O Espiritismo é uma religião?
Quando garoto, lá em Imperatriz no Maranhão, década de
80 do século passado, gostava muito de comer os
biscoitos recheados da Tostines. E, como eu apreciava a
marca, ficava vidrado no aparelho televisor, que ainda
não era tela plana, quando aparecia o comercial e um
indivíduo perguntava:
“Tostines vende mais porque é fresquinho, ou é
fresquinho porque vende mais?”
Dúvida cruel pairava em minha cabeça infantil e até hoje
não consegui responder a esta pergunta, embora, creio,
nem mais exista o referido biscoito.
Brincadeiras à parte, vamos ao tema que dá origem ao
texto.
A pergunta do título deste texto foi e ainda é motivo de
artigos, textos, discussões em redes sociais e fora
delas, e debates acalorados por parte de diversos
confrades.
Afinal, o Espiritismo é ou não uma religião? Uma ala
informa que sim, outra galera jura que não, que não era
essa a intenção de Kardec e que se transformou em
religião após chegar ao Brasil, fruto das influências do
Catolicismo e outras ideias religiosas que pairavam e
ainda pairam em terras tupiniquins.
Você lê um artigo ali, lê uma consideração acolá e fica
ainda mais perdido. Afinal, o que é esse tal de
Espiritismo? Uma filosofia de vida? Uma religião? Uma
Ciência, com bases filosóficas e fundo moral?
Pois bem, há resposta para a intrincada questão, e ela –
a resposta – está justamente com um dos seus autores.
Refiro-me a Allan Kardec. Ele tocou neste ponto,
porquanto deveria ser, também, uma dúvida da turma do
século XIX.
Imagino a cabeça de Kardec sendo bombardeada por esta
questão: “E aí, mestre, somos ou não uma religião?”
Antes, porém, de deixar a palavra com Kardec, faço
algumas considerações sobre o que ele pensava em relação
à “comunhão de pensamentos”.
Para Kardec significava todos juntos, colados, num mesmo
propósito, unidos na busca da construção de um mundo
melhor.
Segundo Kardec, os espíritas teriam de estar unidos,
ideal da caridade iluminando mentes e corações
espíritas.
Kardec pensava assim com relação ao movimento dos
espíritas. Aliás, já havia feito algumas críticas a
grupos de magnetizadores que não se confraternizavam, ao
contrário, estabeleciam comemorações no mesmo dia e
horário impossibilitando a participação de todos juntos
em torno do ideal de Mesmer. Mas este é papo para outro
texto.
Sigamos adiante.
Kardec aborda a questão do significado que damos às
palavras.
Qual o significado que damos à palavra religião?
Responder a esta pergunta, parece-me, fundamental à
compreensão do que diz Kardec acerca de o Espiritismo
ser ou não ser uma religião.
Num discurso proferido por Allan Kardec e publicado na
Revista Espírita, dezembro de 1868, ele próprio informa
que, no sentido filosófico do termo, que religa as
criaturas ao Pai, que as une pela comunhão dos
pensamentos e a benevolência, tendo como leme a caridade
pura, o Espiritismo é, sim, uma religião. Entretanto,
não é uma religião como se entende usualmente, com
cultos e hierarquias.
O Espiritismo não terá um padre, pastor ou rabino... Não
estabelecerá forma de bate-papos com Deus etc.
Allan Kardec, portanto, afirma ser o Espiritismo uma
religião se entendemos religião como este religar aos
bons sentimentos, a fazer todo o bem possível e, enfim,
buscar ser melhor hoje do que fomos ontem...
Se é este o sentido que damos à palavra religião,
podemos afirmar, sem medo, que somos, realmente, membros
da Religião Espírita...
É o que diz o maior nome que tivemos: Allan Kardec.
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