Entre os Dois
Mundos
(Parte 18)
Continuamos nesta edição o estudo metódico e sequencial do
livro Entre os Dois Mundos, obra de autoria de
Manoel Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo P.
Franco no ano de 2004.
Questões preliminares
A. A quem devemos os primeiros estudos sobre a
esquizofrenia?
A Eugen Breuler, o
inesquecível psiquiatra suíço. O conceito sobre
esquizofrenia foi então, a partir disso, introduzido na
Psiquiatria como uma fragmentação das funções mentais.
Emil Kraepellin, psiquiatra alemão, denominou-a como uma
demência precoce. Atualmente, porém, ambos os conceitos
são considerados incorretos por muitas autoridades
psiquiátricas, por considerarem tratar-se de um
distúrbio muito complexo e não necessariamente uma
fragmentação das funções mentais. Na impossibilidade de
definir-se as causas particulares, esses fatores foram
sintetizados em biológicos, psicológicos e sociais, que
incluem as mudanças químicas no cérebro, a
hereditariedade e os fatores genéticos
(Entre os dois mundos.
Capítulo 13: Doutor Emir Tibúrcio Reis, o missionário.)
B. Como é hoje conceituada a esquizofrenia?
Ainda não se pôde
padronizar o conceito de esquizofrenia, que é
considerada, mais modernamente, como uma síndrome, como
um grupo de psicoses endógenas, resultado do mecanismo
da hereditariedade, surgindo muito cedo, de acordo com o
ambiente familiar, os impositivos da vida que geram
desestruturação da personalidade; desestabilidade da
informação e da comunicação, cujas raízes psicológicas
encontram-se na pessoa e surgem quase sempre como efeito
de conflitos na convivência e na conduta.
(Entre os dois mundos.
Capítulo 13: Doutor Emir Tibúrcio Reis, o missionário.)
C. Considerando que, além dos fatores apontados pelos
psiquiatras, há na esquizofrenia um componente
espiritual, como o dr. Emir Tibúrcio Reis a define?
Ele a define assim:
primeiro, como um transtorno espiritual, que se
manifesta no corpo físico, por uma série de
desequilíbrios decorrentes da necessidade de o espírito
resgatar os delitos praticados em existências
anteriores. Trata-se, nesse caso, de um distúrbio
orgânico, já que foram impressas no aparelho fisiológico
todas as necessidades para a liberação. Segundo: um
processo de natureza obsessiva, em que o agente
perturbador, hospedando-se no perispírito do seu
inimigo, aquele que antes o infelicitou, atormenta-o,
apresenta-se-lhe vingador, desorganiza-o interiormente,
desestabiliza as conexões neuroniais, produz-lhe outras
disfunções orgânicas, delírios, alucinações. Terceiro:
um processo misto, no qual o enfermo fisiológico é
também vítima de cruel perseguição, tornando-se
obsidiado simultaneamente.
(Entre os dois mundos.
Capítulo 13: Doutor Emir Tibúrcio Reis, o missionário.)
Texto para leitura
160. Com
simplicidade, o jovem psiquiatra entreteceu algumas
considerações históricas iniciais, adindo: “Como
recordamos, deve-se a Eugen Breuler, o inesquecível
psiquiatra suíço, o conceito sobre esquizofrenia, em
1911, que, a partir de então, foi introduzido na
Psiquiatria, como uma fragmentação das funções mentais.
Por sua vez, Emil Kraepellin, o psiquiatra alemão,
denominou-a como uma demência precoce (dementia praecox).
Atualmente, ambos os conceitos são considerados
incorretos para muitas autoridades psiquiátricas, por
considerarem tratar-se de um distúrbio muito complexo e
não necessariamente de uma fragmentação das funções
mentais. Dessa forma, na impossibilidade de definir-se
as causas particulares, esses fatores foram sintetizados
em biológicos, psicológicos e sociais, que incluem as
mudanças químicas no cérebro, a hereditariedade e os
fatores genéticos (perturbação neurodesenvolvimental),
as alterações estruturais, a gravidez e o parto...
