O Espiritismo responde

por Astolfo O. de Oliveira Filho

O leitor André R. da Costa, em mensagem publicada na seção de Cartas desta edição, pergunta-nos: O que são os Exus? E qual o seu grau de evolução?

No artigo intitulado “Quadro comparativo entre os cultos afro-brasileiros e o Espiritismo”, publicado na edição 52 de nossa revista, nosso colaborador Jáder Sampaio assim conceitua os termos Orixás e Exu:

- Orixás: divindades agentes de Olorum, o Deus supremo criador do Universo. Uma outra corrente dos cultos acredita que os Orixás seriam homens e mulheres que depois da morte foram elevados à condição de seres destacados no “astral” e identificados com um elemento da natureza (rio, mar, etc.) transformando-se nele. Há uma certa concordância em torno do seu número.

- Exu: considerado o “mais humano dos Orixás” por Verger e por diversos grupos de Candomblé e Umbanda. Considerado por outros apenas um intermediário entre os homens e os Orixás. Exu foi associado ao demônio medieval pela sua falta de padrões morais, por agir segundos interesses pessoais e mundanos (dinheiro, política e negócios) e por estar ligado à sexualidade. Esta entidade também foi sincretizada com São Pedro no sul do país pelo seu caráter de “controlador de almas” no terreiro e “protetor” do mesmo. É também o mensageiro dos orixás junto ao babalorixá (sacerdote do Candomblé) na leitura de búzios, traduzindo-lhes as vontades.

Para acessar o artigo mencionado, clique neste link

Na obra Loucura e Obsessão, de Manoel Philomeno de Miranda, psicografada pelo médium Divaldo Franco, seu autor tece considerações importantes a respeito do tema. Destacamos da obra as informações seguintes, que esperamos possam atender à expectativa do nosso leitor:

- Com ligeiras variações, o conceito sobre o Espírito Exu refere-se sempre à perversidade, desobediência e, excepcionalmente, quando em tarefa especial, faz recordar um policial que tem acesso pela sua força aos redutos ignóbeis da marginalidade. Os Orixás são representações do bem, da santidade, pois que, literalmente, a palavra significa “senhor da cabeça” (de ori = cabeça; xá = chefe, senhor), razão por que Jesus é chamado Orixalá, termo de origem nagô, significando “o maior dos Orixás”, e, por corruptela ou abreviatura, denominado Oxalá.  (Loucura e Obsessão, cap. 12, pp. 145 e 146.)

- Em nações supercivilizadas da América e da Europa multiplicam-se as igrejas e agremiações que cultuam os demônios, ignorando que estes não passam de Espíritos embrutecidos e vingadores que se auto-hipnotizaram, tomando, ilusoriamente, nas mãos, a adaga do que chamam justiça, esquecidos da Justiça maior que funciona com equidade e sabedoria, reeducando e corrigindo, ao invés de punir, seviciar e desgraçar. Em tais países esses seres assumem personificações demoníacas, diabólicas, conforme se denominam, enquanto nos cultos afro-brasileiros fazem-se conhecer por Exus e outras designações, que em nada alteram a sua louca realidade. Encontram-se, assim, no mundo espiritual, muitos irmãos infelizes assumindo personificações mitológicas ridículas, por auto-hipnose. Uns, em largo número, creem-se seres de exceção na ordem universal, por efeito de autossugestão demorada desde a vida terrestre; outros são vitimados por zoantropias de diferentes procedências, e, por fim, há os que se reconstruíram ideoplasticamente, incorporando os desvarios de poderes mentirosos, que atribuem a si mesmos, seja como Orixás, na eterna ação protetora da Natureza e dos homens, seja na de Exus, supostamente criados para o mal e dotados de força para tal execução, os quais se afundam cada vez mais no desgoverno, até o momento em que funcionem as Leis de correção e reequilíbrio que existem no Cosmo. (Loucura e Obsessão, cap. 8, pp. 102 a 104.)

- Os obsessores mais perversos, que exibiam carantonhas apavorantes, atiravam dardos que se diluíam no ar, ou arremetiam contra a barreira impeditiva, intentando rompê-la, sem que o lograssem. Era um campo de batalha, onde as forças mentais se enfrentavam. Percebeu-se que havia no meio deles alguns Exus que iriam experimentar os choques anímicos, liberando-se das pesadas ideoplastias que os transformaram exteriormente, em razão do cultivo malsão das ideias extravagantes e hediondas. Em dado momento um Exu incorporou-se numa jovem médium e a união fluídica era de tal forma que parecia ter havido uma quase fusão, ser-a-ser, que se harmonizavam. O rosto pálido da médium adquiriu um tom vermelho-escuro, consequência da aceleração sanguínea, e uma transfiguração modelou-lhe um quase símile do comunicante. Quando pôde falar, passou a um vocabulário incompreensível, evocando a língua-mãe e nela se expressando. A voz, rouquenha, era semiaudível. D. Emerenciana (mentora espiritual do trabalho), que prosseguia contendo a médium em transe, dialogou com a entidade no mesmo dialeto e, girando-a repetidamente, como se a desenovelasse de ataduras fortes que a cobriam, parou-a de chofre, aplicando-lhe movimentos longitudinais e impondo-lhe sua vontade firme. Os ritmos e a cantoria aumentaram e fizeram-se ensurdecedores. “Volte ao normal! Você é Espírito criado por Deus. É vivente com um destino para o bem”, ordenou-lhe a Mentora. “Desnude-se e saia dessa situação. José Manuel foi o seu nome no eito do senhor branco. José Manuel é você. Ouça e acorde!” Em seguida, trouxeram-lhe um incensador que foi movimentado em torno do Espírito, que aspirava o fumo aromatizado e mais se agitava. “Agora, volte! Acorde, José Manuel!”, insistiu D. Emerenciana. A face espiritual do obsessor passou a sofrer, nesse momento, uma metamorfose e, como se fosse plasmada em cera, ora aquecida, começou a desfazer-se, ao mesmo tempo em que a alegoria que o vestia, gerada pelas imposições ideoplásticas, passou a experimentar a mesma transformação, permitindo que surgisse um homem de trinta anos, cansado prematuramente, com marcas de chicote no rosto e nas costas, recordando os suplícios que lhe foram infligidos. Despertando e desembaraçando-se da constrição que prosseguia padecendo, ele pôs-se a chorar, em ímpar desesperação agônica, a todos confrangendo. A Benfeitora abraçou-o, depois segurou-o pelas mãos e disse: “Lembre-se de Jesus, crucificado sem culpa. Ele voltou e jamais acusou; sequer perguntou qualquer coisa ao negador, ou referiu-se ao amigo traidor... Pense em Jesus e perdoe. Você será feliz e tudo ficará esquecido. Cante, agora cante a sua vitória”. (Loucura e Obsessão, cap. 11, pp. 138 a 140.)

O livro Loucura e Obsessão foi objeto de estudo metódico e sequencial nas edições 354 a 393 desta revista, todas on-oline e disponíveis para leitura por parte dos nossos leitores. Para acessar a lição inicial, publicada na revista 354, clique aqui


  
 


 
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