A. Uma lesão cerebral pode produzir efeitos
espirituais?
Sim. Registram os anais da Fisiologia que no
hospital de São Tomás, Londres, um homem
gravemente ferido na cabeça entrou a falar,
depois de curado, um idioma absolutamente
esquecido durante a sua permanência de trinta
anos naquela cidade. (Deus na Natureza –
Terceira Parte. A Alma. O Cérebro.)
B. As impressões recebidas pelos olhos ou pelos
ouvidos exercem influência sobre o ânimo da
pessoa?
Evidentemente. Uma pessoa que nos infunde
simpatia muda-nos o curso das ideias. A música
convida ao sonho; a baunilha, os ovos, o vinho
quente exaltam os desejos. Um céu luminoso nos
alegra, um céu sombrio nos entristece. (Deus
na Natureza – Terceira Parte. A Alma. O
Cérebro.)
C. A inteligência guarda relação com o peso do
cérebro de uma pessoa?
Flammarion diz que tal ideia, propalada pelos
materialistas, não está rigorosamente
demonstrada. E, por sinal, lembra que os crânios
de Napoleão, Voltaire e Rafael não ultrapassaram
a média. (Deus na Natureza – Terceira Parte.
A Alma. O Cérebro.)
Texto para leitura
577. Balzac já tivera a ideia de considerar o
fósforo como o elemento mais importante do
intelecto. Fuerbach, ampliando a importância
deste corpo e referindo-se a um trabalho de
Couerbe, que lhe atribuía grande influência no
sistema nervoso, o deu como origem do espírito.
Huart imagina que essa substância incendeia-se e
alumia, com o fogo do cérebro, como se dá com um
lampião. Quanto à atualidade, terminemos a
observação especial do cérebro com algumas
comparações particulares, dignas de interesse
para nossa raça. (Deus na Natureza – Terceira
Parte. A Alma. O Cérebro.)
578. Em muitas espécies, os crânios masculinos
se diferençam tanto que poderiam induzir-nos a
classificá-los como de espécies diferentes. Na
espécie humana, a diferença é igualmente
notória. Assim é que o crânio feminino é menor,
tanto na circunferência horizontal como na
capacidade interna. O cérebro de menor peso, da
mulher, aproxima-se do infantil. O outro fato
notável é que a disparidade reinante entre os
dois sexos, relativamente à capacidade craniana,
aumenta com o aperfeiçoamento da raça, de sorte
que o europeu se distancia da europeia, mais que
o negro da sua companheira. Carl Vogt comenta
essas experiências de Welcker e adverte que é
mais fácil mudar uma forma de governo do que a
panela tradicional. (Deus na Natureza –
Terceira Parte. A Alma. O Cérebro.)
579. O cérebro da mulher pesa, em média, duas
onças menos que o do homem[i].
Arístoto há muito o previra e a Ciência
experimental verificou que o belo sexo tem um
cérebro mais leve do que o nosso! Talvez
convenha acrescentar que as medidas não foram
tomadas pelas mulheres[ii].
Acrescentaremos, também, que a estatura e o peso
médio da mulher, sendo inferiores aos do homem,
conviria levar em conta essa diferença,
vantajosa para ela, mulher. Mas, nada obstante,
as senhoras se nos avantajam tanto, pelos dotes
de coração, que lhes não custará ceder-nos a
fria superioridade do entendimento.
(Deus na Natureza – Terceira Parte. A Alma. O
Cérebro.)
580. Outra distinção se patenteia, igualmente,
no tamanho do lobo frontal: a circunferência do
crânio é, em média, de 546 milímetros para as
inteligências vulgares, de 544 para os imbecis,
em geral, e de 541 para os do primeiro grau.
Estas medidas estão, porém, longe de significar
alguma coisa. Uma característica anatômica mais
geral consiste em que o cérebro recobre o
cerebelo tanto mais completamente quanto mais
elevado seja o animal na escala zoológica. Já
nos macacos se encontra um bordo estreito que
ultrapassa, atrás e em baixo, os hemisférios
cerebrais. Nos outros animais ele estende-se
ainda, mais a mais. A mesma observação pode ser
feita do ponto de vista embriológico. No feto o
cerebelo não é recoberto pelo cérebro, senão
depois do sétimo mês[iii].(Deus
na Natureza – Terceira Parte. A Alma. O
Cérebro.)
581. Longe estamos de negar a existência de uma
relação constante, que parece ligar a
inteligência à estrutura do cérebro. As cabeças
de Vesale, Shakespeare, Hegel, Gothe são
exemplos de superioridade manifestada pelo
desenvolvimento do lobo frontal. Queremos mesmo
crer que algumas exceções sejam devidas ao fato
de, nem sempre, o desenvolvimento aparente do
cérebro corresponder ao seu peso, e que, em
dados casos de idiotia, a água substitui a
substância cerebral. Em geral, não é por uma
característica particular que se manifesta a
superioridade intelectual, e sim pelo conjunto
de todas as suas partes. Enfim, podemos admitir,
com alguns anatomistas, que o peso do cérebro
aumenta até os vinte e cinco anos e se mantém
imutável até aos cinquenta, para de novo
decrescer consideravelmente na senectude.
(Deus na Natureza – Terceira Parte. A Alma. O
Cérebro.)
582. O cérebro é insensível, absolutamente, e só
os pedúnculos cerebrais e as camadas óticas
parece não o serem. Nos profundos ferimentos da
cabeça, que apenas interessam este órgão,
poderemos tocar-lhe a superfície e mesmo extrair
pedaços, sem que o paciente experimente qualquer
dor. Em compensação, as experiências feitas
neste sentido com as aves, demonstraram que o
cérebro é, evidentemente, a sede única da
inteligência. Pássaros e pombos, alimentados
artificialmente, puderam sobreviver um ano à
respectiva ablação do cérebro. O resultado é que
o animal, assim privado do cérebro, permanece
mergulhado em sono profundo, nada vê, nada ouve,
tendo embora olhos e ouvidos. Os movimentos
conservam-se e combinam-se, ainda, dentro de
certos limites; o animal sente a dor e faz
movimentos por evitá-la, mas torna-se estúpido e
como num estado de sonho, que exclui a
consciência; é um autômato que poderá viver
desde que o alimentem por processos mecânicos
quaisquer, mas que morrerá de fome com a boca no
alimento, visto lhe ser interdito combinar a
imagem do alimento e a necessidade de o tomar,
com os movimentos necessários a esse fim.
(Deus na Natureza – Terceira Parte. A Alma. O
Cérebro.)
583. Em se extraindo, camada a camada, os dois
hemisférios cerebrais, ver-se-á que a atividade
intelectual diminui na razão do volume da massa
retirada. Atingindo os ventríloquos, dá-se a
perda do conhecimento. A significação e formação
dos tecidos são ainda possíveis, mas o animal
fica inteiramente inacessível às impressões do
mundo exterior. A consciência desapareceu sem
deixar traço. Vemos, assim, que, com a retirada
sucessiva, e por camadas, das partes superiores
do cérebro, as faculdades diminuíram pouco a
pouco. Galinhas assim operadas continuaram com
vida vegetativa. (Deus na Natureza – Terceira
Parte. A Alma. O Cérebro.)
584. A diminuição progressiva da inteligência
integral e proporcionada às ablações, antes que
de uma que outra faculdade, faz prova negativa
da teoria das localizações; mas, perguntamos: –
poder-se-á aplicar ao homem o fato observado com
o intelecto de uma galinha? Eis o que nos parece
duvidoso. Diante destas experiências de
Flourens, de Valentim e fisiologistas outros,
Büchner exclama: “Poder-se-á exigir prova mais
brilhante para demonstrar a conexidade absoluta
da alma e do cérebro, do que a fornecida pelo
escalpelo demonstrando a alma peça por peça?”
(Deus na Natureza – Terceira Parte. A Alma. O
Cérebro.)
585. Uma alteração no cérebro acarreta uma
alteração correspondente no pensamento. As
enfermidades mentais assinalam-se por umas
tantas lesões. Em trezentos e dezoito
dissecações de alienados, apenas trinta e duas
deixaram de patentear alterações patológicas do
cérebro e das membranas, e cinco somente não
apresentavam anomalia qualquer. (Romain
Fischer.) (Deus na Natureza – Terceira Parte.
A Alma. O Cérebro.)
586. Lesões cerebrais há que produzem, por
vezes, efeitos espirituais surpreendentes.
Assim, contam os anais da Fisiologia que no
hospital de São Tomás, Londres, um homem
gravemente ferido na cabeça entrou a falar,
depois de curado, um idioma absolutamente
esquecido durante a sua permanência de trinta
anos naquela cidade. Uma degenerescência de
ambos os hemisférios produz sonolência,
debilidade mental e mesmo idiotia completa. A
superabundância de líquido raquidiano origina a
debilidade mental e o estupor. A ruptura de um
vaso sanguíneo do cérebro causa o estado
patológico chamado apoplexia. Toda gente sabe
que a perda da consciência é uma consequência
dessa alteração mórbida. (Deus na Natureza –
Terceira Parte. A Alma. O Cérebro.)
