Passes com técnicas mais elaboradas ou não: eis
a questão!
O tema explicitado no título do presente
texto não é trivial, pois não é ponto pacífico
dentro do movimento espírita.
Alguns defendem que a imposição de mãos pura e
simplesmente disposta sobre a cabeça do
assistido seria o ideal.
O argumento desses confrades está calcado na
simplicidade do procedimento, o que tenderia a
evitar o fomento de "ritualismos" desnecessários
e irracionais (pois mesmo que as diferentes
técnicas tenham fundamento empírico, de acordo
com sua maior ou menor eficiência, não
conheceríamos a fundo tais mecanismos; assim
sendo, para não criar uma mentalidade "mística",
no sentido menos positivo da palavra,
principalmente nos neófitos, os confrades que
defendem essa proposta acabam
optando pela abstenção de tais práticas). Nesse
contexto, se o recebedor do passe precisasse de
algo mais específico, em área mais circunscrita,
os Mentores Espirituais do trabalho saberiam e
dirigiriam os fluidos mistos, ou seja,
os "fluidos humano-espirituais" (vide capítulo
XIV, "Os Fluidos", de "A Gênese") para a região
necessitada.
Esse posicionamento é sustentado,
principalmente, porque Allan Kardec não teria
desdobrado significativamente tal tópico.
Uma das ideias básicas desse ponto de vista é
que a qualidade fluídica é dada pelo nível moral
e pelo poder magnético do magnetizador,
independentemente da técnica utilizada, o que
seria de importância secundária.
Ademais, os confrades que defendem essa tese
(divulgada por muitos pela expressão em inglês
"hands on"), frequentemente, citam Jesus de
Nazaré e seus procedimentos de "imposição de
mãos". No entanto, no
Evangelho, analisando-se "a letra que mata e
buscando o espírito que vivifica", podemos fazer
uma pequena ressalva no valor de tal argumento,
pois Jesus, a priori, curou através de vários
procedimentos (vide a mulher hemorroíssa, o cego
de nascença, o servo do centurião romano, a
filha de Jairo etc.). Ademais, a chamada
"imposição de mãos", até pela pobreza da
língua aramaica utilizada por Jesus e os
problemas de tradução após dois mil anos,
poderia significar algo mais elaborado do que
uma simples colocação de mãos paradas sobre o
crânio do necessitado da transfusão fluídica.
Os defensores dessa tese também citam
posicionamentos de Raul Teixeira (a título de
ilustração, vale consultar o excelente livro
"Diretrizes de Segurança" de Divaldo P. Franco e
José Raul Teixeira), nos quais o admirável
médium e orador de Niterói explica que os
fluidos salutares poderiam ser distribuídos para
os diversos setores do organismo, assim como um
medicamento que é ingerido via oral ou via
parenteral é disponibilizado através da corrente
sanguínea.
Por outro lado, um significativo grupo de
trabalhadores espíritas defende técnicas mais
elaboradas.
Esses irmãos sustentam seus posicionamentos,
afirmando que Allan Kardec, nos seus catorze
anos incompletos de trabalho espírita, não teve
tempo suficiente para desdobrar as técnicas dos
passes e que, ademais, o "Espiritismo evolve!".
Além disso, defendem que Kardec, tendo sido
por 35 anos um magnetizador, muito antes de
conhecer as "Mesas girantes e falantes", já
respaldava as técnicas de Mesmer, Puysegur, Du
Potet, entre outros famosos
magnetizadores. Aqueles que defendem tal
posicionamento costumam sustentar suas ideias em
André Luiz, que narra a utilização de passes
longitudinais, entre outras técnicas, em obras
como "Missionários da Luz", entre outras. A
ideia dos "passes longitudinais" estaria
associada à presença dos "centros de força" ou
"centros vitais", vinculados ao Perispírito ou
Corpo Espiritual, sendo uma forma de atingi-los,
individualmente. Os defensores das técnicas mais
elaboradas baseiam-se em autores como Jacob Melo
e Matthieu Tubino, os quais defendem,
basicamente, que os "passes dispersivos",
conhecidos muitas vezes como "limpeza psíquica",
seriam, em muitos casos, mais eficientes do que
a doação fluídica direta. Ambos afirmam que
possuem experiência de várias décadas, com
inúmeros casos documentados, os quais enfatizam
a superioridade de tais procedimentos. Jacob
Melo chega a dizer que o sucesso dos passes
efetuados por muitas "benzedeiras" (também
chamadas "rezadeiras") deve-se em grande parte
ao intenso emprego de técnicas dispersivas. Os
defensores desse ponto de vista afirmam que
muitos que recebem o passe chegam bem para
receber a "transfusão fluídica" e saem pior,
sentindo-se muito mal, com dores de cabeça e
outros sintomas. Entretanto, nem todos os
confrades têm tal sensibilidade e, por isso,
entre outros motivos, os avanços na discussão de
causas e efeitos fluidoterápicos ainda seriam
lentos.
Divaldo Pereira Franco, por exemplo, recomenda
um passe longitudinal em três etapas: "limpeza
psíquica"; "concentração"; "doação". Portanto,
poderíamos inferir que Divaldo utiliza de um
meio-termo entre os dois extremos. Nem a
imposição de mãos de forma estática sobre a
cabeça do recebedor, nem técnicas mais
complexas.
A questão supracitada reforça o aspecto
científico do Espiritismo, pois os novos
conhecimentos requerem amplo e irrestrito estudo
e confirmação para serem considerados partes
integrantes da Doutrina Espírita. E nem sempre é
possível avançar, com segurança, em temas
complexos do ponto de vista científico, o que
vale não só para o Espiritismo, mas para todas
as áreas do conhecimento. Tais
dificuldades também denotam que, em matéria de
assuntos de conotações mediúnicas, magnéticas
e/ou fluidoterápicas, ainda precisamos acentuar
nosso nível de aprofundamento doutrinário.
Afirmava Voltaire: "nada mais brutal do que o
fato". Assim sendo, se através do estudo
consistente e perseverante as evidências de que
um tipo de técnica de passe é superior a outro,
deveremos, em prol da Ciência Espírita e da ação
da caridade fluidoterápica, utilizar aquele mais
produtivo, estudando, inclusive, para entender
por que ele é mais eficaz, o que também está
relacionado a nosso aprofundamento doutrinário
referente à compreensão do Perispírito e suas
propriedades.