Estudando as obras
de Manoel Philomeno
de Miranda

por Thiago Bernardes

 

Entre os Dois Mundos

(Parte 27)


Continuamos nesta edição o estudo metódico e sequencial do livro Entre os Dois Mundos, obra de autoria de  Manoel Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo P. Franco no ano de 2004.


Questões preliminares


A. A infância e a juventude podem beneficiar-se com o acesso ao conhecimento do Espiritismo?

Sim. O conhecimento do Espiritismo na infância como na juventude constitui uma dádiva de invulgar significado pe­los benefícios que propicia, preservando as lembranças das lições trazidas do Mundo Espiritual, bem como amplian­do as áreas do discernimento, para que não tropecem com facilidade nos obstáculos que se antepõem ao processo de crescimento interior. (Entre os dois mundos. Capítulo 18: Valiosas experiências espirituais.)

B. A morte pode ser considerada como a grande desveladora da verdade?

Sim. Uma grande educadora agora na vida espiritual disse e Manoel Philomeno anotou: “A morte é a grande des­veladora da verdade. Enquanto me encontrava na neblina car­nal anelava por serviço e procurei realizá-lo dentro dos limites que me caracterizaram. Empenhei-me, quanto pude, e pensei haver feito o máximo ao meu alcance. Em aqui chegando, de­pois de vencer o Estige(1), pude constatar quanto pouco havia realizado e quanto poderia ter feito, se mais me houvera dedi­cado... Constatei algo tardiamente que, enquanto o dia urge, sempre nos é possível produzir mais na Seara de Jesus”. (Entre os dois mundos. Capítulo 18: Valiosas experiências espirituais.)

C. A caridade, no sentido espírita do termo, consiste em dar coisas àquele que precisa ou requer de nós algo mais?

A caridade não se resume a doar, a dar coisas. Tem grande significa­do o gesto de doar medicamento a um enfermo, no entan­to a orientação moral, a fim de que ele se liberte das mazelas internas, tem um sentido mais profundo. O agasalho que aquece é lição de desprendimento de quem o doa, mas o diálogo fraterno com o desamparado representa ato mais expressivo. Os passes reconfortantes são de alta magnitude para quem se encontra aturdido na obsessão ou noutro desequilíbrio qualquer, todavia o esclarecimento em torno das causas da aflição tem sentido de emergência. Não basta dar coisas, mas sim doar­-se, oferecendo-se ao mister do esclarecimento, da compre­ensão, da bondade. Além da contribuição externa é indis­pensável a iluminação interior, que dignifica o caído e o alça à posição de equilíbrio. Sempre quando falamos de caridade, ocorre-nos à mente o gesto de oferecer qualquer valor material, esque­cendo-nos, não poucas vezes, da oferta superior do perdão, da compreensão fraternal, da compaixão, obviamente sem descuidar da outra dádiva, a material, que atende a aflição dominante. (Entre os dois mundos. Capítulo 18: Valiosas experiências espirituais.)


Texto para leitura


240. O conhecimento do Espiritismo na infância como na juventude constitui uma dádiva de invulgar significado pe­los benefícios que propicia, preservando as lembranças das lições trazidas do Mundo Espiritual, bem como amplian­do as áreas do discernimento, para que não tropecem com facilidade nos obstáculos que se antepõem ao processo de crescimento interior. Philomeno pôde observar, naquela instituição, que algumas crianças pertur­badas por adversários insanos, atendidas em classe especial, recebiam, além das bases formadoras da educação espírita, o socorro específico para libertá-las da injunção penosa em que se encontravam. “Alguns desses inimigos – elucidou-nos o amigo Lins – ficam retidos em nossas fronteiras, a fim de receberem, no momento adequado das reuniões mediúnicas, o socorro de que carecem, despertando para nova ordem de valores e de pensamento. É certo que, em determinadas situações, não podemos ir além do que nos é permitido, mas sempre nos é lícito auxiliar as vítimas e os seus perseguidores.” (Entre os dois mundos. Capítulo 18: Valiosas experiências espirituais.)

