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por Ricardo Baesso de Oliveira

 

O Espírito e os estados de inconsciência


Define-se consciência como a experiência subjetiva de mundo de uma pessoa.[i] O indivíduo consciente é capaz de perceber o que se passa em si mesmo e no que o cerca. Algumas condições são, tradicionalmente, relacionadas a estados de inconsciência, ou seja, a ausência dessas experiências subjetivas: o sono profundo (sem sonhos), o coma e a anestesia geral profunda.

A condição do Espírito nos estados de inconsciência foi bem estabelecida por Emmanuel, quando chamado a esclarecer o tema. Embora a pergunta se vincule ao estado de coma, acreditamos que possa se aplicar aos demais estados. O benfeitor de Chico Xavier assim se manifestou:

Seu estado será de acordo com sua situação mental. Há casos em que o Espírito permanece como aprisionado ao corpo, dele não se afastando até que permita receber auxílio dos Benfeitores espirituais. São pessoas, em geral, muito apegadas à vida material e que não se conformam com a situação. Em outros casos, os Espíritos, apesar de manterem uma ligação com o corpo físico, por intermédio do perispírito, dispõem de uma relativa liberdade. Em muitas ocasiões, pessoas saídas do coma descrevem as paisagens e os contatos com seres que os precederam na passagem para a Vida Espiritual”. [ii]

Curiosamente, os pesquisadores da área da psicologia, embora com viés materialista, têm relatado alguns experimentos que mostram que, mesmo em condições de inconsciência, o indivíduo parece registrar muito do que passa à sua volta. Vejamos algumas evidências:

Sono

Evidências mostram que, mesmo estando profundamente adormecido, o indivíduo encontra-se vigilante. Corroboram esse pensamento os seguintes argumentos:

a) mães adormecidas despertam com o choro do bebê, enquanto continuam dormindo mesmo expostas a sons muito mais intensos, como sirenes do corpo de bombeiro;

b) pessoas que dormem ao lado de crianças pequenas ou animais não rolam por cima delas ou caem da cama;

c) as pessoas mudam de posição muitas vezes durante a noite, mesmo dormindo, buscando se acomodar a uma posição mais confortável.[iii]

d) na solução de problemas foi provado que o sono aumenta a probabilidade de que um insight seja produzido.[iv]

Sob anestesia geral

Estudos patrocinados por psicólogos cognitivos procuraram examinar a possibilidade de registros mentais se darem mesmo estando o indivíduo numa condição de inconsciência sob efeito de anestesia geral. Os psicólogos decidiram estudar o efeito da primação auditiva. O termo primação vem sendo usado em psicologia cognitiva para designar o fato de que a apresentação de um primeiro estímulo facilita o seu reconhecimento posterior. Um assunto previamente discutido será obviamente evocado mais facilmente que outro nunca examinado. A primação pode ser avaliada através de testes de completar palavras a partir de umas poucas letras iniciais. As pessoas tendem a se valer de palavras que lhe são afeitas, ou relembradas recentemente.

Às vezes, estamos cientes dos estímulos de primação: recordamo-nos conscientemente dos estímulos prévios. Entretanto, a primação ocorre mesmo quando os estímulos são apresentados de uma maneira que não permite a entrada deles na consciência (por exemplo, é apresentado muito brevemente para ser registrado de modo consciente).

Uma aplicação interessante da primação auditiva foi utilizada com pacientes sob efeito de anestesia. Enquanto estavam anestesiados, foi apresentada a vários indivíduos uma lista de palavras. Após o efeito de a anestesia passar, eles respondiam às perguntas com sim/não e completavam as letras com as palavras ouvidas. Os pacientes respondiam às perguntas sim/não. Eles não relataram conhecimento consciente das palavras. No entanto, na tarefa de completar as letras, mostraram evidências de primação. Os pacientes completaram as letras com itens que lhes foram apresentados enquanto estavam anestesiados. Esses resultados demonstram que, mesmo quando o indivíduo não tem nenhuma lembrança de um evento auditivo, o evento ainda pode afetar seu desempenho. [v]

Coma

Existem evidências indicando que, também durante o coma, o indivíduo pode processar informações. O caso do ferroviário polonês Jan Grzebsk foi seriamente estudado por neurologistas. Em junho de 2007, aos 67 anos de idade, despertou de um coma de 19 anos. Grzebsk se lembrava de eventos ocorridos ao seu redor durante o coma, incluindo os casamentos de seus filhos.[vi]

Os psicólogos que examinam todos esses fenômenos acreditam que eles podem ser explicados pela capacidade do cérebro de registrar fatos de forma subliminar, ou seja, fora da consciência. Parece-nos, contudo, mais simples aceitar a ideia de que o Espírito desdobrado do corpo, em consequência da condição cerebral, pode dar-se conta do que se passa em seu entorno e, ao retornar à vida consciente, lembrar-se de parte do que registrou. Daí a importância da prece, do equilíbrio, da palavra amiga e fraterna, da transmissão de paz, das conversações edificantes de todos aqueles que cercam o indivíduo identificado com as condições examinadas, sejam profissionais de saúde, parentes e amigos. Ele pode estar percebendo muito mais do que podemos supor.


 

[i] Ciência psicológica, Michael Gazzaniga.
[ii] Livro Plantão de Respostas – Pinga-Fogo II, publicado pela Editora CEU.
[iii] Ciência psicológica, Michael Gazzaniga.
[iv] Psicologia cognitiva – Robert Sternberg.
[v] Psicologia cognitiva – Robert Sternberg.
[vi] Ciência psicológica, Michael Gazzaniga.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita