O Espiritismo responde

por Astolfo O. de Oliveira Filho

Em mensagem publicada na seção de Cartas desta edição, Karla Bicalho, da cidade mineira de Pedro Leopoldo, pergunta-nos se é válido usar tablet para leitura de livro digital em reunião mista de estudos e prática mediúnica realizada na Casa Espírita de que é participante.

Embora esse tipo de dúvida seja inédito em nosso meio, não vemos motivo para que se impeça que – em vez de usar um livro físico – alguém se valha de um tablet para, na hora dos estudos, ler ou consultar determinada obra espírita.

A prática pode até tornar-se usual, em face do advento dos chamados livros virtuais ou e-books, cada vez mais presentes na sociedade contemporânea.

O tema utilização de aparelhos eletro/eletrônicos em reunião mediúnica já foi tratado em uma obra de André Luiz, o livro Desobsessão, no seu capítulo 19, intitulado “Aparelhos elétricos”, cujo texto transcrevemos:

“Os aparelhos elétricos, no recinto, quando a desobsessão seja efetuada em lugar capaz de utilizá-los, devem ser restritos a uma lanterna elétrica, destinada a serventia eventual, e, quando seja possível, a um aparelho para gravação de vozes das entidades, notadamente aquelas que se caracterizam por manifestações construtivas, para que se lhes fixem os ensinos ou experiências com objetivo de estudo.

“Repitamos que o grupo apenas usará o aparelho para gravação de vozes, quando semelhante medida esteja em suas possibilidades, sem que isso seja fator essencial e inadiável à realização do programa em pauta.

“O dirigente da reunião ou o companheiro indicado para o manejo desses engenhos precisa, porém, estar atento, verificando-lhes o estado e o funcionamento, antes das atividades da equipe, prevenindo quaisquer necessidades, de maneira a evitar aborrecimentos e atropelos de última hora.”

É evidente que na década de 1960, quando essa obra foi escrita e publicada, não existiam os modernos meios de comunicação, como os smartphones, os notebooks e os tablets.

Se um aparelho de gravação, com todo o ruído que lhe era peculiar, não era empecilho para o bom andamento da sessão mediúnica, por que o livro digital seria?

Há, no entanto, na mensagem enviada à revista algo que nos preocupa e que entendemos seja importante mencionar, a título de sugestão à leitora e seus companheiros de Casa Espírita.

Reunir em uma mesma sessão estudos doutrinários e prática mediúnica é algo que é sempre bom evitar. Se forem duas atividades separadas, ainda que na mesma noite, tudo bem. Encerrada uma, começará a outra, após breve intervalo.

Na orientação contida no livro Desobsessão, acima referido, a leitura que precede o intercâmbio mediúnica deve ser breve e destituída de comentários. Trata-se de uma atividade preparatória, naturalmente curta, porque as entidades desencarnadas a serem tratadas não reúnem condições de esperar longo tempo para serem atendidas.

Sugerimos então à leitora e seus companheiros que realizem duas reuniões distintas: uma voltada para os estudos, sem intercâmbio mediúnico, e outra dedicada exclusivamente ao atendimento das entidades desencarnadas. Será até interessante que a atividade de intercâmbio seja realizada em primeiro lugar, para só depois, após ligeiro intervalo, promover-se a reunião de caráter doutrinário.

Com relação às sessões de intercâmbio mediúnico, é importante estar atento à recomendação feita por André Luiz nos cap. 27 e 28 do livro mencionado, que adiante reproduzimos:

LIVROS PARA LEITURA - Os livros para leitura preparatória no grupo serão, de preferência:

1. «O Evangelho segundo o Espiritismo».

2. «O Livro dos Espíritos».

3. Uma obra subsidiária que comente os princípios kardequianos à luz dos ensinamentos do Cristo.

Bastarão esses recursos, porquanto neles sintonizar-se-ão os assistentes no mesmo padrão de pensamento, em torno dos temas vitais do Espiritismo Cristão, compondo clima vibratório adequado ao trabalho em mira.

«O Livro dos Médiuns» e obras técnicas correlatas não devem ser lidos nas reuniões de desobsessão, mas sim em oportunidades adequadas, referidas nos capítulos 66 e 72. (Desobsessão, cap. 27)

LEITURA PREPARATÓRIA - A leitura preparatória, que não ultrapassará o tempo-limite de 15 minutos, constituir-se-á, preferentemente, de um dos itens de «O Evangelho segundo o Espiritismo», seguindo-se-lhe uma das questões de «O Livro dos Espíritos», com um trecho de um dos livros de comentários evangélicos, em torno da obra de Allan Kardec.

Efetuada a leitura, o dirigente retirará os livros de sobre a mesa, situando-os em lugar próprio.

O contacto com o ensino espírita, antes do intercâmbio com os irmãos desencarnados, ainda sofredores, dispõe o ambiente à edificação moral, favorecendo a integração vibratória do grupo para o socorro fraterno a ser desenvolvido.

O conjunto evitará entretecer comentários ao redor dos temas expostos, atento que precisa estar em uníssono, à recepção das entidades enfermas em expectativa, quase sempre aguardando alívio com angustiosa ansiedade.

Repitamos, assim: o dirigente providenciará a leitura, aproximadamente quinze minutos antes do momento marcado para o início do intercâmbio, pronunciando a prece de abertura, depois de lida a página última, com o que se iniciarão, para logo, as tarefas programadas. (Desobsessão, cap. 28)

Para que a leitora e demais interessados tenham a exata dimensão da importância do livro Desobsessão, recomendamos que leiam o capítulo intitulado «Desobsessão» constante da parte final do livro Testemunhos de Chico Xavier, de autoria de Suely Caldas Schubert, razão pela qual os confrades da terra natal do saudoso médium fariam a ele uma excelente homenagem se procurassem adequar suas atividades espíritas às proposições feitas no livro que ele, em parceria com Waldo Vieira, psicografou.


  
 


 
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