Entre os Dois
Mundos
(Parte 24)
Continuamos nesta edição o estudo metódico e sequencial do
livro Entre os Dois Mundos, obra de autoria de
Manoel Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo P.
Franco no ano de 2004.
Questões preliminares
A. Pode-se dizer que o exercício da mediunidade
constitui um grande desafio?
Sim. O ministério
da mediunidade constitui um grande desafio para o
espírito em processo de reajustamento e de
autoiluminação, visto que o médium não somente é
convidado à luta contra as más inclinações que procedem
do caminho percorrido em outras etapas, como também à
luta que deve travar com os adversários desencarnados,
que ainda se comprazem em molestar os obreiros da ordem,
procurando manter o estágio de sombras e de ignorância
que predomina em muitos segmentos da sociedade terrena.(Entre
os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)
B. Há no recinto da sessão mediúnica equipamentos
especiais invisíveis aos olhos humanos?
Em muitos casos, sim. A
sala mediúnica onde se realizou a doutrinação de Almério
era modesta e destituída de ornamentos que pudessem
desviar a atenção daqueles que a frequentavam. Contudo,
invisíveis aos nossos olhos, viam-se equipamentos
especiais colocados em pontos estratégicos, como também
camas para tratamentos cirúrgicos em perispíritos
enfermiços e deformados. Tratava-se, pois, de um posto
de atendimento espiritual perfeitamente equipado para as
atividades que eram ali realizadas. (Entre
os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)
C. O recinto da sessão mediúnica recebe uma preparação
especial antes do início da reunião?
Sim. A preparação
ambiental é providência corriqueira em tais casos.
Especialistas em assepsia psíquica utilizam-se de
aparelhagem adequada para a limpeza da psicosfera e
consequente eliminação de vibriões mentais e de
ideoplastias mórbidas, restituindo ao recinto a saudável
harmonia necessária para a execução do serviço a ser ali
realizado. Só então os trabalhos se iniciam. (Entre
os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)
Texto para leitura
211. Germano prosseguiu, ao referir-se a Silvério: “Em
se considerando o passado espiritual do pupilo do
venerando amigo, ainda lhe pesam graves compromissos que
deverá resgatar pela ação do amor e da caridade
incessante. A soma dos serviços de compaixão anula a
gravidade dos equívocos antes cometidos. Assim mesmo,
embora não estivesse necessariamente sujeito a uma
desencarnação violenta, poderia suceder, sem qualquer
prejuízo para o seu desenvolvimento evolutivo. No
entanto, os seus méritos contribuíram para que tivesse a
existência física dilatada, de modo que lhe seja
possível servir mais, implantando no mundo a mentalidade
do serviço cristão hoje orientado pelo Espiritismo com
Jesus. A caridade, neste cometimento, é o alicerce de
sustentação do conhecimento iluminativo da inteligência,
que demonstra a excelente qualidade de que é portadora a
Doutrina Espírita. Nunca nos devemos olvidar que tudo
sempre ocorre para o nosso aperfeiçoamento, se soubermos
transformar sombras em claridade, desaires em bênçãos,
delitos em mecanismos de reeducação... Caso o insensato
inimigo houvesse logrado sucesso no seu desditoso
empreendimento, a vítima seria conduzida na condição de
mártir da fé, em face de haver sido trucidada no
trabalho do bem e por decorrência da sua ação de
benemerência. Volveria ao Grande
Lar como
triunfador, embora, nos primeiros tempos, o trabalho a
que se afervora sofresse a natural ausência do seu
comando e da sua dedicação. Como, porém, em nosso campo
de ação não existem pessoas insubstituíveis, ao seu lado
já se encontram companheiros que vêm sendo preparados,
não apenas para darem prosseguimento à obra, como também
para multiplicá-la em outros lugares. Por isso, o nosso
trabalho de oferecer assistência aos missionários que
volveram à Terra, a fim de cumprirem o roteiro de real
cristianização das criaturas e do planeta, desdobra-se
em um elenco de alternativas e diversidades muito
grandes”. (Entre
os dois mundos. Capítulo 16: O santuário de bênçãos.)
212. Tribulações no Ministério – O ministério
da mediunidade ainda constitui um grande desafio para o
espírito em processo de reajustamento e de
autoiluminação. O médium não somente é convidado à luta
contra as más inclinações que procedem do caminho
percorrido em outras etapas, como também àquela que deve
travar com os adversários desencarnados, que ainda se
comprazem em molestar os obreiros da ordem, procurando
manter o estágio de sombras e de ignorância que
predomina em muitos segmentos da sociedade terrena.
Sentindo-se, invariavelmente, a sós e carregando o fardo
de muitas aflições internas, que não se encoraja a
apresentar a ninguém, desde que a sua é a tarefa de
aliviar o seu próximo, é instado a silêncios homéricos e
a testemunhos constantes, que o capacitam para
empreendimentos mais relevantes. No entanto, como toda
ascensão é sempre assinalada por grande esforço e
expressivos padecimentos pessoais, deve ele equipar-se
de coragem e de resistência moral, a fim de enfrentar os
empecilhos e gratuitas perseguições conforme aconteceu
com Jesus, que lhe deve permanecer na condição de
Modelo irretocável. Quase sempre assediado pelas trevas,
palavra que abarca os movimentos espirituais negativos
que conspiram contra a felicidade dos homens, das
mulheres e de muitos outros espíritos sofredores, está
sempre vigiado e tentado por circunstâncias perversas
numa crucificação contínua. Nada obstante mantenha-se em
clima de dever retamente cumprido, de vigilância e
serviço operante, os seus dedicados mentores não impedem
que experimente vicissitudes e incompreensões, sórdidas
calúnias, desse modo mais se aprimorando e
enobrecendo-se. (Entre
os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)
213. O irmão Silvério
Carlos não constituía exceção, conforme Miranda pôde
constatar. Dedicado a uma grande obra de amor, na qual
centenas de sofredores encontravam diariamente amparo e
encorajamento ao lado de legítima fraternidade, embora
inspirado por amigos espirituais desvelados, sofria a
contingência humana de criatura, os impulsos sexuais que
procurava bem direcionar, a solidão que se impusera sob
o acicate de pessoas invigilantes e oportunistas, que o
desejavam submeter aos seus caprichos rotulados de amor.
Não poucas dessas criaturas tornavam-se fáceis presas
dos seus obsessores e de outros que buscavam atingir o
médium por intermédio da irresponsabilidade de que se
faziam portadoras. A oração, o trabalho, às vezes, até a
exaustão, constituíam-lhe a melhor metodologia para
manter-se em paz. Não almejando outra recompensa que não
fosse a vitória sobre si mesmo, não se preocupava muito
com as opiniões que eram formuladas em torno da sua
pessoa, tampouco com as acusações que eram assacadas
contra a sua conduta, por se não deixar conduzir pelas
paixões primitivas, pelos campeonatos da vacuidade. Esse
comportamento saudável fizera-o granjear, por outro
lado, grande estima de pessoas equilibradas que muito o
respeitavam, assim como dos seus mentores, que o
estimulavam ao prosseguimento das tarefas abraçadas nos
momentos difíceis de solidão e de prova. (Entre
os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)
214. A sala mediúnica do
complexo de edificações era modesta, sem qualquer
ornamento que desviasse a atenção daqueles que a
frequentavam. Quando lá chegou, Miranda notou a
estrutura de que se constituía do ponto de vista
espiritual. Equipamentos especiais encontravam-se
colocados em pontos estratégicos, inclusive camas para
tratamentos cirúrgicos em perispíritos enfermiços e
deformados, conforme ele as conhecia em sua Colônia.
Sobre o local, José Petitinga esclareceu:
“Considerando-se ser esta uma Instituição
representativa da nossa comunidade na Terra, vem sendo
aparelhada para transformar-se num posto socorrista
especial para os companheiros de nosso Núcleo, que
permanecem por mais tempo cooperando com os
reencarnados. Para aqui são trazidos muitos complexos
processos de obsessão, a fim de serem atendidos, não
apenas de desencarnados sobre encarnados, como também
de encarnados sobre equivalentes, e destes em cruenta
animosidade com alguns desvestidos do corpo físico...
Também deveremos levar em conta, que a legião de
recolhidos nos seus departamentos, enfermos, idosos,
obsessos, recebem, neste recinto, os benefícios
indispensáveis ao reequilíbrio e ao prosseguimento na
batalha redentora”. (Entre
os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)
215. Havia
aproximadamente entre vinte e vinte cinco operosos
servidores do plano espiritual em atividade, atendendo a
diversos outros espíritos em aflição, quando o Dr.
Arquimedes solicitou que se desse início à preparação
ambiental para o próximo cometimento. As equipes
encarregadas de conduzir os pacientes para outro espaço
movimentaram-se com agilidade, mas sem precipitação e,
em brevíssimo tempo, especialistas em assepsia psíquica
utilizaram-se de aparelhagem adequada para a limpeza da
psicosfera e consequente eliminação de vibriões mentais,
de ideoplastias mórbidas, restituindo ao recinto a
saudável harmonia necessária para a execução do serviço
que logo teve lugar. Os irmãos Germano e Ângelo foram
solicitados a trazer Almério desdobrado em corpo
espiritual. Petitinga e Miranda receberam convocação
para conduzir o Espírito renitente que permanecera
insistindo junto a Almério para que se consumasse o
crime contra o médium. Logo depois, os companheiros
retornaram com o agressor adormecido e o colocaram em
uma das camas indicadas pelo Mentor, o mesmo
orientando-nos, a Petitinga e Miranda, em relação ao
necessitado de que tinham sido incumbidos. (Entre
os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)
216. Um pequeno círculo foi organizado e, quando todos
estavam preparados, o Orientador convidou-os à bênção da
prece, enunciando-a com voz assinalada por uma incomum
beleza, resultado da emoção de que se encontrava
possuído:
– Incomparável Terapeuta:
Abençoa-nos! Os portadores de enfermidades graves aqui
nos encontramos, aguardando o Teu concurso libertador.
Somos procedentes de diferentes faixas evolutivas, que
se fazem assinalar pelas deficiências que nos tipificam,
e em face dos transtornos que nos dominam. Nada
obstante, temos a honra de conhecer-Te, havendo sido
convidados para o ministério da fraternidade
libertadora, superando, inicialmente, nossas paixões
inferiores, a fim de melhor podermos servir na Tua
seara. À nossa semelhança, muitos encontram neste
santuário hospitalar agasalho e repouso, tratamento e
compaixão que haurem no Teu psiquismo sublime. Apesar
disso, alguns ainda optam pelo desequilíbrio,
recusando-se à renovação indispensável do seu processo
de recuperação, preferindo constituir-se pedra de
tropeço, para dificultar a ascensão daqueles que se
estão esforçando pela conquista da paz interior. Bem
sabemos que não o fazem por prazer, senão por loucura,
por desconhecimento das irrefragáveis leis de justiça e
de amor. É para esses irmãos mais doentes que Te rogamos
o amparo e a inspiração, a fim de os auxiliarmos no
despertamento para a realidade. Calcetas, atiraram-se
no abismo, no qual estorcegam, revoltados,
acreditando-se vítimas dos outros, quando poderiam
descobrir que a chibata que os esbordoa com vigor é por
eles mesmos aplicada. Cegos da razão, fogem para a
agressão, tentando escapar da responsabilidade, sem
poderem fugir de si mesmos. Nós próprios já percorremos
esses caminhos de sombra e de amargura, conhecendo-os
muito bem. Por isso, temos compaixão deles, nossos
irmãos alucinados, desejando ajudá-los a sair dos
dédalos por onde transitam em agonia. Como nos
ergueste, quando estávamos perdidos, apelamos por eles
que ainda não sabem pedir, certos da Tua inefável
complacência. Eles estão sendo educados pela Justiça
inevitável, no entanto, contamos com a Tua Misericórdia,
de modo que encontrem a renovação por meio do amor que
se negam, por enquanto, em adotar na mente e no
sentimento. Torna o nosso verbo sábio, o nosso
sentimento sublimado, a fim de que lhes penetrem com o
poder da luz que dilui toda sombra e permanece para
sempre. Começaremos pelo irmão que se acreditou capaz de
enfrentar a Tua obra de caridade, em inditosa tentativa
de interromper a vida física do Teu servidor. Receptivos
à Tua direção, iniciamos o nosso ministério iluminativo
sob Tua égide sábia. Louvado sejas, Senhor! (Entre
os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)
217. Quando silenciou,
encontravam-se todos envoltos em suave claridade que
dominava todo o recinto, enquanto incomum vibração de
paz vitalizava seus sentimentos. Almério foi despertado
e, um tanto confuso, procurou situar-se no lugar em que
se encontrava, estranhando a presença do grupo
socorrista. Recobrando o discernimento, logo enunciou:
“Já sei. Vocês são os seres diabólicos que trabalham
nesta Casa, disfarçados de anjos para seduzir e dominar
os incautos por intermédio do malfadado Silvério Carlos,
meu desafeto”. Ficou evidente que o arrependimento de
que dera mostras momentos antes desaparecera, havendo
sido resultado do medo, da circunstância inesperada, do
que realmente legítimo. “Enganas-te, e sabes disso –
argumentou o Dr. Arquimedes – porquanto aqui somente
viste lições de profundo amor e de bondade. Jamais
ouviste qualquer expressão que te faça concluir pelo que
acabas de proferir. As mãos de Jesus sempre estão ativas
no socorro desinteressado aos irmãos que aportam a estas
praias de segurança após as tormentosas travessias
pelos mares borrascosos. Dizes que o teu irmão Silvério
é teu desafeto, mas foste tu quem desonestamente o
traíste, fugindo ao dever de atender aos que te eram
confiados para assistência, e que o fazias mediante
justa remuneração, dominado pela cobiça desonesta de
granjear mais recurso, mesmo que sendo resultado do
crime... Não somos a tua consciência, mas podemos lê-la,
decifrar o que nela se encontra escrito e que vens
tentando esconder. Em razão da tua ambição desmedida e
da tua conduta reprochável, fizeste-te instrumento de um
ser diabólico, a ti semelhante, para o covarde crime que
irias praticar.” (Entre
os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no
Ministério.) (Continua
no próximo número.)