587. A inflamação do cérebro causada pela
replecção dos vasos sanguíneos e uma excessiva
exsudação plástica, desfecham a febre cerebral e
o delírio. Quando os batimentos do coração
fraquejam, a ponto de ocasionar uma síncope, o
sangue aflui escassamente ao cérebro. Também a
perda dos sentidos acompanha uma síncope. O
cérebro dos decapitados morre célere, em
consequência da perda de sangue. Sendo o
oxigênio condição indispensável ao renovamento
do sangue, em lhe faltando este, o encéfalo é o
primeiro a se ressentir e sobrevêm, então, as
cefalalgias, as vertigens, as alucinações.
(Deus na Natureza – Terceira Parte. A Alma. O
Cérebro.)
588. O chá influi no discernimento, o café
estimula a potência artística do cérebro e o
álcool acarreta a embriaguez com as suas
consequências[iv].
(Deus na
Natureza – Terceira Parte. A Alma. O Cérebro.)
589. Todas as impressões recebidas pelos ouvidos
e pelos olhos são influências materiais,
transmitidas ao cérebro pelo sistema nervoso,
provocando modificações materiais
correspondentes. Uma pessoa que nos infunde
simpatia, muda-nos o curso das ideias. Quando um
pobre habitante dos vales paludosos escala os
Alpes, fica deslumbrado com as suas novas
impressões. A música convida ao sonho; a
baunilha, os ovos, o vinho quente, exaltam os
desejos; um céu luminoso nos alegra, um céu
sombrio nos entristece. Desde o momento em que
somos engendrados, entramos num oceano de
matéria em circulação. O que somos, devemo-lo em
parte aos nossos avós, à nossa alimentação, ao
nosso país, à nossa educação, ao ar, ao tempo,
ao som, à luz, ao nosso regime, às nossas vestes[v].
(Deus na
Natureza – Terceira Parte. A Alma. O Cérebro.)
590. Tais os fatos positivos, constatados pelas
ciências fisiológicas e invocados pela escola
materialista, ao declarar que as faculdades
intelectuais são produto da substância cerebral.
Fizemos este esboço não só no intuito de
levantar o combatido adversário, como para
fornecer cabedal de reflexão a muitos
espiritualistas ingênuos, que acreditam
resolvidos todos os problemas. No capítulo
seguinte, infligiremos os senhores
materialistas, desafiando-os a responderem a
três questões solidárias que arrasam de alto a
baixo o seu palanque. Mas, enquanto o não
fazemos, interessa-nos inquietá-los a pretexto
da solidez de suas pretensiosas explicações.
(Deus na Natureza – Terceira Parte. A Alma. O
Cérebro.)
591. Notemos, antes do mais, que nenhuma lei
exclusiva existe, acerca da correspondência do
cérebro com o pensamento. Não está rigorosamente
demonstrado:
1º - que o peso do cérebro aumenta até à
madureza e decai depois (Sommering lhe fixa o
desenvolvimento máximo aos 3 anos, Wenzel aos 7,
Tledemann aos 8, Gratiolet na velhice, etc.);
2º - que a inteligência esteja em relatividade
com o peso (os crânios de Napoleão, Voltaire,
Rafael não ultrapassaram a média);
3º - que uma fronte larga seja índice de
genialidade (Lelut demonstrou que os idiotas
apresentam ordinariamente uma fronte
desenvolvida e que é impossível determinar
relações exatas entre a inteligência e as
dimensões cranianas);
4º - que a loucura provenha sempre de uma lesão
cerebral, antes parecendo uma afecção psíquica.
(Esquirol, Lelut, Leuret, Georget, Ferrus,
constataram que a loucura não é seguida de
lesões senão quando coincide com enfermidades
orgânicas.) (Deus na Natureza – Terceira
Parte. A Alma. O Cérebro.)
592. Nossos adversários têm consciência das
dificuldades que a questão apresenta e
procuraram, alhures, a causa material da
inteligência, como, por exemplo, no fósforo, a
que já aludimos. Acreditaram ter achado 4% de
fósforo no cérebro dos alienados, 23% no cérebro
normal e 1% no dos imbecis. Haverá, porém,
necessidade de frisar que não há lei absoluta,
que todas estas explicações não satisfazem e
que, em suma, não existem essas diferenças?
(Deus na Natureza – Terceira Parte. A Alma. O
Cérebro.)
[i]
Uma onça equivale a 28 gramas e 35
centigramas.
[ii]
O doutor Boyd depois de haver pesado
2086 cérebros de homens e 1061 de
mulheres, dá 1285 a 1363 gramas para os
primeiros e 1127 a 1238 para os
segundos.
[iii]
Tiedemann – Anatomie und
Bildungsgeschichte des Gehirns im Foetug
des Menschen, etc., página 142. –
Pour la mesure du crâne, V. Lelut –
Physiologie de la Pensée, t. 2º,
página 315.
[iv]
Moleschott, 2º, 151.