A. Os fatos
relacionados com o
Sonambulismo, o
Magnetismo e o
Espiritismo revelam
a insuficiência das
teorias
materialistas?
Sim. É isso que
Flammarion expõe
nesta obra, mas os
partidários da tese
materialista não
davam ao tema a
importância devida,
como outros sábios,
de mente aberta,
como William Crookes
e tantos outros,
deram. (Deus na
Natureza – Terceira
Parte. A Alma. A
Personalidade
Humana.)
B. As fraudes e o
charlatanismo
tiveram influência
nessa rejeição por
parte dos
materialistas?
Com certeza, sim.
Segundo Büchner, os
cientistas estavam
convictos de que
todos os presumidos
casos de
clarividência não
passavam de conluios
e trapaças. A
lucidez, segundo
ele, era impossível.
E mais: “É
imperativo das leis
da Natureza que os
efeitos dos sentidos
se adstrinjam a
determinados e
intransponíveis
limites no espaço. A
ninguém é dado
adivinhar
pensamentos, nem ver
de olhos fechados o
que se passa em
torno”. (Deus na
Natureza – Terceira
Parte. A Alma. A
Personalidade
Humana.)
C. Para comprovar a
tese de que a
matéria governa o
homem, os
partidários da tese
materialista
procuravam
demonstrar com fatos
que a alimentação
atua sobre o
organismo de uma
pessoa. Que diz
Flammarion a
respeito?
Flammarion diz que,
como tema de
Fisiologia, esses
fatos são
interessantes e
instrutivos; mas,
como tema de
Filosofia, eles se
afiguram o que possa
haver de mais
incompleto. Ademais,
que relação tem isso
com a prova da
personalidade
humana? Que
aclaramento essas
experiências trazem
ao assunto? Onde e
como essa química
demonstra a
inexistência da
alma? (Deus na
Natureza – Terceira
Parte. A Alma. A
Vontade do Homem.)
Texto para leitura
689. Encerrando este
capítulo concernente
à personalidade
humana, poderiam ser
acrescentadas
algumas reflexões
sobre uns tantos
motivos de estudo,
ainda misteriosos e
nada
insignificantes. O
Sonambulismo
natural, o
Magnetismo e o
Espiritismo oferecem
aos pesquisadores
sérios fatos
característicos, que
bastariam para
mostrar a
insuficiência das
teorias
materialistas. (Deus
na Natureza –
Terceira Parte. A
Alma. A
Personalidade
Humana.)
690. É triste,
confessamo-lo, para
o observador
consciencioso, ver o
charlatanismo
descarado
intrometer-se, ávido
e pérfido, em causas
respeitáveis; triste
assinalar que
noventa por cento
dos fatos podem ser
falsos, ou imitados.
Mas um só fato, bem
averiguado, é
suficiente para
baldar todas as
explicações. Ora,
qual a atitude de
uns tantos doutos
diante desses fatos?
Negá-los
sumariamente. (Deus
na Natureza –
Terceira Parte. A
Alma. A
Personalidade
Humana.)
691. Diz Büchner:
“A Ciência está
convicta de que
todos os presumidos
casos de
clarividência não
passam de conluios e
trapaças. A lucidez,
por motivos de ordem
natural, é
impossível. É
imperativo das leis
da Natureza que os
efeitos dos sentidos
se adstrinjam a
determinados e
intransponíveis
limites no espaço. A
ninguém é dado
adivinhar
pensamentos, nem ver
de olhos fechados o
que se passa em
torno. Verdades são
estas buscadas em
leis naturais,
imutáveis e sem
exceções.”(Deus
na Natureza –
Terceira Parte. A
Alma. A
Personalidade
Humana.)
692. Em face de tais
argumentos,
Flammarion indaga: -
“Ó senhor juiz!
conheceis vós todas
as leis naturais?
Nada existirá oculto
para vós na Criação?
Feliz, vós, que
ainda não
sucumbistes à
sobrecarga da vossa
ciência! Mas, como?
Eis que viro duas
páginas e leio: - O
Sonambulismo é
fenômeno do qual não
temos, infelizmente,
senão observações
muito inexatas, nada
obstante carecermos
de noções precisas,
atendendo à
importância que ele
tem para a Ciência.
E todavia, sem dados
certos, é lícito
relegar à conta de
fábulas todos os
fatos maravilhosos
extraordinários, que
se atribuem aos
sonâmbulos. A um só,
destes, não é
permitido escalar os
muros, etc.”. (Deus
na Natureza –
Terceira Parte. A
Alma. A
Personalidade
Humana.)
693. Sensato que é o
vosso raciocínio! E
como teríeis bem
procedido se, antes
de escrever,
procurásseis
conhecer um pouco os
assuntos que
abordais!? Os
observadores
filósofos que nos
ouvem sabem que
certos fatos da vida
psíquica são
absolutamente
inexplicáveis pela
hipótese
materialista e que,
uma vez
rigorosamente
comprovados, podem,
só por si,
desmantelar o
bailéu. (Deus na
Natureza – Terceira
Parte. A Alma. A
Personalidade
Humana.)
694. Sem que se
torne preciso aqui
insistir sobre este
aspecto da questão,
convém notar que é
impossível admitir a
alma como produto
químico, ou
dinâmico, quando
sabemos que ela
manifesta, em dadas
circunstâncias, uma
personalidade
distinta, uma
natureza incorpórea
e faculdades
independentes. (Deus
na Natureza –
Terceira Parte. A
Alma. A
Personalidade
Humana.)
695. Portanto,
voltando às
conclusões
precedentes, temos:
contradição da
unidade psíquica com
a multiplicidade dos
movimentos
cerebrais,
contradição entre a
identidade constante
da alma e a
mutabilidade
incessante dos
elementos
constitutivos do
cérebro, contradição
entre o caráter
dinâmico da alma e
as pretensas
secreções orgânicas.
Contradições,
contradições e
sempre contradições!
Se os adversários
acham que elas não
bastam, o exame dos
fatos de volição
lhes vai facultar um
novo discernimento. (Deus
na Natureza –
Terceira Parte. A
Alma. A
Personalidade
Humana.)
696. A Vontade do
Homem – Escreveu
Moleschott:
“Dizia Zélter a
Goethe que um dos
maiores obstáculos
que impediam os
alemães de falar o
seu idioma tão
espontânea e
correntemente como
outros povos
provinha de certa
pressão da língua,
pelo fato de muito
se alimentarem de
vegetais e gorduras.
É verdade que não
temos outra coisa,
mas a sobriedade e a
prudência muito
podem remediar e
corrigir”[i].(Deus
na Natureza –
Terceira Parte. A
Alma. A Vontade do
Homem.)
697. É com esta
advertência que
Moleschott abre o
grande capítulo
epigrafado: “A
Matéria governa o
Homem”, sem perceber
que a segunda frase
do parágrafo traz
consigo a condenação
que ele vai especar,
das correlações
alimentares com o
estado físico e
intelectual do
homem. Quando o
velho companheiro de
Goethe lhe observa
que a sobriedade e a
prudência podem
fazer e corrigir
muitas coisas,
prova, por isso
mesmo, que ele não
se julga tão somente
uma composição
material, mas,
também, uma força
mental, capaz de
tirar de si mesmo
resoluções
contrárias às
tendências da
matéria. (Deus na
Natureza – Terceira
Parte. A Alma. A
Vontade do Homem.)
698. Vamos, com
efeito, acompanhar a
argumentação
materialista que,
aqui como alhures,
peca sempre pela
base e não se mantém
senão por uma
espécie de
equilíbrio instável,
que um piparote de
criança pode
desmantelar. O
adversário de Liebig
pretende demonstrar
que a matéria
governa o homem,
estabelecendo que a
alimentação atua
sobre o organismo.
Como tema de
Fisiologia, estes
fatos são
interessantes e
instrutivos, e a nós
nos praz o ensejo de
os resumir aqui;
mas, como tema de
Filosofia, eles se
nos afiguram o que
possa haver de mais
incompleto. (Deus
na Natureza –
Terceira Parte. A
Alma. A Vontade do
Homem.)
699. Consideremo-lo
previamente: O
quadro deste
capítulo vai
oferecer-nos, por
sua própria
natureza, um duplo
aspecto. No verso,
desenhado pela
Fisiologia
contemporânea,
notaremos a ação
física dos alimentos
no organismo, e no
reverso veremos que
ela está longe de
constituir o homem
integral e que o ser
humano reside numa
potência superior às
transformações da
bílis e do quilo,
potência que governa
a matéria e longe
está de se lhe
escravizar. (Deus
na Natureza –
Terceira Parte. A
Alma. A Vontade do
Homem.)
700. Invoca-se, em
primeiro lugar, a
diferença do regime
alimentar,
vegetariano ou
carnívoro. Legumes e
hortaliças contêm
pouca água, poucas
gorduras e quarenta
vezes menos albumina
que a carne.
Analisando os sais
contidos nestas
substâncias opostas,
concluíram que o
regime carnívoro
aumenta os fosfatos
no sangue, e o
vegetariano, pelo
contrário,
desenvolve os
carbonatos. De
resto, as
substâncias
albuminosas das
partes verdes da
planta não são a
albumina, nem a
fibrina. Preciso é,
pois, que elas
sofram essa primeira
transformação, antes
de se incorporarem
ao sangue. As
gorduras vegetais,
por sua vez, não são
verdadeiras
gorduras, mas tão só
adipogenias, ou
seja, elementos que
originam gordura e,
portanto, precisando
sofrer uma primeira
transformação. Há
razão para dizer que
a diferença de ação
da carne começa a
fazer-se sentir no
sangue antes dele
formado, isto é, na
sanguificação, na
digestão. (Deus
na Natureza –
Terceira Parte. A
Alma. A Vontade do
Homem.)
701. Esses alimentos
serão tanto mais
facilmente digeridos
quanto mais os seus
elementos
constitutivos se
identificarem com os
do sangue. Daí
resulta que a carne,
mais que o pão e os
legumes, aproveita à
sanguificação. O
comprimento dos
intestinos
relaciona-se com
esse processo de
digestão, de acordo
com as substâncias,
permitindo-nos fazer
dele uma ideia. Nos
morcegos, que só se
nutrem de sangue, o
tubo intestinal não
passa do triplo do
comprimento do
corpo. (Deus na
Natureza – Terceira
Parte. A Alma. A
Vontade do Homem.)
702. No homem, cujo
regime é misto (o
que igualmente se
indicia pelo sistema
dentário, composto
de caninos e
incisivos), o
comprimento do
intestino é o
sêxtuplo da altura.
No carneiro,
herbívoro, o
intestino é vinte e
oito vezes mais
longo que o corpo.
Todos os animais
carnívoros têm
estômago pequeno. O
estômago humano tem
a forma de um
reservatório,
atravessando a
cavidade abdominal,
provido de um beco
sem saída, maior que
nos pré-citados
animais. Os
ruminantes, por
guardarem a
forragem, têm um
estômago de quatro
compartimentos. (Deus
na Natureza –
Terceira Parte. A
Alma. A Vontade do
Homem.)
703. O homem tem a
construção do
onívoro, ou seja,
alimenta-se
indiferentemente de
substâncias animais
ou vegetais. De
passagem, diga-se,
as velhas
prescrições
pitagóricas, tanto
quanto as modernas
proposições de
Rousseau e de
Helvétius a favor do
regime animal, devem
ser rejeitadas como
antinaturais. (Deus
na Natureza –
Terceira Parte. A
Alma. A Vontade do
Homem.)
704. Sendo os
vegetais menos
nutrientes que os
animais, o pão ocupa
um lugar
intermediário. No
glúten que o compõe,
dois corpos
albuminoides se
distinguem: albumina
vegetal, insolúvel,
e cola vegetal.
Estas substâncias
diferem da fibrina
da carne e devem
dissolver-se nos
sucos, durante a
digestão. No pão há
menos gordura que na
carne, mas há o
amido e o açúcar,
que devem
transformar-se em
gordura ao perderem
uma parte de
oxigênio. Destas
comparações decorre
que o sangue, e com
ele os músculos, os
nervos, a carne e
todos os tecidos, se
renovam mais
rapidamente no
regime carnívoro.(Deus
na Natureza –
Terceira Parte. A
Alma. A Vontade do
Homem.)
705. Infere-se daí
que, sendo o sangue
o fator dos tecidos,
das secreções e
excreções orgânicas,
e ainda porque se
modela pela
alimentação do
homem, a diferença
primordial,
assinalada entre os
regimes vegetal e
animal, deve
estender sua
influência a todos
os fenômenos da
vida. (Deus na
Natureza – Terceira
Parte. A Alma. A
Vontade do Homem.)
706. Detivessem-se
eles nesta conclusão
e nada teríamos a
objetar. Dizemos,
com os antagonistas,
que o apetite de um
homem sadio se
apazigua antes com
um bife do que com
uma salada.
Consentimos em
admitir que, se as
raças de índios
caçadores revelam
força muscular
notável, ao passo
que os insulares do
Pacífico se
apresentam fracos
(relativamente), é
porque estes se
alimentam de ervas e
frutos e aqueles de
muita carne. (Deus
na Natureza –
Terceira Parte. A
Alma. A Vontade do
Homem.)
707. Concedemos,
igualmente, que a
indolência e falta
de caráter dos
Hindus prenda-se um
tanto ao seu regime
herbívoro; – que o
filósofo Haller
tivesse razão para
acusar uma tal ou
qual inércia com o
vegetarismo de
alguns dias; – que,
por um efeito
inverso, uma divisão
do Exército a que
pertencia Villermé,
na guerra de
Espanha, fosse
atingida de
diarreia, de magreza
e debilidade, por
ter sido forçado a
se alimentar só de
carne durante oito
dias. (Deus na
Natureza – Terceira
Parte. A Alma. A
Vontade do Homem.)
708. Concordamos,
enfim, sem
relutância e sem
provas, que “basta
comer marmelada ou
maçã para
alcalinizar a urina”
e que os franceses
emitem menos ureia
que os alemães,
aliás muito
distanciados dos
ingleses – o que
prova consumir-se em
Londres 1,6% da
carne consumida em
Paris... Mas, na
verdade, que relação
tem tudo isso com a
prova da
personalidade
humana? Com
franqueza: que
aclaramento essas
experiências trazem
ao assunto? Onde e
como essa química
demonstra a
inexistência da
alma? E que fazeis
do método
científico, que
recomenda não
proceder senão por
induções ou
deduções? Que
mancebia é essa com
a escolástica dos
nossos avós?(Deus
na Natureza –
Terceira Parte. A
Alma. A Vontade do
Homem.)
[i] Briefwchsel
Ziwischen
Goethe und
Zelter,
1º, 113.