O adulto a favor da criança
Quando cada homem procura mais o que é útil para si
mesmo, então os homens são mais úteis uns para os outros.
B. Spinoza
Quero correr este risco. Insistir que é preciso ensinar
a criança a nutrir as forças da vida – amor, alegria,
compaixão, paz, autoestima, confiança em si –, pois só
assim será possível amar a vida, toda a vida: com seus
altos e baixos, suas fases difíceis, suas texturas de
luz.
Que as crianças precisam de educação, não há dúvidas.
Mas se a escola se ocupa com a instrução, os pais têm a
tarefa de educar o filho. Contudo, educar um filho nada
tem a ver com a realização de desejos não realizados de
um pai ou de uma mãe...
Vou contar uma história que aconteceu de verdade. Sobre
uma moça de 35 anos, minha amiga. Margarete, que teve
sucesso escolar, queria gastronomia, mas seu pai queria
engenharia civil. Quando se tornou engenheira, ela
considerou que seria infeliz por toda a vida. Levada por
sua natureza sensível, decidiu pôr em prática o seu
antigo anseio por desabrochar junto às panelas,
substituindo, com persistência, o desejo do pai (ter uma
filha engenheira) pelo próprio desejo (ser cozinheira).
Margarete estudou e se dedicou até garantir a si mesma a
função de chefe de cozinha em um restaurante em São
Paulo. É um exemplo simples que ilustra bem o quanto é
descabido criar os filhos utilizando métodos que se
ocupem enfaticamente em fazê-los adultos produtores e
infelizes em vez de pessoas inspiradoras e felizes.
Em casa, repito, e não é romantismo, permitir à criança
descobrir-se e ao mundo à sua volta em um ambiente
benevolente e acolhedor, que reconhece que cada um de
nós tem o direito de vibrar de acordo com seu ser
profundo. Porque é isso que promoverá, mais tarde, a
qualidade do viver juntos. Afinal de contas, tanto a
felicidade quanto a infelicidade estão dentro de nós. Já
pensaram o que isso implicaria?
Abraços, boa semana.