Infância e consumo
Falseando a verdade, a maioria dos homens prefere antes
parecer a ser.
Ésquilo
Os pais contemporâneos têm uma missão: proteger os
filhos do consumismo desenfreado.
A criança aprende pela observação, pelo exemplo. O que
esperar de uma menina que presencia, desde os primeiros
anos, os pais passarem as noites hipnotizados pela
televisão, os sábados dedicados ao shopping, ao mercado,
a praga do consumismo a dirigir o destino da família?
Quando ensinamos as crianças a associarem felicidade a
promessas consumistas, infelicidade será inevitável na
vida delas quando forem adultas.
Mães nas escolas me perguntam o que devem fazer para a
criança parar de pedir o tempo inteiro “mãe, você
compra?” Simplesmente explico a elas que os pais
precisam assumir, através de atitudes e exemplos, que
brincar e não comprar deve preponderar na infância.
Brincar, por isso, demanda a criança deixar de lado TV,
tablets, smartphones, videogames…
Hoje a comunicação mercadológica dirigida às crianças
está nos mais diversos espaços de convivência, e a
infância vem sendo cada vez mais adulterada para
tornar-se hedonista, destituída de sua inocência.
Choca-me o fato dos adultos indiferentes à criança
maquiada, a infância encurtada pelo batom vermelho,
botas metalizadas, sandália de salto; o pobre menino de
sete anos adicto à tecnologia…
Causa-me terror pais exibirem suas filhas em concurso de
beleza, pavimentando, na infância, e por arbítrio, a via
que sulcará o vazio do coração. Para o adolescente, mais
atraente a compensação no consumo de drogas…
Pais, avós, escola, todos têm que estimular na criança,
além do amor, noções claras sobre o consumo, abrindo-lhe
de modo progressivo, repetido, as texturas das diversas
ações, simples e cotidianas, implicadas com a
responsabilidade social e a cidadania.
Dias atrás vi crianças, juntamente com seus pais,
limpando uma praça de bairro em Campinas, recolhendo o
lixo, atendendo as plantas. Os pais estavam a
exemplificar aos filhos uma atitude ambiental muito
importante, o tipo de ação que evitará no futuro os
excessos do egoísmo, da competição, da ganância…
Sempre digo aos pais: se você adora passear com seu
filho em shoppings, não lhe cause espanto no
futuro ele se tornar um adulto invejoso, ressentido por
não possuir mais e mais bens materiais. No entanto, se
você se ocupar em apresentar a seu filho, desde o
prelúdio da vida, outros tipos de bens – os valores
imperecíveis – e somar isso com exemplos diários
embasados na responsabilidade social, na preservação
ambiental, sem negligenciar a dimensão espiritual, ele
certamente terá mais chance de se tornar um adulto
resiliente, feliz, consciente de que a vida, deste lado
de cá, exige consciência, respeito e cuidados, como a
luz de cada dia.
Abraço. Uma alegre semana!
Notinha
Infância e consumo exigem atenção por parte dos pais.
Sexualidade precoce e desajustes familiares são efeitos
da excessiva exposição à publicidade, e também
distúrbios comportamentais e nutricionais, como a
obesidade, a anorexia. Em palavras simples, o atual
ambiente obesogênico se caracteriza pelo crescimento
mundial de alimentos ultraprocessados, motivado por
estratégias de marketing desenvolvidas por indústrias
multinacionais, que investem fortemente na divulgação
desses produtos para crianças e adolescentes.
Segundo o Instituto Euromonitor, o Brasil ocupa o
segundo lugar entre os países com maior consumo de
produtos infantis até 10 anos. Uma pesquisa do
Instituto Alana mostra que as crianças brasileiras
já influenciam 80% das decisões de compra de uma casa. E
não apenas em relação a brinquedos, mas também na lista
do supermercado e até em modelos de carros.
Pais responsáveis necessitam iniciar a regulação dentro
de casa, investindo na educação dos filhos estruturada
na responsabilidade social, na preservação ambiental
(economia de água, reciclagem etc.) e no protagonismo
político, sem negligenciar a parte espiritual.
Principalmente dar às crianças a certeza de que são
amadas por Deus, que Deus vive nelas, que Jesus está dia
a dia conosco, inspirando nossas (boas) lutas e
esperanças.