Outros autores ainda recorrem aos fatores virais –
ainda não constatados – e aos traumas encefálicos como
desencadeadores do processo esquizofrênico”.
(Entre os dois mundos.
Capítulo 13: Doutor Emir Tibúrcio Reis, o missionário.)
161. Prosseguiu o
expositor: “Estatisticamente, observa-se que, se um dos
genitores ou ambos são esquizofrênicos, a incidência de
nascer um filho portador do transtorno é de 30%,
demonstrando a predominância da hereditariedade no ser.
Assim mesmo, outros estudiosos discordam dessa elevada
estatística. Em consequência, pela sua complexidade, são
conhecidas várias formas de esquizofrenia, apresentadas
em subgrupos, como: paranoide, hebefrênica e
catatônica, não se ignorando as demais manifestações
atípicas já identificadas no passado. Ainda não se pôde
padronizar o conceito de esquizofrenia, sendo
considerada, mais modernamente, como uma síndrome, como
um grupo de psicoses endógenas, resultado do mecanismo
da hereditariedade, surgindo muito cedo, de acordo com o
ambiente familiar, os impositivos da vida que geram
desestruturação da personalidade; desestabilidade da
informação e da comunicação, cujas raízes psicológicas
encontram-se na pessoa e surgem quase sempre como efeito
de conflitos na convivência e na conduta. Bastante
comum, muito mais do que se pensa, manifesta-se em
diferentes períodos da vida física, especialmente na
adolescência, tornando-se difícil de ser diagnosticada
com precipitação, o que exige um cuidadoso estudo da
personalidade do indivíduo, bem como do seu
comportamento”.
(Entre os dois mundos. Capítulo 13: Doutor Emir Tibúrcio
Reis, o missionário.)
162. Após ligeira pausa,
dr. Emir acrescentou: “No seu início, pode apresentar-se
de maneira sutil, pouco diferindo de um estado de
normalidade. Igualmente, pode irromper em forma de surto
característico, agressivo, perturbador. A sua
sintomatologia é muito abrangente, considerando-se
entre outras manifestações: 1) a perturbação do
pensamento – incoerência, neologismos, vagas
associações, delírio; 2) distúrbios de percepção e da
atenção – perturbação nas sensações do corpo,
alucinações auditivas e raras visuais,
despersonalização, dificuldade de escolher e de
inundação de estímulos; 3) perturbações motoras –
conduta excêntrica e esdrúxula, variação entre a
imobilidade catatônica e a hiperatividade; 4)
perturbações afetivas – afeto insignificante,
impassível ou inadequado, ambivalente, diverso do
contexto, variando entre os extremos; 5) isolamento
social – solitário, sem amigos, desinteresse sexual,
medo de convivência com os outros...”
(Entre os dois mundos.
Capítulo 13: Doutor Emir Tibúrcio Reis, o missionário.)
163. O expositor calou-se
por pouco, organizando as ideias, em razão da
complexidade do tema e mais sintonizando com o mentor,
logo dando continuidade: “Existem muitas teorias para
justificar o seu surgimento, tais como: a bioquímica,
que considera o desequilíbrio neuroquímico como
responsável pelas falhas da comunicação celular do
grupo de neurônios responsáveis pelo comportamento,
pela sensopercepção, pelo pensamento; a biológica
molecular, que diz respeito a anomalias no padrão de
células cerebrais durante a formação antes do
nascimento; a genética, demonstrada pela presença do
distúrbio em membros da mesma família; a do fluxo
sanguíneo cerebral, que apresenta uma grande dificuldade
de coordenação nas atividades entre diferentes áreas
cerebrais, conforme tem sido constatado nas
investigações das imagens cerebrais, quando nos
mapeamentos com emissão de pósitrons; a do estresse,
que se encarrega de agravar os sintomas, especialmente
em pessoas que participaram de violências, como
estupro, revoluções, acidentes graves, guerras, atos
terroristas, assaltos; a da drogadição, que também
agrava os sintomas, não se podendo demonstrar por
enquanto que seja responsável pela ocorrência... Outros
estudos ainda analisam as consequências virais ou a
remota possibilidade de um vírus da esquizofrenia,
permanecendo sem qualquer confirmação”.
(Entre os dois mundos.
Capítulo 13: Doutor Emir Tibúrcio Reis, o missionário.)
164. Na sequência, informou o psiquiatra: “Entre as
alucinações nos esquizofrênicos, as mais comuns são as
de natureza auditiva, em forma de vozes que humilham o
paciente, que o xingam, depreciam, perseguem,
ameaçam... Igualmente os delírios fazem parte do seu
esquema de sintomas perturbadores, como manias
persecutórias, pelas quais alguém deseja matá-lo ou
prejudicá-lo (esquizofrenia paranoide). As perturbações
do pensamento também surgem gerando confusão no enfermo,
que apresenta alteração da sensação do
eu,
negando a própria identidade, ou que outro ser lhe
tomou o corpo e leva-o ao desequilíbrio, ou que ele não
existe, ou que seu corpo é uma ilusão
(esquizofrenia desorganizada). São muito comuns, ainda,
a apatia, o desinteresse, a falta de motivação para
qualquer realização, abandonando-se à indiferença,
inclusive em relação à higiene. Quase sempre o paciente
é vítima de embotamento afetivo, porque as emoções não
são mais experimentadas como anteriormente... Por fim, o
isolamento social, já referido.
Seria ideal que a
esquizofrenia fosse diagnosticada no seu início, o que
nem sempre é factível, em razão das dificuldades de o
paciente ser levado ao especialista. Em nossa clínica,
por exemplo, quando o paciente nos é trazido, ei-lo em
estado de desarmonia quase total, quando não vitimado
pela catatonia ou pela hiperatividade, ou vítima da
desorganização da personalidade”.
(Entre os dois mundos.
Capítulo 13: Doutor Emir Tibúrcio Reis, o missionário.)
165. Segundo dr. Emir, em face das grandes conquistas
farmacológicas na atualidade, tem sido possível realizar
uma terapêutica de natureza química, cujos resultados
são, em alguns casos, positivos, facultando ao enfermo
uma relativa possibilidade de convivência social e
familiar, com as naturais recidivas, quase periódicas,
que podem ser controladas com medicamentos. A verdade,
porém, é que defrontamos um fenômeno orgânico de
desequilíbrio muito grave, e que cada dia apresenta
maior incidência em número expressivo de criaturas
humanas. Se os indivíduos portadores de esquizofrenia
fossem internados, neste momento, os leitos hospitalares
em clínicas especializadas, existentes no mundo, não os
poderiam receber, senão em uma terça parte entre os
diagnosticados com relativa segurança. Dito isso, o
psiquiatra silenciou e adentrou um outro campo de
considerações: “Se levarmos em conta, porém, que o
paciente esquizofrênico é um ser imortal, que ele
procede de experiências ancestrais, que traz, nos
tecidos sutis do espírito, os fatores que o predispõem à
síndrome que se manifestará mais tarde, compreenderemos
que as mudanças químicas no cérebro, os fenômenos
genéticos, as alterações estruturais, são efeitos da sua
consciência de culpa,
da sua necessidade moral de reparação dos crimes
cometidos, que ficaram ignorados pela justiça terrestre,
mas que ele conhece. Entendendo-se o espírito como o ser
causal, em processo de evolução, adquirindo
experiências e superando as manifestações primárias por
meio de novas experiências iluminativas, trataremos dos
inevitáveis efeitos dos seus atos danosos, mas
remontaremos à causalidade que se encontra no ser real e
não no seu símile material”.
(Entre os dois mundos. Capítulo 13: Doutor Emir Tibúrcio
Reis, o missionário.)
166. Explicou ele, em seguida, que na contingência de
alguns casos irrecuperáveis, como os que havia naquele
hospital, pacientes esquecidos propositadamente pelas
famílias, é fácil constatar que se trata de impositivos
expiatórios para eles, já que foram malsucedidos em
outros tentames provacionais, agora se encontrando sob
injunção expiatória recuperadora que lhes foi imposta.
Como corolário da tese ora exposta, o que muitos
consideram como simples delírios e alucinações são,
muitas vezes, contatos mediúnicos com as antigas
vítimas, ora transformadas em algozes, que os vêm
perseguir, desforçando-se dos males que lhes foram
infligidos anteriormente. Se esse conúbio enfermiço
continuar por largo prazo, é natural que a energia
destrutiva aplicada nos delicados tecidos neuroniais
termine por danificá-los, alterando o quimismo cerebral
e as neurocomunicações. Dr. Emir mencionou então o caso
do paciente Arcanjo, que ele acabara de atender. Embora
se encontrasse sob forte terapia química, ele foi
acometido de uma exaltação, na qual uma personalidade
independente tomou-o, permitindo um diálogo lúcido, que
terminou por uma proposta
coerente, de abandoná-lo à
própria sorte, não mais lhe constituindo um parasita
espiritual. Após o diálogo, o obsidiado tranquilizou-se,
adormeceu e, certamente, apresentará logo mais um
quadro satisfatório, embora seja portador igualmente do
transtorno esquizofrênico, que lhe permitirá uma vida
relativamente equilibrada, caso prossiga com o
tratamento, retornando ao meio familiar e social sem
perigo. (Entre
os dois mundos. Capítulo 13: Doutor Emir Tibúrcio Reis,
o missionário.)
167. Tomando do
prontuário, onde se encontrava a anamnese do referido
enfermo, o psiquiatra leu o diagnóstico e a medicação
aplicada, sem que os resultados apresentados fossem
significativos, diferindo diametralmente do efeito da
terapia aplicada no agente espiritual. Logo após, deu
curso ao estudo: “Definimos, então, a esquizofrenia:
primeiro, como um transtorno espiritual, que se
manifesta no corpo físico, por uma série de
desequilíbrios já referidos, mas decorrente da
necessidade de o espírito resgatar os delitos praticados
em existências anteriores. Chamá-la-emos, nesse caso, de
um distúrbio orgânico, já que foram impressas no
aparelho fisiológico todas as necessidades para a
liberação; segundo, de um processo de natureza
obsessiva, em que o agente perturbador, hospedando-se no
perispírito do seu inimigo, aquele que antes o
infelicitou, atormenta-o, apresenta-se-lhe vingador,
desorganiza-o interiormente, desestabiliza as conexões
neuroniais, produz-lhe outras disfunções orgânicas,
delírios, alucinações; terceiro, de um processo misto,
no qual o enfermo fisiológico é também vítima de cruel
perseguição, tornando-se obsidiado simultaneamente.
Seja, porém, em qual classificação se enquadre o
paciente psiquiátrico, ele é digno de compaixão e de
amizade, de envolvimento fraternal e de interesse
profissional, recebendo, não somente a terapêutica
específica proposta pela Psiquiatria, mas também a
espiritual apresentada pelo Espiritismo”. “A oração
ungida de amor, a vibração de afeto transformada em
emissão de onda de simpatia e de saúde, são, sem
qualquer dúvida, terapêuticas de invulgar resultado, que
o futuro adotará em qualquer situação humana em que se
encontrem os indivíduos.”
(Entre os dois mundos.
Capítulo 13: Doutor Emir Tibúrcio Reis, o missionário.)
(Continua no próximo número.)