241. Comentando o assunto, Petitinga disse: “Não podemos olvidar que toda palestra edificante, toda aula de esclarecimento tem poder psicoterapêutico. Em se tratando de lição espírita, em face dos seus fundamentos, torna-se de incalculável significado curativo para a alma, pelo poder de esclarecer a criatura, encarnada ou não”. “Laboratório de realizações profundas – opinou Ger­mano – a Casa Espírita que se mantém fiel às diretrizes da Doutrina, consegue o salutar objetivo de modificar as deli­cadas tecelagens do pensamento humano, nele insculpindo paisagens atraentes e fecundas.” Nesse ponto da conversa, enquanto caminhavam em direção ao salão principal onde se reali­zariam os estudos do dia, chamou a atenção de Philomeno o comentário de uma dama desencarnada, que narrava a outra que lhe estava ao lado: “Hoje me é um dia muito gratificante, pois que conse­gui trazer meu filho, que está enveredando pelo abismo do al­coolismo. Por intermédio de um amigo, a quem se afeiçoou, inspirei-o a conduzi-lo até aqui, a fim de que ouça a palestra, que espero lhe penetre o coração, despertando-o para os de­veres do lar e da família, que vêm sendo descuidados”. Um cavalheiro de meia-idade, por sua vez, explicava a outro que aguardara aquele momento com muita ansie­dade, porquanto pretendia confortar a esposa que ficara na viuvez e agora estava sendo perturbada por um conquis­tador vulgar, que desejava apossar-se dos recursos que ele deixara para a sua sobrevivência. Como ele, havia no recinto muitos desencarnados em gran­de expectativa a respeito do tema do dia, de forma que pudes­sem solucionar problemas prementes que os inquietavam. (Entre os dois mundos. Capítulo 18: Valiosas experiências espirituais.)

242. Sobre a importância do trabalho dominical, um rapaz de boa aparência física e psíquica comenta­va com a esposa: “Trata-se de uma verdadeira dádiva de Deus esta reu­nião dominical. A semana transcorre entre sufocos de toda ordem e não tenho tempo para melhor reflexionar em torno dos compromissos espirituais. Não poucas vezes, chegando ao lar, cansado e desgastado, não me sinto animado a vir às atividades doutrinárias, e quando isso ocorre, o estresse, a in­disposição me invadem. Certamente, após as reuniões sinto­-me renovado. O grande problema está no desafio para vir até aqui”. Fazendo uma breve pausa, concluiu: “Em face desta reunião matinal, conseguimos dois objetivos: trazemos as crianças para aprendizagem especia­lizada e dispomos de paz de espírito para cuidarmos tam­bém da nossa evolução. É certo que não basta, mas de algu­ma forma facilita a solução da dificuldade”. “De pleno acordo!”, respondeu a senhora. “Preparo­-me para vir às palestras dominicais com alegria, certa de que receberei a orientação e as forças morais, fluídicas, para as labutas diárias.” Emocionados, estreitaram as mãos, sorriram e predis­puseram-se à mensagem que verteria do Alto na direção de todos. Philomeno esclareceu que muitos encarnados ali se encon­travam acompanhados por assessores do seu comportamento, conforme as inclinações de cada um, notando-se que a multidão de desvestidos da matéria era bem maior do que a constituída pelos companheiros terrenos. (Entre os dois mundos. Capítulo 18: Valiosas experiências espirituais.)

243. Lins de Vasconcellos apresentou à equipe socorrista uma veneranda Entidade que se dedicara ao atendimento infantil naquela cidade, havendo criado uma obra de benemerência que lhe conservava o nome envolto em gratidão. “A morte – disse-nos ela com modéstia – é a grande des­veladora da verdade. Enquanto me encontrava na neblina car­nal anelava por serviço e procurei realizá-lo dentro dos limites que me caracterizaram. Empenhei-me, quanto pude, e pensei haver feito o máximo ao meu alcance. Em aqui chegando, de­pois de vencer o Estige(1), pude constatar quanto pouco havia realizado e quanto poderia ter feito, se mais me houvera dedi­cado... Constatei algo tardiamente que, enquanto o dia urge, sempre nos é possível produzir mais na Seara de Jesus. Assim mesmo, como não há interrupção de planos, projetos e ações, através da desencarnação transferimo-nos somente de lugar e de endereço, continuando conforme somos. Felizmente, dando-me conta das responsabilidades que me compete atender, venho procurando prosseguir, trabalhando nesta valorosa equipe de lidadores do bem.” (Entre os dois mundos. Capítulo 18: Valiosas experiências espirituais.)

244. Nesse ponto interveio outra simpática senho­ra, também desencarnada: “Por minha parte, acreditei que a mediunidade de que me encontrava investida deveria ser praticada somen­te nos dias reservados às reuniões que frequentava. Não me conscientizei de que se é médium durante as 24 horas do dia... Assim, tenho hoje a tarefa de estimular os companheiros por­tadores de faculdades mediúnicas a que não desfaleçam nas lutas e não se permitam justificativas para postergar os bene­fícios que podem ser distribuídos mediante a aplicação das forças espirituais de que são portadores. Olvidam-se muitos amigos do exercício mediúnico de que, à medida que se entregam ao afã educativo das facul­dades, mais ampla penetração conseguem nas dimensões extrafísicas. Dia virá, no entanto, em que a mediunidade estará tão natural em todas as vidas que os indivíduos se tornarão maleáveis, dóceis à inspiração dos seus guias espi­rituais, alargando as fronteiras da vida física”. (Entre os dois mundos. Capítulo 18: Valiosas experiências espirituais.)

245. Naquele momento, adentrou a sala um Espírito de alta estirpe, que se fazia acompanhar por um grupo de no­bres mulheres desencarnadas. Sorridente e jovial, tratava-se da Adelaide Schleder, cuja existência na Terra foi um evangelho de feitos. Além de educar a família, que conduziu com segurança pela trilha do Espiritismo, dedicou-se com as filhas à obra do berço, cuidando de preparar enxovais para as crianças desvalidas, conforme eram denominadas, à época, aquelas que hoje são chamadas excluídas... Com um grupo de senhoras e de senhoritas devotadas manteve até além dos noventa anos de idade frutuosas realizações de beneficência, transformando-se em exemplo vivo de caridade, que a adornou de luzes para sempre. Ela prosseguia inspirando outros grupos a realizarem o mister socorrista, nunca deixando de participar das palestras dominicais realizadas naquela Casa. A psicosfera ambiente, que era muito agradável, com a sua presença e do seu grupo tornou-se mais diáfana, ilu­minada, recendendo delicado perfume de rosas... (Entre os dois mundos. Capítulo 18: Valiosas experiências espirituais.)

246. Na palestra que se seguiu, o orador abordou com propriedade e alto senso de equilíbrio o tema sobre a Caridade. Após entretecer considerações de natureza teológica em torno da virtude por excelência, procurou explicá-la sob o ponto de vista espírita, demonstrando que tão valioso quanto o pão que se distende ao esfaimado é o salário que se lhe con­cede, a fim de liberá-lo da necessidade; que é de alto significa­do o gesto de doação do medicamento ao enfermo, no entan­to referiu que a orientação moral, a fim de que se liberte das mazelas internas, tem um sentido mais profundo; que o agasalho que aquece é lição de desprendimento de quem o doa, mas o diálogo fraterno com o desamparado representa ato mais expressivo; que os passes reconfortantes são de alta magnitude para quem se encontra aturdido na obsessão ou noutro desequilíbrio qualquer, todavia o esclarecimento em torno das causas da aflição tem sentido de emergência. “Não apenas dar coisas – disse enfático – mas doar­-se, oferecendo-se ao mister de esclarecimento, de compre­ensão, de bondade. Além da contribuição externa é indis­pensável a iluminação interior, que dignifica o caído e o alça à posição de equilíbrio. Sempre, quando falamos em caridade, ocorre-nos, à mente, o gesto de oferecer qualquer valor material, esque­cendo-nos, não poucas vezes, da oferta superior do perdão, da compreensão fraternal, da compaixão, naturalmente que sem descuido da outra dádiva, a material, que atende a aflição dominante.” (Entre os dois mundos. Capítulo 18: Valiosas experiências espirituais.)

247. Mais adiante, ampliando as considerações, o palestrante enunciou: “Os vícios campeiam à solta. O alcoolismo adquire cidadania em nossa sociedade equivocada. Nos lares, em quase todos, existe o bar, nos mais sofisticados, ou a bebida desta ou daquela qualidade, nos mais modestos, para ofere­cer aos convidados, demonstrando-lhes falsa consideração. De ato social pernicioso à dependência alcoólica malévola, há apenas pequena distância, que é a repetição do hábito. Associando-se a esse costume enfermiço, espíritos doentes e infelizes que enxameiam na erraticidade inferior, desejando prosseguir na viciação a que se entregaram, acercam-se do insensato e passam a utilizá-lo até a exaustão. A caridade para com todos é a atitude de sobriedade, de morigeração, de educação dos costumes. Se alguém se en­contra habituado ao uso do álcool e busca-o em nosso lar, em nossa companhia, é caridade para com ele orientá-lo, induzi-lo à libertação do cruel inimigo da sua saúde e da sua paz. A caridade apresenta-se, portanto, sob formas muito sutis, que nem sempre chamam a atenção ou sequer são consideradas. Imaginemos alguém viajando em solidão pelos cami­nhos terrestres, em face da desencarnação de um ser querido. Inegavelmente, encontra-se sob camartelos que lhe mortifi­cam o corpo e a alma. O ser amado que viajou, no entanto, não se extinguiu, e aguarda o reencontro”. “Não será um ato de amor e de caridade para com aquele que se foi, preservar-se, manter-se-lhe fiel, transfor­mar os sentimentos doloridos em um poema de dedicação?”, aduziu o orador. (Entre os dois mundos. Capítulo 18: Valiosas experiências espirituais.)(Continua no próximo número.)

 

(1) Estige: rio mitológico que rodeava sete vezes os infernos. Os deuses cos­tumavam jurar pelo Estige e tal juramento era irrevogável. As suas águas tornavam invulnerável quem nelas se banhava (Tétis, mãe de Aquiles nele mergulhou o jovem herói, segurando-o pelos calcanhares, único lugar de seu corpo que ficou vulnerável - calcanhar de Aquiles.) (Nota da Editora)

 


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita