Schopenhauer e Kardec
Gosto muito do filósofo alemão Schopenhauer (1788-1860).
Ele é direto, objetivo e sem firulas. Um pensador
vigoroso e profundo. Na coletânea - a Arte de
escrever - com textos do filósofo pessimista, há
interessantes ideias bem traçadas pelo alemão.
Para Schopenhauer é a vontade o motor do mundo. E o
homem está sempre refém das suas vontades, desde as mais
simples até as mais sofisticadas.
Saciada uma vontade, logo vem o tédio e, por
consequência, o desenho de uma nova vontade. Sendo a
vontade o móvel principal da ação humana, está escrita
uma ciranda: vontade, busca para saciá-la, saciedade e
desenho de uma nova vontade, numa insatisfação eterna.
Portanto, para Schopenhauer, viver é sofrer, pois a
satisfação nunca chega e as vontades jamais cessam.
Mas não é este o aspecto da literatura de Schopenhauer
que queremos exaltar. Há coisas, digamos, mais “pra
frentex” que ele escreveu.
Vamos lá:
Diz Schopenhauer que o conhecimento genuíno se faz por
aquele que busca a verdade pelo amor ao saber, tendo
este como seu fim precípuo.
O amante do saber é um diletante, alguém que procura a
verdade para com ela deleitar-se. Dedica-se, pois, de
corpo e alma, sem segundas intenções ou interesses
outros que não a descoberta, o filão de ouro chamado
verdade.
Segundo o filósofo, quem se liga a uma determinada área
do conhecimento por amor produz muito mais do que quem
se debruça para obter vantagens monetárias.
Exemplificarei.
Indagam alguns:
- Por que você quer seguir em determinada profissão?
A resposta do não diletante vem rápida:
- Porque dá dinheiro!
Para Schopenhauer este é um mero mercador; o
conhecimento não é a sua finalidade, mas um meio para
rechear sua carteira.
Ao ler Schopenhauer, lembrei de Kardec.
O filósofo francês dedicou-se à ciência espírita por
amor. Desvendar a finalidade da existência humana, a
importalidade da alma e as leis que regem “vivos e
mortos” eram seus objetivos. Se não fossem, Kardec bem
poderia ter se dedicado à “arte” de fazer fortuna. Não
quis. Diletante, como definiria Schopenhauer, Kardec
buscou a verdade "per il loro diletto", ou seja, para
seu deleite, sua alegria.
Segundo Schopenhauer, os grandes homens, aqueles que
oferecem fachos de luz à humanidade, são os que buscam a
verdade por amor, por deleite.
E que clarão abriu Kardec! Tão forte que, passados pouco
mais de 150 anos, muitos não conseguiram entendê-lo.
Talvez faltem mais diletantes, pessoas que busquem o
conhecimento pelo amor à verdade, desapegadas de louros,
aplausos e coisas do gênero...
Assim falou Schopenhauer...
Assim trabalhou Kardec...