O Espírito e os estados de
inconsciência
Define-se consciência como a experiência
subjetiva de mundo de uma pessoa.[i]
O indivíduo consciente é capaz de perceber o que
se passa em si mesmo e no que o cerca. Algumas
condições são, tradicionalmente, relacionadas a
estados de inconsciência, ou seja, a ausência
dessas experiências subjetivas: o sono profundo
(sem sonhos), o coma e a anestesia geral
profunda.
A condição do Espírito nos estados de
inconsciência foi bem estabelecida por Emmanuel,
quando chamado a esclarecer o tema. Embora a
pergunta se vincule ao estado de coma,
acreditamos que possa se aplicar aos demais
estados. O benfeitor de Chico Xavier assim se
manifestou:
“Seu
estado será de acordo com sua situação mental.
Há casos em que o Espírito permanece como
aprisionado ao corpo, dele não se afastando até
que permita receber auxílio dos Benfeitores
espirituais. São pessoas, em geral, muito
apegadas à vida material e que não se conformam
com a situação. Em outros casos, os Espíritos,
apesar de manterem uma ligação com o corpo
físico, por intermédio do perispírito, dispõem
de uma relativa liberdade. Em muitas ocasiões,
pessoas saídas do coma descrevem as paisagens e
os contatos com seres que os precederam na
passagem para a Vida Espiritual”.
[ii]
Curiosamente, os pesquisadores da área da
psicologia, embora com viés materialista, têm
relatado alguns experimentos que mostram que,
mesmo em condições de inconsciência, o indivíduo
parece registrar muito do que passa à sua volta.
Vejamos algumas evidências:
Sono
Evidências mostram que, mesmo estando
profundamente adormecido, o indivíduo
encontra-se vigilante. Corroboram esse
pensamento os seguintes argumentos:
a) mães adormecidas despertam com o choro do
bebê, enquanto continuam dormindo mesmo expostas
a sons muito mais intensos, como sirenes do
corpo de bombeiro;
b) pessoas que dormem ao lado de crianças
pequenas ou animais não rolam por cima delas ou
caem da cama;
c) as pessoas mudam de posição muitas vezes
durante a noite, mesmo dormindo, buscando se
acomodar a uma posição mais confortável.[iii]
d) na solução de problemas foi provado que o
sono aumenta a probabilidade de que um insight
seja produzido.[iv]
Sob anestesia geral
Estudos patrocinados por psicólogos cognitivos
procuraram examinar a possibilidade de registros
mentais se darem mesmo estando o indivíduo numa
condição de inconsciência sob efeito de
anestesia geral. Os psicólogos decidiram estudar
o efeito da primação auditiva. O termo primação
vem sendo usado em psicologia cognitiva para
designar o fato de que a apresentação de um
primeiro estímulo facilita o seu reconhecimento
posterior. Um assunto previamente discutido será
obviamente evocado mais facilmente que outro
nunca examinado. A primação pode ser avaliada
através de testes de completar palavras a partir
de umas poucas letras iniciais. As pessoas
tendem a se valer de palavras que lhe são
afeitas, ou relembradas recentemente.
Às vezes, estamos cientes dos estímulos de
primação: recordamo-nos conscientemente dos
estímulos prévios. Entretanto, a primação ocorre
mesmo quando os estímulos são apresentados de
uma maneira que não permite a entrada deles na
consciência (por exemplo, é apresentado muito
brevemente para ser registrado de modo
consciente).
Uma aplicação interessante da primação auditiva
foi utilizada com pacientes sob efeito de
anestesia. Enquanto estavam anestesiados, foi
apresentada a vários indivíduos uma lista de
palavras. Após o efeito de a anestesia passar,
eles respondiam às perguntas com sim/não e
completavam as letras com as palavras ouvidas.
Os pacientes respondiam às perguntas sim/não.
Eles não relataram conhecimento consciente das
palavras. No entanto, na tarefa de completar as
letras, mostraram evidências de primação. Os
pacientes completaram as letras com itens que
lhes foram apresentados enquanto estavam
anestesiados. Esses resultados demonstram que,
mesmo quando o indivíduo não tem nenhuma
lembrança de um evento auditivo, o evento ainda
pode afetar seu desempenho.
[v]
Coma
Existem evidências indicando que, também durante
o coma, o indivíduo pode processar informações.
O caso do ferroviário polonês Jan Grzebsk foi
seriamente estudado por neurologistas. Em junho
de 2007, aos 67 anos de idade, despertou de um
coma de 19 anos. Grzebsk se lembrava de eventos
ocorridos ao seu redor durante o coma, incluindo
os casamentos de seus filhos.[vi]
Os psicólogos que examinam todos esses fenômenos
acreditam que eles podem ser explicados pela
capacidade do cérebro de registrar fatos de
forma subliminar, ou seja, fora da consciência.
Parece-nos, contudo, mais simples aceitar a
ideia de que o Espírito desdobrado do corpo, em
consequência da condição cerebral, pode dar-se
conta do que se passa em seu entorno e, ao
retornar à vida consciente, lembrar-se de parte
do que registrou. Daí a importância da prece, do
equilíbrio, da palavra amiga e fraterna, da
transmissão de paz, das conversações edificantes
de todos aqueles que cercam o indivíduo
identificado com as condições examinadas, sejam
profissionais de saúde, parentes e amigos. Ele
pode estar percebendo muito mais do que podemos
supor.