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por Yé Gonçalves

 

Amarga que nem jiló... Mas resolve!


Se o caro leitor conhece alguma coisa que amargue mais do que jiló, é por aí mesmo o sentido deste nosso texto.

Entretanto, fiquemos com o jiló como forma de ilustração e comparação ao que propomos nesta crônica.

Lembro-me bem de, quando criança, a dificuldade que eu tinha de comer jiló, mesmo que bem preparado, compondo o almoço ou o jantar, justamente pelo gosto amargo que eu julgava insuportável. Todavia, tem gente que gosta, e até o degusta como “tira-gosto”. Certos passarinhos também gostam. Mas é como o dito popular: “gosto não se discute”.

Com o tempo fui tomando uma noção melhor da vida, e percebi que nela temos momentos amargos, que são pequeninos diante da doçura grandiosa que ela nos oferece. E que, na maioria das vezes, valorizamos mais os pequeninos momentos amargos.

Então, podemos perceber que o jiló não é um fruto tão amargo assim, diante da nossa capacidade de transformá-lo em doçuras para o encanto dos nossos paladares. Tem gente que faz um doce de jiló que é uma delícia. Tem gente que prepara um jiló de tal forma que dá um sabor a mais, um “tchan” à comida.

Com essas observações fui chegando à conclusão de que o jiló, mesmo cru, se nos prepararmos mentalmente, é possível que o saboreemos de forma resignada, até mesmo sorrindo, apesar das caretas inevitáveis.

Podemos aplicar essa ilustração, ou comparação, no próprio cotidiano, assim como exemplo:

1º) nos momentos de crise financeira:

O gosto amargo desses momentos se agrava se partirmos para as reclamações, sem adotarmos medidas de contenção de despesas.

Esse gosto amargo suaviza-se quando agimos resignadamente, com inteligência e paciência, procurando tirar proveito positivo da situação, cortando gastos desnecessários, contentando-se apenas com o necessário para uma vida feliz.

E o mais importante, traçar metas sem jamais deixar de observar os recursos financeiros existentes, deixando sempre um saldo de reserva para os casos de emergência.

2º) nos momentos de enfermidade:

Se tirarmos proveito desses momentos para uma reflexão sobre a nossa postura diante da vida, da busca do autoconhecimento e da correção de atitudes, estaremos agindo resignadamente, pelo que estaremos suavizando o gosto amargo desses instantes aparentemente insuportáveis, possibilitando-nos a cura, principalmente para o entendimento e a compreensão desse processo de aprendizagem. Caso contrário, haja amargura e sofrimento.

3º) nas crises conjugais:

Neste caso, sempre o melhor caminho é a busca do entendimento e da compreensão um do outro. Mas não é recomendável que esperemos, tão somente, que o outro nos entenda e nos compreenda. É imprescindível que tomemos a iniciativa do entendimento e da compreensão do outro.

Ou seja: não importa que o outro não o entenda nem o compreenda; o importante é que você se entenda e se compreenda. Assim fica mais fácil, porque só depende de você.

Silenciar-se para que o outro fale e se manifeste sem ser interrompido, também é uma excelente ideia.

E, assim, suaviza-se o gosto amargo da intolerância, provocado pelo desentendimento e pela incompreensão, transformando o relacionamento em doçura e suavidade.

4º) Diante da ofensa:

Realmente, o gosto da ofensa é bem amargo. Entretanto, temos o poder de escolher em experimentar esse gosto ou não. Ou seja: sentimos o gosto somente daquilo que experimentamos e se quisermos experimentar.

E o treinamento para o exercício do perdão também tem um gosto amargo, devido à nossa ignorância no tocante a esse benefício em favor da nossa felicidade.

À medida que esse treinamento evolui, o gosto amargo vai desaparecendo e surgindo a doçura dos bons sentimentos em relação ao outro que julgávamos ofensor.

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Em todos esses casos acima relacionados e comentados concluímos que, na vida, apesar dos momentos de amargura criados por nós, seres humanos, somente há espaço para a ternura que envolve os momentos felizes, de entendimento e de compreensão mútuos, no cuidado que cada um deve ter consigo mesmo e com o próximo, na manutenção da amizade e dos amores sinceros.

Buscar o melhor caminho para a tolerância, o entendimento e a compreensão dos momentos de crise, e resolvê-los com paciência, pode amargar que nem jiló, ou mais.

Todavia, é importante sabermos que, assim como o jiló, todo remédio amargo parece intragável. Amarga, mas resolve!


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita