processo de aprendizagem perante tantos obstáculos vai depender do entendimento da advertência asseverada.

Crer em Deus não é acreditar num Deus que existe lá fora. É crer num Deus que existe dentro de cada um, que carrega em si a centelha de ser divino porque Seus filhos. É acreditar na capacidade que se tem de fazer a escolha certa entre o bem e o mal. “Acreditai em Deus e em mim”, afirma Jesus, porque Ele acredita em nós.

Teremos dias difíceis? Certamente! Mas o Mestre disse que conseguiríamos superá-los e é por isso que precisamos acreditar nesse Deus em nós. Acreditar não porque Ele é maior, mas, sim, porque está em tudo.

 

Bibliografia:


XAVIER, F. C. – Boa Nova – ditado pelo Espírito Humberto de Campos- 37ª edição, FEB, Brasília/DF, cap. 25- 2013.

GODOY, Paulo Alves – Os Quatro Sermões de Jesus – 1ª edição, FEESP, São Paulo/SP,O Sermão do Cenáculo – 1984.

ROHDEN – Huberto – Sabedoria das parábolas – Editora Martin Claret, São Paulo/SP, Segunda Parte – Mística das Beatitudes.

SCHUTEL, Cairbar – Parábolas e Ensinos de Jesus – 26ª edição, Casa Editora O Clarim, Matão/SP, A Ceia Pascal – pág. 311 –2012.

 

 

 

     
     

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