Após breve repouso em seguida ao almoço. Chico sai do
quarto dos fundos e cruza rumo ao portão de saída,
dirigindo-se ao carro que o levaria ao bairro dos
Pássaros Pretos, subúrbio de Uberaba, para o Culto ao
Lar, feito ao ar livre, à sombra de dois abacateiros.
Eram 14h30 de um sábado ensolarado, envolvido por um céu
muito azul e convidativo à reflexão. Em sua casa, à rua
D. Pedro 1º, visitavam-no umas 50 pessoas de diversas
regiões, incluindo São Paulo, Rio, Goiás etc. Dessas,
umas 30 o cercaram no corredor, cada qual expondo ou
desejando expor seu problema. O médium fazia menção de
andar, mas o pequeno círculo o retinha. “Chico, meu
filho morreu há 14 meses e nunca obtive notícias
dele...”, “Chico, estou em tratamento há um ano e os
médicos não acertaram minha doença...”, “Chico, no meu
Centro Espírita em Mogi, há um grupo de irmãos que se
opõe à fundação de um orfanato nos fundos do terreno.
Que devemos fazer?...” Chico vai respondendo como pode e
noto que leva a mão direita ao peito, enquanto duas
pessoas abrem caminho para que ele possa andar.
À porta do automóvel, pergunto-lhe:
– Dói o peito?
– Um pouco, responde, mas vou indo; às vezes, sinto como
se um punho de ferro me apertasse esta parte do peito. A
seguir, a pressão diminui.
Depois, como que respondendo a uma indagação que não
cheguei a formular, acrescenta:
– Ultimamente os encargos da mediunidade não me têm
permitido dispensar algum tempo para os meus amigos.
Gostaria de atender a todos, a todos receber por igual
em minha casa. Às vezes, se a dor chega quando estou
conversando com as pessoas, vejo-me na contingência de
ter que me refugiar no banheiro. Mas para mim sempre é
um reconforto poder estar no trabalho mediúnico.
Logo que entra no carro, acrescenta:
– Vamos, que a dor está passando.
– E como vais encontrar tempo para as solicitações da
tua candidatura ao Prêmio Nobel da Paz?
– Embora eu esteja na condição de um quase espectador,
sigo com os amigos para compartilhar as alegrias e as
esperanças, mesmo não visando prêmios ou troféus. A
ampla divulgação da nossa Doutrina, mais a espontânea
dedicação desses amigos, é um prêmio inestimável. Era
setembro de 1980.
Do livro
Lições de Sabedoria, de Marlene Rossi Severino
Nobre.
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