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por Leonardo Marmo Moreira

 
Passes com técnicas mais elaboradas ou não: eis a questão!


O tema explicitado no título do presente texto não é trivial, pois não é ponto pacífico dentro do movimento espírita.

Alguns defendem que a imposição de mãos pura e simplesmente disposta sobre a cabeça do assistido seria o ideal.

O argumento desses confrades está calcado na simplicidade do procedimento, o que tenderia a evitar o fomento de "ritualismos" desnecessários e irracionais (pois mesmo que as diferentes técnicas tenham fundamento empírico, de acordo com sua maior ou menor eficiência, não conheceríamos a fundo tais mecanismos; assim sendo, para não criar uma mentalidade "mística", no sentido menos positivo da palavra, principalmente nos neófitos, os confrades que defendem essa proposta acabam optando pela abstenção de tais práticas). Nesse contexto, se o recebedor do passe precisasse de algo mais específico, em área mais circunscrita, os Mentores Espirituais do trabalho saberiam e dirigiriam os fluidos mistos, ou seja, os "fluidos humano-espirituais" (vide capítulo XIV, "Os Fluidos", de "A Gênese") para a região necessitada.

Esse posicionamento é sustentado, principalmente, porque Allan Kardec não teria desdobrado significativamente tal tópico.

Uma das ideias básicas desse ponto de vista é que a qualidade fluídica é dada pelo nível moral e pelo poder magnético do magnetizador, independentemente da técnica utilizada, o que seria de importância secundária.

Ademais, os confrades que defendem essa tese (divulgada por muitos pela expressão em inglês "hands on"), frequentemente, citam Jesus de Nazaré e seus procedimentos de "imposição de mãos". No entanto, no Evangelho, analisando-se "a letra que mata e buscando o espírito que vivifica", podemos fazer uma pequena ressalva no valor de tal argumento, pois Jesus, a priori, curou através de vários procedimentos (vide a mulher hemorroíssa, o cego de nascença, o servo do centurião romano, a filha de Jairo etc.). Ademais, a chamada "imposição de mãos", até pela pobreza da língua aramaica utilizada por Jesus e os problemas de tradução após dois mil anos, poderia significar algo mais elaborado do que uma simples colocação de mãos paradas sobre o crânio do necessitado da transfusão fluídica.  Os defensores dessa tese também citam posicionamentos de Raul Teixeira (a título de ilustração, vale consultar o excelente livro "Diretrizes de Segurança" de Divaldo P. Franco e José Raul Teixeira), nos quais o admirável médium e orador de Niterói explica que os fluidos salutares poderiam ser distribuídos para os diversos setores do organismo, assim como um medicamento que é ingerido via oral ou via parenteral é disponibilizado através da corrente sanguínea.

Por outro lado, um significativo grupo de trabalhadores espíritas defende técnicas mais elaboradas.

Esses irmãos sustentam seus posicionamentos, afirmando que Allan Kardec, nos seus catorze anos incompletos de trabalho espírita, não teve tempo suficiente para desdobrar as técnicas dos passes e que, ademais, o "Espiritismo evolve!". Além disso, defendem que Kardec, tendo sido por 35 anos um magnetizador, muito antes de conhecer as "Mesas girantes e falantes", já respaldava as técnicas de Mesmer, Puysegur, Du Potet, entre outros famosos magnetizadores. Aqueles que defendem tal posicionamento costumam sustentar suas ideias em André Luiz, que narra a utilização de passes longitudinais, entre outras técnicas, em obras como "Missionários da Luz", entre outras. A ideia dos "passes longitudinais" estaria associada à presença dos "centros de força" ou "centros vitais", vinculados ao Perispírito ou Corpo Espiritual, sendo uma forma de atingi-los, individualmente. Os defensores das técnicas mais elaboradas baseiam-se em autores como Jacob Melo e Matthieu Tubino, os quais defendem, basicamente, que os "passes dispersivos", conhecidos muitas vezes como "limpeza psíquica", seriam, em muitos casos, mais eficientes do que a doação fluídica direta. Ambos afirmam que possuem experiência de várias décadas, com inúmeros casos documentados, os quais enfatizam a superioridade de tais procedimentos. Jacob Melo chega a dizer que o sucesso dos passes efetuados por muitas "benzedeiras" (também chamadas "rezadeiras") deve-se em grande parte ao intenso emprego de técnicas dispersivas. Os defensores desse ponto de vista afirmam que muitos que recebem o passe chegam bem para receber a "transfusão fluídica" e saem pior, sentindo-se muito mal, com dores de cabeça e outros sintomas. Entretanto, nem todos os confrades têm tal sensibilidade e, por isso, entre outros motivos, os avanços na discussão de causas e efeitos fluidoterápicos ainda seriam lentos.

Divaldo Pereira Franco, por exemplo, recomenda um passe longitudinal em três etapas: "limpeza psíquica"; "concentração"; "doação". Portanto, poderíamos inferir que Divaldo utiliza de um meio-termo entre os dois extremos. Nem a imposição de mãos de forma estática sobre a cabeça do recebedor, nem técnicas mais complexas.

A questão supracitada reforça o aspecto científico do Espiritismo, pois os novos conhecimentos requerem amplo e irrestrito estudo e confirmação para serem considerados partes integrantes da Doutrina Espírita. E nem sempre é possível avançar, com segurança, em temas complexos do ponto de vista científico, o que vale não só para o Espiritismo, mas para todas as áreas do conhecimento. Tais dificuldades também denotam que, em matéria de assuntos de conotações mediúnicas, magnéticas e/ou fluidoterápicas, ainda precisamos acentuar nosso nível de aprofundamento doutrinário.

Afirmava Voltaire: "nada mais brutal do que o fato". Assim sendo, se através do estudo consistente e perseverante as evidências de que um tipo de técnica de passe é superior a outro, deveremos, em prol da Ciência Espírita e da ação da caridade fluidoterápica, utilizar aquele mais produtivo, estudando, inclusive, para entender por que ele é mais eficaz, o que também está relacionado a nosso aprofundamento doutrinário referente à compreensão do Perispírito e suas propriedades.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita